Com o fim do ano se aproximando, as empresas devem intensificar seu planejamento financeiro. Ao final de cada período, há obrigações específicas, como, por exemplo, o 13º salário. Há outras, porém que, por menos importante que sejam, podem, inclusive, impactar a saúde da empresa. A necessidade eventual de férias coletivas, festas e brindes de final do ano, ainda que possam parecer detalhes, devem ser considerados no planejamento estratégico.
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É fundamental identificar e quantificar os gastos sazonais, como bonificações e comemorações, além de considerar o impacto de novas legislações e incertezas econômicas. A ausência de uma atenção rigorosa neste momento pode comprometer a saúde financeira da companhia, exigindo um esforço extra para recuperar o atraso no próximo semestre.
As saídas de caixa específicas desse período são férias coletivas, décimo terceiro salário, participação de lucros, brindes, festa de final de ano, reuniões com equipes, entre outras que, muitas vezes, fazem com que a saída de caixa seja maior do que a média mensal dos meses anteriores e pode causar um desconforto no saldo de caixa.
"A empresa que trabalha com processo orçamentário, com base em informações contábeis adequadas, diminui o risco de ter esse problema, já que essas despesas poderiam ser provisionadas ao longo dos meses do ano, desde janeiro", alerta o CEO da Souzamaas, empresa de assessoria contábil, Bruno Carlos de Souza. De acordo com o contador, o orçamento, quando feito adequadamente, serve para ajudar a pensar no resultado da empresa, antes mesmo de acontecer, e ajuda a dar segurança para que os gestores caminhem dentro de uma meta financeira estipulada pela organização.
De acordo com o Mapa de Empresas do Governo Federal, no 3º quadrimestre de 2023 foram fechadas 675.257 empresas, sendo uma queda de 8,7% em relação ao 2º quadrimestre do mesmo ano e um aumento de 22,9% em relação ao 3º quadrimestre de 2022. Os números são indicativos da falha organização e planejamento estratégico.
Cabe aos escritórios de contabilidade preverem situações como esta, mantendo um olhar atento às entradas e saídas de recursos, especialmente neste período. É fundamental projetar o faturamento, considerando possíveis aumentos ou quedas nas vendas, e analisar o histórico de recebimento dos clientes para estimar o fluxo de caixa. Além disso, é crucial identificar e cobrar valores pendentes, como contas a receber atrasadas ou pagamentos não realizados. A recuperação desses créditos pode ser uma fonte de receita essencial para fortalecer a posição de caixa da companhia e garantir a sua saúde financeira neste momento crítico.
O recomendado é manter uma análise minuciosa das despesas mensais, categorizando-as em essenciais e não essenciais. As indispensáveis são aquelas destinadas para a manutenção das operações da empresa, como pagamento de salários, aluguel, contas de energia e insumos críticos para a produção. Já os gastos não essenciais são aqueles que podem ser adiadas ou reduzidas sem comprometer as atividades principais do negócio, como gastos com eventos, viagens corporativas e alguns tipos de manutenção.
Ao priorizar o pagamento das despesas essenciais e postergar as não essenciais, a empresa pode otimizar o fluxo de caixa e evitar problemas de liquidez. Caso a situação financeira seja ainda mais desafiadora, é necessária a renegociação das dívidas com os credores, buscando acordos que envolvam a redução dos juros, o alongamento dos prazos para pagamento ou uma combinação de ambas as medidas. Essa estratégia pode proporcionar um alívio significativo no orçamento e permitir que a empresa se recupere financeiramente, segundo o especialista
Uma estratégia para otimizar o fluxo de caixa é negociar pagamentos à vista com fornecedores, antecipando valores e buscando descontos.
Além disso, é fundamental iniciar o planejamento financeiro para o próximo ano, a fim de evitar que os mesmos desafios se repitam.
'Nossos executivos são muito bons, mas deixam a desejar em gestão'
CEO destaca importância da organização e do planejamento para que uma empresa obtenha resultados satisfatórios
Souzamaas/Divulgação/JCElaborar um planejamento estratégico detalhado é essencial para garantir o sucesso da empresa no próximo ano. Definindo objetivos claros, metas específicas e ações concretas, com valores quantificáveis, e utilizando o orçamento como ferramenta de gestão, é possível traçar um caminho preciso para que a equipe alcance os resultados desejados. Essa abordagem proativa ajuda na gestão de imprevistos e o estresse típico do final do ano, proporcionando maior organização e controle das operações.
De acordo com o CEO da Souzamaas, empresa que atua em São Paulo na área de finanças e negócios empresarias, consultoria e Business Process Outsourcing (BPO), o planejamento tributário também é importante. "Acredito que as empresas que focam em planejamento e controle são aquelas que, no médio e longo prazo, têm melhores resultados ou tem uma longevidade maior", apontou.
Em entrevista ao JC Contabilidade, o CEO destacou que, muitas vezes, a diferença entre uma companhia que ganha dinheiro para uma que não ganha, pode ser a organização e o planejamento.
JC Contabilidade - As empresas costumam fazer esse planejamento de final de ano?
