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JC Logística

Entrevista

- Publicada em 19 de Junho de 2023 às 18:40

Diálogo é a chave para solucionar problemas dos transportadores, diz presidente do Setcergs

Gabardo diz que é preciso atualização constante, observando que a inovação é importante no transporte

Gabardo diz que é preciso atualização constante, observando que a inovação é importante no transporte


/ANA TERRA FIRMINO/JC
Os desafios e soluções do setor de transporte e logística estarão em destaque durante a 23ª Transposul, no Centro de Eventos da Fiergs, em Porto Alegre. O evento é promovido pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), segundo maior sindicato da categoria no Brasil.
Os desafios e soluções do setor de transporte e logística estarão em destaque durante a 23ª Transposul, no Centro de Eventos da Fiergs, em Porto Alegre. O evento é promovido pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), segundo maior sindicato da categoria no Brasil.
Para o presidente do Setcergs, Sérgio Mário Gabardo, os transportadores estão enfrentando um período conturbado, com dificuldades econômicas, entraves de legislação e insegurança quanto aos roubos de cargas. No entanto, o dirigente defende o diálogos com governos, órgãos públicos e sociedade para buscar soluções para esses problemas. Gabardo também reforça a importância da inovação para manter saudáveis os negócios dos transportadores.
Sérgio Mário Gabardo - No mundo do transporte, precisamos estar preparados. Se não inovarmos, se não nos atualizarmos, vamos ficar para trás. Os transportadores precisam se preparar para a segurança viária, para as preocupações da agenda ESG (sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa, na sigla em inglês). As empresas pequenas que não se atualizam são engolidas por empresas maiores, muitas globais, que tomam conta do mercado. Aquelas que se modernizam passam por todas as crises possíveis, porque o embarcador não troca a fidelidade da transportadora que usa quando ela inova a cada dia, ou se atualiza quando o mercado sugere necessidades de mudanças. E a Transposul é justamente uma oportunidade que temos para aprender como nós, transportadores, vamos encantar nosso embarcador nesse mundo moderno.
Logística - Quais os principais gargalos?
Gabardo - Um deles é a legislação atual, que não leva em conta especificidades da nossa área. Temos leis trabalhistas caras, exigidas sem que consigamos cumpri-las. Por exemplo, não temos lugar onde o motorista possa pernoitar. Além disso, o cumprimento da jornada de trabalho pode passar de horário por muitos motivos, como blitz, acidentes.
Logística - A insegurança nas estradas também é um problema?
Gabardo - O roubo de cargas e caminhões continua forte, um assunto que tratamos recentemente em reuniões com entidades e órgãos ligados à segurança no Estado, quando manifestamos nossa preocupação com a construção de um trabalho integrado entre as instituições, como as polícias civil e federal, Brigada Militar, Secretaria de Segurança Pública e até mesmo as concessionárias de rodovias. Estamos muito preocupados com uma realidade que vem sendo passada por nossos associados em relação ao roubo de cargas. É preciso ajustar alguns aspectos legais e intensificar ações conjuntas. E usar tecnologia para monitoramento, controle e até bloqueio de veículos. O secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, nos garantiu que iria nos chamar, junto com os órgãos competentes, para montar um plano. É preciso esse diálogo maior entre transportadores e os órgãos de segurança para que possamos diminuir esses crimes.
Logística - As empresas estão sentindo uma crise econômica também?
Gabardo - Com a situação econômica do País, os embarcadores estão com dificuldades de pagamentos, postergando prazos. Muitos estão pedindo até 120 dias para honrar o frete, enquanto nós precisamos pagar, rigorosamente, em dia e no prazo, o motorista, os impostos e outros custos, que estão cada vez maiores. Isso soma-se ao fato de que o transportador está sem crédito, sem coragem para investir. Então, precisamos que o governo dê uma confiança para a gente seguir em frente, e dialogue mais com os transportadores para juntos encontrarmos soluções. Agora é momento de diálogo, de união para sermos mais fortes.
Logística - Vê alguma solução para a falta de crédito?
Gabardo - Seria interessante, por exemplo, que o transportador autônomo pudesse comprar o veículo usando seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Existem várias situações onde o trabalhador pode já fazer isso.
Logística - O programa de incentivo à compra de caminhões, anunciado pelo governo federal, não seria um auxílio?
Gabardo - Essa medida não vai ajudar as empresas de transportes. Se o governo quer ajudar, ele tem que ouvir o setor, para que manifeste qual é a sua necessidade. Não adianta tentar fazer com que o transportador compre um veículo de R$ 1 milhão se não tem como pagar o seguro, a revisão, manutenção... O que precisamos é que seja fechado o buraco na estrada, que possamos transportar com segurança. Além disso, hoje não temos crédito. O governo precisa dar crédito para a gente poder comprar o caminhão, ou o implemento, e dar condições para ele rodar. Uma proposta para renovação de frota precisa ouvir transportadores e montadoras. Precisamos mudar a frota brasileira com caminhões que poluem menos, gastam menos, mas o governo tem que ser sensível ajudando as empresas que estão procurando se modernizar, ser sustentáveis, ter segurança viária. Hoje, qual o incentivo que uma empresa pequena tem para buscar isso? Essas empresas precisam investir. Quando faz segurança viária, a transportadora tem que contratar psicólogo, fazer exames de saúde do motorista. Se polui menos, deveria ter um incentivo do governo. Quem vai me pagar a mais ou dar algum desconto por ser uma empresa que não polui?
Logística - Recentemente o Congresso Nacional aprovou a Medida Provisória (MP) 1.153, que transfere ao transportador a obrigação de contratar o seguro de cargas, ao invés de ser responsabilidade do embarcador. Como vê essa mudança?
Gabardo - Vejo como um fato positivo, pois vai melhorar a competição entre os transportadores e pode até baixar custos. Os grandes embarcadores vão poder avaliar cada transportador individualmente. Se uma indústria tem 10 transportadores, e um gasta mais do que os outros com seguro, ela sempre vai escolher quem menos dê problemas. E as seguradoras também vão penalizar quem é mau transportador. Dessa forma, a MP ajuda o mercado a se autorregular.
Logística - Em relação à política de preços dos combustíveis, o que espera que seja feito?
Gabardo - Precisamos ter uma previsibilidade de preços. Hoje há muita insegurança. Quando o preço do diesel cai, o embarcador toma uma decisão de baixar os valores pagos imediatamente. Quando sobe, nossa luta para repassar o valor do diesel para o frete pode levar meses. Defendemos a liberdade econômica, mas o governo tem que estabelecer datas, prazos mais estáveis, para a validade dos preços dos combustíveis. Dessa forma, negociaríamos valores de frete dentro de condições melhores. Hoje, não se sabe o que vai acontecer amanhã, o que gera muita instabilidade de negócios.