Há cinco décadas, uma importante inovação mudava de forma irreversível a relação entre os atores da cadeia de suprimentos. Estamos falando do código de barras, que desde a sua criação tornou-se a ferramenta de rastreamento mais comum em todo o mundo. De forma global, é hoje utilizada em checkouts de bilhões de produtos.
O Código Universal do Produto é uma tecnologia movida a laser que possibilitou agilidade no pagamento, devoluções fáceis, estoques externo e caixas de autoatendimento. No Brasil, está presente desde 1983, quando entidades representativas de vários setores da indústria e do varejo se juntaram para promover a automação comercial.
Com a criação da Associação Brasileira de Automação Comercial (ABAC) - posteriormente, chamada de EAN Brasil e, mais adiante, a atual Associação Brasileira de Automação -GS1 Brasil, houve um maior compartilhamento de informações com associados e parceiros numa rede global de crescimento contínuo e sustentável. "Hoje, contamos com mais de 58 mil associados que representam 36% do PIB nacional e 12% dos empregos formais", afirma João Carlos de Oliveira, presidente da GS1 Brasil.
Apesar de parecerem todos iguais, cada código de barras identifica um produto de forma exclusiva. Ao realizar uma leitura, o produto físico é conectado a diversas informações importantes para o processo.
Assim, "essa mudança proporcionou novas experiências para o consumidor, que passou a ter mais qualidade no atendimento e ser mais bem informado ao longo do tempo", analisa Oliveira.
Agora, uma nova transformação está em curso e traz resultados positivos para a qualidade de vida dos consumidores, além de muito mais agilidade e economia para as empresas. Em um trabalho conjunto com os principais players do setor de varejo em mais de 20 países - incluindo China, EUA, Austrália e Brasil -, uma nova geração de código bidimensional (2D) já está no mercado.
Este tem mais capacidade de fornecer dados confiáveis e precisos a consumidores, empresas e agências reguladoras. Na área da saúde, proporciona mais segurança a profissionais e pacientes. O código 2D pode contar a "história" de um produto: de onde vem, dados nutricionais, composição, rastreabilidade e muito mais. Na avaliação de Oliveira, "a transição para a nova geração de códigos de barras vai trazer ainda mais agilidade, eficiência, economia e rastreabilidade".
Leia mais na página 3
Diferenças entre Código 1D e 2D
1D - Linear
Os códigos de barra 1D são criados a partir de linhas de mesmo sentido e paralelas umas às outras, que carregam consigo informações variadas. Elas podem representar praticamente qualquer tipo de dados (como números ou letras) e até mesmo criptografias, sendo bastante usadas para quem quer inserir informações de forma menos óbvia. O sistema de leitura do código de barras linear pode ser feito de várias formas. Ele é lido por um equipamento a laser que faz a decodificação das barras. Esse equipamento é de fácil utilização e pode ser incorporado a qualquer momento na rotina de empresas de todos os portes.
Apesar de sua facilidade, é preciso entender que o código de barras tem suas limitações. Quando a etiqueta é danificada ou são criadas linhas pretas e parecidas com o código ao lado das originais, isso corrompe o sistema de codificação dos dados. Esse problema costuma ser driblado, todavia, com a adição de códigos numéricos que podem ser digitados manualmente caso o código não seja lido de forma adequada. Além disso, a capacidade de armazenamento do código de barras linear costuma ser entre 12 e 20 caracteres.
2D - Detalhado
Os códigos de barras 2D são usados sobretudo quando é preciso colocar informações essenciais de um certo produto sem precisar escrever tudo detalhadamente. Lote, número de série, informações de produção e afins são algumas das principais informações que costumam aparecer nesse tipo de codificação. Esse tipo de código de barras pode ser classificado como empilhado ou matriz. O código de barras empilhado é mais simples, já que consiste basicamente em códigos lineares empilhados uns sobre os outros, combinando as suas formas de codificação. Já os códigos de barra matriz são compostos por estruturas de forma quadrada, sextavada ou até mesmo circular, que ficam dispostas de forma aparentemente desordenada para poder conter todas as informações necessárias. A capacidade de armazenamento de um código de barras 2D é de até 1000 caracteres. Ou seja, ele suporta informações bem mais complexas e detalhadas do que o anterior.
