A regulamentação da Reforma Tributária promete mudar de forma significativa a realidade fiscal brasileira. Com a implementação do Imposto de Valor Agregado (IVA) em uma alíquota média de 27,97%, as empresas precisam adotar medidas de redução de custo e geração de receita, cenário que impõe mudanças significativas de gestão. Entretanto, estudos apontam que maioria das empresas ainda não estão preparadas para as iminentes novas regras fiscais, que vão entrar em vigor a partir de 2026.
Levantamento da Consultoria Deloitte, empresa líder em auditoria e gestão de riscos, informa que apenas 46% das empresas brasileiras elaboraram estudos para essa transição em seus negócios. O que explica esta procrastinação, na avaliação do CEO da consultoria Tax Group, Luis Wulff, é a falta de conhecimento das companhias na adequação às novas regras e de gestão fiscal eficiente que saiba oferecer as melhores estratégias para este momento de transição da reforma.
"Existe uma mentalidade geral dentro das empresas que não é o momento de pensar na reforma, pois existem prazos longos para se adequarem às novas legislações e isso causa um certo relaxamento. Mas também porque os setores tributários das empresas, até pela complexidade das regras, estão em processo de atualização mais lenta do que deveria e não possuem recursos suficientes para contratar mais profissionais que os ajudem neste processo", explica.
Outra possibilidade é de que, por não terem visto a totalidade dos processos de regulamentação aprovados, as empresas aguardam esse processo para só então se reorganizarem. O mesmo não ocorre com empresas de outras nacionalidades que atuam no Brasil. Conforme o CEO, a grande maioria delas se adiantou, refazendo seus planejamentos estratégicos com base no novo regime e, ao mesmo tempo, atentas a cada movimento do legislativo nacional. Desta forma, as empresas preveem qualquer possibilidade de queda de caixa.
A falta de iniciativa das empresas pode custar caro. Na avaliação do especialista tributário e sócio-diretor do Tax Group, Hugo Smith, é possível que as empresas percam cerca de 5% do faturamento total anual por não ter uma gestão tributária eficiente neste momento de transição da Reforma.
"Se deixar para última hora, vai doer no bolso. Uma companhia de pequeno porte, de R$ 20 milhões de faturamento por ano, perde em torno de R$ 500 mil em crédito tributário sem gestão fiscal eficiente. Isso acontece porque este momento complexo provoca erros comuns em todo o processo de recolhimento, tributando a mais ou tributando a menos, e isso tem um impacto com autuações de infrações via Receita Federal ou até mesmo da Receita Estadual", aponta.
Para os analistas, mais do que uma quebra de caixa, pode haver a total incapacidade de determinadas empresas se manterem no mercado. Com o objetivo de auxiliar a readequação dos negócios, a consultoria lançou em agosto a Reforma Tributária Inteligente (RTI), uma estratégia que visa preparar as empresas para o período de transição da reforma.
Com combinação de estratégias financeiras e contábeis, a RTI propõe fortalecer operações de crédito das empresas e amenizar os impactos das mudanças sobre os lucros, dando mais competitividade ao negócio. "Vamos continuar alertando a todos sobre a importância de se atualizar e se preparar com antecedência sobre as mudanças que estão por vir. Quem estiver por fora e perder tempo com isso, corre risco de prejudicar o próprio negócio e deixar dinheiro na mesa", alerta Wulff.
'Falta de planejamento vai quebrar muita empresa'
Empresas do Simples vão sofrer por gerar menos crédito tributário, alerta Wulff
TaxGroup/Divulgação/JCA Reforma Tributária transformará o modelo de tributação, impactando na forma como as empresas fazem negócio. Especialistas em gestão alertam companhias de todos os tamanhos a novos planos estratégicos em função da necessidade de adaptação ao novo modelo.
Em entrevista ao JC Contabilidade, o CEO da Tax Group, consultoria com especialização nas áreas fiscal, contábil e tributária, Luiz Wulff, faz fala de como o Imposto de Valor Agregado (IVA) altera os fluxos de caixa.
Com formação em Contabilidade e Direito, mestrado em Direito Tributário (FGV) e MBA em Gestão Fiscal e Tributário (Conselho Fiscal Empresarial Brasileiro – Confeb), Wulff, que também atua como conselheiro fiscal de companhias como Renner e Lebes, aponta uma nova era no Brasil. “Tratar de um novo modelo é praticamente a criação de uma nova economia no Brasil”, alerta.
JC Contabilidade – As empresas ainda não entenderam os efeitos da Reforma Tributária?
JC Contabilidade – As empresas ainda não entenderam os efeitos da Reforma Tributária?
Luis Wulff – Infelizmente, ainda não. Parece que muitas empresas estão tratando a Reforma Tributária como algo mais místico ou mais distante porque ainda não viram os projetos 100% aprovados. Desde o ano passado, meados de agosto, setembro, quando tivemos a emenda constitucional aprovada, as empresas, por exemplo, norte-americanas, ingleses que atuam no Brasil, começaram a fazer cenários e os planejamentos decorrentes da mudança do novo regime versus o regime antigo. E as nossas empresas brasileiras, de capital brasileiro, com sócios no Brasil, ainda têm um pouco de descrédito em relação aos movimentos legislativos e acabam deixando para depois. E faltam meses 14 meses para essa virada de chave. Apesar de a Reforma Tributária prever uma potencial simplificação, você tratar de um novo modelo é praticamente a criação de uma nova economia no Brasil. Passaremos por uma modificação, uma transformação muito radical no modelo de como as empresas fazem negócio.
