*De Caxias do Sul
A primeira Indicação Geográfica (IG) do mundo data de 1870 e reconhece o processo de elaboração do Vinho do Porto, em Portugal. No Brasil, o uso desta ferramenta é recente, com aprovação de legislação em 1996. Desde então, foram autorizadas 129 indicações geográficas, reconhecendo a qualidade de dezenas de produtos, como cafés, queijos, vinhos e artesanatos, dentre outros. Todos os estados têm, pelo menos, uma indicação. Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Santa Catarina formam o pódio com o maior número de indicações.
O selo pioneiro de IG foi protocolado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1997 e o primeiro certificado concedido ocorreu em 2002 para a Aprovale (Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos), de Bento Gonçalves. Nos anos mais recentes, o assunto está ganhando mais notoriedade. Desde 1997, foram protocolados 241 pedidos de registros, 74 deles nos últimos três anos.
No Rio Grande do Sul são 14 registros, dentre Denominação de Origem e Indicação de Procedência. A maioria se concentra na Serra Gaúcha, com foco maior em vinhos e espumantes. Há duas indicações, de mel de melato e de queijo artesanal serrano, que também inclui regiões de Santa Catarina. Das 14, duas estão inativas.
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No Rio Grande do Sul são 14 registros, dentre Denominação de Origem e Indicação de Procedência. A maioria se concentra na Serra Gaúcha, com foco maior em vinhos e espumantes. Há duas indicações, de mel de melato e de queijo artesanal serrano, que também inclui regiões de Santa Catarina. Das 14, duas estão inativas.
Neste mês foi concedida a Indicação Geográfica para a erva-mate de Machadinho, a segunda no País. A certificação é uma conquista da Associação dos Produtores de Erva-mate de Machadinho (Apromate). A região de abrangência da associação possui área de 2.716.868 km², distribuída em 10 municípios.
As indicações geográficas terão maior visibilidade, no período de 28 a 31 de maio, com a realização, em Gramado, da 3ª edição do Connection Terroirs do Brasil, a maior vitrine de produtos de origem do Brasil. O evento é organizado pela Rossi e Zorzanello com correalização do Sebrae. Na Rua Coberta, haverá uma exposição de produtos com IGs como cafés, queijos, vinhos, doces, chocolates artesanais, mel e erva-mate, além de artesanato, entre outros, tudo com possibilidade de degustação e compra.
No contexto brasileiro, as Indicações Geográficas possuem duas categorias: as Denominações de Origem (DOs) e as Indicações de Procedência (IPs). As DOs são produtos cuja qualidade ou características dependem de uma região geográfica ou lugar específico, enquanto as IPs são associadas a uma origem geográfica que confere reputação ou reconhecimento, mas sem necessariamente refletir em características específicas relacionadas ao ambiente ou métodos de produção.
No contexto brasileiro, as Indicações Geográficas possuem duas categorias: as Denominações de Origem (DOs) e as Indicações de Procedência (IPs). As DOs são produtos cuja qualidade ou características dependem de uma região geográfica ou lugar específico, enquanto as IPs são associadas a uma origem geográfica que confere reputação ou reconhecimento, mas sem necessariamente refletir em características específicas relacionadas ao ambiente ou métodos de produção.
A certificação de IG é uma maneira de garantir a autenticidade e a qualidade desses produtos, ao mesmo tempo em que preserva tradições e práticas culturais que fazem parte da identidade local. Países europeus como Portugal, Itália e França são referências no assunto. Mesmo com territórios geográficos significativamente menores que o Brasil, nestes países existem mais de 1.500 IGs homologadas. Das 129 IGs reconhecidas no Brasil, 100 são Indicações de Procedência e 29 Denominações de Origem.
Altos de Pinto Bandeira ganha visibilidade com espumantes

Produção segue requisitos específicos para o cultivo das variedades Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico
/Anderson Pagani/Divulgação/JCA Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho) surgiu em 2001 com o propósito de organizar o setor, lutar por interesses comuns e já vislumbrando a possibilidade de uma indicação geográfica. A primeira conquista ocorreu em 2010 com a Indicação de Procedência e avançou, em 2022, com o reconhecimento da região com Denominação de Origem, trabalho iniciado em 2016, e denominada de Altos de Pinto Bandeira.
A secretária executiva da entidade, Juliana Toniolo Rossatto, destaca que a DO é representativa, pois reconhece a qualidade do produto e o modo de fazer. O foco é a produção exclusiva de espumantes, aproveitando as características únicas da região delimitada. Ressalta que, em todo o processo da cadeia de produção, o diferencial também está vinculado à produção vitícola e ao processamento enológico dentro da área delimitada, que possui identidade única, bem como está associado ao saber-fazer local historicamente desenvolvido e assimilado pelos produtores locais, tanto no uso dos fatores naturais, quanto aos humanos, expressos nas práticas vitícolas e enológicas.
