Karen Viscardi, especial para o JC*
Indústrias de higiene e beleza do Rio Grande do Sul conquistam o consumidor com produtos cada vez mais personalizados e entrega de serviços. O mercado, que movimentou cerca de US$ 27 bilhões no Brasil em 2024, atrai desde grandes laboratórios a pequenas empresas artesanais. No radar, está o desenvolvimento de fórmulas inovadoras e eficientes, com multifuncionalidade, promovendo o bem-estar. Tudo para facilitar o dia a dia das pessoas, sem esquecer da sustentabilidade nos lançamentos e nas embalagens. Neste contexto, a inteligência artificial entra como aliada em pesquisas sobre consumo, que vêm se transformando em ritmo acelerado.

Fórmulas e embalagens sustentáveis estão no radar dos compradores, tanto brasileiros quanto de outros países, o que faz aumentar o investimento na área
/Freepik/Divulgação/JCAs indústrias gaúchas de cosméticos vêm ampliando os atributos de suas linhas de cosméticos e produtos de higiene pessoal. Alinhadas às tendências mundiais do setor, as empresas estão em constante transformação para atender às necessidades do consumidor, desenvolvendo soluções que aliam beleza à saúde e ao bem-estar. As exigências de consumo passam por ingredientes ativos inovadores, maior eficiência, praticidade, multifuncionalidade, sustentabilidade em fórmulas e embalagens e produtos de alta tecnologia.
"O comportamento de compra está mudando em ritmo acelerado. Os consumidores querem produtos mais funcionais", explica Maria Consuelo Mello, analista de Competitividade do Sebrae Nacional. Sucesso de vendas, o bastão com função de blush, sombra e batom é um exemplo de praticidade. Com a necessidade de adotar logística reversa dos produtos, as empresas economizam na quantidade e no descarte de embalagem, além de seu custo de produção.
"O Brasil entrega superbem produtos com ingredientes naturais, com fórmulas limpas, que trazem efetivamente benefícios em produtos sustentáveis, desde embalagens biodegradáveis", confirma Claudete Carvalho, professora de Estética e Cosmética da Fadergs e UniRitter. Outra tendência, de acordo com a professora, é associar novos produtos a serviços.
Mas é claro que um mercado tão promissor atrai as grandes marcas internacionais. Afinal, o Brasil figura entre os principais mercados mundiais em consumo de produtos de higiene e beleza, atrás de China e Estados Unidos e alternando posições com o Japão, segundo a consultoria Euromonitor. O consumo, que segue em expansão, e a diversidade fazem do Brasil um país estratégico para empresas multinacionais do setor de higiene e cosméticos.
Um dos exemplos de marca estrangeira é a francesa L'Oréal Paris, que instalou, há cinco anos, um Centro de Pesquisa & Inovação no Rio de Janeiro para desenvolver produtos focados nos consumidores locais, conta a professora Claudete. A diversidade de biotipos no Brasil serve como um laboratório a céu aberto, segundo relatou o presidente da L'Oréal Brasil, Marcelo Zimet em entrevista à revista Exame em setembro de 2024. Isso porque o Brasil tem 55 dos 66 tons de pele mapeados no mundo, além de todos os oito tipos de cabelos.
Com o crescimento vertiginoso das vendas online, marcas de beleza nacionais e estrangeiras passaram a oferecer testadores virtuais. Assim, as pessoas podem experimentar a cor de uma base, batom, esmalte e coloração para os cabelos por meio de Inteligência Artificial (IA). Natura, O Boticário, MAC, Mary Kay, Maybelline, L'Oréal, Risqué, Colorama, entre outras marcas, disponibilizam a tecnologia. Os testes chegaram junto com a ampliação do comércio digital, o que permitiu a personalização de serviços nas áreas de skin care e capilar.
Hoje, as necessidades são atendidas por fórmulas customizadas ou produtos com resposta especializada. Não são apenas os potenciais clientes a se beneficiar. A IA abriu um leque de oportunidades para as empresas, incluindo análises de mercado. Mesmo que a adoção da tecnologia exija parcimônia, em razão da necessidade de verificar a veracidade das informações, é consenso que o uso de IA é um caminho sem volta e suas potencialidades recém começaram a ser exploradas.
