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Publicada em 12 de Janeiro de 2025 às 16:00

Vila Flores é referência da economia criativa do Quarto Distrito de Porto Alegre

Vila Flores revitaliza cultura e economia do Quarto Distrito

Vila Flores revitaliza cultura e economia do Quarto Distrito

RICARDO ARA/DIVULGAÇÃO/JC
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Carmen Carlet, especial para o JC*
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Localizado em uma das regiões mais impactadas pela enchente de maio de 2024 - o bairro Floresta, no coração do Quarto Distrito -, o Centro Cultural Vila Flores pulsa como um espaço de cultura, arte, inovação e sustentabilidade. Listado no Inventário do Patrimônio Cultural de Bens Imóveis do Bairro Floresta, o Vila Flores, após a revitalização iniciada em 2011 e inauguração três anos depois, transformou os antigos "predinhos do Lutzenberger" - projetados na década de 1920 para serem "casas de aluguel" para trabalhadores - em um ambiente colaborativo, representativo da economia criativa e aberto às mais diversas atividades culturais e sociais que abraçam a comunidade. Cada vez mais, o Vila Flores vem se transformando em um ponto de respiro na região mais inovadora de Porto Alegre.

Para revitalização do espaço, Wallig primou por manter o patrimônio histórico

Para revitalização do espaço, Wallig primou por manter o patrimônio histórico

Maiara Dallagnol/Divulgação/JC
O Centro Cultural Vila Flores - localizado no bairro Floresta, coração da região mais inovadora da Capital, o Quarto Distrito - surgiu a partir da revitalização de um antigo complexo de moradias construído pela multinacional Dyckerhoff & Widmann no final da década de 1920. Referência da economia criativa, o atual cenário do Vila começou a ganhar forma em 2011, com o início da recuperação física dos prédios, obras emergenciais provisórias, pesquisas históricas e contato com os moradores.
Sem verba para a recuperação total dos prédios, os irmãos João e Antônia Wallig, atuais proprietários que herdaram o empreendimento por espólio em 2009, sentiram a necessidade de presentear a Capital com um projeto voltado para arte e cultura. De posse dessa certeza, buscaram, então, parceiros interessados em apostar na iniciativa e concluir as obras.
O intuito do grupo de empreendedores e artistas que lideraram o projeto era instalar naquela região um espaço de cultura, arte, inovação e sustentabilidade. Era o início de um sonho que visava criar um ambiente colaborativo, aberto às mais variadas atividades culturais e sociais, e que pudesse abraçar a comunidade.
Assim, após as obras iniciais e a promoção de algumas atividades voltadas para o ecossistema criativo, o local foi batizado com o nome Vila Flores, em 2013, e inaugurado oficialmente em maio de 2014, quando a Associação Cultural Vila Flores (ACVF) começou a organizar programações culturais com feiras, eventos e apresentações, além de se tornar responsável pelas articulações junto ao poder público. A construção da nova dinâmica urbana respeitou a história, preservando a arquitetura original dos prédios, em estilo industrial.
Listado no Inventário do Patrimônio Cultural de Bens Imóveis do Bairro Floresta, o Vila Flores é formado por um conjunto composto por dois prédios de três pavimentos, um galpão e um pátio interno, contando com 2.400 m² construídos entre os anos 1925 e 1928, em um terreno de 1.415 m² localizado na esquina das ruas Hoffmann e São Carlos.
Originalmente projetado pelo engenheiro e arquiteto alemão Joseph Franz Seraph Lutzenberger - pai do ambientalista gaúcho José Lutzenberger -, o complexo está passando por uma nova revitalização, e descobertas sempre surgem atrás dos tapumes brancos que cobrem parte das edificações. Situados na antiga região industrial da várzea do Guaíba, os prédios apresentam unidades de tamanhos variados, construídas para funcionarem como "casas de aluguel" para famílias que vinham morar no bairro Floresta, em franca expansão industrial no início do século XX.
João Felipe Wallig, arquiteto e gestor do Vila Flores, explica que os prédios têm um histórico um pouco complexo e apresentam inovações tecnológicas para a época, como verticalização e tipologias diferentes nas unidades com um, dois e três dormitórios, além de sótãos com elementos arquitetônicos trazidos da Europa.
Mais recentemente, para a revitalização do espaço atual, Wallig primou pela preservação do patrimônio histórico, buscando manter a identidade arquitetônica, porém adaptando as estruturas para as novas funções. O foco na sustentabilidade e na criação de ambientes colaborativos foi essencial para transformar o antigo e degradado espaço em um centro multifuncional vibrante, graças às atividades culturais.
 

