Com mais de 15 anos de experiência em consultoria ambiental, Kayo Soares é CEO da Arvut e especialista em gestão de obras costeiras e oceânicas. Engenheiro civil e oceanólogo, mestre em Oceanografia Física, Química e Geológica, ele já atuou em projetos nacionais e internacionais voltados à análise de impacto ambiental, mitigação de riscos e melhoria de processos industriais para ganhos ambientais. À frente da Arvut, Soares lidera iniciativas estratégicas, como os estudos ambientais na Margem Equatorial Brasileira, um projeto fundamental para a Petrobras.
Empresas & Negócios - Quais foram os critérios que levaram a Petrobras a escolher a Arvut para executar os projetos ambientais?
Kayo Soares - O primeiro critério deve-se ao fato de a Arvut já ser fornecedora da Petrobras, o que significa que ela tem estrutura, experiência e capacidade para entregar produtos para um setor estratégico da Petrobras, que é o de óleo e gás. Também contam: a capacidade econômica que garante a execução do contrato; a capacidade técnica comprovada através da experiência em serviços similares, e preço competitivo. Ter sido escolhida pela Petrobras demonstra que a Arvut atende a todos os requisitos.
E&N - Quais são os principais desafios para realizar os estudos, especialmente em áreas remotas?
Soares - O principal desafio é a logística, pois atuaremos com áreas amostrais na foz do Rio Amazonas e nas costas do Amapá e Pará. Usaremos uma embarcação robusta e equipamentos duplicados para evitar falhas em uma zona remota. As amostras serão colhidas em períodos específicos, em uma área de hidrodinâmica complexa. Os monitoramentos têm como principal desafio a oscilação de correntes e maré e a constituição da costa do Amapá, que possui reentrâncias e uma concentração grande de material lamoso. A equipe possui muita experiência, pois compreender o funcionamento desse ecossistema será a chave para uma exploração de petróleo segura, caso ela ocorra.
E&N - Como os resultados dos estudos ambientais realizados pela Arvut poderão influenciar o processo de licenciamento de perfuração marítima pelo Ibama?
Soares - Os monitoramentos da Arvut, ao longo desses dois anos, fornecerão dados valiosos sobre a fauna e características oceanográficas, auxiliando a Petrobras na definição de mecanismos de controle e ampliando o conhecimento do Ibama sobre a dinâmica ambiental da região. Compreender o ecossistema é essencial para determinar se a exploração de petróleo é viável e, se for, quais controles serão necessários para evitar danos.
E&N - De que forma os monitoramentos realizados serão integrados para fornecer uma análise abrangente ao projeto?
Soares - É preciso compreender o comportamento dos oceanos, da região costeira e da plataforma continental da região, que são influenciados por diversos aspectos, como a quantidade de material em suspensão na água e a sua temperatura. A dinâmica oceânica e a complexidade do transporte das correntes também geram grandes influências. Então, entender como esses processos se comportam, será fundamental para estabelecer os planos integrados e salvaguardas robustas para caso a exploração de petróleo venha a acontecer.
E&N - Quais tecnologias e metodologias a Arvut utilizará para garantir a precisão e a confiabilidade dos dados coletados?
Soares - A avaliação parte de equipamentos e equipes. Serão utilizados materiais modernos e tecnologia de ponta, como hidrofones para o monitoramento do ruído subaquático, e outros de medição de temperatura, salinidade e condutividade da água. Também serão utilizados sinalizadores por radar para identificar organismos que serão marcados e acompanhados por satélite. Teremos um corpo técnico com grande conhecimento da biologia e oceanografia da região, com especialistas que irão a campo usando elementos da bioética, que preservam os organismos e que não os expõem a riscos.
E&N - Quais são as medidas adotadas pela empresa para minimizar possíveis impactos ambientais durante a realização dos trabalhos de campo?
Soares - Temos uma política de meio ambiente muito robusta. A embarcação que será usada terá um plano de emergência para possíveis vazamentos de óleo e gerenciamento de resíduos, por exemplo. Nosso plano também envolve os profissionais que estarão conosco, que serão treinados e monitorados para realizar as tarefas de forma segura, tanto para eles quanto para o meio ambiente.
E&N - Como a Arvut planeja gerenciar as oito campanhas ao longo de dois anos, considerando a extensão e complexidade das áreas de estudo?
Soares - Esse é o desafio. A região apresenta dois momentos marcantes, de alta e de altíssima vazão. As campanhas irão ocorrer em diferentes períodos do ano, com complexidades distintas. Porém, estudamos muito a área, e vamos contar com a experiência vivenciada em cada campanha para enfrentar a seguinte com melhorias. Quando se está em campo, é preciso respeitar a natureza, entender as limitações e o aprendizado que ela nos gera.
E&N - Qual é a visão da Arvut sobre o mercado de projetos ambientais no Brasil?
Soares - O mercado está aquecido graças ao aumento de obras de infraestrutura no País que demandam estudos ambientais, e a crescente conscientização dos empresários sobre a inevitável avaliação dos impactos gerados pelos projetos no meio ambiente. A Arvut é fornecedora das empresas que atuam nesse mercado, pois elas são as responsáveis pela coleta de dados que deve ser enviada aos órgãos ambientais. A qualidade dessas informações é fundamental para a formulação de legislações e a tomada de decisões, tanto do mercado privado quanto do setor público.
E&N - O que é necessário em termos de planos públicos e privados para combater os efeitos da mudança climática?
Soares - São de grande importância planos de resiliência e de infraestrutura das cidades, assim como estratégias de redução das emissões de carbono. Por isso, é fundamental a ação conjunta entre o poder público e o privado. No Brasil, temos a regulamentação do crédito de carbono e outros programas, e as empresas já estão vendo oportunidades, questionando-se de que forma podem desenvolver tecnologias de economia verde, ou como podem mudar seus meios de produção.
E&N - Vários acontecimentos reforçam a urgência de ações sustentáveis, como as enchentes que assolaram o RS. O que é mais urgente para ser implementado?
Soares - O ideal é um modelo híbrido de ação, combinando o que é urgente com o que é importante. Aqui no Estado, o urgente são as medidas de proteção, como reforços dos diques e casas de bombas, e estruturas de energia com análises de resiliência. Quanto às ações importantes, elas incluem modificar os meios de produção focando em redução de emissões de carbono, preservar as margens e as matas ciliares, e investir em fontes de energias renováveis. Talvez elas não sejam as mais urgentes, porque o urgente hoje é tirar a população de uma área de risco, mas são importantes pois são estruturantes.
E&N - Qual o impacto da saída dos EUA do Acordo de Paris?
Soares - A saída dos EUA é preocupante do ponto de vista geopolítico, e pode colocar em risco os desdobramentos da COP 30, que acontece no Brasil em 2025. Os EUA são a maior economia do mundo e um dos maiores emissores de carbono. Não contar com o seu compromisso no acordo é muito negativo. No entanto, apesar desse posicionamento como nação, temos estados americanos importantes, como a Califórnia, que mantêm compromissos ambientais de vanguarda, além de empresas norte-americanas relevantes que estão olhando para isso.