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Publicada em 19 de Novembro de 2024 às 00:05

IA vai tomar conta dos escritórios contábeis

Implementação bem-sucedida da IA exige uma combinação de habilidades técnicas, entendimento das necessidades do cliente e um compromisso com a segurança e a ética no uso dos dados

Implementação bem-sucedida da IA exige uma combinação de habilidades técnicas, entendimento das necessidades do cliente e um compromisso com a segurança e a ética no uso dos dados

/Freepik/Divulgação/JC
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Caren Mello
Caren Mello
A Inteligência Artificial (IA) mudará de forma radical a maneira como os escritórios de Contabilidade organizam suas rotinas. De automatização de tarefas rotineiras até a análise avançada de dados e a melhoria da conformidade tributária poderão, uma vez adotadas, dar mais celeridade aos processos internos. Ao adotar IA, os profissionais não apenas ganharão eficiência, como poderão oferecer serviços de maior valor agregado, como análises e consultorias estratégicas.
A Inteligência Artificial (IA) mudará de forma radical a maneira como os escritórios de Contabilidade organizam suas rotinas. De automatização de tarefas rotineiras até a análise avançada de dados e a melhoria da conformidade tributária poderão, uma vez adotadas, dar mais celeridade aos processos internos. Ao adotar IA, os profissionais não apenas ganharão eficiência, como poderão oferecer serviços de maior valor agregado, como análises e consultorias estratégicas.
A implementação bem-sucedida da IA exige uma combinação de habilidades técnicas, entendimento das necessidades do cliente e um compromisso com a segurança e a ética no uso dos dados. No entanto, ainda há resistência de muitos profissionais da área em adotar as ferramentas, o que não deve acontecer com aqueles que estão entrando no mercado. Os cursos superiores já estão se apropriaram do tema, inserindo a Inteligência Artificial nos currículos.
Os estudantes, conforme relato da professora Ângela Haberkamp, do curso de Contabilidade da Univates, ainda utilizam a IA de forma intuitiva, da mesma forma em que, há cerca de 15 anos, utilizavam o Google. Integrante da Comissão de Estudos de Acompanhamento da Área do Ensino Superior do CRCRS, Ângela observa que, para as pesquisas mais simples, os estudantes conseguem ter o domínio.
"Quando a questão é mais complexa, exige um pouco mais técnica, ainda há muito erro no uso de IA na área da Contabilidade", explica, ao lembrar da existência de vasta legislação, o que determina uma pesquisa mais aprofundada. Quem utiliza uma das ferramentas mais conhecidas, o ChatGPT, seja estudante, seja profissional, observa Ângela, muitas vezes esquece de perguntar ao robô para considerar Contabilidade no contexto brasileiro. "Quando passamos para o estudante alguma tarefa sobre um estudo de caso, por exemplo, ele busca no ChatGPT. Mas essa ferramenta é um banco de dados mundial, ela vai responder com base em tudo que está disponível."
A capacidade de usar a IA da melhor forma ainda deverá passar por um aprendizado, conforme avalia a professora, tanto para estudantes quanto para profissionais. Embora os jovens tenham mais facilidade para novas tecnologias, os profissionais mais tradicionais não poderão prescindir do uso da IA, sob pena de serem ultrapassados. "Acredito que a tecnologia será muito usada, mas, quando falamos em legislação fiscal, por exemplo, conteúdo com que os escritórios trabalham muito, é preciso uma fonte muito confiável."
Por enquanto, a IA é aplicada nos escritórios com softwares específicos para fazer análise de dados. Exemplo são as ferramentas utilizadas em auditorias, como forma de avaliar a correção de todos os lançamentos contábeis. "É utilizada na parametrização, para fazer a importação de extratos bancários e reconhecer a forma correta de fazer os lançamentos. São outros usos que não o ChatGPT", ressalta Ângela.
A novidade está sendo desenvolvida na Univates na disciplina de Sistemas de Informação. No entanto, é um tema que perpassa todas as demais disciplinas. É uma ferramenta, diz a professora, que pode ser utilizada em praticamente todas as disciplinas. O futuro, na opinião da docente, ainda não é possível projetar, uma vez que o potencial da ferramenta não é totalmente conhecido pelos escritórios.
"É só na Contabilidade, em todas as áreas, há os que dizem que a IA vai substituir o trabalho e tem aqueles que consideram uma ferramenta de apoio. O certo é que ela estará presente no dia a dia, disso não tem dúvida."