A marca gaúcha QOD, especializada em produtos capilares, começou um projeto há nove meses usando IA para trabalhar com sua linha de produtos femininos destinados à exportação. A ferramenta traz insights e assuntos mais comentados de regiões e países na área de beleza e mostra as diferenças entre as pessoas de cada local. Nos Estados Unidos e Europa, por exemplo, as consumidoras privilegiam tecnologia e sustentabilidade. Assim, a QOD desenvolve produtos com a nanotecnologia mais natural possível. Por outro lado, os dois atributos não fazem parte da pauta na Ásia, que tem um público que valoriza óleos, essências doces e itens mais baratos. Por isso, o portfólio oferecido para cada local difere.
O trabalho com IA faz parte da estratégia da QOD de estudar mercados e o comportamento dos consumidores de forma contínua, explica um dos sócios da empresa, Fernando Hilal. Todo desenvolvimento de novo produto e estratégia de marketing têm por trás um conhecimento prévio e análises de consumo, poder aquisitivo e tendências. Sempre com foco local e, há cerca de nove meses, com apoio da Inteligência Artificial.
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O Laboratório Lifar, do Grupo Panvel, também dedica-se ao desenvolvimento e produção de cosméticos e de higiene atento às tendências de consumo e estudos de mercado. "A experiência do cliente e a fidelização da marca são algumas das principais motivações para articular a marca própria. O foco é atender as necessidades dos consumidores dentro e fora das lojas, a partir de uma visão 360° do negócio", comenta o diretor executivo do Grupo Panvel, Roberto Coimbra.
Itens com proteção solar, produtos faciais e body care são as categorias campeãs de venda do Lifar, que tem como foco de investimento a automatização e a melhoria do parque fabril, bem como nos processos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), que possibilitam um crescimento acelerado de seu portfólio de produtos. São mais de 100 funcionários e capacidade produtiva de aproximadamente 20 milhões de itens ao mês. Apenas em P&D, são mais de 10 pesquisadores atuando no desenvolvimento constante de fórmulas e embalagens. Em 2024, a empresa lançou 107 produtos entre categorias como solar, facial, autobronzeador, capilar, cuidados básicos. Também foram criadas collabs de sucesso, como o balm labial Stikadinho, em parceria com a Neugebauer.
Inaugurado em 1969, em Porto Alegre, o Lifar produz marca própria e Panvel, além de o laboratório fabricar e prestar consultoria especializada na terceirização de produtos para empresas parceiras. No ano passado, o Lifar investiu em sua estrutura, impactada pela enchente. Para 2025, a reformulação e a ampliação do novo laboratório de P&D vão dobrar a capacidade produtiva.
Números promissores para o Brasil
Em 2024, o mercado de beleza no Brasil movimentou cerca de US$ 27 bilhões, posicionando o País entre os cinco maiores do mundo nesse segmento. Com a previsão de crescimento contínuo, estima-se que o Brasil atinja US$ 32 bilhões até 2027, conforme os dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) e Statista.
O Brasil também se destaca por estar entre os três maiores lançadores de produtos de beleza, um reflexo da sua enorme capacidade de inovação e consumo nesse setor. Além disso, o País segue com a previsão de gerar cerca de 6,3 milhões de empregos em 2024, representando um aumento de 3,6% em relação ao ano anterior.
Fonte: Sebrae RS
Alquimista artesã prepara sabonetes e shampoos naturais da Aromatibus

Ana Maria só utiliza matérias-primas naturais para elaborar mais de 50 itens
/Aromatibus/Divulgação/JCOs preparos de sabão e produtos para combater problemas de piolho na escola renderam uma atividade prazerosa após a aposentadoria para a bióloga Ana Maria Balbinot. A marca Aromatibus, palavra em latim que significa especiarias, só utiliza matérias-primas naturais para elaborar seus mais de 50 itens, entre sabonetes e shampoos em barra e líquido, condicionadores, desodorantes em creme e em gel e bálsamo para bebês. E, quando necessita utilizar conservantes, a marca tem a chancela da certificadora de boas práticas ambientais e sociais Ecocert.