De acordo com Juliana, ainda que recente, já é possível perceber o maior interesse do mercado consumidor pelos rótulos elaborados por cinco vinícolas. "A região está ganhando visibilidade e reconhecimento, com a percepção do mercado quanto à qualidade do produto. Ainda não se nota agregação de valor, algo que será consequência no futuro", frisa.
Valorização que já está presente no preço da uva. "A matéria-prima é insubstituível, ela deve vir da área demarcada, motivo para que produtor já seja valorizado com preços melhores e incentivado a plantar as três uvas permitidas", assinala. De acordo com Juliana, não houve resistência dos produtores de uva em investir nas variedades autorizadas. Foi, segundo ela, um processo natural e gradual.
Além do incentivo ao setor de forma direta, há um trabalho de valorização do entorno, visando ao desenvolvimento territorial. "Trabalhamos muito na evolução do enoturismo para pequenos grupos, famílias e casais. Por isso, há o fomento por pousadas e restaurantes. Temos apoio do poder público e de outras organizações. Para funcionar, é necessário o engajamento de todos os atores", reforça. Para promoção da DO, a entidade participa de degustações em feiras e de cursos no Brasil e exterior. O próximo movimento ocorre, em março, na Espanha, num evento internacional, organizado por universidade parceira da Asprovinho.
A área geográfica delimitada da DO Altos de Pinto Bandeira possui 65km², distribuída em Pinto Bandeira (76,6%), Farroupilha (19%) e Bento Gonçalves (4,4%), em altitudes de 520 a 770 metros. As uvas são 100% produzidas na área delimitada e existem requisitos específicos para a viticultura: vinhedos conduzidos em espaldeira ou ypsilon, com limite de produtividade máxima por hectare de 12t. São autorizadas as variedades Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico.
O espumante natural é elaborado exclusivamente pelo método tradicional, com segunda fermentação na garrafa. Todo o processo de produção, incluindo a elaboração do vinho-base e a segunda fermentação na garrafa, é feito na área da DO. Cada garrafa possui um selo de controle numerado, o que possibilita manter a rastreabilidade dos produtos. Os primeiros produtos com selo de DO chegaram ao mercado em 2023.
A IP de Pinto Bandeira, que segue ativa, tem uma área delimitada de 7.960 hectares, sendo dedicada a vinhos tintos, brancos e espumantes. Para a elaboração está autorizado o uso de oito cultivares de Vitis viníferas tintas e 12 de brancas. Para a produção do vinho espumante fino, só é permitido o uso do método tradicional de produção. Os vinhos da IP são elaborados com, no mínimo, 85% de uvas produzidas na área delimitada, em vinhedos com controle de produtividade. A elaboração, engarrafamento e envelhecimento também deve se dar dentro da área delimitada. Mesmo com a IP e a DO as empresas da região têm outros produtos no portfólio.
Vale dos Vinhedos é pioneiro em DO para vinhos

As principais uvas da região demarcada com DO são a tinta Merlot e a branca Chardonnay
Dandy Marchetti/Divulgação/JCApós conquistar, em novembro de 2002, a primeira Indicação de Procedência do Brasil, o Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, foi a região pioneira a ter o reconhecimento com a Denominação de Origem para vinhos, em 2012. Atualmente, 11 empresas estão habilitadas para a venda de produtos com o selo. Na região demarcada, no entanto, há um total de 27 empresas, associadas da Aprovale (Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos), que gerencia a DO. De acordo com Moisés Brandelli, diretor técnico da entidade, estão sendo realizados cursos e palestras para repassar informações sobre as vantagens da adesão e atrair mais empresas.
Brandelli destaca que, desde a criação dos primeiros rótulos, houve a percepção de mudanças pela elevação da qualidade dos vinhos e do reconhecimento mundial. Ele recorda que as regras da DO tiveram como base o histórico de regiões de outros países, da França em especial. A estimativa é que mais de 5 milhões de garrafas já foram comercializadas com o selo nestes anos.
Frisa que a Indicação de Procedência segue sendo fundamental para o setor, porque é a base de estudos e pesquisas para qualificar a DO, que sempre foi o objetivo principal da associação. "Até poderíamos excluir, mas entendemos que é importante a manutenção para se trabalhar outras variedades de uvas com tipicidade e expressividade para elevar ainda mais a régua da qualidade do produto", assinala. Alguns estudos já são realizados, mas Brandelli destaca que os resultados devem demorar alguns anos.
A Indicação de Procedência abriga vinícolas que não estejam contempladas na Denominação de Origem. Para a produção do vinho, é autorizado o cultivo de 12 cultivares de Vitis vinifera L. tintas e 11 de uvas brancas, sendo permitido o rendimento máximo de 150 hectolitros por hectare. Os produtos da IP são elaborados com, no mínimo, 85% de uvas produzidas na área delimitada.
