As práticas sustentáveis estão se tornando uma busca global por parte de cidadãos, pequenas empresas ou grandes corporações. Para a implementação e, mais do que isso, a comprovação de que uma companhia está incorporando conceitos de ESG (do inglês, environmental, social and governance), isto é, políticas de meio-ambiente, responsabilidade social e governança em suas rotinas, a contabilidade desempenha um papel fundamental nesse contexto.
A chamada Contabilidade Sustentável é uma ferramenta estratégica para a determinação e a busca de metas. A sustentabilidade corporativa atende não só aos objetivos internos, mas, também, às exigências de consumidores, clientes e investidores, cada vez mais atentos à postura e imagem da empresa.
Para ser sustentável, as empresas devem comprovar práticas adotadas no Balanço Social, no Relatório de Sustentabilidade padrão GRI e no Relatório Integrado. Ali estarão dados relacionados, por exemplo, à emissão de carbono, ao uso dos recursos naturais e, até mesmo, a práticas trabalhistas justas. A partir da análise, o profissional da área pode calcular riscos para a empresa ou oportunidades a serem aproveitadas.
Nos últimos 12 meses, as empresas brasileiras têm progredido na adoção de práticas ESG. De acordo com uma pesquisa da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), 71% das empresas já implementaram ou começaram a introduzir essas boas práticas.
Em um movimento que visa alinhar as práticas corporativas às demandas globais por sustentabilidade, as empresas de capital aberto no Brasil terão que adotar padrões internacionais de sustentabilidade a partir de 2026. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabeleceu a Resolução 193 de 2023, que exige a adoção dos padrões IFRS S1 e S2, emitidos pelo Conselho Internacional de Normas de Sustentabilidade (ISSB), em seus relatórios financeiros.
A Resolução 193 da CVM obriga as empresas a divulgar não apenas informações financeiras, mas também dados sobre riscos e oportunidades relacionados ao clima.
Se, por um lado, trata-se de uma exigência, por outro, as empresas podem avaliar os benefícios de se adotar a contabilidade sustentável. Uma empresa sustentável melhora sua imagem e sua reputação uma vez que demonstram compromisso com a sustentabilidade, atraindo novos investidores e fidelizando clientes que valorizam esses aspectos.
A adoção dessas práticas também reduz riscos. É possível identificar e gerenciar de forma proativa os riscos e, por consequência, mitigar potenciais impactos negativos. Com a integração de relatórios, as empresas conseguem, ainda, otimizar recursos, aumentar a competitividade e ter facilitado o acesso a novas oportunidades, uma vez que existem os chamados investimentos verdes, com linhas de financiamento com juros mais baixos.
''Ao integrar aspectos ESG nas demonstrações financeiras, essas empresas não só atendem às exigências regulatórias, mas também se posicionam de forma mais competitiva e responsável no mercado global'', avalia o diretor executivo da NTW Contabilidade e Gestão Empresarial, Luiz Paulo Guedes.
Empresas com práticas sustentáveis melhoram competitividade
Luiz Paulo Guedes, diretor-executivo da NTW, destaca desafios e vantagens da sustentabilidade corporativa
NTW/ Divulgação/JCO conceito de Contabilidade Sustentável é relativamente novo. Ainda que desconhecido de parte das empresas, ele já é tema de pesquisas e discussão na produção de normas que tornem as práticas de ESG obrigatórias.
Ser uma empresa sustentável permite ganhos de qualidade na imagem e que, por consequência, vão refletir na renda. Nesse processo, o profissional da Contabilidade é fundamental para a promoção das boas práticas na área. "A contabilidade está ali, como parceiro estratégico. Um dos maiores desafios que temos é alinhar informação financeira com prática de sustentabilidade, consolidar, gerar um relatório consistente e apresentar para a sociedade", observou o contador Luiz Paulo Guedes, em entrevista ao JC Contabilidade.
Diretor-executivo em Belém do Pará da NTW Contabilidade, Guedes alerta que, a partir de 2026, empresas brasileiras de capital aberto deverão incorporar informações sobre sustentabilidade em seus relatórios financeiros, conforme os padrões internacionais.
A NTW é uma rede de franquias de escritório de contabilidade, em todo Brasil, Portugal e Moçambique, na África. Presta serviços contábeis e financeiros para empresas dos mais diversos segmentos e portes, oferecendo treinamento, apoio na captação de clientes, sistemas de gestão e relacionamento.
JC Contabilidade - É conceito novo?
Luiz Paulo Guedes - Sim, é um conceito novo. Dentro da academia, por exemplo, desenvolvemos novas pesquisas referentes ao assunto. Algumas instituições como o Conselho de Valores Imobiliários e o Conceito Federal de Contabilidade vêm trabalhando esses conceitos na produção de uma legislação que oriente as empresas a conduzirem e colocarem nas práticas corporativas essas demandas de sustentabilidade.
