Nascido da união dos institutos dos Contadores Públicos do Brasil e Brasileiro de Auditores Independentes, o Ibracon (Instituto de Auditoria Independente do Brasil) atua como referência técnica e educacional para profissionais, estudantes e professores de Ciências Contábeis. À frente da entidade desde janeiro, Sebastian Yoshizato Soares traçou quatro metas para a gestão 2024-2026. Disseminação do conhecimento sobre a profissão, tecnologia, sustentabilidade e atratividade para estudantes serão os temas que irão guiar as principais ações desenvolvidas pelo instituto.
Em visita à Porto Alegre para discutir temas ligados à profissão, Soares falou ao JC Contabilidade sobre a importância de o Ibracon ser uma fonte de treinamento de capacitação, estar atualizado sobre assuntos pertinentes da profissão e de interação com a academia.
JC Contabilidade - Quais as metas para esta gestão no Ibracon?
Sebastian Soares - Para esta gestão, defini quatro metas principais para levar adiante. Acho que a primeira bandeira passa pela disseminação do conhecimento em relação à nossa profissão. Até onde vai a responsabilidade de uma auditoria independente e por consequência o limite da responsabilização porque o mercado, de forma geral, desconhece, o que é o trabalho de auditor financeiro e o que é auditoria investigativa. Quando acontece alguma situação infeliz, como o ocorrido com as Lojas Americanas do ano passado, sem fazer julgamentos, sempre vem a pergunta: onde está o auditor? Por que a auditoria não pegou?
Contab - Existe desconhecimento sobre a função?
Soares - As pessoas, de forma geral, não conhecem a nossa responsabilidade e a nossa responsabilização porque auditoria e demonstração financeira é diferente de uma auditora investigativa. Não posso, pelas normas, ter acesso aos e-mails do diretor ou ao whatapp, buscar papéis descartados na lata do lixo. Quando executo um trabalho de auditoria de uma demonstração financeira, parto da premissa de que aquilo que estou recebendo é verdadeiro. O mercado não conhece a extensão do procedimento de autoria e qual é a nossa responsabilidade. Nós tivemos e vamos ter alguns poucos casos infelizes dessas situações em detrimento de um arcabouço gigantesco de contribuição da profissão. Queremos disseminar conhecimento sobre a nossa profissão. Esse é o primeiro mote, porque a profissão da auditoria no Brasil. Ela é bastante relevante. Para quantos jovens damos a primeira oportunidade de trabalho, quantos profissionais formamos no mercado, quantos diretores que estão nas grandes companhias que passaram por empresas de auditoria independente? Quanto do PIB do Brasil passou por um auditor independente que foi lá e chancelou informações? Quantos processos de abertura de IPO tiveram de capitar nos últimos 15 anos aonde o auditor fez as chancelas da informações?
Contab - Como a agenda da sustentabilidade permeia a profissão?
Soares - Esta é uma das nossas preocupações, a qualidade das informações que as empresas e companhias vão prestar a partir de um determinado momento. Somos o primeiro país no mundo onde uma autarquia regulatória, a CVM, determinou a adoção das normas de divulgações financeiras de sustentabilidade. A resolução 193 determinou que as companhias abertas, a partir de 2026, e de outras três resoluções conectadas com o tema, ele determinou essas divulgações. Enquanto Instituto, é uma preocupação bastante importante, de como o Brasil vai se preparar para essa agenda, de forma geral, do ponto de vista dos preparadores, dos auditores, dos reguladores e da academia, que irá formar estes contadores. A resolução 1710 do Conselho Federal de Contabilidade, que rege a profissão de auditoria e contabilidade, emitida em outubro a do ano passado, atribui ao contador a responsabilidade por fazer a compilação, asseguração e divulgação das informações de sustentabilidade. Isso dá um protagonismo enorme para nossa profissão. Mas por outro lado a gente tem todos os desafios em relação à atratividade, capacitação e assim por diante.
Contab - Como a tecnologia está impactando as rotinas na área?
Soares - Esse mote, não menos importante, é questão de tecnologia inovação dentro dos procedimentos de auditoria. Hoje temos uma série de ferramentas de tecnologia que precisam ser incorporadas nos procedimentos para uma auditoria mais assertiva, que possa ter uma eventual maior cobertura nos procedimentos, de forma que possamos executar esse trabalho de forma mais assertiva para tentar emitir o relatório de auditoria com a maior precisão possível.
Contab - Como está a atratividade da profissão?
Soares - É fato que temos visto nos últimos anos a um número menor de estudantes procurando o curso de ciências contábeis e, por consequência, diminui o número de talentos para serem auditores. Acho que a profissão passa pelo desafio de ser atrativa. Estivemos debatendo com o Sescon de Caxias sobre como podemos trabalhar de forma conjunta para demonstrar a relevância do profissional de Contabilidade quando a gente fala de Reforma Tributária, quando a gente fala de Sustentabilidade. Nessa próxima década, o contador vai ter extrema relevância. Neste ano, em maio, foi aprovada a nova diretriz curricular do curso de Ciências Contábeis, o que, para mim, vai ser um divisor de águas. Nessa nova diretriz do curso vai ter inserção de temáticas mais atuais e pertinentes, como sustentabilidade, inovação, Reforma Tributária.
Contab - O conceito já é trabalhado nas rotinas dos escritórios?
Soares - Sinceramente, acho que ainda não. Para pontuar em uma linha de tempo, aqui no Brasil, quando a gente fala de balanço social, de relatórios de sustentabilidade, esse não é um assunto novo, já vem de 15 anos para cá. Mas essas informações têm um caráter voluntário. Aqui nenhuma empresa é obrigada a fazer divulgação das informações de rentabilidade no relatório sustentabilidade. Por não ter caráter obrigatório, as empresas não contratam auditores. Com a obrigação de inserir no contexto de divulgações, não só as financeiras, mas as de sustentabilidade, o auditor externo vai fazer a chancela dessas informações.