O florescer dos 'prediozinhos de Lutzenberger'

Nas quartas-feiras pela manhã, o bairro Floresta recebe no Vila Flores a tradicional Feira Orgânica do Lutz

Nas quartas-feiras pela manhã, o bairro Floresta recebe no Vila Flores a tradicional Feira Orgânica do Lutz

Maiara Dallagnol/Divulgação/JC
Quem diria que "os prediozinhos do Lutzenberger" - como eram chamados popularmente - se tornariam um expressivo centro que abriga projetos voltados à economia criativa e se transformariam em um ponto de atração turística para a capital do Rio Grande do Sul?
A história do Vila Flores é um exemplo de como o legado industrial pode ser ressignificado e integrado à vida cultural contemporânea de Porto Alegre. Para a ex-secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Júlia Evangelista Tavares, o Centro Cultural Vila Flores é um espaço histórico e cheio de significados para a capital.
"Cultura e arte se unem num espaço criativo e com muito potencial para a atração de visitantes, dos próprios porto-alegrenses e de turistas", avalia Júlia, ao lembrar que depois de ter sofrido com a enchente, o Vila voltou com mais fôlego e novidades. "É um espaço que promove a economia dos bairros e dos empreendedores da cidade", destaca. Aliás, o Vila Flores está localizado em uma das regiões que mais sofreu com as enchentes de maio de 2024. Atingido também pela de 1941, o local marcou em seu galpão o nível da água para ter a referência histórica das duas catástrofes ambientais.
O Centro Cultural Vila Flores abriga uma variedade de empreendimentos que refletem a proposta de ser um espaço multifuncional e colaborativo. Com cerca de 150 "vileiros" - denominação carinhosa dada a todos que fazem parte do universo - o Vila atua em eixos que vão da arte e cultura, passando por educação e empreendedorismo e chegando à arquitetura e urbanismo.
Também possui espaços que apoiam empreendedores criativos, oferecendo infraestrutura e suporte para o desenvolvimento de projetos inovadores. Tem uma cafeteria para uma pausa e troca de ideias, aulas de capoeira ou yoga para desestressar e a famosa Feira Orgânica do Lutz (nas quartas-feiras pela manhã) que é perfeita para a compra de legumes, frutas e verduras perfumadas, saborosas e sem agrotóxico.
A gestão do espaço é dividida entre três equipes: Administração e Imobiliário, responsável pela gerência dos aluguéis dos espaços fixos; Arquitetura, que é formada por um corpo técnico que cuida das obras e projeto arquitetônico; e a terceira é a Associação Cultural Vila Flores, uma entidade sem fins lucrativos que gerencia as atividades sociais e culturais.
João Felipe Wallig, arquiteto e gestor do Vila Flores, conta que o nome do empreendimento nasceu pela junção de motivos diversos e também por um resgate.
Primeiro, tem uma relação direta com o bairro Floresta e a intenção de plantar e colher, que é um dos fundamentos da ACVF, junte-se a isso uma herança afetiva familiar. A avó materna, Lulu Flores, foi muito importante na educação cultural dos netos João e Antônia que moraram a infância em São Paulo, abrindo a janela do mundo para eles através do conhecimento. "Sempre que vínhamos a Porto Alegre, a vó nos levava para incríveis passeios culturais", relembra Wallig.
Assim, o nome Vila Flores foi uma justa homenagem à matriarca. O empreendimento, hoje, possui 32 apartamentos e até março deve ter mais 15 unidades com a reforma de um dos prédios adequando-o às condições contemporâneas. O gestor explica ainda que um dos diferenciais do Vila Flores é a condição de abrir oportunidades para pequenos e médios empreendedores que podem trabalhar em rede dentro do ecossistema, além do compartilhamento de espaços para o uso comum.
 

