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Publicada em 22 de Abril de 2025 às 00:25

Os 12 crimes do serial killer de Passo Fundo

Entre 2002 e 2004, Adriano da Silva assassinou doze meninos na Região Norte do RS

Entre 2002 e 2004, Adriano da Silva assassinou doze meninos na Região Norte do RS

/Divulgação/MP-RS/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
Era início do século XXI e a região Norte do Rio Grande do Sul ainda preservava a rotina tranquila das cidades médias do interior, onde as ruas pareciam respirar mais devagar e as praças ainda ecoavam o riso das crianças. Entre setembro de 2002 e janeiro de 2004, no entanto, essa calma serena foi engolida por uma sombra. Primeiro, de forma silenciosa; depois, com o peso de um pânico crescente. A vida que antes parecia imune à violência, logo se tornaria refém dela.
Era início do século XXI e a região Norte do Rio Grande do Sul ainda preservava a rotina tranquila das cidades médias do interior, onde as ruas pareciam respirar mais devagar e as praças ainda ecoavam o riso das crianças. Entre setembro de 2002 e janeiro de 2004, no entanto, essa calma serena foi engolida por uma sombra. Primeiro, de forma silenciosa; depois, com o peso de um pânico crescente. A vida que antes parecia imune à violência, logo se tornaria refém dela.
Meninos pobres, vendedores ambulantes, começaram a desaparecer. Um, depois outro. Famílias colavam cartazes nos postes, nos pedágios, nas portas de supermercados. O que antes parecia um incidente isolado, uma tragédia pessoal, logo virou um padrão. E o padrão tinha nome, embora ninguém soubesse: Adriano da Silva.
Natural do Paraná, Adriano chegou ao Rio Grande do Sul fugindo da justiça. Havia sido condenado a 27 anos de prisão por latrocínio, mas fugiu e cruzou a fronteira com uma nova identidade: a do próprio irmão. Na delegacia de Passo Fundo, registrou um boletim de ocorrência por perda de documentos, usando os dados de Gabriel da Silva. Ninguém desconfiou. Ele estava livre — e à caça.
Logo se estabeleceu como guardador de carros e passou a frequentar bares e praças. Era simpático. Os meninos o viam como uma figura amigável, alguém que oferecia dinheiro em troca de ajuda, promessas de pescaria, caça ou trabalho simples em alguma área afastada. Mas ninguém voltava. E os corpos começaram a aparecer.
De 2002 a 2004, doze meninos foram mortos por Adriano — seis em Passo Fundo, um em Sananduva, quatro em Soledade e um em Lagoa Vermelha. As vítimas tinham entre 8 e 13 anos. Eram atraídas para locais afastados. O agressor, então, asfixiava os garotos com um fio de nylon, usava técnicas de artes marciais para dominá-los e, em pelo menos três casos, cometeu necrofilia. A violência, segundo ele próprio afirmou à Justiça em 2005, era “um vício”. E só aumentava.
“Ele seduzia os meninos com pequenas recompensas. Era um predador, mas com aparência inofensiva”, relembra o promotor Álvaro Poglia, responsável por dois dos cinco júris que o condenaram. “A cada julgamento, havia comoção. Famílias inteiras iam aos fóruns. E ele não demonstrava remorso", continua.
Em um dos casos mais macabros, o corpo da vítima foi emparedado com cimento em um imóvel abandonado. Só foi encontrado oito meses depois, após a confissão do próprio Adriano, que desenhou o local do crime para os investigadores. Nos demais casos, os corpos eram deixados nos locais das mortes, camuflados com folhas e galhos. Em Sananduva, a última vítima foi encontrada cercada pelos próprios picolés que vendia — dispostos em forma de estrela. A imagem se tornou símbolo do terror que se instalou na região.
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O professor de literatura Gilmar Azevedo, autor do livro Os 12 Bilhetes de Adriano, acompanhou o caso de perto. “Foi um processo doloroso. Reuni relatos, entrevistei familiares, pesquisei arquivos. Ele costumava deixar bilhetes enigmáticos para a polícia. Era como se quisesse jogar. Como se estivesse sempre um passo à frente”, diz. Gilmar explica que três dos assassinatos atribuídos ao criminoso nunca chegaram a julgamento por falta de provas, embora ele tenha confessado parte deles.
O criminoso acompanhava de perto a movimentação após os assassinatos. “Sempre que um corpo era encontrado, ele estava entre os curiosos”, lembra Poglia. Em uma ocasião, foi levado à delegacia após a suspeita do avô de uma das vítimas — um ex-brigadiano. Mas, como usava a identidade do irmão, acabou solto. Mataria novamente dias depois.
O laudo do Instituto Psiquiátrico Forense apontou que Adriano possuía transtorno de personalidade antissocial. Os próprios relatos do condenado durante as avaliações reforçam o quadro. Ele afirmou: “Depois que eu matava, saía como se nada tivesse acontecido. Senti remorso apenas pelo primeiro guri que matei. Depois, foram doze, eu não ficava satisfeito com a morte. Tinha que fazer mais.”
Ao todo, Adriano da Silva acumula a maior pena da história do judiciário gaúcho: 264 anos e 5 meses de prisão. Apesar disso, pela legislação brasileira em vigor na época, o tempo máximo de detenção continua sendo de 30 anos. Adriano está hoje na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e deve ser solto em 2034, quando terá 56 anos.
Até hoje, as vítimas Ederson Leite, Alessandro Silveira, Cassiano Rosa, Jefferson Garcia, Douglas Oliveira, João Marcos Godóis, Volnei Siqueira, Jefferson Silveira, Júnior Loureiro, Luciano Rodrigues, Leonardo Dornelles e Daniel Lourenço, continuam a ser lembradas em meio à dor e à comoção que marcaram a região.
Procurada, a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, responsável pela defesa de Adriano, não quis se manifestar sobre o caso.

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