A pouco mais de um mês de completar dois anos da pandemia do novo coronavírus no Brasil, os impactos para a linha de frente do consumo não param. Estabelecimentos tradicionais da economia gaúcha fecharam neste período. Reportagem lista 10 operações que não resistiram. Nesta semana, novas baixas foram registradas no Rio Grande do Sul.
As marcas fecharam as portas por não suportarem a ausência de clientes (lojas, cinemas e restaurantes) ou por que o turismo e as viagens sumiram por um bom tempo (hotéis, por exemplo). Sem esquecer do 'abre e fecha', visto como necessário pelas autoridades públicas e especialistas em saúde, mas que gerou instabilidade na gestão dos empreendedores.
O fechamento das últimas unidades de rua da Pizza Hut, em Porto Alegre, de uma das duas únicas filiais da rede de moda Zara no Estado, da loja Gang em um dos shopping centers de Canoas e a previsão de fim de linha para a franquia do Tevah, no Shopping Praia de Belas, com encerramento marcado para fevereiro, só aumentaram a extensa lista de negócios, cujas unidades saíram de cena do mercado de consumo ao longo da crise sanitária.
O fato é que os prejuízos da pandemia se somaram a outros fatores, como uma mudança no perfil dos consumidores (que, em meio ao isolamento social, aderiram em peso ao delivery e às compras on-line); à redução no poder de compra das famílias (muitos trabalhadores perderam renda, dependendo de auxílios do governo federal); e também à escalada inflacionária do último ano, com itens como energia elétrica, combustíveis e preços do alimentos impactando diretamente nos custos dos estabelecimentos.
Confira a seguir 10 exemplos de operações que fecharam as portas nos últimos dois anos.
Galeto Santa Maria | 22 anos | Fechou em maio de 2020
Tradicional restaurante do DC Shopping atendia cerca de 6 mil pessoas por mês
SILVIO WILLIAMS/ARQUIVO/JC
Funcionando há quase 22 anos em Porto Alegre, o Galeto Santa Maria não resistiu aos impactos da crise causados pelo coronavírus e fechou as portas em maio de 2020. Os proprietários decidiram encerrar a operação do restaurante, que se intitulava como o primeiro a servir galeto na grelha de carvão na Capital.
Segundo contou à época o sócio Carlos Alberto Coutinho, conhecido pelos clientes como Beto, o negócio já passava por dificuldades nos meses anteriores ocasionadas, principalmente, pelo período de férias, de significativa baixa na Capital.
Como o restaurante ficava dentro do Shopping DC Navegantes, o aluguel era considerado elevado e as despesas para mantê-lo fechado se tornaram inviáveis. "Nós servíamos, por mês, cerca de 6 mil pessoas", relembrou Beto. Segundo ele, o delivery não resolveria a situação do negócio, pois a concorrência era alta e a localização do restaurante não facilitava, no bairro Navegantes.
Dado Pub | 20 anos | Fechou em maio 2020
Empreendimento ocupava tradicional esquina do bairro Moinhos de Vento
DADO PUB/DIVULGAÇÃO/JC
Um dos bares mais tradicionais do Moinhos de Vento por duas décadas, o Dado Pub deixou de funcionar em maio de 2020.
O motivo, conformou informou à época o empresário Eduardo Bier Corrêa, envolvia fatores econômicos, além da pandemia da Covid-19. "Os restaurantes sofreram com elevação dos custos de pessoal, em razão de dissídios acima da inflação. No campo das vendas, a Lei Seca e a violência urbana impactaram negativamente na receita dos locais", analisou.
Bier também apontou a crise econômica de 2014, que prejudicou o ponto comercial do Dado Pub. "Muitos negócios da Padre Chagas fecharam as portas a partir de 2014, então o local acabou perdendo a pungência", destacou o empresário.
Ele afirmou ainda que a crise do novo coronavírus produziu um impacto insustentável no empreendimento. "Com a necessidade de fechar temporariamente as portas por dois meses, cem por cento da receita foi perdida [na franquia]", lamentou.
Hotel Everest | 55 anos | Fechou em setembro de 2020
Edifício do antigo hotel, com 16 andares, está fechado atualmente no Centro Histórico
PATRÍCIA COMUNELLO /ESPECIAL/JC/
Um dos hotéis mais tradicionais de Porto Alegre, o Everest fechou as portas em setembro de 2020. A rede foi fundada em 1964, por Alberto Augusto Fett, e chegou a ter uma unidade também na capital carioca. O prédio, com 16 andares, está fechado atualmente e sem uso.
