Paula Dahmer divide sua rotina na empresa Dahmer Assessoria Contábil, criada há 40 anos por sua mãe, e a atividade sindical. Há 12 anos faz parte do Sescon-RS (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas do Estado do Rio Grande do Sul). Na última gestão, foi vice-presidente de Ensino e Educação, experiência que promete levar, agora, como presidente da entidade.
Ao assumir a nova gestão, Paula citou o primeiro desafio: ajudar os profissionais da Contabilidade do interior do Estado, impossibilitados de trabalhar, mas com exigências de prazos a cumprir. Outro desafio imediato é a qualificação dos contadores para os desafios da Reforma Tributária.
Formadas em Contabilidade pela Ufrgs em 2006, tem três pós-graduações: Controladoria de Gestão, Perícia e Auditoria e Gestão de Empresas de Serviço. Esta última cursada no próprio Sindicato, graças a uma parceria com o Senac. Embora com uma vasta experiência na área e várias conquistas, Paula foi pioneira, no último dia 1º de maio, na história da entidade, sendo a primeira mulher a assumir a liderança do Sescon-RS.
Em entrevista ao JC Contabilidade, a presidente falou um pouco das suas impressões sobre o mercado de trabalho e do importante papel do sindicato de representatividade e defesa de seus associados. São cerca de 450 empresas em todo o Rio Grande do Sul.
JC Contabilidade - Nesses 18 anos de profissão, quais as principais transformações na rotina do contador?
Paula Dahmer - Mudou completamente a forma como a gente trabalha e interage com nossos clientes, e na integração de dados. Trabalhávamos, basicamente, com papel e digitação. Hoje, (o contador) trabalha de uma forma muito mais analítica porque temos toda a parte de integração de dados. O nível de informações que a gente tem que prestar para os órgãos e a entrega para os clientes foram se tornando mais complexas na medida em que passamos a ter a tecnologia a nosso favor. Por um lado, facilitou, a partir de integrada a parte de softwares, mas, também, nosso trabalho se tornou mais complexo. Vejo que nos tornamos menos operacionais, (temos) menos trabalho braçal. Somos mais analíticos. Com isso, nos tornamos mais consultivos na relação com nossos clientes. O trabalho passou a ser mais de assessoria da gestão do cliente do que só preencher documentos, fazer a parte contábil e entregar declarações. Claro, isso continua sendo nossa responsabilidade, mas nos tornamos muito mais um apoio ao cliente. E hoje podemos trabalhar de qualquer lugar.
Contab - Quais as maiores dificuldades no mercado de contabilidade?
Paula - Ainda temos bastante (espaço) para crescer, para fortalecer a classe. Vamos trabalhar de forma a unir, elevar e valorizar a classe. Sobre a questão de desenvolvimento tecnológico, muitas empresas ainda estão com dificuldade. O principal é que temos que ver essas dificuldades e melhorar. A classe precisa se valorizar para que a gente possa fazer essas entregas para o nosso cliente. Uma das principais questões, a que está batendo na nossa porta, é a Reforma Tributária. Vai ser um grande desafio de como operacionalizar e de qualificar nosso pessoal. Esse é o nosso próximo grande desafio.
Contab - A qualificação, então, está entra as metas da gestão?
Paula - O grande foco, e que já vínhamos trabalhando desde a outra gestão, é conseguirmos nos aproximar cada vez mais dos empresários contábeis. E queremos fortalecer, aumentar nosso quadro de associados, trazendo mais para perto do sindicato. O trabalho que a gente faz é buscar o desenvolvimento, não só na parte técnica, mas também do conhecimento em gestão dessas empresas. Não basta ser contador, tem que ser empresário da tua própria empresa. Precisamos fortalecer essa questão da gestão dentro das empresas contábeis.
Contab - A estrutura do sindicato será mantida?
Paula - Na diretoria, muitos permaneceram por conta da continuidade. Temos um grupo muito bom. Estamos também com uma mudança estrutural internamente, pensando o Sescon como uma entidade sindical, na representação. Mas estamos pensando também com um foco comercial, de entregar serviços e produtos aos nossos associados, e nos tornarmos uma entidade sustentável. Estamos pensando de forma empresarial, pensando em gestão. Estamos com consultoria voltada para isso. Temos algumas mudanças nesse sentido acontecendo desde o final da última gestão.
Contab - És a primeira mulher na presidência. Ainda é preciso ressaltar esse feito?
Paula - Sim, com certeza! Há quem diga "já estava na hora". Não! Já tinha passado da hora de termos uma representação feminina. Nesse sentido, sinto uma grande responsabilidade, e me sinto muito honrada de estar nesse papel. Participo do Sescon como associada há mais de 12 anos. A gente vê, naturalmente, ele mudando. Vivemos em um cenário de muita força de trabalho feminina, mas, no nível dos empresários, dos donos de empresas contábeis, ainda tem uma grande parcela masculina. Ao longo dos anos, vemos essa evolução, mas ainda precisamos nos colocar nessas posições de destaque, isso é muito importante. Na diretoria passada, tínhamos duas vice-presidentes, e a ideia foi trabalhar nessa construção para que houvesse a primeira presidente, o que ocorreu agora, com a minha gestão. Demos essa importância para fortalecer (a representatividade), mas ainda temos essa questão: entre os empresários, ainda temos uma maior participação masculina.
Contab - Qual a primeira ação desta gestão?
Paula - Agora, por conta do momento, nosso principal foco está sendo o auxílio. Junto com o Conselho (CRCRS) e outras entidades contábeis, a gente vai dar um apoio a todas as cidades que estão sendo afetadas pelas chuvas, principalmente na área contábil. Vamos trabalhar em prorrogações de prazos. Vai ser o primeiro ato dessa nova diretoria, o apoio a esse pessoal que está, infelizmente, muito afetado, pelas chuvas. Vamos tentar fazer com que eles não tenham maiores prejuízos em relação às questões de entregas de obrigações. Os prazos não param. Estamos conversando com muitos empresários que estão sem poder entrar nas suas empresas por conta dos alagamentos.