Porto Alegre, qui, 01/05/25

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Publicada em 02 de Março de 2025 às 16:00

Empresários gaúchos aprendem a remar juntos

Monumento da Federasul em homenagem aos voluntários da enchente mostra a importância da união de todos pela retomada

Monumento da Federasul em homenagem aos voluntários da enchente mostra a importância da união de todos pela retomada

Alex Rocha/PMPA/JC
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Liège Alves
Especial para o JC*
Especial para o JC*
O varejo gaúcho, que já havia passado por grandes transformações durante a pandemia, precisou – rapidamente - se reinventar mais uma vez após a enchente. A principal lição foi a união: em vez de concorrentes, os empresários tornaram-se aliados na luta por melhorias na infraestrutura, na criação de ações conjuntas para dar visibilidade ao setor e no estímulo às vendas. Esse espírito de colaboração tem sido tão forte que impulsionou o surgimento de novas associações comerciais nos bairros da Capital, fortalecendo ainda mais o ecossistema local.
A pandemia já tinha trazido algumas lições, como a valorização do comércio de bairro, facilitando, assim, o acesso dos consumidores. Esta tendência, impulsionada por um forte sentimento de pertencimento e solidariedade, está redefinindo o comportamento do consumidor e foi um dos temas debatidos na NRF, considerada a maior feira mundial de varejo, ocorrida em janeiro em Nova Iorque.
Essa adaptação às novas realidades, aliada a um atendimento humanizado e à inovação no ponto de venda, pode garantir a sustentabilidade do setor que sofre com a concorrência do e-commerce. Na opinião de Fabiano Zortéa, especialista em Varejo do Sebrae, as lojas físicas ainda não atingiram seu melhor momento. E ele acredita que a chave dessa evolução está diretamente ligada à conexão com a comunidade local, ao criar uma proximidade com o público e construir uma identidade forte dentro da região onde a loja está inserida.

Parceria entre empresários revigora o comércio da Capital

Um dos símbolos do comércio da cidade, o Mercado Público foi um dos locais atingidos pelas águas que devastaram quase todo o Rio Grande do Sul

Um dos símbolos do comércio da cidade, o Mercado Público foi um dos locais atingidos pelas águas que devastaram quase todo o Rio Grande do Sul

