O artista é múltiplo. Compõe, toca, canta, grava, produz e ataca em várias frentes na área da agitação cultural. Se envolve com política, palpita no Facebook, organiza shows e turnês, já fez saraus e se interessa por fotografia.
É múltiplo também no nome. José Antonio, o de batismo, só era usado pelos pais quando estavam brabos ou pelas professoras nas chamadas escolares. Totonho, apelido familiar e artístico, foi usado desde sempre. Antonio, mais sóbrio e universal, passou a ser utilizado a partir de 2006. Não tem nada a ver com numerologia ou qualquer espécie de superstição. Tampouco com alguma estratégia de marketing.
Reportagens culturais são importantes para você?
Ele mesmo explica que a troca de Totonho por Antonio foi por sugestão do gerente da Warner Music e por Gabriela, que era sua mulher e empresária na época, quando ele lançou o DVD Sinal dos tempos. A justificativa seria que "Totonho", o nome, seria de difícil assimilação no exterior. "Nos Estados Unidos, algumas pessoas pronunciavam Totorro, outras Totono. E, na Itália e na França, chegaram a grafar Totogno, para soar corretamente", lembra o músico.
O prenome menos conhecido, José, também chegou a ser avaliado, mas, além de pouco vinculado à imagem do artista, ainda pesavam contra outros motivos que tinham a ver com a literatura, como José, o provedor, do livro de Thomas Mann, inspirado no José bíblico, filho de Jacob, o José do poema de Carlos Drummond de Andrade e, finalmente, com José Costa, personagem principal do livro Budapeste, de Chico Buarque. José acabou servindo apenas para dar nome ao disco lançado por ele em 2010. Para o público, ficou Antonio - sem acento.
O artista é múltiplo e reconhecido. Em quatro décadas de carreira, José Antonio Franco Villeroy, um gabrielense de 58 anos, está no topo dos músicos gaúchos. Embora não exista nenhum levantamento completo, é possível concluir que Totonho é, ao lado de Lupicínio Rodrigues, o compositor gaúcho mais gravado por outros intérpretes.
São cerca de 200 canções registradas por mais de 120 intérpretes, tanto estrangeiros - como os norte-americanos John Legend e Don Grusin; os italianos Chiara Civello e Mario Biondi; e os argentinos Dolores Solá e Abel Pintos - quanto nacionais. No Brasil, a recordista e maior divulgadora da obra de Totonho é a cantora Ana Carolina, com 33 gravações. Mas a lista inclui, ainda, Maria Bethânia, Maria Gadu, Paula Lima, Mart'nalia, Luíza Possi, Preta Gil, Ednardo, Belchior e Seu Jorge.
"Alguns escritórios de administração de direitos autorais me colocam como um dos compositores brasileiros mais gravados, incluindo lançamentos no exterior, e que eu teria ultrapassado o Lupi em número de gravações por outros artistas. Essas estatísticas são boas para uma avaliação, para organizar a parte administrativa, que, aliás, quando estou no Brasil, ocupa mais de 50% do meu tempo. Mas esses dados não podem subir à cabeça, pois sempre levam à vaidade e a frustrações. Por isso, tenho para mim que ainda há obstáculos. Essas reflexões me levam a trabalhar mais e mais", reconhece Totonho.
O artista é, ainda, múltiplo, reconhecido e inquieto. No último dia 9, apresentou, no Centro Cultural de Leffrinckoucke, no Norte da França, seu derradeiro show da turnê de dois meses que fez pela Europa. De volta ao Brasil no dia 11, ele ainda fez uma apresentação no dia seguinte em São Leopoldo e, depois, aproveitou para ficar ao lado da mulher Pâmela e das filhas Luísa e Antonella. Por estes dias, só pretendia abrir exceções no convívio com a família para ir ao cinema, cuidar das plantas e dormir.
Novos e velhos projetos
Em Madri, com o amigo e parceiro musical Pedro Guerra
ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
A temporada europeia saiu toda planejada como Totonho imaginava. A primeira parte, dez dias, foi uma lua de mel com Pamela e também um período de passeios com as duas filhas. "Mas, mesmo nesses dias, a Pamela me botou para trabalhar, fazendo vídeos e fotos que me ajudaram na divulgação da turnê, além das gravações das sessões de composição em Madri", conta Totonho, lembrando do período na capital espanhola onde trabalhou com cinco artistas em diferentes estúdios.