As principais uvas da região demarcada com DO são a tinta Merlot e a branca Chardonnay. Como complementares são aceitas a Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Tannat entre as tintas, e Pinor Noir e Riesling Itálico entre as brancas. A partir delas são elaborados vinhos brancos, tintos, roses e espumantes. Para ser apresentado como varietal, os vinhos precisam ter 85% da uva principal, casos da Merlot e Chardonnay. Também é possível elaborar cortes com 60% da uva principal.
Um dos efeitos sentidos foi a valorização do preço da uva pago ao viticultor. O valor passou de R$ 2,50 a R$ 3 no passado para atuais R$ 12. Para ser fornecedor é preciso seguir regras como sistemas de condução apropriado, colheita no momento certo, mudanças no plantio e vinhedo mais sustentável, dentre outras. "Está valendo a pena investir em melhorias dos vinhedos", afirma Brandelli. No entanto, a maior parte das uvas tem origem em plantios próprios das vinícolas.
Dentre as regras da DO está a exigência de que a uva seja plantada e o vinho elaborado na região demarcada. Para terem direito ao selo os vinhos passam por avaliação a cada safra junto ao Conselho Regulador. Os brancos podem ser vendidos de imediato, enquanto os tintos necessitam de 12 meses de guarda.
Na avaliação de Brandelli, os vinhos estão sendo valorizados pelo mercado por sua qualidade e não somente pelo selo da DO. Reconhece que os demais produtos elaborados na região, mas sem o selo, estão avançando com qualidade mais apurada, mas ainda valorados abaixo do que recebe um vinho de DO. Para o diretor executivo, um dos desafios é encontrar o equilíbrio em aumentar a produção de vinhos de DO e IP com a oscilação do mercado.
Carência de mão de obra limita avanço do selo de queijo serrano

Baixa escala de produção é empecilho para que o queijo serrano chegue em outros mercados além do RS e de SC
/Fernando Dias/Seapi/Divulgação/JCHerança deixada pelos portugueses que povoaram a região dos Campos de Cima da Serra, ainda na primeira metade do século XVIII, a produção do queijo artesanal serrano deu origem, em 2020, a uma Denominação de Origem. O relato histórico é que o gado deixado pelos jesuítas há mais de 200 anos foi amansado pelos primeiros proprietários rurais, os quais começaram a ordenha para a elaboração do queijo, transmitindo os conhecimentos ao longo dos séculos por meio de várias gerações até chegar aos atuais produtores.
A estimativa é que mais de 1,5 mil produtores elaborem a iguaria no Estado, ainda que nem todos estejam inseridos no mercado ou tenham foco apenas no consumo familiar. A produção anual calculada é de 1,350 milhão de quilos. Porém, em torno de 99% é informal. Do total, cerca de 54 mil quilos, elaborados em sete queijarias certificadas pela inspeção municipal, recebem o selo da DO. Destas, seis são gaúchas e uma catarinense.
O gerente regional adjunto da Emater Caxias do Sul e coordenador do projeto do queijo serrano no Rio Grande do Sul, Orlando Junior Kramer Velho, enfatiza que o mercado ainda não reconhece o valor da DO, pois a baixa escala de produção impede que o produto chegue em outros mercados, que não o gaúcho e o catarinense. O volume ofertado deve aumentar com o credenciamento de mais três queijarias, situadas em São José dos Ausentes.
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O principal fator limitante da baixa produção é a carência de mão de obra. Em geral, o funcionamento das queijarias depende dos familiares, que também precisam suprir as demais atividades, principalmente a de bovinos de corte, normalmente a mais representativa da propriedade. "Com apenas duas a três pessoas é difícil atender a produção de queijos", afirma. Outro problema é a baixa produção de leite, pois a vaca, obrigatoriamente, deve ser de corte ou meio sangue de cruzamento, que tem rendimento diário de cinco a 10 litros, muito inferior ao que rende uma vaca leiteira, que tem o uso proibido na DO.
Para amenizar este quadro, as entidades envolvidas trabalham na sensibilização para que mais famílias regularizem a agroindústria. Para tanto, é preciso ser submetida a inspeção municipal, mas nem todos os municípios da região delimitada têm este serviço. O gerente argumenta que a atividade esteve muito próxima da extinção, o que não ocorreu em razão da DO. "A produção do queijo artesanal serrano é sazonal, na primavera e verão. E por ser de volumes pequenos as famílias optam por não se legalizar", observa.
Para receber o selo, é preciso que o rebanho seja livre de brucelose tuberculose e que a propriedade tenha água de qualidade, que é submetida a análises periódicas, e a tratamentos, quando necessário. Os agricultores também devem fazer cursos de pós-prática de fabricação e pós-práticas agropecuárias para trabalhar a qualidade do leite. Ainda é necessário ter uma sala de ordenha lavável, que possa ser higienizada com água tratada quente e fria tratada, e uma sala de processamento e maturação.
