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Publicada em 20 de Maio de 2024 às 20:07

Logística travada gera falta de insumo no RS e atrasa indústria que tenta operar

Corredor Humanitário foi criado no Viaduto da Conceição em Porto Alegre

Corredor Humanitário foi criado no Viaduto da Conceição em Porto Alegre

EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Folhapress
O desastre das enchentes segue provocando gargalos logísticos no Rio Grande do Sul. Indústrias que tentam operar sofrem com a falta de parte dos insumos e registram atrasos na entrega de pedidos, dizem lideranças empresariais ouvidas pela Folha.
O desastre das enchentes segue provocando gargalos logísticos no Rio Grande do Sul. Indústrias que tentam operar sofrem com a falta de parte dos insumos e registram atrasos na entrega de pedidos, dizem lideranças empresariais ouvidas pela Folha.
As fortes chuvas bloquearam rodovias, arrancaram pontes e inundaram o aeroporto Salgado Filho, que foi fechado para pousos e decolagens em Porto Alegre.
Tudo isso dificulta a chegada e a saída de mercadorias das fábricas que não estão alagadas e que buscam manter as operações.
"Tem algumas coisas que já começaram a faltar", diz Claudio Bier, presidente do Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul), ao tratar das dificuldades no abastecimento de insumos.
Segundo ele, o maior gargalo logístico para o setor no momento é o bloqueio de estradas, embora o fechamento do aeroporto também atrapalhe, já que uma parcela das matérias-primas é transportada por aviões.
De acordo com o empresário, o Rio Grande do Sul responde por cerca de 65% da produção nacional de máquinas e implementos agrícolas.
"Temos indústrias espalhadas no estado inteiro. Em algumas zonas, a enchente não foi tão violenta como na Grande Porto Alegre e nos vales do [rio] Caí, do Taquari e do Jacuí", afirma.
"Há empresas que ficaram debaixo d'água e empresas que não estão debaixo d'água, mas os funcionários não conseguem chegar. O terceiro problema, que está afetando quase todas, é a logística", completa.
Os impactos da crise também atingem a indústria elétrica e eletrônica. "É uma situação bem complicada, tanto para importação quanto para exportação", aponta Regis Haubert, diretor regional da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) no Rio Grande do Sul.
O setor depende bastante do transporte aéreo e marítimo para obter insumos, já que cerca de 80% dos componentes eletrônicos são importados, principalmente da Ásia, diz o empresário.
"Algumas empresas já estão com o atendimento a clientes atrasado. Como o caos da enchente atingiu muitas cidades, muitas empresas estão operando com 50%, 60%, 70% da capacidade."
"Isso implica diretamente na produção e na capacidade de pedidos e contratos. É uma somatória de fatores que vai complicando cada vez mais as indústrias em geral no estado", acrescenta.
Com o fechamento do Salgado Filho, companhias do setor elétrico e eletrônico buscam alternativas para driblar as dificuldades. Uma saída é recorrer a importações via transporte aéreo até o aeroporto de Guarulhos (SP), segundo Haubert.
Em seguida, as cargas são levadas em caminhões até o Rio Grande do Sul, diz o empresário. "De certa forma, a gente está conseguindo suprir [a demanda] com alguns atrasos inerentes à logística."
Outra indústria com relevância no estado é a de móveis. A Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul) afirma que a maioria do setor trabalha com estoque de matérias-primas. Apesar disso, vê possibilidade de "ruptura na produção" por falta de alguns itens no prazo de 15 a 20 dias.
"Em geral, empresas que possuem centro de distribuição em outros estados mantiveram seu faturamento e entrega", declara a entidade em nota assinada pelo presidente Euclides Longhi.
"As centradas no Rio Grande do Sul estão buscando rotas alternativas para escoar a produção e já conseguem realizar entregas em São Paulo -mesmo que os prazos possam ser um pouco mais longos."
A Movergs diz que ainda está realizando um levantamento sobre os efeitos da crise. Com sede no Rio Grande do Sul, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) também está produzindo uma pesquisa sobre o tema.
"Sabemos que o impacto é muito forte na cadeia produtiva, mas será somente com a pesquisa que poderemos ter noção exata do número de fábricas e trabalhadores atingidos pelas enchentes", afirma o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, em nota.
Segundo a entidade, o Rio Grande do Sul é o maior exportador e o segundo maior produtor de calçados do país. O estado tem em torno de 1.800 empresas, que empregam diretamente cerca de 85 mil pessoas.
A Abicalçados também participa de um movimento recém-lançado, o Próximos Passos RS. A iniciativa busca reconstruir o ecossistema de couro e calçados no estado.
A Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) declara em nota que não vê risco iminente de desabastecimento no Rio Grande do Sul.
A entidade, porém, reconhece que as condições climáticas têm afetado as operações logísticas. Ainda de acordo com Abia, isso poderá impactar tanto a população local quanto os demais estados que recebem produtos gaúchos.
Além do destaque na produção de arroz, o Rio Grande do Sul também tem relevância no abastecimento de proteínas animais (carnes), laticínios, óleos e gorduras vegetais, chocolates, moagem de trigo, suco de uva e frutas de clima temperado, sinaliza a associação.
 

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