A linha principal é de sabonetes, cujo processo difere dos produzidos em larga escala. Na Aromatibus, o sabonete é elaborado com gordura ou óleo vegetal, água e o agente da saponificação, necessário para fazer sabão. Após, são adicionados óleos essenciais, manteiga vegetal, e ingredientes com propriedades especiais, como argilas ou pétalas de flores, por exemplo.
"Nossos produtos são comprados por pessoas preocupadas com o que estão colocando na pele e com o lixo que estão produzindo. Enquanto usamos matérias-primas naturais, o sabonete tradicional necessita de grande quantidade de químicos, além de derreterem mais rapidamente", explica a empreendedora.
Ana Maria também desenvolveu produtos multifuncionais: o portfólio conta com 14 variedades de sabonete com shampoo no mesmo produto e outras quatro linhas de shampoo pele e cabelo. Outra preocupação da artesã foi elaborar sabonetes especiais para quem tem problema de pele. Foi aí que surgiu o sabonete líquido Castilla, feito 100% com azeite de oliva extra virgem. Agora, está desenvolvendo um sabonete líquido íntimo, que está em fase de testes do PH. O azeite vem diretamente de um produtor da Argentina. De Belém (PA), chegam os óleos vegetais e manteigas. Apenas os óleos essenciais são comprados de uma distribuidora.
A história da Aromatibus começou em 2012 no município de Canoas. Segundo sua proprietária, a proposta sempre foi trabalhar sem metas impossíveis, que sacrificassem seus momentos de lazer. Para seguir com o planejado, recusou convites para produzir em escala para outras marcas. No começo, Ana Maria conta que precisava sair para oferecer os sabonetes e shampoos. Há cerca de cinco anos, cresceram as vendas pela internet e ela pôde se dedicar mais ao atelier. Hoje, tem ainda parcerias com loja e estande em feiras ecológicas de Porto Alegre. É fornecedora da loja de produtos ecológicos Banana Verde, em frente à Redenção. Em feiras, tem parceria com a Raiz Adentro, que comercializa cosméticos fitoterápicos.
Enquanto muitos negócios tiveram dificuldades durante a pandemia de Covid-19, Ana Maria conta que as vendas da marca aumentaram, pois as pessoas começaram a ficar em casa e passaram a valorizar o autocuidado e dar preferência a produtos naturais. Já a enchente de 2024 foi um período em que tudo parou, inclusive as entregas. Agora, o movimento está se recuperando e o trabalho artesanal praticamente voltou a ocupar todos os dias da semana da bióloga.
Destaques do relatório

Millennials e a geração Z são as líderes no uso de dispositivos ou aplicativos para monitorar seu desempenho físico e saúde
/Freepik/Diivulgação/JC- Millennials e a geração Z são as líderes no uso de dispositivos ou aplicativos para monitorar seu desempenho físico e saúde
- 57% dos consumidores pesquisaram exaustivamente sobre os produtos e serviços que compraram em 2024
- 46% dos produtos online de beleza e cuidados pessoais tinham uma certificação de sustentabilidade em 2023, tornando essa a categoria em que selos ou certificados é mais utilizada
- 34% dos consumidores disseram que o checkout por meio de carteiras digitais melhoraria sua experiência de compra
- 46% dos profissionais esperam que a IA generativa permita que sua empresa faça ofertas de compras mais eficazes em 2024
Fonte: Relatório Global Consumer Trends 2025 da Euromonitor, divulgado pelo Cosmetic Innovation
Tendências globais de consumo

Avança o uso de Inteligência Artificial na indústria de cosméticos
/Freepik/Divulgação/JCMais saudável na terceira idade: Viver mais e melhor é o principal objetivo de quem pensa na saúde a longo prazo. 52% dos consumidores acreditam que, nos próximos cinco anos, terão mais saúde do que atualmente
Consumo consciente: Compras cada vez mais estratégicas e conscientes. Em 2024, somente 18% dos consumidores relataram que compravam por impulso com frequência
Sustentabilidade e eficiência: Busca por produtos sustentáveis, com evidências concretas e eficientes. No segundo trimestre de 2024, havia 5 milhões de produtos online com selos de sustentabilidade, espalhados em 11 setores de bens de consumo e em 25 países