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O queijo é elaborado a partir do leite cru, hígido, integral, recém-ordenhado (no máximo, até duas horas após a ordenha) e filtrado, e processado exclusivamente na propriedade de origem. A ele é adicionado coalho industrializado e sal comum, com maturação na propriedade. As vacas devem ser alimentadas basicamente com pastagens nativas e com maior percentual de gordura.
Diante deste quadro, Kramer Velho acredita que o avanço da DO será demorado, podendo, no prazo de uma década, ter em torno de 30 queijarias habilitadas. A DO Campos de Cima da Serra é gerida pela Federação das Associações de Produtores de Queijo Artesanal Serrano de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A Emater e a Epagri de Santa Catarina são parceiras do projeto. A área delimitada compreende o Planalto Sul de Santa Catarina e o Nordeste do Rio Grande do Sul.
Mel de melato de bracatinga se estende por três estados

Com 15 municípios na área da DO, RS deve ter o primeiro apiário com o selo
/Melato/Divulgação/JCA apicultura na região do Planalto Sul Brasileiro teve início com os povos indígenas a partir de abelhas nativas. Nos anos 1800, imigrantes europeus trouxeram abelhas para as colônias na região, o que fortaleceu a atividade e deu origem, em 1900, à primeira associação de apicultores do Sul do Brasil, em São Bento do Sul (SC). Em 1956, abelhas africanas foram introduzidas no Brasil e, em 1970, foi criada a Associação Catarinense de Apicultores.
Movimento mais recente é a delimitação de uma área para a valorização do mel de melato de bracatinga. Em 2021, a Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc) obteve o registro da Denominação de Origem Planalto Sul Brasileiro, que contempla uma área de quase 60 mil km², reunindo 134 municípios, dos quais 107 em Santa Catarina, 12 no Paraná e 15 no Rio Grande do Sul, que deve ter, em breve, o reconhecimento do primeiro apiário com selo da DO. Os municípios gaúchos envolvidos são Bom Jesus, Cambará do Sul, Caraá, Itati, Jaquirana, Mampituba, Maquiné, Morrinhos do Sul, Riozinho, Rolante, São Francisco de Paula, São José dos Ausentes, Terra de Areia, Três Cachoeiras e Três Forquilhas.
O mel de melato da bracatinga é produzido pelas abelhas a partir do líquido açucarado que um inseto chamado cochonilha cria ao se alimentar da seiva da bracatinga, uma espécie arbórea nativa do Brasil, com distribuição predominante na Região Sul. Esse fenômeno ocorre apenas em áreas com altitudes acima de 700 metros no Planalto Sul Brasileiro.
Estudos pioneiros demonstram que o mel de melato da bracatinga da região demarcada possui características diferenciadas em relação aos méis florais e de melato de outras origens. Apresenta maiores teores de nitrogênio e minerais, aminoácidos livres serina, prolina, asparagina, ácidos aspártico e glutâmico, compostos bioativos e tem potencial antioxidante. É um mel com acidez mais elevada e rico em minerais, em especial potássio e magnésio.
De acordo com a secretária-executiva da DO, Caroline Maciel da Costa, para fazer parte do projeto, o apicultor deve ter o apiário na área delimitada. Atualmente, 42 estão credenciados e respondem pela produção média de 60 mil quilos, dado referente à safra de 2022 e 2023 - no ano passado foram perto de 17 mil quilos, faltando incluir os volumes de 2025. A produção representa em torno de 12% do total produzido na região, que concentra 1.350 apicultores que podem vir a integrar a DO. "Estamos trabalhando para sensibilizar a adesão", afirma a secretária.
Para participar é preciso ter um histórico de produção estabelecida e preocupar-se com a qualidade do produto, que passa por avaliações trimestrais de lotes ao longo do ano. Por meio de georeferenciamento é feito o controle da localização do apiário indicado, o qual deve, obrigatoriamente, estar na área delimitada.
Doces de Pelotas têm forte aceitação junto aos turistas

Em busca de maior visibilidade, demanda é por vendas a outros mercados
/Exemplifique Comunicação/Divulgação/JCA região conhecida como Antiga Pelotas é o espaço delimitado da Indicação de Procedência (IP) que preserva e mantém as receitas de doces finos vindos da Europa, essencialmente de Portugal. A IP, criada em agosto de 2011, é gerida pela Associação dos Produtores de Doces de Pelotas e tem a adesão de 14 empresas de diferentes municípios da região, como Arroio do Padre, Capão do Leão, Morro Redondo, São Lourenço do Sul e Turuçu, além de Pelotas.
Maria Helena Lubke Jeske, gestora da Imperatriz Doces Finos e uma das primeiras a aderir ao movimento, destaca que ao longo desta década o produto ganhou visibilidade e valorização, principalmente junto aos turistas que visitam a região ou nas feiras em que o setor participa. "Temos um produto diferenciado, de qualidade própria e única. Embora em ascensão, ainda falta maior conhecimento do consumidor. Teríamos capacidade para aumentar a produção, o que não ocorre por falta de demanda", comenta. Outro benefício da IP é o combate ao uso indevido do nome Pelotas para a produção de doces.