Caleidoscópio criativo

O sebo Era Uma Vez… surgiu da vontade de Rejane de compartilhar livros

O sebo Era Uma Vez… surgiu da vontade de Rejane de compartilhar livros

Maiara Dallagnol/Divulgação/JC
O Vila Flores segue um padrão disruptivo em sua ocupação, dividindo os espaços por andares que oferecem uma experiência única de convivência e criatividade. O acesso ao Vila começa pelo pátio, conhecido como Pátio do Lazer e Estar. Ali, é possível tomar um café acompanhado de uma torta de butiá, ler um livro escolhido no sebo, ou relaxar após uma regenerativa aula de yoga no galpão.
Ao entrar em um dos prédios, chega-se ao andar dos Apartamentos do Fazer Criativo e Artesanal, onde o empreendedorismo ganha vida em ateliês de cerâmica, empresas de comunicação e design, e projetos de tecnologia. Subindo mais um lance de escadas, encontra-se o Sótão das Artes, dedicado a oficinas de gravura, desenho e costura, que não apenas produzem peças únicas, mas também oferecem aulas de xilogravura, costura e artesanato.
Preservando o charme do passado, o Vila mantém ladrilhos hidráulicos originais, paredes descascadas que revelam camadas de história, e um total impressionante de 147 janelas e 90 portas, todas catalogadas pela equipe de arquitetura. Os espaços têm nomes inspirados em flores, como Madressilva, Tulipa, Arruda, Dente-de-Leão e Lótus, que também aparecem em murais assinados pelo artista Kelvin Koubik, antigo residente do Vila Flores.

Koubik é o artista responsável por dar vida aos murais com sua pintura | Ricardo Ara/Divulgação/JC
Koubik é o artista responsável por dar vida aos murais com sua pintura Ricardo Ara/Divulgação/JC

Koubik é o artista responsável por dar vida aos murais com sua pintura Ricardo Ara/Divulgação/JC
Um desses espaços, o Violeta, abriga o Era uma vez... Um Sebo, criado por Rejane Santos, estudante de biblioteconomia e auxiliar de biblioteca no Colégio La Salle Canoas. Inspirada pela ludicidade e pela paixão pela leitura, Rejane trouxe a proposta de compartilhar livros usados a preços acessíveis. "Meu intuito é promover o acesso à literatura para o maior número de pessoas", explica Rejane, que começou o negócio no formato online e, em setembro de 2024, inaugurou sua loja física no Vila.
Apaixonada pelo ambiente, Rejane acredita que o Vila Flores combina perfeitamente com a proposta de seu negócio. "Acho que o espaço tem tudo a ver com um sebo", afirma. Localizado em uma região historicamente marginalizada, o Vila se tornou, para ela, uma brisa de beleza e inspiração, capaz de levar cultura e alegria às pessoas.
 

Tem até torta de butiá

Daniela tem 20 anos no mercado como artista vidreira, completados no meio aos desafios da enchente de 2024

Daniela tem 20 anos no mercado como artista vidreira, completados no meio aos desafios da enchente de 2024