Bruno Carlos de Souza - São pouquíssimas as empresas que fazem. Na verdade, há, inclusive, pesquisas que demonstram isso. Costumo comparar o mercado do Brasil com o dos Estados Unidos. Os EUA têm um PIB dez vezes maior, com uma população um pouco maior e um espaço territorial bem semelhante, ou seja, não tem muita diferença que justifique isso. Pesquisas feitas sobre a área administrativa demonstram que, em um aspecto, nós somos muito diferentes: enquanto eles gastam cerca de 70% a 80% do tempo planejando e controlando, nós, brasileiros, apenas 20%. Não tenho dúvida que os nossos empreendedores são muito bons no que fazem, no produto que entregam, no serviço que deixam para o cliente. Mas deixam muito a desejar em gestão. Gestão é planejamento e controle.
Contab - Essa postura das empresas pode impactar nas finanças?
Souza - Nós, empresários brasileiros, gastamos pouco tempo planejando. Acho que isso ajudaria a diminuir sensivelmente o número de empresas que fecham anualmente. Dizem por aí que o problema é a carga tributária, os encargos trabalhistas, a corrupção. Sim, concordo que possa ser, mas não é o principal porque antes de abrir um negócio você já sabe que existe a carga tributária x, y ou z, que existem encargos trabalhistas. O que falta de fato é esse planejamento, seja do final do ano, seja do ano inteiro.
Contab - Quando deve começar este planejamento de final de ano?
Souza - Deve constar do planejamento anual. Este ano, a empresa já deve fazer o do ano que vem inteiro, mas, é lógico, ele deve ser revisado. Em relação ao período, não acho que tenha que ser realizado mês a mês porque planejamento é mais de médio prazo. Mas pode ser revisado trimestralmente ou até semestralmente. E, caso tenha sido um primeiro semestre ruim ou até o meio do segundo semestre ruim, tem que fazer uma segunda revisão agora, para que a empresa consiga passar esse final de ano o menos negativa possível.
Contab - Uma economia menos equilibrada, com altos e baixos, influencia no planejamento?
Souza - Sim, isso é verdade. Objetivamente, impacta no planejamento. Mas o que eu tenho de experiência, é que, mesmo nos Estados Unidos, com uma economia mais constante, é tão difícil quanto aqui. Tanto que uma empresa que se dá muito bem no Brasil não necessariamente se dará bem nos Estados Unidos. Existem empresas, restaurantes, que vão para fora do Brasil e não conseguem se estabelecer. Então, acho que existem dificuldades diferentes em cada país.
Contab - A falha de não planejar é do gestor ou do escritório de contabilidade que atende a empresa?
Souza - Com certeza, é da empresa, mas o escritório pode ajudar bastante. Muitas vezes, o escritório nem está preparado para isso. E, muitas vezes, a empresa contrata um escritório mais para a parte fiscal do que para a parte de gestão. Independentemente disso, o gestor, o empreendedor ou o executivo que está ali na frente, deveria ter um modelo de gestão mais focado em planejamento e controle. Acredito que as empresas que focam em planejamento e controle são aquelas que, no médio e longo prazo, têm melhores resultados ou tem uma longevidade maior do negócio.
Contab - Podemos dizer que não planejar é uma questão cultural do Brasil?
Souza - Acredito que sim, é cultural. Nada é muito planejado, em média, nas empresas, no governo, nas famílias. Mas acho que, aos poucos, vem melhorando, até por força do controle da Receita Federal. Ela está controlando mais e, assim, empurrando as empresas a terem mais planejamento para que consigam sobreviver. Se a gente comparar a década de 90 com a década passada ou essa, as empresas têm evoluído bastante nesse quesito. Mas a nossa cultura é, em média, uma cultura de não fazer planejamentos com normalidade.
Contab - O planejamento tributário é mais fácil que o orçamentário ou o estratégico?
Souza - Não acho que seja mais fácil. Dependendo do tipo de empresa, por exemplo, se for indústria e comércio, tem impacto do ICMS, do IPI e de outros impostos, é até um pouco mais complicado. O ideal é que eles andem em conjunto. Se você faz o seu planejamento orçamentário do ano seguinte, você escolhe, no primeiro mês, o lucro real, lucro presumido ou o Simples, se for uma empresa de menor porte. Mas se a empresa não faz esse planejamento, esse orçamento do ano seguinte, dá para fazer um planejamento tributário mais voltado aos produtos, analisando SKU (em inglês, Stock Keeping Unit, Unidade de Manutenção de Estoque em português), analisando qual é a carga tributária ou, talvez, como se enquadrar melhor o seu produto para ter uma carga tributária melhor dentro da legislação.
Contab - Em relação ao final do ano, existem algumas saídas de caixa específicas, como 13º, por exemplo. Mas, também, há aquela não calculadas. Como fica o planejamento?
Souza - Sim, tem vários. Há férias, férias coletivas, 13º salário, brindes comerciais, que normalmente as empresas fazem no final do ano, são várias despesas específicas a cada final do ano. E, por exemplo, na outra ponta, os bancos sabendo disso, fazem linhas de crédito específicas para isso, para ajudarem as empresas a passarem por esse período. As menores empresas, principalmente, não fazem esse planejamento, e trabalham só com o caixa. Chega o final do ano, a empresa não poupou - às vezes até empresas lucrativas -, precisa de um empréstimo para pagar.