Giulian Serafim/PMPA/JC
Uma certeza que boa parte dos empresários de Porto Alegre tem atualmente é que estar acompanhado é bem melhor do que remar sozinho seu barco. A catástrofe climática, ocorrida ano passado, possibilitou a união de diferentes setores que perceberam que unidos poderiam ser uma voz mais forte para dialogar com o poder público, instituições financeiras, fornecedores e autoridades da área de segurança. Essa foi a lição que permeou a caminhada dos empreendedores enquanto as águas tomaram as ruas de Porto Alegre e permaneceu quando foi possível reabrir as portas.
Desse aprendizado surgiram novas associações que buscam soluções para seus bairros. Juntos, eles tentam contornar questões que vão desde a infraestrutura, limpeza urbana e de bueiros, rede de elétrica e de telefonia desatualizadas, até calçadas irregulares, pavimentação das ruas, iluminação deficiente e ações de prevenção de segurança. E ainda precisam ser criativos para propor eventos que atraiam o público.
Na opinião de Vilson Noer, presidente da Federação das Associações Gaúchas do Varejo, o que mudou foi a importância do coletivo, atuar de forma harmônica em busca de objetivos maiores. Não é de hoje que o setor varejista do Rio Grande do Sul tem enfrentado desafios significativos, como os impactos da pandemia até as enchentes que atingiram o Estado.
Para ele, a união entre empresários e o fortalecimento do comércio local são fundamentais para a recuperação e crescimento do setor, pois o associativismo tem um impacto direto na melhoria do ambiente de negócios. "Quando pequenos grupos se unem a entidades maiores, eles ganham força e conseguem influenciar decisões importantes, como segurança, infraestrutura e tributações", afirma.
A enchente impactou severamente o varejo, deixando muitas empresas sem condições de operar. Pelos cálculos da Federação dos lojistas, entre 15% e 20% dos negócios atingidos ainda não retomaram suas atividades e alguns podem não reabrir. No entanto, a mobilização das comunidades e o apoio governamental têm ajudado na recuperação gradual do setor.
Noer explica que regiões como Navegantes, que possuem um perfil misto entre residências e empresas, sentiram os impactos de maneira diversa. "Muitas empresas não possuíam seguro, o que dificultou ainda mais a retomada. A presença de lideranças locais foi fundamental para buscar soluções e apoio junto ao poder público", afirma.
Noer destaca que o setor varejista desempenha um papel crucial na arrecadação de impostos, representando cerca de 35% do ICMS estadual. "Porto Alegre, por exemplo, representa 14% do PIB do Estado, o que mostra a relevância do nosso setor e a necessidade de um ambiente favorável ao crescimento", pontua Noer. E a grande maioria do varejo é composta por empresas de até 20 funcionários. Por isso, o que afeta o setor, afeta toda a Capital, garante. A paralisação do Trensurb, entre maio e dezembro, é um exemplo dado pelo dirigente de algo que impactou diretamente a circulação no Centro da cidade, prejudicando empresários, trabalhadores e consumidores das regiões periféricas.
Um ponto positivo é que, durante a pandemia, a valorização do comércio de bairro cresceu significativamente, com consumidores preferindo comprar perto de casa para evitar deslocamentos. Segundo Noer, esse movimento fortaleceu o senso de comunidade e ajudou a manter pequenos negócios em funcionamento. "As entidades surgem a partir de uma necessidade local. Diferentes bairros têm diferentes demandas, e isso ficou ainda mais evidente durante a pandemia e as enchentes recentes", destaca o presidente.
Se um dos impactos da pandemia foi o crescimento da compra em plataformas digitais, ao mesmo tempo existe uma tendência atualmente do varejo físico ser um ponto de encontro dos consumidores, até um refúgio para pessoas solitárias. Por conta disso, o comércio precisa atrair os consumidores com um bom atendimento e a experiência nas lojas pode ser o diferencial. Ter um local para crianças, um cantinho do café, tudo isso traz o que Noer classifica como a "chama humana". "As pessoas têm autoestima por seu bairro e elas preferem comprar nesses locais. Vai competir com plataformas digitais, sim, mas essas empresas também têm um grande problema, que é uma devolução de produtos muito grande".
As pessoas nunca tiveram um só canal de compras. Sempre existiam alternativas. Noer lembra que na sua infância eram os mascates que traziam os produtos até a porta da casa. Até hoje a compra direta com revendedores funciona bem. A internet é mais um canal de vendas; "Cada dia eu devo ser melhor na loja física. Atrair pelo calor humano", completa.
 

Crescimento das vendas apesar da enchente

Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o varejo gaúcho registrou crescimento significativo após as enchentes de abril de 2024:
 De novembro a abril de 2024, a receita nominal aumentou 8,7% e o volume de vendas cresceu 5,9%.
 Entre abril e novembro de 2024, comparado ao mesmo período de 2023, a receita nominal subiu 12%, e o faturamento real, 8,6%.
No comércio ampliado, que inclui materiais de construção e automóveis, os números foram ainda mais expressivos:
 De novembro a abril de 2024, a receita nominal cresceu 11,8% e o volume de vendas aumentou 9,5%.
 Comparando abril a novembro de 2024 com o mesmo período de 2023, a receita nominal subiu 13,6% e o faturamento real, 10,6%.
O destaque ficou por conta de atacarejos, hipermercados e farmácias, que lideraram o faturamento, impulsionados por compras feitas por consumidores que estocaram por medo da falta de produtos no mercado e outros que compraram a mais por solidariedade após a enchente.
 