'Só quem não usar a IA corre o risco de ser substituído'

Gerhardt aconselha contadores a utilizarem desde já a Inteligência Artificial em suas rotinas de trabalho

Gerhardt aconselha contadores a utilizarem desde já a Inteligência Artificial em suas rotinas de trabalho

/Arquivo pessoal/Divulgação/JC
O contador Daniel Gerhardt se diz um apaixonado por Inteligência Artificial (IA) e pelas possibilidades que ela proporciona. Embora a IA permita recursos inovadores que revolucionam a rotina dos escritórios, é preciso atenção com o uso das ferramentas, sobretudo quando se trata de informações sigilosas dos clientes. Com pós-graduação em Gestão de Serviços Contábeis pelo Sescon RS, de onde também é associado, e sócio da Roosevelt Contabilidade, Gerhardt festeja a chegada da IA. Ele destaca as possibilidades que se apresentam, e aconselha aos escritórios que não demorem a adotar ferramentas. "O contador será substituído se não usar a IA", alerta.
JC Contabilidade - Os escritórios contábeis já se apoderam dessa nova realidade da IA?
Daniel Gerhardt - Ainda não, pelo que vejo. Há uma certa questão cultural de resistência a mudanças. É o receio do novo. Acho que a maioria está esperando se sentir mais seguro. E muitos achando até que não vai vingar. Estão esperando demais.
Contab - Há como dizer que não vai vingar?
Gerhardt - Impossível, já vingou. Já é uma realidade. Para mim é um marco, assim como teve a mudança com a máquina de escrever e com a internet. É uma mudança muito relevante que pode ser equiparada a esses grandes momentos de transformação.
Contab - Já existem ferramentas disponíveis para a área da Contabilidade?
Gerhardt - Sim, mas é fundamental saber para qual fim o profissional vai utilizar a IA. Se é para o fim de consulta, algo mais genérico e sem sigilo, qualquer IA pode ser adotada. Mas se o escritório for tratar de dados sigilosos dos clientes, das empresas, números que são trazidos de balanço de informações confidenciais, é preciso tomar muito cuidado com o tipo de IA que vai utilizar. Algumas são abertas, podem ser utilizadas para fins de pesquisa. Por exemplo, a OpenAI, do Chat GPT, na versão paga, o usuário pode escolher como manter sigilo e confidencialidade. É a dica principal que eu dou para os colegas contadores. Os dados sigilosos, incluindo a LGPD, se não bem cuidados, podem colocar em risco um negócio.
Contab - Quais ferramentas para quais tipos de rotina o profissional já tem à disposição?
Gerhardt - As rotinas em que podemos utilizar a IA são infinitas. É imaginar, estudar um pouco - porque ela exige estudo - e descobrir que muitas situações em que pode ser utilizada. Ferramentas tanto para a Contabilidade em si, nossa atividade-fim, as atividades simples e repetitivas que podem ser programadas para serem feitas, até análises mais complexas. Comparativos entre balanços, análises de mercado, que levaríamos horas para fazer uma análise, é possível organizar fazendo um GPT. Ensinamos um robô como o conteúdo que queremos que ele seja especialista, em um determinado assunto ou tema. Aquilo que levaríamos horas para fazer, vai levar segundos. E sempre com uma ressalva: a validação! A IA, o GPT vão dar respostas, mas o profissional sempre vai ser o responsável pela informação. Aprendi uma frase que diz assim: a genialidade de um GPT está atrelada à genialidade do seu criador. Se há um GPT sensacional é porque teve um criador sensacional.
Contab - Então é possível criar uma ferramenta para uma atividade especifica?