Para ter direito ao uso do selo, a fábrica, independentemente do tamanho, deve cumprir o que exige a vigilância sanitária e não comprar produtos no mercado informal, além de ser sócia da entidade. Maria Helena destaca que esses processos são seguidamente revistos, passando por vistorias visando melhorar ainda mais os sistemas de controle das empresas. "É preciso qualificar sempre para que o consumidor tenha mais informações, o que repercute no conhecimento maior da indicação de procedência", afirma.
Nenhum doce tradicional de confeitaria de Pelotas utiliza leite condensado. A base das receitas desses produtos, vindas de Portugal, foi mantida, com base em ovos e açúcar. As transformações ocorridas no decorrer do tempo agregaram mais qualidade e valor aos produtos. A IP Pelotas autoriza a produção dos doces bem casado, quindim, ninho, camafeu, olho-de-sogra, pastel de Santa Clara, papo de anjo, fatias de Braga, trouxas de ovos, queijadinha, broinha e beijinho de coco, amanteigado e doces cristalizados de frutas.
A maioria dos insumos é adquirida fora da região delimitada por falta de fornecedores, além de vários serem importados da Europa, como amêndoas. Na avaliação de Maria Helena, criar uma cadeia é difícil, pois a demanda de alguns itens, como ovos, por exemplo, é muito grande. Há, na região, uma granja, mas com capacidade inferior à necessária para atender uma única doceria. "Também tem o aspecto cultural, pois o doce que elaboramos tem criação portuguesa, o que exige alguns ingredientes não ofertados no Brasil", relata. Uma dificuldade para a venda fora do Estado ou exterior é a perecibilidade dos doces. Há, no entanto, um movimento para atender a demanda crescente destas regiões. "O consumo é global, porque nos eventos em que participamos há visitantes de dezenas de países. Estamos avaliando formas para vendas diretas mais frequentes a estes outros mercados. A procura tem melhorado com a divulgação pelas empresas e pela associação", registra. Uma demanda da entidade é o desenvolvimento maior do turismo na região, o que se refletiria nas vendas e valorização dos doces.
Indicação de Procedência do chocolate artesanal enfrenta vários desafios

Elevar os investimentos em marketing e aumentar a conscientização do consumidor são algumas metas
/Achoco/Acervo/JCCom data de registro em junho de 2011, a Indicação de Procedência (IP) Gramado está em uso pela indústria há pouco mais de um ano. Com delimitação ao território do município, a IP fixa padrões e normas para a fabricação do chocolate artesanal, produto que é herança da imigração europeia e uma das principais fontes de receita do município.
De acordo com Fabiano Contini, presidente da Associação da Indústria e Comércio de Chocolates Caseiros de Gramado (Achoco), entidade que detém a indicação, são ainda muito incipientes os resultados da iniciativa, atualmente assumida por quatro associadas da entidade. "Precisamos elevar os investimentos em marketing e na conscientização do consumidor para divulgar a IG. É o principal desafio, pois a maioria do público sequer sabe que existe uma IG, menos ainda o que ela significa", afirma.
O baixo número de empresas que aderiram também tem relação com custo de manter e cumprir com os preceitos estabelecidos na norma. Segundo Contini, a maioria dos associados não mostra intenção em aderir, pois sem o reconhecimento do consumidor, o fabricante não vê vantagens.
Soma-se a isto a necessidade de investir em equipamentos para o produzir a massa de cacau inteiramente na cidade, uma exigência da IG. De acordo com o presidente, o investimento é elevado, razão para que as empresas comprem o chocolate de fabricantes nacionais e importadores. "Boa parte das empresas não tem capacidade de fabricar o chocolate aqui. Também precisamos que os insumos sejam de produtores que atendam às normas, além de seguir práticas de produção. São desafios enormes diante de um retorno, até o momento, baixo", explica.
Entre os produtos da IP incluem-se as barras, as ramas, os bombons, as trufas, as drágeas e especialidades feitas de chocolate ao leite, branco, meio amargo e amargo. Não é permitido o uso de leite em pó, cacau em pó, soro de leite em pó e gordura vegetal ou gordura vegetal hidrogenada. As empresas participantes precisam, necessariamente, ter 100% da produção com selo da IG.
A história de Gramado foi diretamente influenciada pela imigração europeia no século 19 e início do século 20. Os europeus traziam habilidades artesanais na produção de diversos produtos, entre eles o chocolate. Em 1975 foi inaugurada a primeira fábrica de chocolate caseiro na cidade. Com a expansão das empresas produtoras, o produto tornou-se reconhecido nacionalmente, passando a ser comercializado além das fronteiras do Rio Grande do Sul.
Desde 1994 a cidade sedia, anualmente, o festival Chocofest. Em 2020, recebeu o título de Capital Nacional do Chocolate Artesanal. O município possui em torno de 25 fábricas de chocolate. Anualmente, mais de um milhão de quilos da guloseima são produzidos, cerca da metade para atender a demanda da Páscoa. A Achoco, no entanto, ainda não tem estimativa de qual é o volume de chocolate com selo da IG.