Desafio é promover a melhor experiência dentro das lojas

Piva aposta em boas perspectivas para o comércio do País, em especial o gaúcho

Piva aposta em boas perspectivas para o comércio do País, em especial o gaúcho

Felipe Gaieski/Divulgação/JC
O desafio atual do varejo de rua é atrair os clientes para dentro das lojas. O consumidor deseja experiências rápidas, convenientes e personalizadas. Para isso, é essencial oferecer diferenciais, como bom atendimento, ambiente acolhedor e serviço eficiente. "O cliente quer levar a mercadoria na hora, sentir o olho no olho e ter um relacionamento com a equipe de vendas. Se antes ele se deslocava até a loja por necessidade, agora ele precisa querer fazer isso", destaca Arcione Piva, presidente do Sindilojas.
Apesar dos desafios, na opinião do dirigente, o setor varejista no Brasil, e especialmente no Rio Grande do Sul, possui boas perspectivas para o futuro. Entre os motivos citados pelo empresário estão o consumo local que vem crescendo globalmente, e a previsão de alta do PIB, somada aos investimentos em infraestrutura, que deve impulsionar ainda mais a economia gaúcha.
A qualidade do atendimento segue como um dos maiores desafios do varejo. Com a concorrência crescente das plataformas digitais, a exigência dos consumidores aumentou. As estratégias adotadas, vão desde treinamento de pessoal até o uso de caixa volante, onde o próprio vendedor realiza a cobrança, para tornar o processo de compra mais ágil e eficiente. Mas depois que o cliente entra na loja, não basta ter apenas boa iluminação, limpeza e produtos de qualidade. É essencial que o vendedor tenha conhecimento sobre o produto que está oferecendo. No entanto, há dificuldades na formação de profissionais capacitados, principalmente porque o setor do varejo costuma ser o primeiro emprego de muitos trabalhadores. "Atualmente, o consumidor exige mais do que podemos entregar", lamenta Piva.
Para fornecer esse suporte ao setor, o presidente explica que o Sindilojas segue promovendo qualificação e disseminando estratégias para desenvolver um varejo mais competitivo e adaptado às novas demandas do consumidor. Para ele, a sinergia entre comerciantes, entidades e sociedade pode ser um dos maiores legados da crise recente com a enchente, que fortaleceu a economia local e incentivou um consumo mais consciente e colaborativo.
O setor, que é composto majoritariamente por micro e pequenos empreendedores, enfrenta dificuldades para se reerguer, especialmente aqueles que perderam tanto seus comércios quanto suas residências. "Muitos comerciantes não conseguiram reabrir, e cerca de 10% dos afetados ainda avaliam a possibilidade de retorno", avalia Piva.
Por outro lado, ele acredita que fatores como a safra agrícola, se estiagem não prejudicar, e os investimentos em infraestrutura vão impulsionar a economia local. O apoio governamental e campanhas de incentivo ao consumo de produtos gaúchos também entram dado positivo que ajuda na retomada do varejo.
 

