Um drama em três versões

Por Hélio Nascimento

Rashomon, de Akira Kurosawa
O filme Rashomon, que Akira Kurosawa realizou em 1950, é um daqueles que deixou marcas na história do Cinema. E não apenas por realçar como é difícil a análise de fatos, nos quais são vários os seres humanos envolvidos. Até uma versão americana foi realizada sob a direção de Martin Ritt, em 1964, exibido no Brasil com o título de Quatro Confissões. Monster, de Hirokaju Kore-eda, foi exibido no Festival de Cannes deste ano, quando foi vencedor na categoria de roteiro, escrito por Yuji Sakamoto. Kore-eda é um realizador que tem preferido colocar sua câmera diante da família humana e, através desta visão, colocar na tela aqueles dados cujo conhecimento é necessário para a compreensão do mundo e de uma forma de estrutura na qual o ser humano ocupa lugar menor, substituído ou dominado por rituais, normas e imposições que, aliadas ao próprio ritmo da vida, contribuem para o desconforto e o sofrimento. Em seu novo filme, o cineasta se mantém fiel a uma técnica de reconstituir o cotidiano e deixar falar e agir os personagens, como se a câmera não existisse e a encenação transformasse atores em figuras reais. É como se espectador fosse testemunha oculta de todos os acontecimentos reconstituídos, algo proporcionado por uma técnica que expulsa da tela qualquer recurso regido pelo artificialismo. Porém, no filme atual, as três versões revelam que a contemplação sempre será imperfeita, mesmo que o humano sobreviva às forças da incompreensão e dos mitos criados para impor controle e submissão. Monster não é uma noiva versão do clássico de Kurosawa e nem se limita a reduzir o número de versões, mas deve bastantes ao mestre, assim como está parcialmente ligado a outro clássico: Cidadão Kane, de Orson Welles.

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