Compras facilitadas: Clientes querem gastar menos tempo procurando o que precisam. 42% dos consumidores fizeram compras durante lives porque os detalhes do produto ou serviço eram mais fáceis de entender por meio desse canal
IA com moderação: Consumidores e autoridades usam inteligência artificial, mas têm ressalvas com as informações geradas por IA. 43% dos consumidores consideram a IA generativa como uma fonte confiável de informações
Fonte: Relatório Global Consumer Trends 2025 da Euromonitor, divulgado pelo Cosmetic Innovation
QOD mira consumidor masculino no Brasil e feminino no exterior

QOD Barber Shop conta hoje com nove unidades no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro
/QOD/Divulgação/JCA trajetória da QOD desafia os padrões do setor. Especialista em cosméticos capilares profissionais, a marca atua no mercado brasileiro com produtos masculinos e nas exportações atende o público feminino. Tudo começou em 2003, quando os estudantes de Administração da Ufrgs e hoje sócios Fernando Hilal e Heitor Morsch criaram uma empresa de representação. Sem o retorno esperado, a transformaram em uma distribuidora. E, buscando ainda mais resultados, criaram a HM Indústria que, durante 12 anos, produziu apenas cosméticos para mulheres e exportava 100% da produção.
Mas não pararam por aí. Há 10 anos, criaram um projeto de branding no Brasil e nasceu a marca QOD. Em 2014, lançaram os primeiros produtos no mercado interno, entre pomadas e shampoos para homens. Com alto valor agregado, enfrentaram o desafio de uma categoria dominada por itens de baixo preço. "O mercado masculino era de consumo barato, porque o homem resolvia seu problema em uma cesta de dois, três itens", recorda Hilal.
O consumidor padrão foi definido como um homem clássico, mas desejado, bonito, cheiroso e arrumado, identificado com os anos 1920 e 1930. Junto com a identificação da marca com esse perfil de consumidor, nasceu a rede de barbearias QOD Barber Shop. A primeira barbearia conceito foi instalada na Avenida 24 de Outubro, em Porto Alegre, em janeiro de 2015 - uma barbearia clássica, com ambientação e ferramentais de corte de cabelo do passado. "Quando montamos, vimos que não estávamos resgatando, mas despertando orgulho de homens", comemora Hilal. Hoje, são nove unidades espalhadas pelo Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Frequentam as lojas 6 mil clientes ao mês, que passam a conhecer as linhas e a comprar os produtos. "A partir da experiência, levam o conceito para casa", resume o empresário. Além de comercializar nas barbearias próprias, a marca está em mais de 16 mil pontos de vendas, com presença de liderança no mercado de pomadas e cuidados com a barba.
Marca realiza estudos de consumo masculino no Brasil e descobre diferentes perfis

Laboratório deverá expandir também a linha de produtos voltados para o público feminino ainda neste ano
/QOD/Divulgação/JCNo Brasil, onde trabalha linhas masculinas, a marca estudou o comportamento dos homens e se deparou com perfis distintos. Para identificar o consumidor QOD, a equipe de marketing chegou à conclusão de que, quanto mais alto o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e menor o conservadorismo, maiores as chances de os homens testarem e consumirem novos produtos.
A definição de um público-alvo e o desenvolvimento de pomadas, óleos de barba, shampoos temáticos, entre outros itens, foram fundamentais para a construção da marca. "Depois de 10 anos, quem dita o ritmo do pharma hoje são dois gigantes do exterior e a QOD. Por quê? Porque a gente tenta entender de maneira mais profunda esse consumo e ser superassertivo", resume Fernando Hilal.
A tematização de shampoos com cerveja, uísque e café contribui para que os produtos entreguem mais do que sua função e os coloca na categoria de presente, com oferta de kits. Nesse cenário, as mulheres são as grandes responsáveis ao levarem para seus maridos, pais, filhos e amigos a QOD. Essa foi a maneira de gerar experimentação para o homem dentro da casa: vendendo para a mulher, que representa 70% das pessoas que entram nas farmácias. Enquanto o homem é fiel ao que consome e entende que não precisa de outros produtos, a mulher leva a QOD para dentro de casa e ele faz a experimentação. "A partir daí, a gente tem um consumidor", afirma o empresário.