Apromontes consolida IP com mais rótulos no mercado

São 20 vinícolas associadas, sendo que 15 rótulos no mercado têm selo
/Caiani Lopes/Divulgação/JCUma das mais recentes Indicações de Procedência na área de vinhos, a Altos Montes é uma área contínua localizada nos municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua, totalizando 173,84km². Responsável pela IP, a Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes (Apromontes) tem 20 vinícolas associadas, das quais quatro já têm 15 rótulos no mercado com selo. Outros 40 passaram por avaliação e devem, em breve, estar liberados para consumo. "Investimos na IP para que o consumidor identifique os produtos da região por suas características próprias", afirma o presidente da entidade, André Tonet
Ele recorda que a IP teve registro autorizado em 2012, mas até 2020 nenhuma vinícola havia aderido. A partir daquele ano tiveram início as degustações às cegas para avaliação dos vinhos, elaborados com diferentes cultivares, com destaque para Tannat, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Pinot Noir e Cabernet Franc. Em cinco anos, nenhum vinho avaliado foi reprovado.
A entidade estuda quais as variedades que melhor representam a identidade da região para dar encaminhamento futuro para uma Denominação de Origem. A Cabernet Franc, segundo Tonet, deve ser a cultivar referência na IP por ter um histórico representativo na região. "Foram encontradas na antiga Granja União, em Flores da Cunha, garrafas com vinho Cabernet Franc com mais de 70 anos, da época da Cooperativa Riograndense, e ainda próprias para consumo", frisa.
Com a boa adesão de empresas nos últimos anos, a associação agregou alguns requisitos para novos ingressos. As interessadas devem trabalhar com turismo, com atendimento aos visitantes, e elaborar vinhos finos. Para ter direito ao selo, a vinícola deve usar uvas de vinhedos da área delimitada e elaborar os vinhos na região.
Atualmente, a maioria das uvas é de plantios próprios das vinícolas. Outra parte vem de viticultores que precisam cumprir alguns requisitos, como ter condução de espaldeira e garantir uva de qualidade. De acordo com Tonet, os viticultores que aderiram às exigências estão recebendo valores acima do mercado, mas dentro de uma faixa compatível com as condições das vinícolas.
De acordo com Tonet, independentemente da IP, a qualidade dos vinhos é algo que não se discute mais. Para ele, a empresa de vinhos finos que não agir desta forma ficará sem mercado. "A concorrência interna e de importados é muito forte", ressalta. Também destaca a importância da indicação para garantir a procedência do vinho diante do alto volume de produtos falsificados em circulação no mercado, especialmente importados.
Além dos vinhos da IP, as vinícolas também têm uma linha comercial. Tonet estima em 15% a 20% a participação dos vinhos com selo na produção total, mas projeta expansão com a busca de novas variedades. Em termos de valoração do vinho com selo, estima em 20% a 30% na comparação com as linhas tradicionais.
Supermercados, lojas especializadas, delicatessen e o atendimento direto do turista são os principais canais de venda. De acordo com o presidente, atualmente toda a produção com selo é absorvida pelo mercado e, em alguns momentos, há falta de oferta. Razão para Tonet definir como maior desafio da associação o aumento de produção de uvas finas.
Localizada nas altitudes mais elevadas da Serra Gaúcha, entre 550 e 885 metros, a região possui clima temperado quente, com índices noturnos de noites temperadas. É a única Indicação Geográfica na Serra Gaúcha a apresentar esse clima.
Campanha Gaúcha inicia estudos para avançar com uma DO

Uva processada na Campanha, em sua maioria, é de plantios próprios das vinícolas
Vinhos da Campanha Gaúcha/Acervo/JCRegião onde surgiu a primeira vinícola brasileira, chamada Marimon & Filhos, com início do plantio de vinhedos em 1882, a Campanha Gaúcha detém uma Indicação de Procedência desde 2020. A iniciativa é da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha, entidade criada em 2010, já com o objetivo de buscar uma IP. Atualmente, a entidade tem 19 sócios, praticamente o dobro de quando surgiu. Destes, de oito a 10 fazem uso regular da IP para elaboração de vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos e espumantes naturais.
De acordo com os dados da associação, mais de 11,2 milhões de garrafas já foram comercializadas com o selo da IP. A estimativa é que em torno de 80% da produção total da região é contemplada com o selo. "Nosso desafio é agregar mais empresas a este grupo", afirma a presidente da associação, Rosane Wagner, também proprietária da vinícola Cordilheira de Santana. De acordo com a executiva, a visibilidade e o reconhecimento do produto, assim como a maior comunicação do trabalho, são os principais resultados já obtidos com a IP.
