Jefferson Klein
Em meio às dificuldades que o coronavírus está provocando em toda a economia mundial, uma das melhores apostas para as empresas é planejar a longo prazo, principalmente companhias que atuam em áreas estratégicas, como é o caso do setor elétrico. O diretor-presidente da RGE, Marco Antonio Villela de Abreu, informa que, por enquanto, a atual projeção da distribuidora - que fornece energia para 381 municípios gaúchos -, no período entre 2020 e 2024, é de investir cerca de R$ 4,8 bilhões.
Empresas & Negócios - Qual a perspectiva de investimento da RGE nos próximos anos?
Marco Antonio Villela de Abreu - Para os próximos cinco anos, estimamos um investimento próximo de R$ 4,8 bilhões, de 2020 a 2024. Reforçando nosso compromisso de, principalmente, melhorar a qualidade e o atendimento aos clientes.
E&N - Quanto foi investido no ano passado?
Abreu - Foram R$ 884 milhões em 2019, focados em expansão, modernização e manutenção do sistema elétrico, com viés de torná-lo mais robusto para suportar as intempéries que são intensas no Rio Grande do Sul.
E&N - Como está o desenvolvimento do programa de eficiência energética em hospitais que operam na área de concessão da empresa?
Abreu - Segue conforme os planos. Encerramos 2019 com 37 hospitais atendidos, R$ 6 milhões investidos. Temos 2020 e 2021 para concluir todo esse processo de implementação das usinas fotovoltaicas (nesses locais) e também as trocas de lâmpadas. De 2019 a 2021, a RGE investirá R$ 50 milhões para beneficiar a 102 hospitais públicos e filantrópicos no Estado. Há, ainda, outro projeto, dentro do programa de eficiência energética, que é o de UTI domiciliar. Implantamos 55 sistemas fotovoltaicos e doamos lâmpadas, com investimento de R$ 600 mil no ano passado. Também estamos contribuindo para que 55 domicílios, espalhados por 20 cidades, reduzam suas contas de luz.
E&N - Neste ano, não tivemos horário de verão. Isso mudou a operação da distribuidora?
Abreu - Não mudou muito, porque nosso sistema (demanda de carga) está mais sujeito a temperaturas do que ao horário de verão si. Com calor de 40 graus, quem tem ar-condicionado liga o aparelho cedo ou usa mais tempo durante o dia, e isso aumenta o consumo mais do que acionar a iluminação pública uma hora mais tarde.
E&N - A opção pela tarifa branca, que cobra valores sobre a energia de forma diferenciada dependendo do horário de consumo, teve procura pelos clientes da RGE?
Abreu - Os números são insignificantes. Reforçamos que isso mexe com o conforto dos nossos clientes. É importante avaliar com cautela, porque, caso contrário, a conta de luz pode vir a subir.
E&N - Essa baixa procura é falta de conhecimento da opção ou as pessoas não querem mudar os hábitos de consumo de energia?
Abreu - Acredito que ambos.
E&N - Qual a sua opinião sobre a portabilidade da conta de luz em discussão no Congresso nacional, com o cliente podendo escolher de quem comprar a energia, semelhante ao que acontece hoje com a telefonia?
Abreu - Estamos participando de todas as consultas e audiências públicas para contribuir para se ter uma regulação cada vez mais justa. Não conseguimos avaliar impactos por enquanto, porque ainda está sendo elaborada a questão.
E&N - Qual a sua visão sobre a entrada da geração distribuída (produção de energia pelo próprio consumidor, modelo que se propagou muito no Brasil por meio dos painéis fotovoltaicos) no setor elétrico?
Abreu - Vejo como irreversível. O grupo CPFL (controlador da empresa) e a RGE são muito favoráveis à tecnologia, mas tem que ter a remuneração adequada do fio (rede elétrica). Hoje, existe um desequilíbrio, e precisa ter esse equilíbrio para tornar sustentável o negócio. Quem está migrando vai precisar do fio, então não faz sentido quem está com geração distribuída não pagar por isso. É como usar uma estrada pedagiada e não pagar.
E&N - Como a questão do coronavírus afeta o setor de energia?
Abreu - Prestamos um serviço essencial e tomamos todos cuidados para mantê-lo. Seguimos rigorosamente o que o Ministério da Saúde tem colocado na mídia, com os cuidados básicos, com a higiene. O primeiro passo é garantir aos nossos clientes que não faltará força de trabalho para continuar atendendo. Um eventual impacto do coronavírus é de algumas indústrias pararem, e isso acaba impactando o consumo. Mas ainda é prematuro avaliar impactos nesse sentido.
E&N - O grupo mantém interesse em participar da disputa do processo de privatização da CEEE?
Abreu - A expansão e o crescimento fazem parte da estratégia do grupo CPFL. Então sempre avaliaremos todas as oportunidades de crescimento, seja geração, transmissão ou distribuição, e a CEEE está nesse pacote. É avaliar e ver se é viável, esperar as condições da privatização, estudar bem e participar do processo. Participamos de várias concorrências, vencemos algumas, perdemos outras, e vamos estar participando, sim.
E&N - Vocês estão dentro dos limites regulatórios dos indicadores de qualidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) e o FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora)?
Abreu - Dentro do regulatório no DEC ainda não, mas no FEC nós estamos. Temos uma grande discussão com a Aneel, pois aumentamos muito o investimento no Sul. Quando se eleva o investimento, cresce o DEC programado, que é o que avisamos aos clientes (quando se suspende o abastecimento de energia durante a realização de algumas obras que precisam, por exemplo, linhas desligadas para serem feitas). Hoje, se temos um DEC de 14 horas, quase três horas são relativas ao DEC programado. Se tirar essa parcela, estaríamos dentro do regulatório. Isso tem impactado na demora para atingir a meta regulatória, mas estamos a caminho. Nossa aposta é reduzir uma hora por ano.