Ainda em 2020, o Everest já tinha interrompido as operações por conta da pandemia de Covid-19. Com mais de 150 quartos, o hotel vinha operando com um número de quartos reduzido. No fim de julho do mesmo ano, a filial do Hotel Everest no Rio de Janeiro, no bairro de Ipanema, encerrou as atividades. Os móveis e outros itens do hotel foram leiloados virtualmente, e o mesmo ocorreu com a unidade da Capital.
Muralha da China | 40 anos | Fechou em setembro de 2020
Restaurante ocupava o número 1.493 da Rua dos Andradas desde 1980
MURALHA DA CHINA/INSTAGRAM/DIVULGAÇÃO//JC
Outro que não resistiu aos percalços gerados pela pandemia de Covid-19 foi o restaurante Muralha da China, que fechou as portas no Centro da Capital por tempo indeterminado após mais de 40 anos de atividades. O negócio ocupava o número 1.493 da Rua dos Andradas desde 1980 e era conhecido dos porto-alegrenses por servir comida típica chinesa.
Em nota publicada nas redes sociais à época, o empreendimento informou que a decisão foi tomada diante do cenário da Covid-19 e que buscava "tempo para refletir e replanejar a empresa" para voltar a receber os clientes quando a situação melhorasse.
"Foram 40 anos de dedicação onde buscamos oferecer o nosso melhor, agradecemos pelo apoio e o carinho de todos durante todos esses anos. Esperamos entrar em contato em breve para informá-los das novidades", finalizou o comunicado.
Copacabana | 80 anos | Fechou em janeiro de 2021
Insegurança da região também pesou na decisão de encerrar o atendimento presencial
LUIZA PRADO/JC
Foram oito décadas fazendo parte da história de muitos clientes, durante jantares, festas de formatura e happy hour. O tradicional Copacabana fechou as portas em janeiro do ano passado, passando a atuar apenas por delivery.
A decisão de encerrar as atividades no restaurante foi tomada de comoção. Marcelo Sanzi, 41 anos, um dos proprietários ao lado da irmã gêmea Melissa, contou que a decisão não foi fácil. Antes mesmo da pandemia, Sanzi lembrou que o Copacabana já vinha sofrendo com a sua localização, sendo alvo constante de pichações e de roubos durante a madrugada, período em que está fechado.
Ainda que o "entorno depreciativo" tenha sido uma das razões para deixar a Cidade Baixa, a pandemia serviu como uma "sacudida", nas palavras de Sanzi, para que a decisão de fechar fosse tomada visando um futuro melhor.
O fechamento do restaurante na Cidade Baixa provocou a demissão de 16 funcionários, alguns, conforme Sanz, com 40 anos de casa, entre garçons antigos e gerente. Com a situação no vermelho, o restaurante não tinha mais como manter os pagamentos e a demissão trouxe auxílio aos trabalhadores, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e seguro-desemprego.
Café do Porto | 25 anos | Fechou em junho de 2021
Calçada do estabelecimento, na Padre Chagas, era disputada para happy hour e jantares
MATEUS BRUXEL/ARQUIVO/JC
Pioneiro ao incentivar o culto ao café em Porto Alegre e a transformar a cafeteria em um tradicional ponto de encontro, o Café do Porto encerrou suas operações em junho de 2021. Foram 25 anos operando na charmosa rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento.
Segundo a proprietária Cacaia Bestetti, a difícil decisão foi consequência de diversos fatores e crises enfrentadas pelo setor gastronômico nos últimos anos.
Além da crise econômica gerada pelo isolamento social, pesaram na decisão questões de segurança, os reflexos sentidos com as medidas que determinaram a Lei Seca na Capital e a dificuldade em pagar o aluguel do prédio, problema recorrente entre os estabelecimentos instalados na região.
A marca forte do café como produto, diferencial destacado por ela como grande atrativo do Café do Porto, segue viva. Os clientes podem comprar o produto online, e também participar de uma assinatura mensal para receber o café em casa. A loja virtual (cafedoporto.com.b) vende também xícaras, cafés e cafeteiras.
