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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 09 de Maio de 2024 às 19:57

Esquecidos

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Numa época em que são muitas as possibilidades de serem vistos ou revistos clássicos do cinema - a maioria em telas pequenas e que, por vezes, não fazem justiça a obras que o tempo não destruiu - muitos títulos que, no seu tempo, foram saudados por espectadores e críticos como trabalhos de muitos méritos têm sido vítimas do esquecimento. Cada cinéfilo tem sua lista, e muitas delas são integradas por trabalhos assinados por diretores que, infelizmente, não desfrutam hoje da fama alcançada por aqueles que certamente nunca serão desalojados do grupo considerado o mais importante. Clarence Brown (1890-1987) é um deles. Famoso por ser o diretor de vários filmes interpretados por Greta Garbo, Brown foi um realizador plenamente adaptado ao estilo Metro, empesa produtora a qual foi ligado durante a vida. Diz a lenda que ele um dia, argumentando que sempre seguiu a linha da empresa, disse que gostaria de realizar um filme pessoal. A Metro, que seguidamente também produzia filmes que contrariavam padrões estabelecidos, concordou e o resultado foi O mundo não perdoa (Intruder in the Dust), realizado em 1949, obra que é geralmente considerada como a melhor já realizada tendo por base uma obra de William Faulkner. Aqui em Porto Alegre, em 1953, a Metro exibiu o filme nos cinemas onde mostrava sua produção (Avenida e Colombo) somente em três dias, mas não o deixou inédito, possibilitando aos mais atentos o conhecimento de uma obra que foi muito elogiada, entre outros, por Georges Sadoul, que, por sua formação ideológica, não era muito entusiasta de filmes americanos. Aquele crítico e historiador francês cita várias sequências admiráveis e ressalta a maneira como o diretor e seu roteirista, B. Maddow, abordaram o racismo.
Numa época em que são muitas as possibilidades de serem vistos ou revistos clássicos do cinema - a maioria em telas pequenas e que, por vezes, não fazem justiça a obras que o tempo não destruiu - muitos títulos que, no seu tempo, foram saudados por espectadores e críticos como trabalhos de muitos méritos têm sido vítimas do esquecimento. Cada cinéfilo tem sua lista, e muitas delas são integradas por trabalhos assinados por diretores que, infelizmente, não desfrutam hoje da fama alcançada por aqueles que certamente nunca serão desalojados do grupo considerado o mais importante. Clarence Brown (1890-1987) é um deles. Famoso por ser o diretor de vários filmes interpretados por Greta Garbo, Brown foi um realizador plenamente adaptado ao estilo Metro, empesa produtora a qual foi ligado durante a vida. Diz a lenda que ele um dia, argumentando que sempre seguiu a linha da empresa, disse que gostaria de realizar um filme pessoal. A Metro, que seguidamente também produzia filmes que contrariavam padrões estabelecidos, concordou e o resultado foi O mundo não perdoa (Intruder in the Dust), realizado em 1949, obra que é geralmente considerada como a melhor já realizada tendo por base uma obra de William Faulkner. Aqui em Porto Alegre, em 1953, a Metro exibiu o filme nos cinemas onde mostrava sua produção (Avenida e Colombo) somente em três dias, mas não o deixou inédito, possibilitando aos mais atentos o conhecimento de uma obra que foi muito elogiada, entre outros, por Georges Sadoul, que, por sua formação ideológica, não era muito entusiasta de filmes americanos. Aquele crítico e historiador francês cita várias sequências admiráveis e ressalta a maneira como o diretor e seu roteirista, B. Maddow, abordaram o racismo.
Outro filme admirável e hoje pouco lembrado é o sueco No caminho do céu (Himlaspelet), dirigido em 1943 por Alf Sjoberg (1903-1980). O filme só foi exibido uma vez em Porto Alegre, numa sessão especial do Clube de Cinema, realizada no dia 30 de dezembro de 1963. O curador da Cinemateca Brasileira, crítico e historiador Paulo Emilio Sales Gomes, colocou este filme na lista daqueles que nunca esqueceria, ao lado de outras obras-primas que tinha visto durante a vida. Trata-se da fantasia em torno de um homem que, vendo sua amada sendo injustamente queimada como bruxa, inicia uma jornada que termina diante do Juiz Supremo, a fim de que um erro seja corrigido. Eis um filme que certamente atravessou o tempo. Em seu dicionário, Jean Mitry destaca o filme e assinala que Syoberg não foi apenas um predecessor de Ingmar Bergman, pois foi também seu mestre. O filme é um daqueles que permanece na memória pela forma inventiva como narra sua história e pela grandeza de suas imagens. E por alguns momentos realmente surpreendentes e tocados de humor, como a reverência feita pelo Maligno diante do poder maior. Como o filme circulava duas décadas depois de realizado e por ter sido realizado num país onde o patrimônio cultural é cultuado e preservado, sua desaparição das salas especiais e de outros meios de exibição é um fato lamentável.
Em 1962, quando filmes populares transcorridos no passado produzidos por estúdios italianos eram execrados por muitos críticos, nomes como Riccardo Freda e Vittorio Cottafavi eram destacados por críticos franceses. Porém, de certa maneira, houve harmonia entre as opiniões, quando Duccio Tessari (1926-1994) realizou Os filhos do trovão (Arriviano i titani) em 1962. O filme foi lançado aqui em março de 1964 pelo cinema Cacique e depois exibido pelo Clube de Cinema, em 22 de maio de 1965. O filme desenrolado numa Creta mitológica começava com uma brilhante partitura de Carlo Rustichelli, o que já o diferenciava de trabalhos semelhantes. O filme se relacionava com o tema luta pela liberdade, o que, naquele ano, não deixou indiferente até mesmo críticos preconceituosos com o gênero. Havia momentos notáveis como a utilização do hino dos fuzileiros navais norte-americanos quando o exército do rei ditador desembarcava numa praia. E, para o pessoal de teatro, uma informação valiosa: a assistente de direção foi Ariane Mnochkine, que depois, em 1964, fundaria na França o Théâtre du Soleil.
 

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