Estiagem traz incerteza para crescimento da economia no primeiro semestre

Fim das carências concedidas para pagamentos terá reflexos, alerta Frank

Fim das carências concedidas para pagamentos terá reflexos, alerta Frank

THAYNÁ WEISSBACH/JC
O Estado entra neste ano com um cenário desafiador, mas com oportunidades. Os segmentos do comércio de bens essenciais e os serviços dependentes de mobilidade da população devem contribuir positivamente. Aspectos como a maior previsibilidade tributária - diferentemente de 2024, não há discussões envolvendo aumento do ICMS ou retirada de benefícios fiscais - e os impactos da reconstrução da infraestrutura e das obras de prevenção às enchentes também são igualmente importantes, pois o governo estadual contará com recursos por três anos em função da suspensão do pagamento da dívida com a União.
O Rio Grande do Sul deve fechar 2024 com crescimento do PIB de cerca de 4,0%, superando, portanto, a média nacional (aproximadamente 3,5%). Contudo, fatores como a elevação do número de municípios que entraram situação de emergência por conta da estiagem, as sequelas provocadas pela enchente, especialmente sobre os pequenos negócios, a aceleração da inflação e dos juros prejudicam o desempenho da economia gaúcha.
Até o início de fevereiro, havia uma previsão de crescimento do PIB estadual da ordem de 2,5% a 3% em 2025, superando a média nacional estimada em 2%. Atualmente, o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, explica que reduziu suas expectativas por causa da dificuldade de quantificar o tamanho dos prejuízos envolvendo a falta de chuvas adequadas para a safra de grãos. Por outro lado, a comercialização da produção deve se beneficiar da valorização do dólar em relação ao real, garantindo maior rentabilidade. "Todavia, a perspectiva de uma inflação mais alta em 2025 e o aumento das taxas de juros reduzirão o poder de compra dos trabalhadores e tornarão o crédito ainda mais caro", pondera o economista.
Outro aspecto importante envolve a diminuição do dinheiro em circulação. Após os momentos mais críticos da enchente de maio de 2024, auxílios emergenciais e a antecipação de pagamentos impulsionaram a retomada econômica. Além disso, o fim gradual das carências concedidas para pagamentos de contas, impostos e financiamentos pode agravar ainda mais a situação financeira de famílias e empresas.
O economista lembra que o varejo apresenta um comportamento desigual entre seus segmentos. Setores dependentes da renda, como hipermercados, atacarejos e farmácias, tendem a continuar mostrando resiliência, impulsionados pelo mercado de trabalho aquecido e por estímulos oriundos da valorização real do salário-mínimo. Em contrapartida, categorias que dependem do crédito, como informática, veículos, móveis, eletrodomésticos e materiais de construção devem sofrer com o aumento dos juros.
Dados de Notas Fiscais emitidas pela Receita Estadual entre 27 de novembro e 3 de dezembro de 2024 mostram que 91% das empresas do Regime Geral já operam dentro de um padrão de normalidade. Já entre as empresas do Simples Nacional, o percentual é de 89%, o que é indício de que os pequenos negócios enfrentam maiores dificuldades.
Por conta desse cenário, o economista prevê que a magnitude da expansão do comércio gaúcho em 2024 (ver box com os dados) não será repetida em 2025. "As altas foram muito expressivas e, em alguns casos, alcançaram dois dígitos, como em hiper e supermercados, cujo peso para o comércio é muito expressivo. Outros segmentos, como material de construção, de móveis e eletrodomésticos e farmacêuticos, também foram bem ativados com os alagamentos 
 

Clube do Bonfa aposta no apoio mútuo para alavancar vendas

Grupo de empreendedores do tradicional bairro se uniu no pós-enchente para revitalizar a economia local

Grupo de empreendedores do tradicional bairro se uniu no pós-enchente para revitalizar a economia local