Maiara Dallagnol/Divulgação/JC
Ocupando o salão da entrada, por onde todos acessam o pátio e as atividades que ocorrem no Vila Flores, a Casa Brasileira trabalha com produtos que, de alguma forma, valorizam a brasilidade, seja pela história ou pela escolha dos ingredientes. Comandada pela família Müller, a confeitaria e café prima pela produção sem ultraprocessados, buscando um respiro no meio de um mercado confeiteiro saturado de ingredientes que, segundo Vinícius Müller, cientificamente se sabe que não fazem nada bem à saúde.
No cardápio da cafeteria pode-se escolher delícias inusitadas como o bolo de abacaxi com castanha ou a torta de butiá, que rende muita curiosidade entre os clientes e é receita exclusiva da família. Instalada no Vila desde outubro do ano passado, a Casa Brasileira (que já existia com produção caseira e venda on-line) abriu suas portas depois de um mês de procura. Müller conta que nada atendia ou agradava.
"Lembrei da existência do Vila um dia caminhando na rua. Eu já tinha vindo aqui há alguns anos atrás e resolvi passar de novo para ver se existia a possibilidade de nos instalarmos. E deu super certo", comemora. Para ele, estar presente no empreendimento dá muita visibilidade. "Estamos em um local já consolidado no cenário cultural e artístico da cidade e isso nos ajuda muito, pois é um marketing indireto só por estarmos aqui", explica o empreendedor.

 

"O Vila é um local que acolhe sem preconceitos, que é desacelerado, que a gente vem pra curtir e relaxar", diz Müller | Carmen Carlet/Especial/JC
"O Vila é um local que acolhe sem preconceitos, que é desacelerado, que a gente vem pra curtir e relaxar", diz Müller Carmen Carlet/Especial/JC

"O Vila é um local que acolhe sem preconceitos, que é desacelerado, que a gente vem pra curtir e relaxar", diz Müller Carmen Carlet/Especial/JC
Além disso, outro fator que considera fundamental é a parceria com a Associação Cultural Vila Flores e a constante troca de ideias para planejar em conjunto a busca por novos visitantes. "Acho que o Vila é um local que acolhe sem preconceitos, que é desacelerado, que a gente vem pra curtir e relaxar, esquecer do agito. Sem falar do fomento à cultura que rola aqui", elenca Müller sobre os benefícios do VF.
Com os outros dois sócios - Lunalva e Eduardo Müller, mãe e tio de Vinícius - a equipe da Casa Brasileira está formada. Eles cuidam de diferentes frentes, mas também trabalham operacionalmente, já que ainda não têm funcionários contratados pra as funções. "Então eu, por exemplo, cuido da parte de posicionamento da marca, represento a empresa em entidades comerciais, mas quando você vai na loja, às vezes, sou eu que estou lavando a louça", fala às gargalhadas.
Para este ano, os sócios esperam aumentar a freguesia que, apostam eles, se encantarão com as delícias produzidas com o sabor bem brasileiro. "Ao sair pelas ruas vemos muita gente que é vizinha de bairro não sabe da existência do espaço, então, queremos trazer essas pessoas para cá", antecipa o empreendedor. "E temos, também, muitos projetos andando em segundo plano, que ainda não podemos abrir, mas que vão nos ajudar a criar uma conexão mais intensa com os clientes", diz Müller sem antecipar as novidades.
Ainda no térreo - por questões logísticas que incluem dois fornos de alta temperatura - o Atelier Daniela Malfatti ocupa o espaço Arruda, em processo de adaptação para as necessidades de seu formato de trabalho que exige um ambiente funcional para a realização de todo processo de produção em glass fusing, uma técnica que consiste em unir pedaços de vidro em fornos com temperaturas entre 700°C e 820°C, para que se fundam.
Daniela explica que produz peças como centros de mesa, cubas de vidro, luminárias e objetos de arte sempre com uma abordagem personalizada que são comercializadas diretamente no estúdio, através de e-commerce e também por intermédio de parcerias com arquitetos e designers.
Com 20 anos no mercado como artista vidreira, completados no meio da enchente de 2024, Daniela foi uma das impactadas pelas chuvas. "Perdi materiais, equipamentos e algumas peças que estavam em produção foram danificadas. Estou me recuperando aos poucos, reorganizando e retomando a produção, agora com mais segurança no novo espaço", explica a vidreira que fez um movimento inverso ao sair de casa no início da pandemia.
"Quando todos precisaram voltar para casa, senti a necessidade de ter um outro lugar", relembra ao justificar observando que apesar das restrições e distanciamento, participar de um coletivo de arte foi um impulso que a ajudou a continuar trabalhando de maneira produtiva. Justamente por isso a artista considera que o Vila tem uma grande importância para seu negócio, sendo inspirador. Para 2025 Daniela planeja lançar uma nova linha de produtos. "Quero também estreitar as parcerias criativas e expandir as possibilidades de produção através de novos projetos colaborativos" antecipa.
 

