Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora
Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 14 de Junho de 2024 às 00:40

O jardineiro

Compartilhe:
Hélio Nascimento
Paul Schrader começou a se destacar quando foi um precioso colaborador de Martin Scorsese em Taxi Driver - Motorista de táxi, realizado em 1976 e com o qual o cineasta, dando os primeiros passos na carreira, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Mais tarde, em 1978, roteirista e diretor voltavam a trabalhar juntos em A última tentação de Cristo, quando então Schrader foi o responsável pela adaptação do romance de Nikos Kazantzakis. O filme, um dos melhores de Scorsese, foi muito combatido na época por círculos religiosos e até bastante criticado pelo Vaticano. No entanto, há algumas semanas, Scorsese foi recebido pelo Papa Francisco, ao qual anunciou que está fazendo mais um filme sobre Jesus. Ao passar para a direção, por sua vez, Schrader não conseguiu a mesma repercussão, mas realizou filmes que sempre se colocaram acima da corriqueira produção americana, mesmo que não tenha obtido o mesmo êxito de vários colegas de geração, que, a partir dos anos 1960 do século passado, terminaram por levar às telas uma visão diferenciada da vida americana, tecendo variações sobre temas antes não abordados. Ele realizou Gigolô americano, em 1980, e dois anos mais tarde teve a ousadia de realizar uma nova versão do clássico Sangue de pantera, dirigido por Jacques Tourneur em 1942 e um dos pontos altos do ciclo produzido por Val Newton e integrado por obras do gênero terror. Pelo menos no Brasil, nos últimos anos Schrader tem tido trabalhos apresentados apenas pela televisão.
Paul Schrader começou a se destacar quando foi um precioso colaborador de Martin Scorsese em Taxi Driver - Motorista de táxi, realizado em 1976 e com o qual o cineasta, dando os primeiros passos na carreira, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Mais tarde, em 1978, roteirista e diretor voltavam a trabalhar juntos em A última tentação de Cristo, quando então Schrader foi o responsável pela adaptação do romance de Nikos Kazantzakis. O filme, um dos melhores de Scorsese, foi muito combatido na época por círculos religiosos e até bastante criticado pelo Vaticano. No entanto, há algumas semanas, Scorsese foi recebido pelo Papa Francisco, ao qual anunciou que está fazendo mais um filme sobre Jesus. Ao passar para a direção, por sua vez, Schrader não conseguiu a mesma repercussão, mas realizou filmes que sempre se colocaram acima da corriqueira produção americana, mesmo que não tenha obtido o mesmo êxito de vários colegas de geração, que, a partir dos anos 1960 do século passado, terminaram por levar às telas uma visão diferenciada da vida americana, tecendo variações sobre temas antes não abordados. Ele realizou Gigolô americano, em 1980, e dois anos mais tarde teve a ousadia de realizar uma nova versão do clássico Sangue de pantera, dirigido por Jacques Tourneur em 1942 e um dos pontos altos do ciclo produzido por Val Newton e integrado por obras do gênero terror. Pelo menos no Brasil, nos últimos anos Schrader tem tido trabalhos apresentados apenas pela televisão.
Agora, com este Jardim dos desejos, ele volta aos cinemas com um filme que foi selecionado para a mostra competitiva do Festival de Veneza de 2022. Eis um trabalho que se harmoniza não apenas com alguns filmes anteriores de Schrader como diretor e roteirista. É clara, por exemplo, a ligação do protagonista com o personagem vivido por De Niro em Motorista de táxi, sobretudo na tentativa de salvar da violência e do caos em que vai se transformando a sociedade a sobrinha-neta de uma senhora que administra uma propriedade na qual se destaca um imenso e majestoso jardim. O personagem atual é um jardineiro dos mais competentes, e conhecedor da história da botânica. Mas aos poucos, como é de seu estilo, o cineasta vai revelando aspectos e segredos que compõem o passado do personagem. Assim, o que parece uma sociedade organizada segundo padrões de excelência vai se transformando numa fachada que esconde demônios e fantasmas. A ideia é a de mostrar um mundo no qual a violência se encontra apenas aparentemente dominada. Quase que há um massacre como aquele do filme de 1976, mas a violência e a agressividade são semelhantes. O final pode ser discutido e visto como uma concessão, mas o filme, inegavelmente, tem sua força.
Porém, no que se relaciona às exibições em Porto Alegre, algo prejudica bastante o filme. Uma projeção fora de moda, numa época em que a luminosidade permite ao cinema vencer concorrentes que oferecem boas condições no ambiente doméstico, não permite mesmo que se veja claramente o rosto dos intérpretes. As imagens são dominadas por sombras que nada tem a ver com o pretendido pelo diretor. Antes, em alguns trailers também exibidos, o mesmo acontecia. A ausência de luminosidade e nitidez adequadas é algo que o cinema não pode prescindir. No caso de Jardim dos desejos, até as tatuagens no corpo do personagem principal não são claramente visíveis, o, que anula o efeito pretendido, até porque são elas visualmente importantes para a compreensão do relato. Os exibidores, que nos últimos tempos têm enfrentado problemas gerados por epidemias e inundações, não podem descuidar do material que oferecem ao público, sob pena de perderem a batalha para outros meios de exibição de filmes. O cinema vai continuar, é claro. Em muitas cidades, inclusive aqui, salas estão sendo equipadas de maneira a oferece ao público projeções de qualidade. Mas é necessária atenção para as telas, que devem ser iluminadas de forma perfeita e mostrar figuras e paisagens de forma a não as desfigurar.
 

Notícias relacionadas