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Publicada em 23 de Dezembro de 2024 às 10:00

Receita terá que detalhar a reforma tributária em 2025

Especialistas esperam que o Fisco  explique, por exemplo, como se dará o novo mecanismo splity payment

Especialistas esperam que o Fisco explique, por exemplo, como se dará o novo mecanismo splity payment

Freepik/Divulgação/JC
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Caren Mello
Caren Mello
A nova rodada da reforma tributária - apreciação pela Câmara dos Deputados e encaminhamento para veto ou sanção presidencial - devem acontecer até o final de janeiro, segundo expectativa do governo federal. A afirmação foi do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na última semana, após reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e com o ministro Fernando Haddad, da Fazenda. Conforme Padilha, o governo ficou satisfeito com "conjunto da obra" do projeto aprovado. O ministro sugeriu, inclusive, uma "grande cerimônia" de sanção da proposta com convites para representantes da economia participarem.
A nova rodada da reforma tributária - apreciação pela Câmara dos Deputados e encaminhamento para veto ou sanção presidencial - devem acontecer até o final de janeiro, segundo expectativa do governo federal. A afirmação foi do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na última semana, após reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e com o ministro Fernando Haddad, da Fazenda. Conforme Padilha, o governo ficou satisfeito com "conjunto da obra" do projeto aprovado. O ministro sugeriu, inclusive, uma "grande cerimônia" de sanção da proposta com convites para representantes da economia participarem.
Na prática, o efeito só se dará em 2026, em função de todos os desdobramentos que devem acontecer no próximo ano. Nesse período, a Receita Federal terá um papel fundamental, segundo o advogado Felipe Grando. "A Receita terá que começar a alcançar uma série de informações, layouts, sua própria regulamentação e instruções normativas em relação à Reforma. Em 2025, haverá a necessidade de o órgão trazer a sua regulamentação em relação ao PLP 68 (que passará a ter outro número), que institui o IBS, a CBS e o imposto seletivo", observa.
De acordo com o especialista em Direito Tributário, a partir das orientações da Receita será possível entender qual será a interpretação, o caminho e a forma com que ela tratará esses novos tributos. Além disso, será necessário o início da disponibilização dos layouts das obrigações acessórias. "As empresas precisarão ver como é que vão preencher, onde e como elas vão as informações que formam a tributação. Somado a isso, por exemplo, empresas de tecnologia vão precisar captar esses layouts, parametrizar com os sistemas que as empresas utilizam sistemas contábeis, sistemas de apuração de tributos, sistemas fiscais", observou. Na avaliação de Grando, existe uma enorme E incerteza e também um tempo demasiadamente curto para que todo esse processo aconteça.
O especialista lembra que outra questão que deverá ser detalhada é o novo mecanismo split payment, que vem gerando polêmica. "Com o split payment estamos, basicamente, entregando na mão de bancos, de instituições financeiras, a obrigação de, toda vez que houver recebimento de um valor por parte de um contribuinte, de um serviço ou da venda de um bem, fazer a retenção integral do IBS e da CBS, uma carga especulada em 27,95% hoje e que deve aumentar. Mas como isso vai acontecer na prática?, questiona, ao salientar que a Receita Federal, historicamente, é uma boa arrecadadora, mas uma péssima devolutiva de valores. "São essas incógnitas que precisamos esclarecer em 2025. É o ano em que essas respostas devem começar a vir", ressalta.
Em outro cenário, que acontecerá de forma paralela, o Brasil passará por um período de interpretações jurídicas. Embora tenhamos um sistema tributário com leis estabelecidas, o ordenamento jurídico sempre requer que os textos sejam interpretados. "O Direito não é uma ciência cartesiana. O Direto é uma ciência humana, que demanda interpretação. Às vezes, a Receita Federal tem uma interpretação em um sentido, o Judiciário tem uma interpretação em outro e o Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que é o seu Tribunal Administrativo, tem outra interpretação."
Em termos efetivos, para o contribuinte ou para as empresas, a Reforma não trará mudanças no próximo ano. O início de efetivação prática acontecerá somente em 2026, quando o governo federal deverá promover uma espécie de evento teste. Em 26 não haverá mais a carga tributária no IBS e o CBS, isto é, ainda permanecerá integralmente em PIS, Cofins, ICMS e ISS e IPI. No entanto, os contribuintes já terão que dar início às transmissões de declarações de obrigações acessórias.
 