EVANDRO OLIVEIRA/JC
O Bom Fim não foi afetado diretamente pela inundação que tomou conta de vários bairros de Porto Alegre, mas foi impactado pelas consequências da enchente. O fechamento da Avenida Osvaldo Aranha, já que o túnel ficou interditado, resultou em uma drástica redução do movimento, afetando o comércio local. Em resposta a essa situação, comerciantes da região uniram forças para criar o "Clube do Bonfa", uma iniciativa comunitária destinada a revitalizar a economia do bairro e fortalecer os laços entre os estabelecimentos.
Após algumas tentativas, a ideia se materializou em junho de 2024, liderada pela empresária Jane Pilar, proprietária do Café Cantante. Inicialmente, seis empresas participaram das reuniões, discutindo estratégias para enfrentar a queda nas vendas e a perda de clientes. "Já havíamos sofrido com a pandemia, e a enchente foi um golpe ainda mais duro. O dinheiro sumiu; as pessoas estavam focadas em reconstruir suas casas e suprir necessidades básicas", relata Luciana Hoppe, uma das sócias da livraria Cirkula.
Um dos primeiros frutos concretos dessa parceria foi a primeira feira que aconteceu em novembro, que contou com bancas e apresentações musicais, atraindo a comunidade e aumentando a visibilidade dos estabelecimentos participantes. Além disso, uma campanha de Natal ofereceu vouchers de cashback para clientes que compravam em lojas associadas, incentivando o consumo dentro do próprio bairro. "Queremos que o dinheiro circule aqui dentro, criando uma rede de apoio entre os comerciantes", enfatiza Luciana.
A colaboração entre os membros do clube também tem sido fundamental para enfrentar desafios de segurança que surgiram após a enchente, como uma série de roubos no bairro. O grupo mantém comunicação constante, compartilhando informações e imagens, e busca soluções junto às autoridades competentes. Mas as trocas não são apenas de problemas, há também indicações de fornecedores e a preferência por sempre contratar serviços e produtos de comerciantes do bairro. " Mudou a mentalidade. Não estamos nos vendo como concorrentes, mas, sim, como parceiros", comemora Luciana.
Aos poucos, novos parceiros foram chegando e, atualmente, já são mais de 30 CNPJs associados. Para aumentar a visibilidade dos negócios nas redes sociais, o grupo criou um Instagram do Clube, onde vídeos e posts divulgam os negócios locais e seus empresários. Um podcast passou a ser produzido também. Embora ainda não possuam uma organização formal, apenas uma comissão administrativa composta por Luciana Hoppe, Jane Pilar e Francisco Amaral, está no radar a criação de um estatuto para oficializar a participação dos membros. A comissão administrativa atual é composta por.
O trabalho do Clube é também educativo, conforme Luciana, pois é necessário que os moradores da região entendam sua participação ativa para que seja mantida a sua comodidade de fazer compras no próprio bairro, sem a necessidade de deslocamento de carro. "Trabalhamos com o consumidor explicando que é papel dele também manter os negócios vivos. Esses comerciantes vão gerar emprego. Vão manter as lojas abertas, fazendo com que pessoas circulem no bairro, trazendo mais segurança nas ruas", argumenta a empresária que lamenta o momento que o bairro vive. "Só na Osvaldo Aranha, na última vez que contei, eram 24 lojas para alugar".
A concorrência das plataformas digitais preocupa os integrantes do Clube. Na opinião de Luciana, esse é o maior desafio atualmente, além de estimular o consumo consciente "Valor não é só preço. Ter um mercado na porta tem valor, resolver toda a tua vida no bairro a pé tem valor. É uma via de mão dupla. É bom para todos!", frisa, lembrando que nas grandes plataformas não há uma experiência de consumo como a que ocorre pessoalmente.
Para fortalecer ainda mais a comunidade, o Clube do Bonfa planeja realizar feiras mensais, criar um mapa destacando os pontos comerciais do Bom Fim e desenvolver uma moeda própria para ser utilizada entre os parceiros, fortalecendo a economia local.

Quarto Distrito se mobiliza para reforçar identidade do bairro

Empresários se reuniram para lançar a  fragrância

Empresários se reuniram para lançar a fragrância "cheiro das lojas do bairro"

EVANDRO OLIVEIRA/JC
Em resposta à devastação causada pela enchente, uma nova associação foi formada no dia 13 de maio, reunindo representantes de cinco bairros: São Geraldo, Humaitá, Navegantes, Vila Farrapos e Floresta. Desde o início da crise, um grupo de WhatsApp foi criado para facilitar a comunicação entre empresários locais, que rapidamente se uniram em ações de resgate. Foi pilotando barcos que voluntários resgataram 300 pessoas e diversos animais das águas. A bordo até uma calopsita que cantava o hino do Grêmio.
Na primeira assembleia, entre 60 e 70 empresários se reuniram para definir ações concretas, como resgatar pessoas e recuperar produtos de empresas afetadas. Através de aclamação, foi criada uma comissão extraordinária para lidar com as urgências decorrentes das enchentes, incluindo o receio de saques nas empresas e a busca por auxílio do poder público para retirar os flagelados de suas casas, além da solicitação de crédito do governo federal.
A associação adotou uma abordagem inclusiva, não fazendo distinção entre os portes das empresas, uma vez que todos enfrentavam os mesmos desafios. Essa união foi vista como uma oportunidade para estreitar laços com as autoridades locais em busca de soluções para problemas novos e antigos da região.
Após a formação da associação, os membros perceberam que, embora a crise trouxesse traumas e prejuízos, também poderia abrir portas para novas oportunidades. As atuais pautas da associação incluem a implementação de um sistema de proteção contra inundações, essencial para a segurança no Quarto Distrito. "Estamos em uma região única da cidade, que tem uma rica gastronomia, é polo cervejeiro e de concentração de indústrias e comércio", explica o presidente da ...Arlei Romeiro.
Recentemente, foi realizada uma audiência pública com a presença do prefeito e secretários, onde 200 pessoas, entre empresários e moradores, discutiram as demandas já encaminhadas e as obras estruturantes em andamento, como a elevação dos diques e a instalação de geradores nas casas de bombas.
Na opinião de Romeiro, a associação tem sido um suporte para os empresários, facilitando o acesso a linhas de crédito e promovendo a desburocratização no processo de recuperação. A parceria com o Sebrae tem auxiliado a encontrar soluções que ajudem a revitalizar o comércio local. "Apesar das dificuldades, acredito que a união traz mais benefícios do que prejuízos. A melhor forma de resolver problemas coletivos é através da organização e da ação conjunta. Esse pensar coletivo ajuda a alcançar soluções duradouras", garante Romeiro.
Além disso, a associação está planejando um calendário de eventos culturais para atrair visitantes ao bairro e relembrar a enchente de maio, incluindo a introdução de uma identidade olfativa única na região, que será comercializada em parceria com uma empresa local. Com esse perfume característico nas lojas locais, a meta é fortalecer ainda mais a identidade do bairro.
 

