Para a juíza do Trabalho, Aline Fagundes, o principal desafio nesses processos é a produção de provas, especialmente porque o assédio costuma ocorrer de maneira discreta e sem testemunhas, tornando difícil a comprovação.
Aline explicou que, por essa razão, o uso de tecnologias, como câmeras e aplicativos de bate-papo, tem sido fundamental para a obtenção de evidências. "Hoje, temos mais registros porque esses ambientes mais informais acabam deflagrando muitos casos", comentou. Ela ainda enfatizou que o assédio moral, por ser mais recorrente e menos secreto, geralmente oferece mais evidências do que o assédio sexual.
A magistrada observou ainda que as denúncias costumam ocorrer com mais frequência após o rompimento dos contratos de trabalho, momento em que os trabalhadores se sentem mais seguros para formalizar as acusações. No entanto, chamou a atenção para o risco da chamada "vitimização secundária", um fenômeno que ocorre quando as vítimas enfrentam dificuldades adicionais no processo judicial, sentindo-se ignoradas ou desacreditadas. "Muitas vezes, elas só querem ser ouvidas", afirmou a juíza, defendendo a necessidade de uma abordagem acolhedora e cuidadosa nos julgamentos.
Por sua vez, a diretora de Integridade da Corsan/Aegea, Carine Bastos Oro, enfatizou que o assédio é uma questão cultural enraizada no Brasil e que as empresas têm investido na criação de programas de integridade para adaptar-se às mudanças nas relações de trabalho. "As empresas estão preocupadas e trabalham de forma preventiva ao investir em ambientes de trabalho seguros", afirmou, frisando que os programas de integridade são essenciais para a proteção dos funcionários.
Carine alertou para a importância da educação como um dos caminhos para combater o problema. "Precisamos analisar se as pessoas não podem ser educadas também, conscientizadas sobre o que é assédio", sugeriu, destacando que o foco das empresas deve incluir a capacitação coletiva para evitar situações de abuso.