Dentre as especificações técnicas, negociadas no início dos debates em torno da IP, está a exigência de que o plantio de uvas e a elaboração e o engarrafamento dos vinhos ocorram na região delimitada. Além disso, um vinho varietal precisa ter 85% da uva principal. Dentre outras, são permitidas as brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer, Pinot Grigio e Riesling e as tintas Tannat, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Tempranillo, Cabernet Franc e Petit Verdot.
A uva processada na Campanha, em sua maioria, é de plantios próprios das vinícolas. Outra parte é de viticultores, que podem vender para as empresas, desde que os vinhedos estejam na área delimitada. A Campanha Gaúcha conta 1.560 hectares de vinhedos, com 36 variedades de vitis viníferas cultivadas.
A avaliação dos vinhos para a concessão do selo inclui diversos controles e análises, realizados em laboratório terceirizado, e uma degustação às cegas, reunindo técnicos das vinícolas, estudantes em final do curso de enologia na Unipampa e professores. A atividade ocorre três vezes por ano.
Um dos projetos em estudo é avançar para uma Denominação de Origem. Reuniões de trabalho já ocorreram, mas ainda existem muitas dúvidas para dirimir antes do encaminhamento efetivo. Rosane Wagner destaca que a área da região é muito grande, mais de 44 mil km² distribuídos em 14 municípios, e responsável por 31% da produção de vinhos finos no Brasil.
Pessoalmente, acredita que a alternativa é a criação de denominações por comunidades, considerando que o vinho elaborado de cada uma tem características distintas. "É um trabalho complexo, que vai demandar muito estudo e apoio de entidades. Queremos avançar, mas ainda não sabemos como", registra. Outro desafio da região é o desenvolvimento do enoturismo, considerado importante nicho para o segmento. "Além do vinho, temos exuberantes paisagens para apreciar", registra.
Diferentemente do que ocorreu nas demais indicações de procedência de vinhos, na região da Campanha não houve a necessidade de grandes investimentos para atender aos requisitos. Rosane Wagner destaca que desde o início da atividade, há mais de 40 anos, os vinhedos foram plantados no sistema de espaldeira e as empresas investiram em equipamentos e tecnologias modernas.
Litoral Norte detém primeira Denominação de Origem nacional

Produto já é reconhecido pelo mercado e tem valorização de 5% a 10%
/Eduardo Rocha/Divulgação/JCA Denominação de Origem conhecida como Litoral Norte Gaúcho, criada em agosto de 2010, é a primeira no Brasil, tendo como detentora a Associação dos Produtores de Arroz do Litoral Norte Gaúcho (Aproarroz). O arroz é cultivado na região desde 1936 por iniciativa de agricultores alemães e italianos. A partir da década de 1970, com o uso de novas tecnologias, a lavoura obteve aumento da produtividade e o arroz começou a ser vendido para várias partes do país. Muito demandado, o arroz da região sempre teve preços superiores aos de outras áreas produtoras do grão.
A região é composta pelos municípios de Balneário Pinhal, Capivari do Sul, Cidreira, Palmares do Sul, Mostardas, São José do Norte, Tavares e Tramandaí e parte das cidades de Imbé, Osório, Santo Antônio da Patrulha e Viamão, com aproximadamente 300 quilômetros de extensão. É formada por uma península arenosa paralela a costa litorânea, entre duas grandes massas de água, a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico.
É este ambiente que diferencia o arroz do Litoral Norte Gaúcho pelo alto rendimento de grãos inteiros, translucidez e vitricidade. A região possui elevada estabilidade das temperaturas diárias, apresentando menor amplitude, que ocorre em função da alta umidade relativa do ar e das grandes massas de água que envolvem a região. O regime de ventos da região representa importante elemento que contribui para a dissipação do calor, sobretudo na época da formação do grão de arroz. "A associação de todos estes elementos resulta em condições geográficas ideais e únicas para a produção de qualidade, influenciando diretamente nas características do grão", afirma Virgilio Ruschel Braz, diretor executivo da Cooperativa Arrozeira Palmares, única a deter o selo da denominação de origem.
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De acordo com o executivo, o rendimento médio de grãos inteiros na região, após a retirada da casca e do farelo, que representam em torno de 30% do peso, é de aproximadamente 64%, acima da média de outras áreas produtoras, que é da ordem de 60%. "O que interessa para a indústria é a maior quantidade de grão inteiro no pacote", salienta.
Atualmente, a cooperativa comercializa uma média mensal de 300 toneladas de arroz com denominação de origem, cumprindo os requisitos estabelecidos pela Aproarroz. O produto já é reconhecido pelo mercado e tem preço de 5% a 10% acima de um tradicional. Mas este é um ponto de desafio para a cooperativa. "Temos muito espaço para crescer, razão para trabalharmos mais na divulgação do produto. O retorno que recebemos de clientes, principalmente de mercados e restaurantes, é positivo, mas o retorno ainda é lento. A maioria do setor ainda resiste em pagar mais pelo adicional de qualidade", afirma.