Movimento Viva CB luta pela revitalização do bairro

Diretoria do Movimento Viva Cidade Baixa quer trazer de volta aos estabelecimentos a movimentação de público

Diretoria do Movimento Viva Cidade Baixa quer trazer de volta aos estabelecimentos a movimentação de público

EVANDRO OLIVEIRA/JC
As águas já baixaram há 10 meses, mas os efeitos dessa catástrofe climática ainda são sentidos pelas ruas da Cidade Baixa. Muitos comerciantes lutam reabrir as portas, outros seguem envolvidos em reformas. Isso sem contar nos profissionais liberais e prestadores de serviços que, muitas vezes, estão localizados em espaços fora das calçadas.
Na opinião de Diego Dresch, presidente do Movimento Viva CB, apesar dos avanços, a movimentação no bairro ainda não retornou ao normal após a enchente, e muitos empresários enfrentam dificuldades financeiras. Ele atribui isso a combinação dos efeitos da enchente no poder aquisitivo da população e a percepção negativa que existe sobre a insegurança da área afasta os clientes.
Enquanto isso, o grupo de empresários que fazem parte da associação se mobiliza para promover eventos e alavancar os negócios. Em fevereiro, houve a segunda edição da Feira Viva CB que ocupou três quarteirões do bairro. Gastronomia, artesanato e shows para movimentar o Verão e chamar de volta os consumidores.
A primeira edição da feira aconteceu em outubro, fechou várias ruas e contou com a participação de artesãos e produtores locais. O evento foi sucesso, com os expositores reportando boas vendas e uma organização exemplar.
Segundo Dresch, os eventos são realizados em parceria com Ministério Público, Prefeitura Municipal e Brigada Militar. Tanto a limpeza como a organização, ficam a cargo dos organizadores. "Neste primeiro, 20h terminou a música, limpamos todas as ruas. Não houve nenhuma chamada para a Brigada e nem ocorrências policiais. Isso é bom para desmistificar de que evento é sempre bagunça", frisa o empresário.
O grupo também pretende aproveitar a data que marcará um ano da enchente para marcar uma audiência pública com objetivo de discutir o que avançou e as melhorias que o bairro necessita. Antes ainda das eleições municipais, um manifesto foi elaborado para apresentar propostas a vereadores e candidatos a prefeito, incluindo a reivindicação de incentivos fiscais e melhorias na legislação sobre eventos.
Uma audiência pública foi planejada para levantar questões sobre o que foi feito após a enchente e quais investimentos foram realizados no bairro. Além disso, uma assembleia aberta para os moradores está agendada e a proposta do grupo é equilibrar as demandas de residentes e empresários. Atualmente, o Viva CB se transformou em uma associação com 128 membros, entre autônomos, empresários e profissionais liberais do bairro. "Isso torna mais interessante e, ao mesmo tempo, mais difícil de conciliar os interesses de todos", explica o presidente da entidade Diego Dresch.
Entre as metas de 2025 do movimento Viva CB está aprofundar o diálogo com as autoridades sobre a realização de eventos. Além disso, há um forte desejo de profissionalizar a comunicação da entidade e incentivar a participação da comunidade nas atividades. Outro foco de interesse do grupo é a busca por parcerias para promover energia sustentável e revitalizar o patrimônio histórico do bairro.
Está no radar da associação também o desenvolvimento de um portal que reúna os serviços, produtos, comércios e programações do bairro. A ideia é que os consumidores possam navegar e acessar facilmente o que procuram. Seria um mapa virtual de tudo que a Cidade Baixa tem para oferecer.