Collabs e parcerias também ajudam na divulgação. O shampoo com cerveja, chamado Shampoo Special Beer, rendeu um contrato com a Budweiser. O CEO da cervejaria, que frequenta uma das barbearias da QOD, entrou em uma farmácia e encontrou o shampoo que tinha acabado de usar. Voltou à barbearia e perguntou porque a marca estava na Droga Raia, e responderam que a marca era uma indústria cosmética. O desfecho foi a produção de 50 mil unidades do Shampoo Premium Beer Budweiser QOD. "Tudo isso é resultado de conversar com um novo mercado", conta Hilal.
Quando fala sobre um novo produto, a marca busca em estudos uma forma de se conectar ao consumidor. O shampoo antiqueda, por exemplo, deixou de lado a funcionalidade após uma pesquisa realizada pela Ufrgs, onde 100% dos homens responderam não acreditarem em produto antiqueda. "Isso mostra que a palavra sugere desconfiança para o homem." Assim, a QOD colocou no mercado um antiqueda que estampa no rótulo Shampoo GEN Sensação de Mais Cabelos. O produto contém um polímero que dá uma sensação de até 30% a mais de engrossamento do fio, o que gera sensação de mais cabelos - sem nenhuma referência à palavra antiqueda.
Enquanto os brasileiros contam uma linha ampla de itens, as brasileiras devem ganhar atenção da marca ainda neste ano. Há projeto de expandir a linha e de criar uma operação de varejo, que não foi detalhada. É esperar para ver.
Cosméticos à base de uva inspiram a Empório Essenza

Patrícia começou produzindo loção hidratante, shampoo, condicionador, sabonete líquido e gel esfoliante
/Empório Essenza/Divulgação/JCA Empório Essenza, de Marau, nasceu há 20 anos durante um passeio da farmacêutica Patrícia Foresti Fattini ao Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. Na época, o Spa do Vinho estava em construção e um dos sócios do empreendimento falou sobre a dificuldade de encontrar cosméticos com óleo de semente de uva e com extrato de vinho.
Voltando da viagem, Patrícia, que trabalhava em uma farmácia com cosméticos, começou a pensar em como atuar nesse nicho. Em um almoço de família, comentou sobre a ideia de produzir cosméticos e uma convidada que participava do encontro comentou que uma tia havia fechado há pouco uma empresa de cosméticos.
Após três meses, a empresária pediu demissão, alugou uma sala comercial com 120 metros quadrados e começou a Empório Essenza com apoio dos pais e do marido, Edgar Fattini. A nova empresa aproveitou as máquinas, os estoques de produtos, as embalagens e o nome Essenza, criado pela antiga proprietária.
No início, Patrícia produzia e a família ajudava no envase e rotulagem. "O mais difícil era sair e vender de farmácia em farmácia uma marca nova", considera. Ao mesmo tempo, começou a desenvolver fórmulas a partir de derivados de semente de uva. Voltou à vinícola para oferecer a linha de produtos especiais, mas sem sucesso.
O sócio do empreendimento, que havia dado a ideia, disse que seria muito difícil trazer a marca de cosméticos, pois comercializavam apenas vinhos. Por insistência de Patrícia, conseguiu que comprassem um lote para testarem. Em dois a três dias, recebeu uma ligação para fazer uma encomenda porque o estoque dos cosméticos à base de uvas havia acabado: loção hidratante, shampoo, condicionador, sabonete líquido e gel esfoliante.
"Na época, a Essenza era pequena, desenvolvíamos os produtos, buscávamos fornecedores, fazíamos os testes", recorda Patrícia. A Vinícola Miolo serviu de vitrine para a empresa, que atraia turistas de todo o País. Na época, a marca produzia praticamente apenas cosméticos, chegou a lançar três linhas de cosméticos à base de extrato de uvas, vinhos e espumante - todas, em última instância, eram provenientes da fruta.