Gerhardt - Os GPTs são os "funcionários virtuais". Criamos ele para determinada especialidade. Na nossa área, não podemos ser criativos, temos que ir de acordo com as noras e as leis. Precisamos criar GPTs especialistas para que eles possam ter uma base de conhecimento que é onde o profissional vai colocar as leis, a última lei que está valendo, e quais são os critérios utilizados e a ordem em que são utilizados. Nós estabelecemos como o GPT tem que pensar. Quando buscamos uma informação na IA, ela vai buscar na internet, o que pode trazer um certo nível de erro e também não estar preparada para aquele determinado fim. Podemos criar GPTs onde tem até a forma de pensar como um contador.
Contab - Com a linguagem específica?
Gerhardt - É possível criar a forma como a IA responde. Por exemplo: se queres falar com o público-alvo de donos de restaurante, tu podes trazer essa informação para o GPT e ele vai te responder de uma forma empática, com uma linguagem que seja apropriada para esse público, personalizada. Ela pode fazer comparativos entre dissídios, que é um grande problema que nós contadores temos. Podemos criar um GPT especialista em dissídios. Ele traz os últimos dissídios e quais foram as diferenças do anterior para esse. Se quiseres pode pedir para ele criar uma tabela que seja comparativa. É uma infinidade de opções, seja na análise, seja na tarefa em si. Além de fazer tudo isso, a IA tem ferramentas que permitem - sempre com a ajuda do contador para validar sempre essas informações, exportas essas informações para apresentações profissionais. Antes, copiávamos tudo e colávamos em PowerPoint, e hoje, com um clique, vai direto para slides.
Contab - É a otimização do tempo...
Gerhardt - Sim. É possível potencializar o trabalho como contador. E aí está a grande sacada da IA . Conseguimos com a ajuda da IA deixar de ter as tarefas básicas, repetitivas, que tomavam tempo, e passar a investir esse tempo em atividades mais consultiva, que é o nosso propósito. É mais tempo com os clientes, com reuniões para tomada de decisão. Conseguimos ser mais ágeis já que o processamento das informações é mais rápido. Com a demora do tratamento das informações, pode acontecer de estarmos tratando informações que aconteceram há três, seis meses. Ela permite sermos mais ágeis, práticos e assertivos.
Contab - Qual dica para quem quer começar a utilizar a IA?
Gerhardt - É um assunto que está sendo muito falado, mas, às vezes, sem propriedade. Tem muito material, muitos cursos, em qual escolher. Se um contador faz um curso de IA que não é focado na Contabilidade, ele não vai falar essa questão do sigilo, de qual IA escolher. O que eu sugiro é que procure materiais de IA aplicada à Contabilidade. Nós temos particularidades que outras áreas não se preocupam. Um curso de IA no Marketing é completamente diferente, talvez esse nem use o OpenAI, use um que gere vídeo, por exemplo. Tem que ter esse cuidado com a Contabilidade.
Contab - Qual o impacto da IA no mercado de Contabilidade?
Gerhardt - Há um tempo, falavam que o contador é uma das profissões que iria acabar. Para mim, o contador não será substituído pela IA. O contador será substituído se não usar a Inteligência Artificial. Isso resume o movimento que temos que ter. Nós ganhamos tanto nos últimos anos, tínhamos um estereótipo do guarda-livros. Então nada mais do que estar à frente, junto com a IA. E, além da nossa atividade-fim, ela tem um leque que faz com que os gestores de escritórios tenham muitas ferramentas, em diversas áreas, desde a comercial até o marketing. Podemos transcrever reuniões de forma automática, gerar resumos e, a partir daí, planos de ações. É infinito o que podemos utilizar. A cada dia estão criando novas IA. Minha dica é: se não começou, comece.

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