Fornão | 31 anos | Fechou em junho de 2021
A pizzaria Fornão ocupava um casarão da avenida Protásio Alves desde 1992
LUIZA PRADO/JC
Operando desde 1990 em Porto Alegre, a pizzaria Fornão fechou as portas do tradicional ponto que ocupava na avenida Protásio Alves, 1.875, no bairro Petrópolis, em junho do ano passado. Desde então, passou a atender somente por delivery. O negócio estava no endereço desde 1992, após uma breve passagem por outro ponto da região.
Segundo o proprietário, Márcio Fregapani, o fechamento do ponto físico ocasionou a demissão de 25 funcionários, ficando uma equipe de 15 pessoas na operação de tele-entrega.
Apesar de fechar as portas, o sistema de tele-entrega, contou o proprietário no ano passado, teve um crescimento de 50% em virtude das novas formas de consumo trazidas pela pandemia. O objetivo é retomar as atividades presenciais, mas ainda sem prazo definido.
A pizzaria Fornão opera por delivery no iFood com o mesmo cardápio que era oferecido no casarão da esquina da avenida Protásio Alves. "Continua tudo igual, estamos operando com pizzas e kits de filés, só faltou o rodízio, que, por enquanto, estamos dando esse tempo até melhorar a situação", avisou o proprietário.
Guion Cinemas | 26 anos | Fechou em setembro de 2021
Depois de 26 anos de atuação, o Guion Center foi um dos que não resistiu à falta de público
PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
O setor de entretenimento foi um dos mais atingidos pelas medidas de distanciamento social impostas para evitar o avanço da pandemia de Covid-19. Depois de 26 anos de atuação, o Guion Center foi um dos que não resistiu à falta de público desde que o novo coronavírus exigiu medidas de restrição de circulação.
Depois de receber 2 milhões de espectadores até junho do ano passado, quando comemorou o 26º aniversário, o tradicional cinema de Porto Alegre encerrou as projeções em setembro de 2021.
"Tentamos, mas a narrativa do 'fique em casa' impactou não só nas nossas salas, mas em cinemas de todo o País", disse o proprietário do cinema, Carlos Schmidt, ao Jornal do Comércio à época.
Em novembro, as salas de cinema do Nova Olaria, onde se localizava o Guion, reabriram com uma nova operação, o Cine Grand Café. No local funciona também um bistrô, comandado pela chef Claudia Wagner.
Pizza Hut | 23 anos | Fechou em fevereiro de 2022
Loja de Protásio Alves era a mais antiga em operação; agora só tem a marca no Aeroporto Salgado Filho
ANDRESSA PUFAL/JC
As últimas quatro lojas de rua da Pizza Hut em Porto Alegre fecharam as portas neste mês: na rua Pedro Ivo, no bairro Mont'Serrat, na Praça Libanesa, no Jardim Lindoia, na avenida Protásio Alves, no Rio Branco, e na avenida Coronel Marcos, em Ipanema.
"O fechamento estava programado. Venceram os contratos e não tinha interesse em continuar. Encerrei a relação. É simples", informou o empresário Henry Chmelnitsky, agora ex-franqueado da rede por 23 anos e que chegou a ter oito pontos abertos, incluindo duas cidades do interior.
Para Chmelnitsky, a disputa com lanches rápidos como xis-burger e bauru teria sido a barreira à pizza norte-americana no Estado. Agora, as únicas opções da marca em Porto Alegre ficam na praça de alimentação e no terminal de embarque do aeroporto. As lojas são de outro franqueado. Também existem unidades em Canoas e Passo Fundo.
Procurada pela reportagem, a Pizza Hut informou que espera, em breve, voltar a abrir mais unidades em Porto Alegre, visto que "a Capital é uma das cidades mais importantes do País para a empresa".
Zara | 14 anos | Fechou em fevereiro de 2022
Loja fazia parte do portfólio desde a abertura do shopping center em 2008 na Zona Sul
andressa pufal/jc
A Zara, uma das maiores varejistas de moda do mundo, fechou no BarraShoppingSul, em Porto Alegre, onde operava desde a abertura do empreendimento em 2008. A marca funcionou até o dia 31 de janeiro.
Um cartaz pequeno foi colado nas vitrines que estão cobertas, com o aviso de que trocas de produtos podem ser feitas em qualquer loja da rede no Brasil. A filial mais próxima e única no Estado fica no Shopping Iguatemi.
O movimento de fechamento de unidades pela Zara foi admitido no começo de 2021, e o alvo seriam pequenas operações em todo o Brasil.