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Publicada em 24 de Setembro de 2024 às 16:11

Formação de contadores expande horizontes com novas diretrizes

Dia do Contador, celebrado em 22 de setembro, traz atenção à importância da profissão para a sociedade e promove a reflexão sobre o histórico das atividades que envolvem os seus campos de estudo

Dia do Contador, celebrado em 22 de setembro, traz atenção à importância da profissão para a sociedade e promove a reflexão sobre o histórico das atividades que envolvem os seus campos de estudo

/Freepik/Divulgação/JC
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Eduardo Lesina
Estudar, registrar, analisar e interpretar os fenômenos que impactam o patrimônio das organizações, públicas ou privadas, são práticas que fazem parte do conceito de contabilidade. O Dia do Contador, celebrado no dia 22 de setembro, traz atenção à importância da profissão para a sociedade e promove a reflexão sobre o histórico das atividades que envolvem os seus campos de estudo no Brasil. A data resgata a assinatura do então presidente Getúlio Vargas, em 1945, ao Decreto Lei n.º 7.988, que deu início a criação dos primeiros cursos brasileiros de ensino superior em Ciências Contábeis.
Estudar, registrar, analisar e interpretar os fenômenos que impactam o patrimônio das organizações, públicas ou privadas, são práticas que fazem parte do conceito de contabilidade. O Dia do Contador, celebrado no dia 22 de setembro, traz atenção à importância da profissão para a sociedade e promove a reflexão sobre o histórico das atividades que envolvem os seus campos de estudo no Brasil. A data resgata a assinatura do então presidente Getúlio Vargas, em 1945, ao Decreto Lei n.º 7.988, que deu início a criação dos primeiros cursos brasileiros de ensino superior em Ciências Contábeis.
Nesses 79 anos desde o decreto, os conhecimentos esperados - e exigidos - das graduações em Ciências Contábeis no País foram se adaptando às diferentes transformações ocorridas na sociedade e que interferem, também, no dia a dia do contador. Desde novas formas de relações comerciais até a importância da tecnologia no papel do contador, a adequação às novas possibilidades de atuação é uma constante no universo da contabilidade.
"Quem escolheu a profissão de contador sabe que optou por uma função que tem como motor propulsor o conhecimento. Podemos dizer que todas as áreas têm essa necessidade de capacitação constante, mas a profissão contábil, em essência, está nessa transferência de conhecimento adquirido e atualizado", reflete o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), Márcio Schuch.
Exemplo dessa atualização permanente, o Ministério da Educação (MEC) instituiu, em março deste ano, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Ciências Contábeis. Debatendo as necessidades de adaptação curricular desde 2021 entre os agentes, como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), as Instituições de Ensino e o próprio MEC, as novas diretrizes buscam alinhar as cobranças do mercado ao modelo de formação dos contadores.
"É uma reformulação muito importante no que a graduação precisa aplicar na sua estrutura do curso de Ciências Contábeis, trazendo perspectivas muito atuais e que vão desde habilidades de relação interpessoal e liderança, até conhecimentos mais aprofundados na área de tecnologia", explica Márcio. O presidente reforça que, mesmo que esses conhecimentos já estejam presentes na rotina e na formação de muitos contadores, a obrigatoriedade da nova diretriz curricular amplia ainda mais a importância dessa constante adaptação ao dinamismo das relações sociais que afetam diretamente um dos cursos superiores mais procurados do país.
Segundo dados do último Censo do Ensino Superior, publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a graduação em contabilidade é o quinto curso com maior número de alunos matriculados no Brasil, com mais de 320 mil estudantes no País. Essa expressividade na formação dos contadores reflete também a importância da obrigatoriedade das novas diretrizes, que passaram a incorporar diferentes áreas, como desenvolvimento sustentável, governança e soft skills, promovendo uma visão mais ampla da atuação do contador e mais alinhada com as necessidades do mercado de trabalho.
A fim de medir o conhecimento médio adquirido na graduação, outro ponto importante na formação dos profissionais da contabilidade está na realização do Exame de Suficiência do CFC. Incluso na lei orgânica da profissão contábil desde 2010, o teste é realizado pelos estudantes após a conclusão do curso e busca equalizar os novos contadores e se alinha ao propósito do Conselho: garantir que a sociedade tenha acesso a profissionais com um nível base de conhecimento.
 

Contabilidade oferece amplo mercado para profissionais

Análise de dados dos clientes, planejamento tributário e financeiro e elaboração de relatórios que embasem a assessoria em gestão de negócios passam, cada vez mais, a ser foco dos contadores

Análise de dados dos clientes, planejamento tributário e financeiro e elaboração de relatórios que embasem a assessoria em gestão de negócios passam, cada vez mais, a ser foco dos contadores