O fazer criativo e artesanal

Para Luciana, o espaço proporciona a troca de experiências e a convivência com profissionais de diversas áreas

Para Luciana, o espaço proporciona a troca de experiências e a convivência com profissionais de diversas áreas

Carmen Carlet/Especial/JC
Subindo as escadas - com corrimãos originais em ferro encaixado - chegamos ao segundo andar, onde estão os residentes que concretizam suas ideias em objetos e serviços. É onde o empreendedorismo confirma que Porto Alegre e o Quarto Distrito têm sua veia de novidades no campo da economia criativa. Em um dos apartamentos - no espaço Madressilva - reside a Surto Criativo, uma agência de design, ilustração e comunicação.
O designer Diego Ferrer, um dos sócios, conta que eles foram para o Vila na primeira leva de "ocupação". "Quando o projeto de criação do Vila como um espaço coletivo ainda estava sendo pensado, aconteceu um evento no pátio, antes de qualquer reforma, e já se percebia que era um lugar mágico e especial. Foi quando prometi pra mim mesmo que teria meu escritório ali", conta relembrando o início do relacionamento com o empreendimento.

Lages aplica um método utilizando combinações de estratégias práticas e técnicas | Carmen Carlet/Especial/JC
Lages aplica um método utilizando combinações de estratégias práticas e técnicas Carmen Carlet/Especial/JC

Lages aplica um método utilizando combinações de estratégias práticas e técnicas Carmen Carlet/Especial/JC
 
Justamente este "match" imediato faz com que Ferrer considere o Vila tão especial. "É um marco na cidade de Porto Alegre. Um espaço único, importante e representativo", avalia destacando que a importância para o seu negócio é de ser uma chancela, uma assinatura. "Quem faz parte do Vila tem algo especial e isso é percebido pelas pessoas, clientes, contatos", define e acrescenta que o VF mostra que é possível pensar diferente: "com criatividade, responsabilidade e amor de forma coletiva e intenção positiva", garante o designer ao projetar o desempenho da Surto Criativo para 2025. "Estamos em um momento de crescimento e busca por novos desafios e o espaço para a comunicação criativa é cada vez maior", finaliza Ferrer.
Na sala Dente de Leão reside Leandro Lages que trabalha com mentoria, ajudando pessoas a realizarem seus projetos de vida, unindo autoconhecimento e negócio. Com a Relife - definida em seu site como um sócio oculto para o seu eu-negócio - Lages aplica um método utilizando combinações de estratégias práticas e técnicas. A jornada, segundo ele, é voltada para a transformação completa nos sentidos pessoal e profissional.
"Meu papel é facilitar o caminho, apoiando profissionais a encontrarem suas próprias respostas, a traçar um plano de ação claro e organizarem seus desafios internos com o objetivo de prosperar na carreira e negócios em sincronia com seus valores", explica. Instalada no VF desde o início de 2024, a Relife optou por um espaço físico com o objetivo de estender as mentorias para o atendimento presencial e explorar o ecossistema. "Vejo que a energia aqui contribui para o desenvolvimento do meu negócio. Os valores do Vila fecham com os valores da Relife e os meus pessoais", garante o ex-executivo formado em marketing e que vivenciou por anos o universo das startups além de ter atuado como C-Level liderando equipes, participando de fusões e aquisições. Mas, ele admite que não demorou até perceber que esse sonho começava a perder sentido. "Escutei meus sinais internos e transformei meu negócio, ganhando liberdade para uma jornada de autodescoberta pela América Latina", conta Lages.