Contab – Qual o risco para as empresas?
Wulff - Hoje, temos toda a tributação calculada por dentro. Você vai numa loja e o preço da gôndola é um preço que já está ali embutido com os impostos. No modelo do IVA, em uma garrafa de água de R$ 5, potencialmente, você está pagando R$ 3,50 na garrafa mais R$ 1,50 de imposto. No IVA, o imposto é calculado por fora, não por dentro. Isso muda muito. Outro exemplo: o crédito tributário hoje é um crédito fiscal. Ele é emitido a partir de uma nota fiscal, esse crédito escriturado em um livro fiscal na contabilidade, e vira uma apuração de ICMS, uma apuração de Pis/Cofins lá na frente. Após a Reforma, esse crédito passa a ser um crédito financeiro. É um dinheiro tributário virtual que entra na conta da Receita Federal através de um processo chamado split payment. Imagine: você, como empresa, comprando essa mesma água mineral por R$ 5. O vendedor que está ali vendendo a água não recebe mais os R$ 5, recebe R$ 3,50 porque aquele R$ 1,50 foi automaticamente para o governo. O pessoal está deixando muito para depois um tema que pode quebrar muita empresa, esta é verdade.
Contab - Impacta diretamente no caixa, então?
Wulff – Sim, no caixa. Você falou a palavra-chave: Reforma Tributária em tudo a ver com o caixa da companhia. Vai haver um estreitamento de fluxo de caixa muito maior. Empresas do Simples devem sofrer muito porque elas vão gerar muito menos crédito tributário do que empresas do regime normal, presumido e do real. Vão ser impactos bem relevantes.
Contab – É possível dimensionar essa perda em números?
Wulff – É possível dizer em números quanto que hoje a indústria recolhe em termos de tributação, o comércio e o segmento de serviços, e consigo projetar qual seria o recolhimento tributário novo modelo. Isso demonstra realmente que existe uma modificação de fluxo financeiro, de fluxo de caixa entre as operações e entre os mais diversos tipos de atividades econômicas existentes. Tenho empresas que têm impacto de R$ 700 milhões de caixa negativo porque são altamente geradoras. É uma empresa de varejo, em torno de R$ 2,5 bilhões de faturamento ao ano. E tenho casos que é o contrário. Dependendo do tipo de indústria, já fizemos cálculos de fluxo positivos. Mas a grande maioria dos negócios tem o fluxo negativo em função da modelagem de apuração.
Contab - O impacto para as menores deve ser maior?
Wulff - Em toda empresa do Simples que vender para CPF vai ter uma espécie de baixo impacto da reforma. Porém, toda empresa do Simples que vender para CNPJ tem uma chance altíssima de desidratação dessas empresas. É a possibilidade de não mais existir empresas do Simples Nacional que tem público comprador pessoa jurídica por conta da geração de créditos.
Contab - Existe uma fórmula para as empresas se precaverem?
Wulff – Planejamento. O grande ponto agora é entender como que o seu negócio que, originalmente, foi criado no modelo atual de tributação e como vai enfrentar o modelo. A questão é a adequação do negócio ao modelo futuro, entendendo se é preciso mudar o planejamento estratégico. Pode ser que muitas não consigam atender mais à sua proposta de valor, se tornem inviáveis, em termos de margem de preços. O caminho é conectar o planejamento tributário ao planejamento estratégico de 2025, 2026 e 2027. No planejamento estratégico dos próximos três anos há cinco anos, a primeira pauta que precisa ser trazida à mesa é como o negócio ficará de pé dentro da Reforma Tributária. Será que o meu negócio vai ter margem ou vai ter prejuízo? Será que a minha proposta de valor organizacional dos meus produtos consegue, de fato, atender o meu mercado consumidor dentro da nova proposta da reforma ou não?
Tax Experience discutirá impacto da reforma no mercado
O Tax Group busca alertar o mercado brasileiro sobre a reforma tributária não só em suas redes sociais, newsletters para clientes e parceiros, mas também por grandes eventos com a mensagem para o público externo. No dia 27 de novembro, a empresa irá promover em São Paulo a segunda edição do Tax Experience, evento presencial que irá debater as pautas e inovações que podem impactar o setor no futuro e contará com a presença de grandes nomes conhecidos no mercado, como o palestrante Ricardo Amorim, o CEO da marca Reserva, Rony Meisler, e porta-vozes de grandes empresas, como Amazon, C&A, Magalu, entre outras.
Embora o tema fiscal seja complexo e muitos assuntos sejam debatidos no Tax Experience, o ponto mais importante será a reforma. Com a presença de grandes players de mercado, o evento busca difundir a mensagem de que é fundamental o preparo para novas regras.
O Tax Group é uma das firmas líderes do mercado tributário no Brasil. A consultoria tem sede em Porto Alegre e escritórios espalhados pelo Brasil, com alta especialização nas áreas fiscal, contábil e tributária.
O Tax Group é uma das firmas líderes do mercado tributário no Brasil. A consultoria tem sede em Porto Alegre e escritórios espalhados pelo Brasil, com alta especialização nas áreas fiscal, contábil e tributária.