A linha Casa foi lançada após três anos, com um difusor e um aromatizador. Com o passar do tempo, esta categoria foi crescendo e hoje representa em torno de 60% do faturamento, enquanto os cosméticos respondem por cerca de 40%. "Notamos que o cliente buscava produtos com essência sofisticada, mais concentrada. Fomos agregando embalagens diferenciadas que servissem como presente e acessório de decoração. As pessoas gostavam, mesmo que tivessem de pagar mais caro", conta a empresária.
Durante anos, o varejo da Miolo revendia os cosméticos. Há cerca de seis anos, a Essenza instalou uma loja própria na vinícola. Esse movimento ocorreu após a abertura de franquias, em 2010, após a empresa se instalar em uma fábrica de mil metros quadrados com um showroom. Quando uma cliente conheceu, propôs abrir uma franquia em Gramado, ideia que não fazia parte dos planos da marca. A incumbência de estruturar a franquia ficou com o irmão Cássio Foresti, hoje diretor de expansão da empresa.

Empório Essenza/Divulgação/JC
Assim, a cidade serrana recebeu a primeira das 48 lojas e quiosques da marca espalhadas por 16 estados. Até o final de 2025, serão abertas novas franquias em Foz do Iguaçu (PR), Uruguaiana (RS) e a primeira no estado de São Paulo. Para 2028, a meta é chegar a cem unidades franqueadas.
Manter-se atualizada é fundamental para a Essenza, que foi pioneira no Rio Grande do Sul em desenvolver cosméticos derivados da uva. Depois, veio a concorrência. Isso exige da empresa inovação constante e lançamento de novos itens. "Buscamos cada vez mais produtos e embalagens sustentáveis", reforça.
Além das franquias, a marca está em multimarcas em locais que não contam com unidade da Essenza. Também comercializa o portfólio por meio de um site e está presente nas redes sociais. Desde a abertura, o crescimento anual fica entre 8% e 20%. Para este ano, o faturamento deve avançar 16%. A empresa segue familiar, Patrícia está à frente do desenvolvimento de cosméticos e da parte de produção. O irmão trabalha na expansão e o pai atua na gerência e supervisão.
História de persistência e profissionalização marcam a trajetória da Divinnah Gaia

Fernanda revela que há planos de expandir os canais de vendas
Divinnah Gaia/Divulgação/JCFoi durante a especialização em Educação Ambiental que a bióloga Fernanda Schwalm descobriu o impacto dos cosméticos no meio ambiente e, com uma filha pequena, começou a se preocupar sobre o mundo em que ela viveria. Passou a frequentar feiras de rua de Porto Alegre, aprendeu a fazer sabonetes naturais veganos e iniciou uma produção artesanal, começando pela saponificação dos ácidos graxos e escolha de matérias-primas de manejo sustentável provenientes da Amazônia.
O mestrado em Educação Ambiental e Sustentabilidade expandiu ainda mais os conhecimentos e contribuiu para criar a marca própria, em 2019 no bairro Ipanema, na Capital. Investiu R$ 1.500 nos primeiros materiais para a nova atividade, que já começou obedecendo a protocolos operacionais e de higiene, resultado da experiência em laboratório. Ao fazer cursos e aprender novas fórmulas naturais, desenvolveu hidratantes corporais, bálsamos, shampoos em barra e desodorantes.
Iniciou participando de feiras de rua locais. Sempre pesquisando e atenta às tendências de mercado, mudou a estratégia de divulgação e criou novas linhas de produtos, mantendo a produção natural e vegana. Hoje, as vendas estão concentradas em São Paulo, que responde por metade do faturamento. O restante está dividido entre estados do Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste.

Divinnah Gaia/Divulgação/JC
A conquista de consumidores de fora do Estado não foi fácil. A primeira dificuldade veio com a pandemia, época em que a empresa não tinha Instagram e, sem as feiras, Fernanda teve de abrir uma conta na rede para divulgar a marca. Patrocinou postagens e começou a expandir para Santa Catarina. Na época, fazia tudo sozinha, produção, passando por arte e design. Tinha uma filha pequena, dava aula em escola e fazia mestrado. Quando ficou grávida da segunda filha, pediu demissão da escola. Passou a contar com a ajuda do marido, que é publicitário.