/dc studio/freepik/jc
A história da contabilidade está diretamente relacionada à evolução das civilizações, sobretudo a partir do desenvolvimento das relações comerciais entre as pessoas. Desde os primeiros registros de uma contabilidade empírica, passando pela função do "guarda-livros", até o papel do contador consultor de hoje, a constante adaptação que impacta na formação dos profissionais da contabilidade é reflexo de uma atuação cada vez mais versátil dos contadores no mercado.
Impulsionado pelos avanços tecnológicos e uma visão mais ampla da profissão dentro das instituições, o papel atual do contador tem expandido seus horizontes de atuação e se aproximado gradativamente das áreas de gestão nas organizações. "Esse é um cenário que tem evoluído de forma bastante significativa. Hoje, podemos dizer que o termo contador consultor se consolidou no mercado", comenta Márcio Schuch, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS).
O presidente comenta que isso pode ser observado, também, na situação enfrentada pelas empresas gaúchas após as enchentes, na qual esse movimento se desenvolveu ainda mais no Estado. "Essa atuação se potencializou nesse período que vivemos, a partir da atração de empréstimos, nos processos de reestruturação das empresas afetadas, no desenho de modelos de linha de crédito e em diversas informações relacionadas ao desenvolvimento dos negócios", comenta.
Essa visão ambiental não se limita só ao processo de reestruturação das organizações, como aconteceu no Rio Grande do Sul, mas impacta também na cadeia de monitoramento e prevenção ao caos climático. Desde o início deste ano, após resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as empresas listadas na Bolsa de Valores deverão - ainda em caráter voluntário, mas obrigatoriamente a partir de 2026 - apresentar relatórios de sustentabilidade ambiental, social e de governança com base em diretrizes internacionais.
Além dessa, a resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) apresenta a adoção das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) para o tema e determina que a elaboração e a asseguração dos Relatórios de Informações de Sustentabilidade devem ser de responsabilidade técnica do profissional da contabilidade - também obrigatória para algumas empresas a partir de 2026. "Neste contexto também podemos dizer que há uma expansão no mercado de atuação dos profissionais que, na verdade, está muito ligado ao que sempre fez parte da essência da contabilidade: gerar informações que reforcem a transparência e a segurança, mas agora direcionado para a questão da sustentabilidade", explica o presidente do CRCRS.
Essa geração de informações qualificadas tem relação também com a intensificação do uso de tecnologias cada vez mais disruptivas na atuação dos contadores, abrindo espaço para um termo que ganha tração no mercado: a Contabilidade 4.0. Com ferramentas sendo potencializadas, como a área de análise de dados, e procedimentos automatizados, o contador passa, não somente a ter que entender como funcionam os recursos disponíveis, mas também a ter um olhar mais abrangente dos negócios como um todo. "A partir do momento que os processos são automatizados e as tecnologias aumentam a capacidade de processar dados e informações, o profissional tem mais tempo para fazer análises mais amplas e mais estratégicas", reflete Schuch.
A atuação do contador como parte do processo de gestão das empresas e instituições não é algo que surgiu a partir das novas tecnologias, mas é também por elas que esses profissionais conseguem gerar informações ainda mais qualificadas e que vão além das simples análises dos painéis de controle das organizações. No entanto, o presidente reflete que para ser efetivo, o profissional precisa ter um "olhar para o todo": "a partir do momento que essa atuação deixa de ser estritamente analítica, começa-se a ter a necessidade de entender sobre outros setores da empresa, não como responsabilidade de ser quem executa determinadas funções, mas sim de compreender como elas impactam a organização em que está inserido".
Outra área de atenção para a atuação dos contadores que tem poder de trazer profundas mudanças, não só para os contadores, mas também para a sociedade em geral, está na Reforma Tributária. Visando promover uma simplificação no complexo mundo dos negócios brasileiros, as mudanças impactam em um dos mercados mais importantes de atuação para o profissional da contabilidade.
Para o presidente, mesmo que a parte tributária tenha uma simplificação, novos desafios que necessitam da visão do contador aparecerão, principalmente voltados para as áreas de gestão, planejamento e geração de informações. "Onde houver economia, riqueza e necessidade de informações qualificadas para os empreendedores, principalmente em um ambiente mais dinâmico e desenvolvido para os negócios, mais haverá a necessidade de atuação dos contadores", enfatiza Schuch, apontando para a Reforma como uma nova oportunidade para os profissionais.
 

Aprendizado constante é essência da profissão

A necessidade de aprendizado contínuo exigida no mercado contábil promove dispositivos que procuram auxiliar os profissionais nessa busca constante por novos conhecimentos. Um dos exemplos nesse sentido está no programa de Educação Continuada do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), com pontuação mínima obrigatória para atuação de auditores independentes, peritos contábeis e responsáveis técnicos pelas demonstrações contábeis de empresas de grande porte.
"É uma iniciativa que tem o compromisso de garantir que a sociedade tenha acesso a profissionais que sejam éticos e que tenham o conhecimento técnico, a partir de um programa bastante consolidado e com conteúdos importantes para diferenciar a atuação contábil", conta o presidente do CRCRS. Paralelo ao programa, as Comissões de Estudos dos Conselhos Regionais atuam, também, na promoção desses conhecimentos direcionada às áreas específicas da contabilidade e que também acabam impactando nesse aprendizado permanente dos contadores.
Ainda, eventos como a Jornada Tributária do CRCRS, que vai percorrer 17 municípios no Rio Grande do Sul para apresentar e debater os impactos da Reforma Tributária, são outras formas de buscar esse conhecimento atualizado. "Aquele profissional que não compreendeu ainda que a contabilidade exige muita pesquisa, atualização, discussão e busca por novos saberes, ainda não entendeu o caminho da profissão contábil", explica Schuch. O presidente comenta que, além das capacitações formais, como mestrados e MBAs, os profissionais devem buscar leituras recomendadas específicas das atuações, participar dos eventos e realizar conexões com outros profissionais: "isso tudo faz com que o contador expanda seus horizontes e consiga direcionar o seu próprio caminho durante a sua jornada".
 

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