Enchente provocou a união dos empresários

O movimento Viva CB surgiu em meio a enchente do ano passado que devastou a Cidade Baixa. Moradores e empresários se uniram para discutir as consequências e buscar soluções. A máxima de que na crise se encontra oportunidades aconteceu. No dia 15 de maio, ocorreu a primeira reunião do grupo ainda no meio do caos, 14 empresários, boa parte também moradores do bairro e também afetados pelas águas, se reuniram e formaram grupos de trabalho. Desde o início, surgiu a ideia de criar uma organização formal, reconhecendo a necessidade de melhorar a comunicação e a imagem do bairro, que até então era alvo de notícias negativas na imprensa. E também ser um ponto de união para dialogar com o poder público.
Os principais pontos de preocupação identificados coletivamente foram a insegurança no pós-enchente, a situação precária do bairro, a necessidade de limpeza e a iluminação deficiente. A comunidade concordou que era essencial promover uma imagem positiva, destacando iniciativas como moda sustentável, gastronomia e cultura local.
 

Pontos de venda são desafiados a inovar e engajar pela experiência

Para Zortéa, vendas pelo e-commerce também precisam apresentar uma experiência diferenciada ao consumidor

Para Zortéa, vendas pelo e-commerce também precisam apresentar uma experiência diferenciada ao consumidor

EVANDRO OLIVEIRA/JC
O varejo está passando por grandes transformações à medida que a digitalização avança e o comportamento do consumidor muda. Apesar do crescimento das vendas online, as lojas físicas ainda representam cerca de 85% das transações comerciais. O comércio eletrônico, que hoje responde por 15% das vendas, vem crescendo nos últimos anos, mas enfrenta desafios como a complexidade nas trocas e devoluções. "O consumidor prefere comprar online quando não tem tempo ou deseja uma compra objetiva, sem interação. No entanto, o digital não pode ser apenas um catálogo de produtos, precisa oferecer uma experiência diferenciada", explica Fabiano Zortéa, especialista em Varejo do Sebrae.
A experiência do cliente no ponto de venda tem se mostrado um fator essencial para a sustentabilidade do varejo físico. Lojas que investem em um bom atendimento, ambientes acolhedores e personalização têm mais chances de fidelizar clientes. Além disso, a integração entre canais físicos e digitais é fundamental, segundo o consultor. Um estudo da Opinion Box de 2024 revelou que 75% dos brasileiros usam redes sociais para descobrir novos produtos, mas apenas 4% das compras online acontecem diretamente nessas plataformas. "Isso reforça a importância do digital como ferramenta de engajamento e não apenas de vendas diretas, indica.
Outro ponto relevante que ganhou força após a pandemia é a valorização do comércio local. Dados mostram que 88% dos consumidores estão comprando mais em lojas próximas, demonstrando uma predisposição ao consumo regional.
"O varejo físico ainda pode atingir seu melhor momento se souber trabalhar a presença digital e oferecer experiências únicas aos consumidores", ressalta Zortéa. A interseção entre diferentes gerações no consumo também deve ser considerada. Hoje, convivem seis gerações, desde os Baby Boomers até a Geração Beta, que nascerá a partir de 2025. Para as empresas, compreender essas diferenças e criar experiências interativas pode ser um grande diferencial competitivo.
Além disso, estudos da Euromonitor apontam que, até 2027, 50% do potencial de consumo global virá da Geração Z, que também representará 30% da força de trabalho. Essa geração valoriza autenticidade, transparência, equidade e sustentabilidade, o que significa que as marcas precisarão se adaptar para conquistar e manter esse público.
Diante desse cenário, o consultor alerta que o varejo precisa inovar constantemente, seja no atendimento, na infraestrutura das lojas ou na integração com o digital. Estratégias que promovam a experiência, o senso de comunidade e a conveniência podem ser decisivas para o sucesso no setor.
 