Em 2022, o processo seguia artesanal, com demandas de produção, vendas, pós-vendas, entregas e redes sociais. A empresária estabeleceu parcerias que não deram certo e teve prejuízos. Mas a persistência de seguir o sonho manteve Fernanda firme e o casal recomeçou, em 2023, a empresa Divinnah Gaia, com uma produção ainda artesanal que sacrificava a escala.
Há um ano, Fernanda buscou um financiamento para viabilizar a terceirização da produção de dois itens de um total de 27. A parceria com um laboratório permitiu ganho de escala para os cosméticos, que se mantiveram naturais e obtiveram registro na Anvisa, ampliando a validade para dois anos do Serum 4 em 1 e do hidratante facial com vitamina C. Quando tudo parecia se encaminhar, a enchente de maio parou o mercado.
Foi quando Fernanda recebeu a indicação de uma cliente para contatar uma médica que trabalhava com cosmética limpa. Acionou a dermatologista pelas redes sociais e enviou os dois produtos. A médica, que é referência no Brasil em clean beauty e influenciadora digital, aprovou os dermocosméticos e passou a indicá-los, inclusive em cursos que ministra para dermatologistas. A divulgação da médica fez o faturamento crescer e o casal reinvestiu para aumentar a produção e ampliar a gama de itens industrializados. Hoje, são mais de 20 médicos prescrevendo as linhas da marca, a maior parte de fora do Rio Grande do Sul.
Atualmente, a Divinnah Gaia Cosméticos Naturais tem cinco produtos da linha skin care industrializados: espuma de limpeza facial com extrato de açaí e chá verde, água botânica com prebióticos, sérum 4 em 1 (com niacinamida, ácido hialurônico, ácido poliglutâmico e pantenol), hidratante com resveratrol, serum facial age care com mix de óleos e, no final de março, lançou três tons de bases em bastão.
A produção de dermocosméticos com mais atributos, utilizando nanotecnologia e insumos que vêm da Europa, fez crescer o valor agregado dos produtos adquiridos majoritariamente por mulheres: 95% das compradoras são do sexo feminino e têm idade entre 40 e 60 anos. Entre outros insumos, utilizam resveratrol, ácido hialurônico e pretendem aplicar tecnologia de células tronco para regeneração das células. "Estamos desenvolvendo produtos mais competitivos e nossa previsão é expandir e crescer."
Para desenvolver novas fórmulas, Fernanda busca os ativos e as ideias são discutidas com a equipe do laboratório. Depois, compra os insumos e os envia para o laboratório. Em breve, a empresa deve ganhar reforço de uma sócia com experiência em maquiagem e cosméticos. A empresa tem uma estrutura com sala comercial e planeja agregar um novo espaço. Conta com uma equipe de cinco pessoas fixas, mais colaboradores em marketing e de gestão de tráfego. No Brasil, as vendas são por meio de loja online e há planos de expandir os canais de vendas. A marca está no mercado internacional por meio de uma loja virtual, mas ainda não investiu em divulgação.
Como abrir uma empresa na área de beleza

Confira as dicas
/Freepik/Divulgação/JCQuem pode ajudar na formalização da empresa
Consultoria técnica
Associação Brasileira de Indústria de Cosméticos e Higiene (Abihpec)
Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC)
Gestão
Sebrae
Passo a passo
Pesquisa e planejamento
Fazer um estudo de mercado, levantar as tendências do setor, fazer o desenho da modelagem de negócio, como a empresa vai atuar e, principalmente, elaborar um plano de negócio.
Planejar a inclusão da tecnologia nos processos, seja de produção, vendas ou marketing.
Nicho e diferenciais
Escolher o nicho da indústria onde quer atuar e os produtos que irá produzir. Estabelecer diferenciais para o produto, como por exemplo desenvolver fórmulas exclusivas e não utilizar animais para testes. Adotar práticas sustentáveis para atender aos preceitos de ESG, com responsabilidade ambiental, social e governança.
Público-alvo
Definir o público-alvo. Por exemplo: profissionais da beleza, jovens, homens, mulheres, pessoas em idade madura?
