O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, afirmou que cabe ao Ministério da Fazenda definir o tamanho do possível fundo garantidor de crédito para companhias aéreas.
As empresas pressionam o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por medidas de socorro após a crise da pandemia. A criação de um fundo é uma possibilidade em discussão, mas os detalhes da eventual medida ainda não foram confirmados.
"Quem define qual é o tamanho do fundo garantidor é o Ministério da Fazenda, é o governo. Tem de analisar bem qual é a demanda de crédito, o que é realmente indispensável, essencial, para que a gente possa entrar", afirmou Mercadante.
"O BNDES vai analisar a partir do momento em que tiver essa condição. Já conversamos com as empresas, elas já apresentaram suas necessidades, mas já dissemos publicamente a elas que precisamos de um fundo garantidor", acrescentou.
Mercadante abordou o assunto ao ser questionado por jornalistas em uma entrevista na sede do banco, no Rio de Janeiro, na semana passada.
Antes, ele participou da cerimônia de assinatura de um acordo de cooperação técnica entre o BNDES e a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil). Conforme o banco, a medida busca fortalecer a parceria entre as instituições.
Mercadante voltou a dizer na entrevista que o País precisa ter empresas aéreas próprias. Essa posição havia sido defendida pelo presidente do BNDES em um evento no dia 8 de fevereiro.
Naquela ocasião, ele também havia prometido que o banco daria prioridade para o setor aéreo refinanciar as suas operações assim que fosse resolvida a questão das garantias para os empréstimos.
Mercadante repetiu, na semana passada, que as companhias aéreas vivem um momento positivo em termos de demanda, com a retomada das viagens após a pandemia, mas lembrou que o setor acumulou um passivo na crise sanitária. Esse é, na visão dele, o motivo da turbulência do segmento neste início de ano.
O começo de 2024 no setor aéreo foi marcado pelo pedido de recuperação judicial da Gol. A Justiça dos Estados Unidos aceitou a solicitação em 26 de janeiro. Mercadante avaliou que a legislação brasileira precisa de avanços no que diz respeito a empresas em dificuldades financeiras.
Nesse sentido, ele lembrou, sem citar nomes, que duas companhias aéreas (Gol e Latam) já recorreram a pedidos de recuperação nos Estados Unidos, e não no Brasil. "Precisamos de uma legislação mais moderna. Na condição em que estamos, o BNDES precisa de um fundo garantidor que assegure as condições para a gente poder ofertar o crédito." No dia 5 de fevereiro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que o governo estudava um socorro para a reestruturação do setor aéreo, mas sem dinheiro do Tesouro Nacional.
Folhapress
Encarecimento de passagem aérea reverte tendência de baixa e altera promoções das companhias
Enquanto ainda sofre o impacto da pandemia, o setor aéreo sinaliza mudanças em sua sazonalidade - que delineia o padrão das flutuações de preço influenciadas por oferta e demanda ao longo do ano. Alterações no perfil sazonal podem afetar o planejamento estratégico das empresas e a previsibilidade dos consumidores que buscam bilhetes nos períodos de melhor custo-benefício.
Além das discrepâncias sazonais, um estudo do professor Alessandro Oliveira, do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), verificou forte reversão na trajetória de valores dos voos domésticos. Antes do início da crise sanitária, em 2020, o mercado caminhava para uma tendência de queda de preços de aproximadamente 2,5% a cada cinco anos. Porém, isso se reverteu no pós-pandemia, levando a uma projeção de aumentos em torno de 23% a cada cinco anos, segundo o estudo.
"Essa é uma tendência extrapolada de cinco anos. Se as condições continuarem as mesmas, com tudo mais constante, todos os outros fatores controlados, aumentaria 23%. Isso é insustentável", diz Oliveira. Neste cenário de um patamar generalizado de passagens mais caras do que no passado, o estudo também apontou tendência de maior concessão de promoções na baixa temporada.
"Com preços altos, fica mais difícil encher os aviões. Aí os incentivos para dar descontos em alguns momentos-chave começam a aparecer", diz. Na prática, o pós-pandemia trouxe maior discrepância entre preços de alta e baixa estação. "Observamos um efeito bem diferenciado no final da alta estação e nos primeiros meses da baixa, em particular, em abril", diz o professor. Gol e Latam afirmam que já fizeram promoções nos dois primeiros meses de 2024, que correspondem à alta estação.
A Gol diz que o calendário promocional segue ao longo do ano, com foco nas vendas nos fins de semana e madrugadas. Segundo a empresa, janeiro teve promoção com voos a partir de R$ 144,00 e, no Carnaval, por R$ 184,00. A Latam afirma ter feito três promoções em janeiro e fevereiro, com bilhetes a partir de R$ 99,00 por trecho, e segue com o calendário.
"Em geral, as companhias aéreas não trabalham fortemente os descontos tão cedo, em fevereiro. Elas ficam esperando para ver como a economia vai se comportar no ano. Depois do Carnaval, começam a sentir o mercado e fazer o planejamento. Tudo depende da economia. Por mais que tenha propaganda de promoções nesse período, no primeiro trimestre, é menos provável encontrar uma boa promoção. Ela acontece mais para a frente", diz Oliveira.
O atual desarranjo no mercado de viagens pode ser consequência do descasamento entre oferta e demanda de assentos que a aviação enfrenta hoje, além das mudanças no comportamento do consumidor. O setor vive uma preocupante escassez de motores e até aeronaves. Além dos atrasos provocados por fornecedores de aviões e peças, o mercado brasileiro atravessa ainda a crise da Gol, que entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos.
José Roberto Afonso, professor do IDP, também vê sinais de mudança no perfil de demanda por viagens ao longo da semana. A prática do home office às sextas ou segundas-feiras em muitas empresas pode ter estimulado a procura pela ponte aérea às quintas e terças. Uma nova tendência adotada por passageiros corporativos, o chamado bleisure (em que o profissional estica a viagem a um congresso ou reunião para complementar com lazer) pode reorganizar as datas de maior demanda.
O mercado de viagens corporativas também se adaptou à nova realidade de preços reduzindo a frequência das reuniões presenciais em outras cidades e até fretando voos para otimizar os custos. A regra mais tradicional para quem busca gastar menos é a da compra antecipada. A mudança nos padrões de sazonalidade, porém, dificulta essa previsão.
Uma pesquisa de passagens realizada pela reportagem no buscador de preços Skyscanner encontrou viagens de São Paulo a Natal, ida e volta, por R$ 1.011,00 entre os sábados 13 e 20 de abril ou por R$ R$ 887,00 entre os sábados 11 e 18 de maio. As datas, apesar de mais próximas, estão mais baratas do que se fossem marcadas entre os sábados 10 e 17 de agosto (R$ 1.257,00) ou 14 e 21 de setembro (R$ 1.059,00).