Contab - A tendência é que essas práticas se tornem obrigatórias?
Guedes - Hoje as empresas de capital aberto, aquelas que têm ações na Bolsa de Valores, já promovem esse tipo de prática corporativa não só de sustentabilidade, mas também de governança corporativa e no aspecto social também. No final do ano passado, tivemos uma resolução, a 193 da CVM, que tratou da adoção das normas internacionais de contabilidade voltada para a área da sustentabilidade. A partir de 2024, as empresas passaram a estar em caráter facultativo, mas, a partir de 2026, para as de capital aberto, essas práticas serão obrigatórias.
Contab - Para caracterizar uma empresa sustentável quais as práticas que ela deve adotar?
Guedes - Além das demonstrações financeiras, que hoje são obrigatórias para essas empresas, o mercado cobra delas que também demonstrem como trabalham as práticas relacionadas aos aspectos do meio social, da governança e da sustentabilidade. A ideia é que essas empresas demonstrem junto com seus relatórios financeiros como elas desenvolvem práticas. Por exemplo, como que ela trabalha a redução de risco ambiental, caso ela desenvolva alguma atividade que possa trazer algum risco algum dano para o meio ambiente. No caso de uma Petrobras, uma Valle do Rio Doce, que desenvolvem atividades que possam trazer algum dano, além de apresentar os balanços, devem demonstrar como está tratando o cuidado com o meio ambiente. Tudo tem que ser consolidado no chamado Relatório de Sustentabilidade e divulgado para o mercado.
Contab - Qual o impacto financeiro para a implantação dessas práticas?
Guedes - Os custos aumentam. Adotar essas práticas requer várias obrigações. O que tem de vantajoso é a melhoria da imagem e reputação perante o mercado, demonstrando um compromisso com as práticas, podendo atrair novos investidores, novos clientes. Para desenvolver essas práticas, tem que fazer alguns investimentos, tem que avaliar o custo benefício. Tudo tem que ser estrategicamente pensado: vou gastar agora para colher uma melhor imagem, atrair investidores, fidelizar clientes e melhorar a receita. Hoje, o custo benefício tem que ser muito bem avaliado porque existem benefícios, mas existe um custo. Cabe a cada empresa avaliar se está disposta a assumir esse gasto e esse risco.
Contab - Esse perfil pode ser determinante na escolha pelo cliente?
Guedes - Sim, é determinante, principalmente em relação às grandes empresas. Essas grandes empresas têm o setor de compliance, que avalia as boas práticas de gestão e se ela contrata boas práticas de gestão. A Valle, a Petrobras ou Itau têm necessidade de terceirizar serviços, de portaria, de recepção e de limpeza. Se essas terceirizadas de menor porte tiverem práticas de sustentabilidade, há uma grande possibilidade de fechar negócio. Ou seja: as empresas de pequeno porte que têm essas práticas não só melhoram sua competitividade como geram novas oportunidades. Se essas que possuem práticas se conhecerem, se conectarem, gera oportunidade de negócio e benefícios para ambos os lados.
Contab - As empresas estão abertas a adorar essas práticas?
Guedes - Pelo que acompanho do ponto de vista da pesquisa e de análise de mercado, até o ano passado o mercado avaliava, gerava muito valor para essas empresas que possuíam práticas de contabilidade sustentável. Esse ano esse tema já não foi tão bem aceito, agora que estão constituindo as normas. O Brasil tem uma característica de ser um país normativo e burocrático. As próprias empresas que faziam isso como uma divulgação, agora precisam trabalhar para fazer de outra maneira. Isso tem dificultado, tem feito com que empresas desistam. Em alguns segmentos ainda é forte, em outros nem tanto.
Contab - Qual o segmento mais alinhado?
Guedes - Geralmente, o segmento que está atrelado às questões ambientais, ou seja, segmentos que têm como atividade principal a extração de algum produto do solo, a manipulação de algum produto que venha a causar algum dano ao meio ambiente, aquelas empresas que possuem atividade voltada ao social. Temos aí bancos, empresas de transporte relacionado à poluição com gás carbônico, mineradoras, o ramo de petróleo e gás.
Contab - É um conceito importante também para o País?
Guedes - Sim, isso é muito importante no contexto Brasil. Se fala muito na empresa nacional na Amazônia. Na região Norte, há um apelo muito forte. Aqui em Belém, temos a responsabilidade de sediar ano que vem a Cop 30. Por mais que o mercado ainda não tenha reagido positivamente, no ano que vem esse assunto vai vir à tona. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) tem trabalhado muito e contribuído com os órgãos internacionais que regulamentam essas normas para trazer esses estudos, que já são atendidas em outros países, para o Brasil e tentar fortalecer essa pauta. Para que as empresas não façam as suas divulgações para marketing e façam, de fato, a divulgação de um relatório de sustentabilidade com as informações que reflitam o posicionamento da empresa.