Além da marca própria com selo de denominação de origem, a cooperativa tem uma linha variada de arroz. Os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro respondem por cerca de 85% das compras. Braz destaca que o arroz com selo tem forte influência na abertura de mercados. "É um diferencial e abre negociações, beneficiando todo o portfólio", registra.
Uva moscatel transforma atividade em Farroupilha
Perto de completar sua primeira década, em julho próximo, a Indicação de Procedência Farroupilha, caracterizada pela uva moscatel, é responsável por profunda transformação, ainda em andamento, no setor vitivinícola da cidade. Desorganizado e desunido no passado, o que quase levou à extinção dos plantios da uva moscatel, o setor está introduzindo mudanças importantes na economia local.
O primeiro passo data de 2005 com o surgimento da Afavin (Associação Farroupilhense de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados), responsável por conduzir o processo de criação da IP. Entre 2009 e 2014 ocorreram os estudos de prospecção e mapeamento da área para definição dos regramentos da indicação, bem como seu registro junto aos órgãos públicos, com reconhecimento em 2015. Em paralelo, a entidade criou eventos, como o Festival do Moscatel e o concurso de vinhos, de forma a mobilizar o setor para investimentos na melhoria da qualidade dos produtos.
João Carlos Taffarel, diretor da entidade, recorda que muito se falava no grande volume de produção da variedade moscatel na cidade, mas sem uma informação concreta. Com a IP se deu a comprovação da importância da uva e, principalmente, a sua condição especial em Farroupilha. Destaca que a variedade branca, a principal, é única no Brasil e resultado de cruzamentos de uvas portuguesa e francesa.
Os resultados da IP já são visíveis na cidade. Os produtores de uva passaram a investir em novos plantios e na adoção de políticas mais sustentáveis, enquanto a indústria elevou sua capacidade de processamento e criou portfólio com diversidade de produtos à base de moscato.
Aprobelo eleva volumes vendidos e valor dos produtos
Com a maior produção de uvas per capita do Brasil, Monte Belo do Sul é detentora de uma Indicação de Procedência, registrada em nome da Aprobelo (Associação dos Vitivinicultores de Monte Belo do Sul). A indicação foi obtida em outubro de 2013 para uma área contínua localizada em Monte Belo e partes de Bento Gonçalves e Santa Tereza, totalizando 56,09km².
A associação tem 11 associadas, sendo nove vinícolas, uma fabricante de suco e uma tanoaria, todas com sede em Monte Belo.
Com a Indicação de Procedência, algumas vinícolas modernizaram as estruturas de produção, enquanto outras se instalaram no município.
Presidente da entidade, Antoninho Junior Calza destaca já perceber repercussão em volumes vendidos, com aumento de 30%, e no valor do produto em cerca de 20%. "O consumidor começa a entender e comprovar a qualidade e os atributos diferenciados que caracterizam a região", afirma. Para ele, a IP é muito mais do que simplesmente marketing e divulgação, mas a compreensão pelo público de que o produto tem características próprias. Além de incrementar as vendas internas, as vinícolas associadas à Aprobelo têm o mercado externo como alvo. Calza cita, em especial, países como Japão e Estados Unidos, que valorizam a rastreabilidade de todo o processo produtivo, do plantio ao engarrafamento.
Ele também destaca o desenvolvimento, em conjunto com a Embrapa, da primeira levedura na região, que vem sendo usada pelas vinícolas em espumantes, com diferenciais que têm agradado os clientes. "Eles querem produtos diferentes e autênticos. E o selo da IP, cuja obtenção é complexa, confirma estes diferenciais", reforça.
Uma das características da indicação é o uso de uvas mais clássicas, resultando em produtos no estilo Velho Mundo. Dentre as mais usadas estão Chardonnay, Riesling, Tannat e Merlot, além de dois cortes e um especial para espumantes com Pinot Noir, Chardonnay e Riesling. A entidade também trabalha, em conjunto com a Embrapa, no desenvolvimento de sete clones de Cabernet Franc para introduzir a variedade na região. "A ideia é buscar mais autenticidade e especificidade ainda maior", define.
Uma das demandas da associação é o incentivo ao enoturismo para aumentar o fluxo de turistas nacionais e do exterior. Nesta direção, Calza destaca como fundamental o fortalecimento da cadeia de serviços, como restaurantes e hotéis, e a criação de um ecossistema para promover o turismo de experiência, além de preservar o centro histórico da cidade.
"Esta ação coordenada fará com que haja um investimento maior do visitante", registra.
Os vinhos finos da Indicação de Procedência de Monte Belo são produzidos em pequenas vinícolas familiares, em volumes baixos. Na região há um total de 600 propriedades vitícolas, com 9,96 hectares de área média por unidade, cultivando, aproximadamente, 3,32 hectares de vinhedos.
* Roberto Hunoff é jornalista e correspondente do Jornal do Comércio em Caxias do Sul (RS)