Uma cena muito comum neste início de ano são as faixas que estampam o nome de vestibulandos recém-aprovados para o ingresso no Ensino Superior. As tradicionais "faixas de bixo" são hasteadas como bandeiras,em frente às casas dos novos calouros, por suas famílias, numa forma de expressar o orgulho e reconhecer a conquista dos novos universitários.
Para garantir a tão aguardada vaga no Ensino Superior, uma parcela dos vestibulandos aposta em cursos pré-vestibular, normalmente feitos após a saída do Ensino Médio. Muitos desses cursos têm o custo da mensalidade na rede particular, inacessível para a maioria da população de classe baixa que não for contemplada com algum tipo de bolsa.
Foi observando essa realidade que o Centro de Estudantes Universitários de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ceue-Ufrgs) criou o Ceue Pré-Vestibular, um cursinho social destinado ao público de baixa renda que quer ingressar em uma universidade.
Fundado em 1955, o Ceue-PV nasceu como um reforço escolar para estudantes das engenharias que estavam com dificuldades em cálculo e similares. Com o passar do tempo, o projeto cresceu e se transformou em um cursinho completo, organizado pelos próprios alunos integrantes do centro acadêmico.
A estudante de Engenharia Ana Júlia Mesquita é coordenadora do Ceue-PV e ex-aluna do cursinho. Ela conta que o ensino oferecido pelo PV — como é carinhosamente chamado — foi importante para seu ingresso na Ufrgs. "O PV foi uma oportunidade muito boa, justamente porque era o que eu tinha condições na época de vestibulanda. Quanto mais cursinhos populares e sociais existirem, melhor. Isso é oportunidade para as pessoas acessarem a universidade", destaca.
Professora no Ceue-PV, a estudante de história Amanda Bacchieri acredita que a iniciativa é mais uma ferramenta de democratização do acesso ao ensino superior. "Cursinhos como este contribuem para a redução da desigualdade no ensino e proporcionam chances para estudantes das classes populares, muitas vezes vindos do ensino público, de se prepararem", afirma.
O Ceue-PV é um cursinho pré-vestibular de caráter social, voltado para estudantes de baixa renda e com o ensino focado nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e do vestibular da Ufrgs. "Somos considerados um curso social e não popular. Isso significa que cobramos uma taxa para manter o funcionamento do cursinho, mas o valor é extremamente acessível: atualmente, são R$ 70 por mês. Esse valor cobre desde o pagamento dos professores até materiais didáticos", explica a diretora.
O público-alvo são jovens e adultos que possuem dificuldades socioeconômicas e buscam uma oportunidade de se preparar para as provas. O curso extensivo ocorre de março a novembro, com aulas focadas em todas as matérias cobradas nos exames.
A manutenção do Ceue-PV é viabilizada por eventos organizados pelo Centro Acadêmico de Engenharia e pelas mensalidades dos alunos. No entanto, Ana Júlia menciona que o projeto sempre busca parcerias para reduzir custos com materiais. "Estamos tentando fechar uma parceria para baratear as apostilas este ano. Assim, conseguiremos investir o caixa em melhorias para o cursinho," comenta.
Para quem deseja apoiar o Ceue-PV, seja como professor voluntário, com materiais ou financeiramente, é possível entrar em contato pelo Instagram oficial (@ceuepv) ou pelo e-mail ceuepv@gmail.com.
Processo seletivo para ingresso no Ceue-PV inicia nesta semana
O ingresso no cursinho se dá por processo seletivo, pois as vagas são limitadas. Para se inscrever, os interessados devem acompanhar as redes sociais da instituição, onde são divulgados os períodos de matrícula e processos seletivos. As inscrições para o curso extensivo de 2025 começam nesta segunda e se estendem até o dia 6 de março. Bolsas integrais também são oferecidas a estudantes que comprovem baixa renda.
Atualmente, as aulas são ministradas no auditório 200 da Escola de Engenharia da Ufrgs, que passou por reformas para oferecer melhores condições tanto para os alunos quanto para os professores. O Ceue-PV também conta com uma sede administrativa no prédio Centenário, conhecido como o "prédio salmão", no qual estudantes e interessados podem realizar matrículas, retirar materiais e esclarecer dúvidas.
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O corpo docente é um diferencial, formado por graduandos, pós-graduandos e ex-alunos do próprio cursinho. "Essa é uma oportunidade tanto para os professores, que também são alunos, ganharem experiência quanto para os alunos terem acesso a um ensino de qualidade a um custo acessível," destaca a coordenadora geral do Ceue-PV, Ana Júlia Mesquita.
O que motivou a professora de história Amanda Bacchieri a dar aula no cursinho foi o seu período como aluna. Em 2016, a historiadora estudou na instituição. "Em 2017, eu consegui uma bolsa integral do Prouni (Programa Universidade Para Todos) na Pucrs para o curso de história, através da minha nota do Enem, durante o tempo que estudei no cursinho. Poder retornar a este espaço e exercer a função de professora, ressignificou a minha passagem pela instituição", explica.
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Como as aulas são ministradas em salas de aula da própria Ufrgs, o contato direto com o ambiente universitário já inspira os alunos a se sentirem pertencentes ao espaço. "É uma porta de entrada para a universidade. Muitos alunos, ao estudarem no PV, começam a se enxergar como futuros universitários, o que é essencial para quem enfrenta dificuldades econômicas e sociais", afirma Mesquita.
Ela ainda ressalta que a educação de qualidade e acessível é uma porta de entrada para a transformação social. "Quanto mais cursinhos populares e sociais existirem, melhor será para a sociedade. Nosso objetivo é mostrar que, independentemente da realidade de onde a pessoa vem, ela pode realizar seus sonhos por meio da educação", pontua a diretora geral do Ceue-PV.