A Holanda, cujas autoridades pedem que seja usado o nome oficial de Países Baixos, tem uma longa história relacionada aos esforços para que grandes espaços de seu território sejam protegidos da força do mar. A vitória conquistada em tal batalha, possibilitada pela pesquisa e sua utilização de forma racional, foi bastante documentada pelo cinema em diversos registros.
O mais famoso deles é aquele que Joris Ivens (1898-1989) realizou no documentário Zuidersee, cujos trabalhos foram realizados entre 1930 e 1934 e tiveram origem numa série de filmes encomendados por um sindicato de trabalhadores, depois utilizados pelo cineasta. O filme, que registra a tomada de um novo território conquistado no mar, é hoje um dos clássicos do gênero. Ele foi exibido pelo Clube de Cinema de Porto Alegre no mês de janeiro de 1961, num ciclo dedicado ao cinema daquele país, realizado no auditório da Faculdade de Arquitetura.
Joris Ivens é um dos mais importantes nomes do documentário cinematográfico. Depois dos filmes que registraram o trabalho de trabalhadores anônimos em um projeto de avanços e também de segurança para uma nação, Ivens se tornou uma espécie de testemunha de lutas anticolonialistas. Ele também documentou a guerra civil espanhola, entre 1936 e 1939, no documentário Terra Espanhola, em 1937 e cuja narração foi feita por Ernest Hemingway. E também documentou a luta pela independência da Indonésia em um filme realizado em 1946 e intitulado Indonesia Calling. Para o célebre Zuidersee o compositor Hans Eisler escreveu a música.
Um outro grande momento do documentário é Noite e nevoeiro, realizado em 1956 por Alain Resnais, utilizando registros feitos durante o julgamento de nazistas, depois da Segunda Guerra Mundial. O filme, que chegou a ser proibido na República Federal da Alemanha e depois liberado e exibido em todos os cinemas por decisão do governo, após túmulos judeus serem profanados, tem as imagens editadas sobre um texto de Jean Cayrol. Esse encontro de Cinema e Literatura foi o impulso determinante na filmografia de Resnais. Outro foi o documentário, terreno onde o diretor deixou também sua marca registrando imagens da biblioteca francesa e também de exemplos da arte africana.
No prólogo antológico de Hiroshima, meu amor, as duas tendências se encontram, numa inigualável abertura que dificilmente será esquecida por qualquer um que a assista pela primeira vez. O filme, por sinal, tem clara estrutura operística, com árias, corais e duetos. Resnais, portanto, deixou em duas obras-primas registros definitivos sobre duas manifestações da violência a que o ser humano é capaz. Na verdade, três, porque o filme também documenta as humilhações sofridas por jovens francesas que tiveram ligações com soldados alemães. Este tema foi praticamente ignorado por parte da crítica, que não viu ou preferiu ignorar o passado da protagonista do filme, que de certa forma vivencia um episódio repetido na ligação com arquiteto japonês. E Noite e nevoeiro, por ressaltar antes de tudo uma agressividade que se espalha e cujas origens são geralmente ignoradas, é um filme que faz o ser humano contemplar uma imagem quase sempre encoberta.
Robert Flaherty (1884-1951) foi um documentarista que privilegiou a luta humana pela sobrevivência. Muitos consideram O Homem de Aram, realizado pelo cineasta no ano de 1934, o maior filme do gênero. Flaherty sempre dedicou seus filmes à luta do ser humano pela sobrevivência. Na obra citada e em tantas outras, ele reconstitui o cotidiano de uma família e deixou registradas imagens poderosas. Entre elas, a sequência na qual um menino, à beira de um verdadeiro precipício, pesca com a utilização de uma linha de grande extensão. Tal cena resume uma obra e uma visão de mundo. O combate eterno pela sobrevivência e os riscos dela decorrentes. Este e outros momentos do filme são exemplos de um cinema voltado para a ação destinada a exaltar, sem a utilização de qualquer artifício, o processo destinado a mostrar o perigo de um abismo incapaz de deter a ação humana.