"Pedro Guerra, com quem compus duas canções, Juan de Diós Martin, uma canção, Mango e Nabález, uma dupla de colombianos, outra canção, e Georgina, uma cantautora radicada na Espanha. Na França, compus uma divertida canção em francês, em parceria com Virginie Del, Bernard Brun e a gaúcha Nara Lisboa, que tem uma bela casa de shows em St Croix, cidade localizada no eixo central da França. Depois compus uma valsa com a excelente artista Luísa Sobral, em Portugal, e dois sambas matadores com Adriano Trindade em Berlim", detalha.
Nos shows, quando não se apresentava solo, Totonho contava com a companhia de outros dois músicos brasileiros, Fernando Paiva (bateria) e Matheus Nicolaiewsky (baixo). O repertório era quase todo composto por composições próprias, com algumas exceções como Bye, Bye Brasil, de Roberto Menescal e Chico Buarque. "Essa música, nesse momento, pela perspectiva com que eu vejo o país aqui de fora, acaba tendo um significado especial e bem contemporâneo", compara Totonho.
Este giro pela Europa era fundamental. Entre 1994 e 2011, Totonho manteve constantes turnês estrangeiras. Só para a Europa foram 18 vezes, numa média de quase uma por ano, além de uma dúzia de vezes aos Estados Unidos e de constantes idas aos vizinhos Uruguai e Argentina. Até pela África, com shows em Kinshasa, na República Democrática do Congo, ao lado de Lokua Kanza, Totonho andou fazendo.
Nos anos recentes, ele optou por dar um tempo nessas longas viagens. "Com o nascimento das meninas, me estabeleci em Porto Alegre e fiquei mais em função da família e de projetos que realizei na cidade, com pequenas turnês dentro do Brasil. Agora o momento me pareceu propício para retomar o mercado europeu, que mudou muito, como em todo lugar. Estou reconquistando meu espaço aqui e as perspectivas para o futuro são ótimas".
Reinstalado no Brasil, Totonho está com dois projetos. O primeiro é Luz acesa, um show solo em que ele faz um retrospecto da carreira. O espetáculo já foi apresentado por diversas cidades brasileiras, com Totonho viajando pelo Sul, Sudeste e Nordeste. Com poucas adaptações, este também foi o mesmo show que apresentou na recente temporada europeia. Em Porto Alegre, Luz acesa estará nos palcos na primeira semana de dezembro, dia 5, em uma única apresentação no Theatro São Pedro. E com uma participação especial: a da filha Luísa.
O outro projeto é ao lado dos irmãos. Com Gastão e Carlos Eduardo, Totonho se reveza nos instrumentos (baixo, violão, percussão) e os três interpretam músicas próprias, além de versões de Beatles (Blackbird) e de Fito Páez (Circo Beat). Este insólito encontro familiar será mostrado ao público num show no dia 9 de novembro no Espaço 373.
Quando não está tocando, Totonho compõe bastante, fazendo parcerias ao redor do mundo. No mais recente álbum de Ana Carolina, Fogueira em alto mar, ele é autor de quatro canções, duas em parceria com ela e outras duas com ela e Jonas Myrin, um compositor sueco. "Fiz também uma versão em espanhol para uma dessas músicas, Quem sabe numa tarde, que Ana gravou em duo com o cantor argentino Abel Pintos", acrescenta.
Estes trabalhos aos poucos vão ocupando a trilha aberta por Samboleria, um dos melhores e mais aclamados trabalhos musicais de Totonho. Grande vencedor do Prêmio Açorianos de Música, o álbum teve repercussão nacional, rendeu quatro anos de trabalho e deixou um rastro de 167 shows realizados nos mais diferentes formatos (solo, duo trio, com banda) entre junho de 2014 e dezembro de 2017.
Entre os próximos projetos estão previstos um livro de partituras e também DVDs. Quanto a canções inéditas, Totonho conta que muitas das composições feitas na turnê europeia serão destinadas a outros artistas, a maioria delas para o mercado latino americano. "As canções que tenho feito para mim, pretendo lançá-las como singles, nas plataformas. Aliás, todos os meus discos estão disponíveis nesses meios e também um EP de novelas e diversos singles. Vou continuar abastecendo essas redes a cada três meses, com novas gravações".
Três perguntas para Antonio Villeroy
Ana Carolina é a artista que tornou o compositor conhecido fora do Estado
BETI NERIMEYER/DIVULGAÇÃO/JC
Alguma música composta por ti teve uma repercussão que te espantou?