Código 2D é realidade na cadeia de suprimentos

Capacidade de armazenamento do 2D é de até mil caracteres
GS1/divulgação/jc
Pelos corredores do evento Brasil em Código 2023, organizado pela Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, em São Paulo, no mês passado, a introdução do código 2D foi assunto constante entre empresas e visitantes.
Sob o tema "Inovações que Transformam o Amanhã", a nova revolução da leitura e rastreamento de produtos já está sendo incorporada nas novas máquinas que entram no mercado.
Com a necessidade cada vez maior de as empresas inserirem mais informações nos produtos, que não eram mais suportadas apenas na forma 1D, esta evolução veio como a solução para esse problema. A capacidade de armazenamento do 2D é de até mil caracteres. Dessa forma, ele suporta informações bem mais complexas e detalhadas do que o modelo anterior.
Assim, empresas como a Zebra Technologies no Brasil passaram a trabalhar com dispositivos que possuem um mecanismo de leitura integrado nos dois padrões.
De acordo com o sales engineer da Zebra Technologies no Brasil, Rafael Borodai, a tecnologia desenvolvida pela companhia permite a digitalização de itens, seja na mão ou na prateleira mais alta, oferecendo captura inicial em fração de segundos.
No estante da multinacional alemã Bizerba, o especialista técnico Jonatan Almeida destacou as balanças com reconhecimento de imagens, que geram etiquetas espontâneas. "Nossa tecnologia permite um rastreio individual do produto, evitando falhas e desperdícios, tanto na saída quanto no recebimento", explicou.
Entre as soluções apresentadas pela GIC Brasil na feira, um dos destaques foi a tecnologia RUB, plataforma desenvolvida para o varejo. Segundo o CEO da empresa, o sistema Ivan Fernandes, "o sistema centraliza as informações, ajudando o lojista a tomar decisões inteligentes, além de aumentar a produtividade da equipe e a rentabilidade do negócio".
Nesse caso, a possibilidade de incluir uma grande quantidade de dados com o código 2D, permite indicadores precisos ao monitoramento, em tempo real, com dados precisos. "Não só o lojista consegue manter a prateleira constantemente abastecida, como ele consegue identificar oportunidades de melhoria contínua nos processos e agir rapidamente, garantindo a eficiência operacional da loja, a qualidade do atendimento e a satisfação dos clientes".
Apesar de todos os benefícios, o presidente da GS1 Brasil, João Carlos de Oliveira, lamenta a baixa adesão do modelo 2D que já é realidade no Brasil a mãe de um ano.
"Temos uma cultura de deixar para fazer as mudanças só quando não há mais como escapar, mas estamos trabalhando com as entidades representativas de várias frentes para acelerar este processo, que é irreversível. Melhorar os processos de gestão é bom para todo mundo: indústria, varejo e consumidor final", ressalta o dirigente.
Confira a linha do tempo da presença e evolução do código de barras no Brasil
Desde a sua criação em 1973, o código de barras, um pequeno e importante símbolo, transformou o modo como compramos e vendemos produtos, permitindo que informações transitem de maneira mais eficiente e transparente ao longo da cadeia de suprimentos.
1973: em 3 de abril, líderes da indústria do setor de supermercados dos EUA criaram o código de barras, uma inovação que revolucionou a economia moderna e a sociedade.
1974: o primeiro produto do mundo foi escaneado: Em 26 de junho, no Marsh, em Ohio, um pacote de chiclete Wrigley's se torna o primeiro produto lido no mundo com um código de barras, padrão da Uniform Code Council (UPC).
1977: criação da European Article Numbering Association (EAN) como uma organização internacional sem fins lucrativos de padronização para identificar produtos em Bruxelas, na Bélgica. O novo código de barras da EAN é totalmente compatível com o código de barras UPC nos EUA.
1983: os códigos de barras tradicionais começam a ser usados além dos caixas de supermercados para a identificação de pacotes e caixas no atacado. Neste mesmo ano, foi criada a Associação Brasileira de Automação Comercial (ABAC), que passou a ser chamada de EAN Brasil e atualmente Associação Brasileira de Automação- GS1 Brasil.
