Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 30 de Setembro de 2024 às 16:12

Garantias para abastecimento de energia vão além do horário de verão e estão atrasadas

Energia solar responde hoje por quase 10% do abastecimento, sendo que pouco mais da metade vem de micro e minigeração distribuída, que são painéis solares nos telhados

Energia solar responde hoje por quase 10% do abastecimento, sendo que pouco mais da metade vem de micro e minigeração distribuída, que são painéis solares nos telhados

/TÂNIA MEINERZ/JC
Compartilhe:
Folhapress
Os efeitos da mudança climática estão severos no Brasil, mas no que se refere ao abastecimento de energia elétrica para os próximos meses, pelo monitoramento até agora, o País não vive o risco de uma crise como ocorreu em outras secas. O desafio na atual estiagem é administrar a oferta no período de ponta, nas primeiras horas da noite. As soluções, porém, vão muito além de medidas emergenciais, como a volta do horário de verão, e estão atrasadas. Esse é o diagnóstico de especialistas do setor ouvidos pela Agência Folhapress.
Os efeitos da mudança climática estão severos no Brasil, mas no que se refere ao abastecimento de energia elétrica para os próximos meses, pelo monitoramento até agora, o País não vive o risco de uma crise como ocorreu em outras secas. O desafio na atual estiagem é administrar a oferta no período de ponta, nas primeiras horas da noite. As soluções, porém, vão muito além de medidas emergenciais, como a volta do horário de verão, e estão atrasadas. Esse é o diagnóstico de especialistas do setor ouvidos pela Agência Folhapress.
Como o cenário de pressão na ponta tende a se estender ao longo do verão, com efeito sobre os reservatórios de hidrelétricas, o temor no setor é que esse desafio, que deveria ajudar no aperfeiçoamento do modelo de operação do sistema, acabe servindo só para justificar que o consumidor pague por um grande número de térmicas caras, muitas delas desnecessárias ou até prejudiciais.
"A gente precisa tomar muito cuidado neste momento porque parece existir um movimento articulado para inflar uma sensação de crise, assustar a sociedade e promover uma contratação de termelétricas desnecessárias, que vão, por anos, encarecer a energia no Brasil e, a depender da modelagem, ainda vão carbonizar a matriz energética brasileira, que hoje está entre as mais limpas do mundo", afirma Paulo Pedrosa, presidente da Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), entidade que reúne os maiores consumidores industriais do País.
O risco, explicam diferentes especialistas, vem do fato de que vários contratos de térmicas a óleo combustível e diesel, por exemplo, estão vencendo. O equivalente a 1,4 GW (Gigawatts) em contratos termina neste ano. O Congresso analisa a prorrogação de subsídios para térmicas a carvão, o que geraria custo extra na conta de luz e pioraria o efeito da mudança climática, que já deixou o Rio Grande Sul debaixo d'água e agravou as queimadas no País.
Térmicas e hidrelétricas se tornaram a essência do sistema interligado nacional a partir do traumático racionamento entre 2001 e 2002. Basicamente, esse modelo hidrotérmico prevê o acompanhamento das chuvas e dos reservatórios das usinas, mirando um nível de água seguro em novembro, o período mais crítico da estiagem. As térmicas são acionadas para poupar água. A meta sempre foi o abastecimento ao longo do dia.
No entanto, o perfil da oferta de energia mudou com as fontes renováveis. Ao longo do dia, especialmente, das 10h às 15h, existe forte entrega fotovoltaica, que ajuda no pico de consumo por volta das 14h. Mas essa fonte some ao pôr do sol, momento em que há um novo aumento de demanda --a iluminação pública é acionada, as pessoas vão para casa, ligam a luz, a TV, bares e restaurantes recebem clientes.
A energia solar responde hoje por quase 10% do abastecimento, sendo que pouco mais da metade vem de micro e minigeração distribuída, que são aqueles painéis solares nos telhados das casas ou em fazendas pelo sistema de parceria.
Para detalhar cenários para o abastecimento e medidas, a Folha fez contato com MME, ONS (Operador Nacional do Sistema), Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e EPE ( Empresa de Pesquisa Energética), sem obter retorno.
Em sua página na internet, o ONS já detalha o problema. Apresenta projeções até o ano que vem, com os horários críticos entre o fim da tarde e parte da noite, e demonstra como pode atender as lacunas. Sinaliza que vai usar até a chamada reserva operativa, que é um volume adicional de energia, incluído diariamente no programa de atendimento ao consumo.
 

Notícias relacionadas