Nunca fiquei espantado. A única vez em que tive uma sensação parecida com isso foi com Garganta, quando fui a um show de Ana Carolina no Rio e havia milhares de pessoas cantando. Mas foi mais alegria e gratidão do que espanto. As outras canções vieram na esteira dessa primeira e apenas reparei que havia achado um caminho para compor para mais artistas e para alcançar um público maior. De qualquer forma, sempre fui fiel aos meus princípios, seguindo três pilares que me norteiam na hora de compor: Logos, Pathos e Ethos, pois a meu ver uma canção precisa ter uma lógica, despertar emoção e estar de acordo com meus princípios éticos. Quando algum desses fatores está falho, eu desisto da canção ou deixo para terminar mais tarde.
Quem você gostaria que gravasse uma música tua?
Na lista de artistas que gravaram minhas músicas, só falta a letra K. Então preciso falar com os queridos amigos Kleiton e Kledir para que resolvamos logo essa lacuna. Penso que pode sair uma bela parceria. Quando abri o show da cantora francesa ZAZ em Porto Alegre, em 2015, ela veio falar comigo depois dizendo que havia adorado uma música que compus em francês especialmente para aquele show e inspirado nela. No início desse ano, entreguei a ela essa canção gravada. Isso me daria uma enorme alegria, pois, a meu ver, ela é uma das artistas mais interessantes da atualidade. Para completar a lista, como tenho composto muito em espanhol e inglês, e como tenho trabalhado para o mercado latino, gostaria que alguém como Shakira ou Jennifer Lopez elegesse uma dessas canções.
E com quem você gostaria de compor?
Sinceramente? Pode parecer pretensão, mas tenho sonhado com Stevie Wonder e Paul McCartney. São dois dos maiores melodistas da história da música pop mundial. Ah! E claro, seria maravilhoso ter uma parceria com o Chico Buarque. Ele adorou uma música que lhe enviei em 2009. Levou para Paris para colocar a letra, então se apaixonou por uma amiga em comum nossa e acabou fazendo toda a música sozinho. Na sua coletiva de imprensa chegou a pedir desculpas aos possíveis parceiros que queriam colaborar e me senti incluído. Já estive várias vezes para fazer eu mesmo essa letra, pois a música está toda gravada, com arranjos de orquestra de Mônico Aguilera. Mas sempre deixo de lado, na esperança de que Chico um dia ainda se ocupe dela.
Totonho produtor
Por uma década, entre 1996 e 2006, Totonho coproduziu um grande festival na França, na cidade de Sanary sur Mer, que, a partir de 1998, se tornou o maior evento de música brasileira da Europa. "A Ivete Sangalo, sempre que me encontra, lembra que, numa tarde do festival de 1998, estava envolvido com a produção e fui levá-la para almoçar. Me despedi dizendo que ia para a passagem de som e ela teve uma grande surpresa à noite quando me viu no palco, pois não sabia que me referia a meu próprio show. E, realmente, não havia dito nada a esse respeito, pois, à tarde, eu era produtor e, à noite, artista", recorda.
Nos últimos anos, Totonho voltou a enveredar de maneira intensa na produção de shows em Porto Alegre e também em Atlântida, no Litoral. Em parceria com duas casas, trouxe para tocar no Estado alguns dos grandes nomes da música brasileira, não por acaso muitos seus amigos. A extensa lista inclui João Donato, Jards Macalé, João Bosco, Angela Ro Ro, Toquinho, Ed Motta e Ivan Lins.
"Quando estive com Luísa Sobral em Portugal, ela disse que eu poderia adotar heterônimos, assim como Fernando Pessoa, dada a versatilidade das minhas composições. Eu estenderia isso para minhas outras atividades dentro da música, incluindo a de produtor. É engraçado pois, nessa hora, é como se eu fosse um outro personagem", relata. "As produções também se devem ao fato de que me sobrava mais tempo livre quando voltei para cá. Com as crianças crescendo e querendo estar perto, podia fazer tudo sem sair de casa. Por outro lado, também sentia que a cidade estava carente desse tipo de show, intimista, com grandes artistas, não só brasileiros, pois também tivemos as italianas Chiara Civello e Mafalda Minozzi. A Pamela (esposa) produziu comigo, resolvendo muitas questões", acrescenta.
No próximo concerto do Unimúsica (7 de novembro), além de fazer a curadoria e dirigir (junto a Paola Kirst) Com sotaque do Sul, ele também sobe ao palco, como artista.
O livro que não saiu
Há três anos e meio, em março de 2016, mandei pelo Facebook uma mensagem a Totonho. Fazia tempo que não nos falávamos, e eu - na época dirigindo a Coordenação do Livro da Secretaria da Cultura de Porto Alegre - pretendia convidá-lo para ser jurado de uma das categorias do Prêmio Açorianos de Literatura.