1989: a GS1 lança a Eletronic Data Interchange (EDI), criando uma maneira eficiente, segura e automatizada para troca de informações entre parceiros comerciais.
1995: com a implementação de padrões para aumentar a segurança do paciente, a GS1 ingressa na área da saúde, impulsionando a eficiência da cadeia de suprimentos e melhorando a identificação e rastreabilidade de produtos médicos.
1999: as especificações para o GS1 DataBar são aprovadas. Esse código de barras reduzido pode identificar pequenos itens desde joias até alimentos frescos, carregando mais informações do que os códigos de barras tradicionais.
2000: no início do novo milênio, a GS1 marca presença em 90 países.
2002: o Global Standards Management Process (GSMP) é lançado, fornecendo um ambiente neutro para a indústria discutir desafios de negócios comuns e estabelecer soluções baseadas em novos padrões.
2003: a EPCglobal, Inc. é formada para inovar e desenvolver padrões para o Electronic Product Code (EPC) e apoiar o uso da tecnologia de Identificação por Radiofrequência (RFID), melhorando a precisão do inventário e aumentando a visibilidade em toda cadeia de suprimentos.
2004: o GS1 DataMatrix é aprovado e é o primeiro código bidimensional adotado pela GS1. A Rede Global de Sincronização de Dados da GS1 (GS1 GDSN) é lançada e permite que qualquer empresa, em qualquer lugar, compartilhe informações de produto de alta qualidade de forma transparente.
2005: a Uniform Code Council (UCC) e a European Article Number (EAN) se fundem, criando uma única organização internacional, a GS1, com 101 Organizações Membro.
2006: a GS1 lança o primeiro padrão global de rastreabilidade, abrindo caminho para maior interoperabilidade e transparência da cadeia de suprimentos.
2010: com o crescimento do comércio eletrônico, a GS1 entra no mundo business-to-consumer (B2C), explorando padrões para permitir o acesso direto dos consumidores às informações do produto por meio de seus dispositivos móveis.
2013: a GS1 recebe acreditação pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA como responsável pela identificação única e global de dispositivos médicos, o Unique Device Identification (UDI)
2014: a GS1 desenvolve uma nova estratégia global para atender às demandas do comércio digital omnichannel, incluindo a validação de seu primeiro padrão "digital".
2016: a BBC, empresa pública de rádio e televisão do Reino Unido, nomeia o código de barras da GS1 como uma das "50 inovações que mudaram a economia mundial".
2018: a GS1 expande para o setor financeiro como uma emissora credenciada de Identificadores de Entidades Jurídicas (LEIs), os códigos que identificam exclusivamente empresas que participam de transações financeiras.
2019: o GRP GS1 Registry Platform é considerado uma fonte confiável de Prefixos de Empresa (GCP), GTIN (Número Global do Item Comercial) e GLN (Número Global de Localização).
O Verified by GS1 possibilita o acesso aos usuários: donos de marcas podem compartilhar dados básicos sobre seus produtos e varejistas e marketplaces podem verificar a identidade dos produtos que vendem.
2020: o padrão GS1 Digital Link permite, por meio do QR Code, conectar os consumidores com uma grande quantidade de dados online, incluindo informações técnicas e nutricionais de produtos, ações promocionais, origem, data de validade e muito mais.
2021: a GS1 apoia a indústria na adoção de códigos bidimensionais - QR Code e GS1 DataMatrix - para uso no varejo em todo o mundo até o final de 2027.
No dia 28 de outubro de 2021, a GS1 Brasil celebrou outro grande marco histórico: habilitou, pela primeira vez no mundo, o Código 2D com GS1 Digital Link, considerado uma (r)evolução do código de barras.
2022: um relatório conjunto da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Fórum Econômico Mundial (FEM) destaca o poder dado padrões GS1 para tornar o comércio global mais eficiente, abrangente e sustentável.
2023: Mais de 1 bilhão de produtos com códigos de barras da GS1 lidos por cerca de 10 bilhões de vezes por dia em todo o mundo.
FONTE: GS1 BRASIL