Formalização
A formalização é um ponto de atenção. Ter CNPJ, buscar alvarás e licenças sanitárias e ambientais da Vigilância Sanitária. É preciso atender à legislação federal, do Estado e do município, pois há legislações com especificidades locais.
Logística
Desenhar o fluxo de distribuição e planejar o controle de estoque a partir do perfil da empresa. Se for uma indústria de processamento, deve garantir o fluxo necessário de matéria-prima. Se adquire o insumo já processado, deve planejar e ter controle de estoque.
Vendas
Estruturar o negócio, definir local ou locais para venda e a melhor forma de distribuição. Pode ser via equipe de vendas, ponto próprio e/ou e-commerce. Na internet, há ferramentas de WhatsApp, Instagram, site ou marketplace.
Marketing
Criar uma identidade visual para a marca e adotar estratégias de marketing e divulgação. Parcerias com influencers, maquiadores, manicures e cabeleireiros ajudam na divulgação por meio de vídeos com tutoriais de uso. Outra forma de divulgar é por meio da prova social. Distribuir o protótipo de um novo produto em um evento para avaliação. Essa é uma forma de testar e aperfeiçoar o item.
Custos
Calcular o investimento para instalar a empresa, como licença ambiental (se houver a exigência), certificado do Corpo de Bombeiros, alvará sanitário e de funcionamento. Estimar custos para desenvolver o produto, taxas de formulação, responsável técnico para você desenvolver e buscar registro sanitário, licenças, embalagens, rótulos, marketing. Após, planejar o monitoramento da indústria, seus resultados, estabelecer uma gestão e estratégias de expansão.
Pontos de atenção
Diferenciação e identidade da marca
É o que definirá a proposta de valor do produto. A diferenciação deve ser pensada durante o planejamento. Se o produto será vegano ou destinado a peles negras, peles maduras, crianças etc. A partir daí, é traçada a narrativa da marca.
Qualidade e inovação dos produtos
Fórmulas seguras, com licenciamentos e certificações, insumos naturais, fórmulas veganas, itens de skin care com funcionalidade múltipla para beleza e autocuidado. Adaptabilidade para atender a diferentes tipos de pele, tons e preferências culturais. Produtos que se adaptam.
Marketing digital e presença online
Redes sociais, influenciadores testes virtuais e tutoriais de como usar o produto, podem ser aqueles de combinação de cor com a pele e também pesquisa de produtos.
Experiência do cliente
Atendimento personalizado, interação e solicitação de feedback. São formas de conhecer o cliente e sua opinião sobre o produto, a embalagem e a experiência de compra.
Preços compatíveis e acessíveis
Quando se define o nicho e o público-alvo no plano de negócio, pensa em um preço do item para o consumidor. O preço deve ser compatível, nem muito alto para afugentar o cliente, nem baixo demais para não dar a impressão de baixa qualidade.
Fabricação de produtos eco friendly
Embalagens recicláveis, fórmulas biodegradáveis, ingredientes naturais. Adoção da pauta ESG, com gestão ética, inclusiva, que promova a diversidade, e que seja responsável ambiental e socialmente.
Construção de comunidade
Estímulo ao engajamento e colaboração como forma de fidelizar o cliente. Manutenção de um canal aberto, onde o cliente individual, ou por meio de comunidades, pode contribuir para a criação de novos produtos.
Logística
Distribuição por canais acessíveis, marketplaces, mercados digitais ou e-commerce próprio, parcerias com lojistas locais também. Entrega rápida e eficiente é fundamental.
Conhecimento do público-alvo
Assim como os demais fatores de sucesso, entender o público-alvo deve fazer parte do planejamento. Análise do consumidor, levando em conta costumes e características locais e das pessoas que se pretende atender.
Controle financeiro e operacional
Controle de custos otimizado e monitoramento sistemático e equilibrado de produção, marketing, precificação e estoque eficiente.
Fonte: Maria Consuelo Mello, analista de Competitividade do Sebrae Nacional
*Karen Viscardi é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs). Atuou como editora no Jornal Zero Hora, e como editora e repórter no Jornal do Comércio.