Nem cheguei a fazer o pedido e Totonho já havia rebatido minha saudação com um convite: "Quer escrever minhas memórias?". Eu, que um ano antes havia lançado a biografia de Renato Borghetti, topei na hora, e no dia seguinte já estava na casa dele, tomando um café e discutindo o que poderiam ter sido os primeiros passos, o formato, os capítulos.
Convivemos bastante. Nesse período, estivemos em jantares, churrascos, cafés, encontros em livrarias, shows e festas adultas e infantis. Também conversamos muito por mensagens e por telefone, falando sobre política, futebol e artistas que ele poderia trazer a Porto Alegre para os shows que ele coordenava numa casa noturna. Fizemos poucas entrevistas, mas ainda assim li o bastante sobre ele, principalmente no bem organizado material que Totonho guarda englobando boa parte de sua carreira. Também pude (re)ouvir todos seus discos.
Por compromissos profissionais paralelos de parte a parte, o livro não foi avançando de maneira satisfatória e, no final do ano passado, Totonho me falou que não tinha mais interesse em levar o projeto adiante. Pelo que me falou nesta entrevista atual, parece estar mais interessado em resultados instantâneos. "A princípio, não penso em livro de memórias. Sou um publicador constante das redes sociais, então boa parte da minha história e da minha forma de pensar o mundo podem ser lidas no Facebook ou vistas nas fotos do Instagram e vídeos do YouTube", disse. Mas deixou uma porta aberta para um futuro breve: "Talvez depois dos 60 anos eu pense nisso". Só nos resta aguardar.
Totonho pelos amigos
Bebeto Alves, Gelson Oliveira, Totonho e Nelson Coelho de Castro (esquerde à direita) estão no Juntos
ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Parceiros no projeto Juntos e outras personalidades falam sobre Antonio Villeroy:
Bebeto Alves, cantor e compositor: "O Antonio (já até me acostumei a chamá-lo assim) é um artista que busca um diferencial em suas tantas referências, em que ele, generosamente, amplia em sua composição, em sua criação, em sua proposta de estar por aqui, como um grande compositor que é, junto a nós. Somos amigos desde muito. Estudei música com ele. Ia pelas manhãs tomar aulas de harmonia em seu apartamento, aqui em Porto Alegre, e levava de lambuja algum episódio da história da música. O Totonho (ops, desculpas, o Antonio) é assim: música por todos os poros e tudo mais o que se refere a ela. Ou, como a sua própria cadeia de alimentação, ele encarna o produtor, o incentivador, o aglutinador, o empresário, o negociador, o sabedor das nuances do mercado editorial, do mercado da música, e no melhor dos sentidos, um dos melhores oportunistas (aquele que sabe aproveitar uma oportunidade), que eu já vi atuando, sem nunca esquecer seus pares. Somos múltiplos com o Antonio, eu, seus vários parceiros de criação, de palco, de vida. E é um amigo com quem sinto um prazer imenso em dividir cenas, em pensar, em discutir muitas questões sob os mais variados pontos de vista, pois passa confiança e tranquilidade. O Antonio é um erudito em suas mil citações, com uma cultura abastada, adquirida em uma entrega absurda e curiosa, cria um sistema de conhecimento invejável. O Totonho (ops, de novo) é um dos amigos mais ricos que tenho, e um dos artistas mais interessantes da música brasileira."
Nelson Coelho de Castro, cantor e compositor: "Seu Antonio Villeroy é craque como músico e compositor. Tange as notas com categoria e sabe por onde anda no braço do seu violão. Síntese do que significa uma canção, nas suas criações a melodia e a letra logo se tornam amantes, cúmplices inseparáveis. E como são bonitas as canções. O público e a MPB agradecem. Além disso, é meu parceiro musical, parceiro de calçada, parceiro de humanismo, assim vamos... Uma amizade na lida e na lira. E é também tão mais bonita esta amizade desde quando com o Bebeto Alves e o Gelson Oliveira formamos o quarteto Juntos. A vida ainda é boa."
Gelson Oliveira, cantor e compositor: "Antonio Villeroy estudou harmonização e transmitiu seu conhecimento para vários colegas. Trabalhar com ele é sempre um aprendizado, pois Antonio sempre encontra belas e inspiradas alternativas, nas constantes encruzilhadas com as quais nos deparamos, no infinito lapidar, em busca da melhor forma de vestir e apresentar as obras escolhidas em cada espetáculo ou gravação. Dono de um ouvido hiperdesenvolvido, Antonio Villeroy sempre estimula seus colegas, elevando qualquer obra ao mais alto patamar musical. Quando ouvi Antonio Villeroy pela primeira vez, fiquei encantado com seu conhecimento de música brasileira. Além disso, gostei dele como pessoa, sua forma de agir diante das coisas, pela sua luz e seu caráter. Não demorou muito para que a gente se tornasse grandes amigos e irmãos. Credito a ele muitos momentos entre os mais relevantes de minha vida pessoal e profissional. Eu poderia passar horas falando sobre momentos memoráveis que juntos passamos, em que sempre pude contar com o bom humor e a generosidade deste grande irmão com que a vida me presenteou, tornando o viver e o nosso ofício bem mais leves, bem mais agradáveis."