Reforma tributária deve gerar debates durante o próximo ano

País precisa de outras leis para ajustar sistema, diz Souza

País precisa de outras leis para ajustar sistema, diz Souza

MSCAdvogados/Divulgação/JC
Aprovado o texto-base do principal projeto de regulamentação da Reforma Tributária pelo plenário do Senado no dia 12 de dezembro, o texto segue novamente para a Câmara. Se aprovado pelos deputados, o texto irá à sanção da presidência da República ainda neste ano, e, já nos primeiros meses de 2025, terá início a regulamentação. A previsão é de que siga ao longo de 2025.
O tema é complexo e longo. Teve início em dezembro de 2023. A constituição foi alterada com a inclusão de novas premissas do Direito Tributário fixando na reforma tributária, além de estabelecer um cronograma para a implementação.
"É uma lei que reformou o sistema tributário, e, agora, precisamos de outras leis para ajustar essa premissa inicial. Os exercícios de 2024 e 2025 servirão para organização do sistema", observa o advogado Carlos Souza, da MSC Advogados.
Especialista em Gestão de Operações Societárias e Planejamento Tributário pela Faculdade Brasileira de Tributação - FBT, Souza acredita que será um período de um forte debate político, uma vez que a reforma irá impactar diretamente em diversas setores do País. Outra questão que irá suscitar discussões é a gestão dos recursos. "Em uma linguagem bastante simples, o governo federal vai ser o dono do dinheiro. Nós precisamos ter dentro desta legislação um comitê gestor que vai partilhar esse dinheiro entre os municípios", observa.
As duas leis aprovadas neste ano, PLPs 68 e 168 - possuem cerca de 2 mil emendas parlamentares para entrar no cerne dessas leis, daí a dificuldade de falarmos hoje em Reforma Tributária. Todo esse detalhamento será discutido no Congresso, se eles irão ou não fazer parte. "A ideia é de que ao final do ano de 2025 já estivéssemos com todo o sistema normativo pronto para, em 2026, com a norma antiga e a nova orbitando no mesmo sistema tributário. Neste ano, devem estar promulgadas as duas leis, mas a regulamentação até o final de 25, tenho dúvidas", pondera, ao citar o nível de detalhamento. O período de consolidação será de 2026 a 2033.
O ano de 2025 deve ser, conforme alerta o especialista, de muita atenção dos contribuintes quanto aos sistemas. "Será um ano de simulações para que o País comece a ter um norte sobre a sistemática tributária. E, ainda, há questões extremamente duvidosas, que, seguramente, vão sofrer com ações. Há quem diga que a Emenda Constitucional 132, que homologou a reforma tributária vai ser muito combatida", destaca.
Isso porque, explica o advogado, o cerne da reforma ainda não está posto em vigor, o que dificulta a contestação de uma eventual ilegalidade ou uma inconstitucionalidade para levar para o judiciário. "Acredito que 2025 vai ser um ano de muita especulação, muitas conjecturas e muita busca pela informação", garante.

Confira algumas das principais mudanças

A Câmara dos Deputados aprovou no dia 17 de dezembro o principal projeto de regulamentação da reforma tributária (PLP 68/2024). Veja pontos de destaque:
 Alíquota geral
As modificações feitas na Câmara reduzem a alíquota resultante da soma de dois novos tributos  CBS e IBS, respectivamente, contribuição e imposto sobre bens e serviços - em relação ao texto do Senado.
Com base no simulador do Banco Mundial (SimVAT), a alíquota será de 28,11%, mas sem incorporar benefícios para imóveis, galerias e obras de arte nacionais, Zona Franca de Manaus e serviços de home care, esterilização e instrumentação cirúrgica, todos incluídos no Senado e mantidos na Câmara.
A reforma prevê uma trava de 26,5%, mas ela depende da disposição do Congresso de cortar benefícios quando o sistema estiver funcionando.
 Maior imposto
O índice de 26,5% é a alíquota cheia, para bens e serviços sem benefícios fiscais. A maior parte dos outros itens terão redução de 30%, 40%, 60% ou 100% na CBS e no IBS. A carga tributária atual será mantida na média de 20% para os novos tributos.
O Brasil já tem hoje o maior imposto do mundo, com uma tributação de 34% para muitos produtos, e a nova alíquota padrão deve manter esse título.
 Cesta básica
A proposta mantém as carnes e outras proteínas animais na cesta básica, com alíquota zero. O Senado incluiu na lista a tapioca e a erva-mate. O café verde voltou para a lista, junto ao torrado.
 Imposto do pecado
O Imposto Seletivo sobre bens e serviços prejudiciais à saúde e ao meio ambiente inclui fumo, bebidas alcoólicas, bebidas açucaradas, veículos, embarcações, aeronaves, alguns minerais e concursos de prognósticos (como bets) e fantasy sport. As armas ficaram de fora da lista e serão desoneradas a partir de 2027.
 Cashback
O cashback desonera famílias com renda mensal de até um salário-mínimo e meio (R$ 2.118) inscritas no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais).
O projeto prevê a devolução de 100% da CBS (contribuição federal sobre bens e serviços) e de pelo menos 20% do IBS (imposto de estados e municípios sobre bens e serviços) para itens como luz, água, esgoto, serviços de telecomunicações, gás natural e botijão de gás de até 13 quilos. Em outros itens, a devolução dos dois será de pelo menos 20% dos dois novos tributos.
 Imóveis
Redução de alíquota de 50% na alienação. Para pessoa física, o imposto só é devido se houver a venda de mais de três imóveis no ano.
Desconto de 70% nos impostos na locação. Só haverá cobrança para pessoa física que tenha o mínimo de três imóveis alugados e receita de pelo menos R$ 240 mil anuais.
 Bares e restaurantes
Bares, restaurantes, hotéis, parques de diversão e temáticos terão alíquota reduzida em 40%.
 Pets
Veterinários e planos de saúde pet terão redução de 30% no imposto.
 Zona Franca de Manaus
Será o único local do País com benefícios para atrair empresas. O Senado ampliou os incentivos para a região em relação à proposta inicial do governo, com aumento de créditos tributários para as empresas locais, inclusão de projetos aprovados até 2024 e incentivo para atividade de refino.
O texto também prorroga os benefícios das áreas de livre comércio da Amazônia para 2073, mesma data prevista para o Polo Industrial de Manaus.
 Comitê gestor
O Senado inclui no texto do PLP 68/2024 parte da segunda proposta de regulamentação (PLP 108/2024), para garantir os "dispositivos mínimos que assegurem a instituição" do Comitê Gestor do IBS, órgão que será criado para dividir a arrecadação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) entre estados e municípios. O IBS substitui o ICMS, imposto estadual, e o ISS, de incidência municipal.
*Fonte Folha de São Paulo

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