Comerciantes da Azenha querem modernizar infraestrutura

Moers e a diretoria apostam em parceria para trazer novas ideias para o bairro; a energia renovável, no espaço e nas lojas, é uma dessas inovações

Moers e a diretoria apostam em parceria para trazer novas ideias para o bairro; a energia renovável, no espaço e nas lojas, é uma dessas inovações

THAYNÁ WEISSBACH/JC
Cenário da história de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, a Azenha foi palco da primeira batalha da Revolução Farroupilha e abriga construções e monumentos emblemáticos da memória gaúcha. Mas as lutas do bairro, que é tradicional no varejo de rua, estão mais voltadas atualmente para soluções de problemas de infraestrutura que possam promover uma boa experiência para consumidores e dar suporte para os comerciantes locais. Entre os principais problemas enfrentados para dar um "up" no bairro está a modernização da rede elétrica, do sistema de drenagem e a melhoria das calçadas.
Na opinião do presidente da Associação de Moradores e Comerciantes do bairro Azenha, Delmar Moers, a cidade carece de ideias e de como viabilizar essas mudanças. Com base nessa premissa, a associação foi buscar uma parceria com uma empresa de regeneração urbana para trazer novas ideias para o bairro, a energia renovável, no espaço e nas lojas, é uma dessas inovações. "Não podemos colocar tudo abaixo para fazer de novo. E também é importante valorizar essa memória. Podemos fazer uma releitura disso. O encantamento dos lugares surge dessa mescla", defende o presidente.
A participação da Associação no Plano Diretor de Porto Alegre tem sido estratégica para garantir que a região seja contemplada com estudos específicos para seu desenvolvimento. "A Azenha é um bairro completo, que precisa ser pensado com um olhar especial. Por muito tempo, ficou esquecido, mas estamos resgatando sua história e promovendo um futuro mais estruturado", salienta Moers.
Desde maio de 2023, a entidade tem desempenhado um papel fundamental na busca dessas e outras melhorias para a região. Fundada em 2022, o grupo pretende integrar os interesses de moradores e lojistas para solucionar demandas estruturais e de segurança. Moers, que também é comerciante na Azenha há 18 anos, explica que a iniciativa surgiu da necessidade de criar um canal de diálogo eficiente com as secretarias municipais e outros órgãos públicos.
Conforme ele, a Associação tem atuado junto à CEEE Equatorial para garantir a modernização da rede elétrica, que já apresenta sinais de envelhecimento. Também está em tratativas com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) para resolver problemas na estrutura pluvial, que afetam diversas áreas do bairro. Na área da segurança, há um trabalho constante junto ao 9º Batalhão da Brigada Militar, que resultou na redução de casos de arrombamentos e furtos de fios. A aproximação com as forças de segurança tem permitido respostas mais ágeis diante das ocorrências.
Outro ponto de preocupação é a Cozinha Solidária instalada no bairro, que, segundo o presidente, tem atraído pessoas em situação de rua que não são da região. A falta de um acompanhamento adequado para esses indivíduos tem gerado insegurança e impactos negativos no comércio e no mercado imobiliário local.
Para fortalecer a identidade do bairro e incentivar a participação dos moradores, a associação planeja fazer três grandes eventos neste ano: uma festa junina, uma feira literária voltada para os estudantes da região e a Aldeia do Papai Noel. "Nosso objetivo é que os jovens consumidores olhem para o bairro como um espaço de cultura e consumo local", afirma Moers. A iniciativa conta com apoio da  Outro projeto que está no radar do grupo é a revitalização da Rótula do Papa, um dos pontos icônicos do bairro, com eventos comemorativos e melhorias estruturais.
 

*Liège Alves é jornalista e publicitária graduada pela Pucrs ,com especialização em Jornalismo Aplicado. Foi repórter do jornal Zero Hora e do Grupo Sinos e editora no Jornal do Comércio. Atuou na área de Comunicação Corporativa e atualmente é diretora da Editora Essência.

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