Totonho fala sobre o Juntos: "Essa é uma das melhores coisas que aconteceu e segue acontecendo na minha vida. É um aprendizado constante, um ambiente de troca muito positivo. Não só musicalmente, mas também do ponto de vista do conhecimento, das trocas de impressões sobre nossa contemporaneidade, em seus aspectos sociais, estéticos e políticos. E o melhor de tudo é o espírito de irmandade, o amor e amizade que sentimos uns pelos outros. Isso cria muitas possibilidades de trabalho. Em janeiro, devemos voltar à carga, com nossa temporada de verão no Sgt. Peppers, que já vai para a sua sexta edição."
Jorge André Brittes, ex-coordenador de Música da SMC: “Conheci o Antonio em Santa Maria, quando ainda era Totonho, logo após ter ganhado o Musipuc com Êta Moleque. Em 1982, meu passatempo preferido já era insubordinar-me ao playlist Top 40 da Rede Atlântida FM ao executar a MPG/Música Popular Gaúcha, integrada por quem havia composto Do Outro Lado da Rua e já lotava os espaços universitários e recebia vários pedidos dos ouvintes. Desde aquela época, a caminhada de Villeroy já indicava o surgimento de um dos mais completos e versáteis compositores do Rio Grande do Sul. Ele começou sua carreira naquela que considero a melhor fase da MPB, a década de 80, conquistando público, parceiros e intérpretes nacionais.”
Juarez Fonseca, jornalista: “Quando decidiu viver no Rio, Totonho levava a disposição de mudar seu próprio paradigma. Viver de música em Porto Alegre não é fácil, o ambiente em geral abafa um pouco as pessoas no sentido de que as pressões pela, digamos, manutenção da identidade gaúcha (nem digo gauchesca), são invisíveis, mas reais. Quando também foram para o Rio, Bebeto Alves e Vitor Ramil levaram essa identidade sem fazer muita questão de minimizá-la – e a vida lá é dura para gaúchos que tentam impor-se sem aderir ao modus vivendi carioca. E Totonho? Para começar, dois ou três anos antes de se mudar teve a sorte de conhecer Ana Carolina, em Belo Horizonte. Ana estava prestes a estourar para o sucesso e precisava de músicas fortes. Totonho tinha músicas fortes, que ajudaram a catapultar a cantora. O certo é que chegou ao Rio disposto a comer pelas beiradas. Fez muitas amizades, se aproximou de algumas turmas, aprendeu os macetes e tal. Me disse uma vez que estava aprendendo a compor como um compositor nacional-universal, isto é, sem os vícios regionais. E assim começou a ampliar o leque de quem queria gravá-lo, a começar pela abelha rainha Maria Bethânia. Mas ele nunca se afastou dos velhos amigos, e o projeto Juntos, com Bebeto Alves, Gelson Oliveira e Nelson Coelho de Castro é a melhor prova disso.”
Discografia
1991
- Totonho Villeroy
1995
- Trânsito
1997
- Juntos ao vivo (com Bebeto Alves, Gelson Oliveira e Nelson Coelho de Castro)
2000
- Totonho Villeroy
2002
- Juntos 2: povoado das águas
2004
- Totonho Villeroy & Orquestra de Câmara Theatro São Pedro
2006
- Sinal dos tempos (ao vivo)
2010
- José
2014
- Samboleria
Show em família
Os irmãos Antonio, Carlos e Gastão Villeroy reúnem-se em um show para revisitar canções autorais, além de mostrar versões para clássicos dos Beatles e de Fito Páez. A apresentação do trio ocorrerá no dia 9 de novembro, às 21h, no Espaço 373 (Comendador Coruja, 373). Ingressos antecipados a R$ 50,00 pelo site Eventbrite. No local, custam R$ 60,00. Reservas pelos telefones (51) 98142-3137 e 99508-2772.
* Márcio Pinheiro é porto-alegrense e jornalista. Trabalhou em diversos veículos de Porto Alegre, de São Paulo e do Rio de Janeiro.