Diego Ferrer, um dos sócios do Surto Criativo, diz que o Vila Flores mostra que é possível pensar diferente | Ricardo Ara/Divulgação/JC
Diego Ferrer, um dos sócios do Surto Criativo, diz que o Vila Flores mostra que é possível pensar diferente Ricardo Ara/Divulgação/JC

Diego Ferrer, um dos sócios do Surto Criativo, diz que o Vila Flores mostra que é possível pensar diferente Ricardo Ara/Divulgação/JC
"Esse processo levou a me especializar em diferentes práticas energéticas e ancestrais de desenvolvimento pessoal. E, por fim, me levou a uma pós-graduação em Psicologia Transpessoal", comenta o empreendedor ao destacar a importância do Vila Flores como um lugar que ajuda a repensar Porto Alegre, trazendo um senso de comunidade aflorado revivendo uma área tão afetada pela desigualdade social. "Além de ser um espaço harmônico e flexível para os negócios, o Vila tem um papel social ao levar arte e oportunidades ao entorno oferecendo aos cidadãos um momento de lazer e senso comunitário aberto todos os dias", finaliza.
Argila é a matéria-prima que Luciana Firpo utiliza, cotidianamente, no espaço Lotus. Lá, ela cria peças autorais como utilitários, esculturas e objetos decorativos - comercializados diretamente no local, em feiras de arte e design e plataformas on-line -, além de ensinar a arte da criação em cerâmica. O Atelier Luciana Firpo existe desde 2014, porém, sem espaço fixo, ela ministrava cursos em diferentes lugares.
A mudança para o Vila Flores, segundo a artista, aconteceu em 2018 quando a vileira e ceramista Márcia Braga a convidou para dividir um espaço. "Foi assim que me encantei com a proposta colaborativa do Vila, que promove a troca de experiências e a convivência com profissionais de diferentes áreas", comemora Luciana ao destacar que a comunidade do Vila também está sendo um importante apoio na recuperação dos estragos da enchente de maio último. Ela pretende ampliar a oferta de cursos, realizar mais viagens para ministrar workshops fora do Estado.
 

Sótão das artes

Fernanda (centro) atende no ateliê, criado em 2019,  cerca de 20 alunos fixos e outros eventuais

Fernanda (centro) atende no ateliê, criado em 2019, cerca de 20 alunos fixos e outros eventuais

Carmen Carlet/Especial/JC
Subindo ao terceiro andar se chega a um espaço um tanto diferente. É o sótão, que na contramão do usual lugar de guardar a bagunça, é um mundo florido pela arte e pelas produções criativas. É ali que Fernanda Brauner Soares comanda o Gravura na Tulipa- Atelier de Artes Gráficas. Ocupando três espaços - Calêndula, Vitória Régia e Tulipa - a artista oferece cursos de gravura com as técnicas de xilogravura, litografia e gravura em metal, desenho, aquarela e encadernação artística, além de receber artistas que utilizam o Tulipa para produzir seus trabalhos.
Atualmente são em torno de 20 alunos fixos, além de outros eventuais. Criado em 2019, o ateliê se instalou no VF porque Fernanda queria encontrar novos parceiros. "O Vila foi um grande ninho, onde tudo se desenvolveu e sua importância é vital para o meu negócio", enfatiza a artista e educadora ao frisar que não teria sido possível se desenvolver sem a conexão e suporte que a ACVF oferece aos vileiros.

Lorenz, que cria desenhos e aquarelas que retratam a arquitetura histórica e urbana, ingressou no espaço em 2024 | Carmen Carlet/Especial/JC
Lorenz, que cria desenhos e aquarelas que retratam a arquitetura histórica e urbana, ingressou no espaço em 2024 Carmen Carlet/Especial/JC

Lorenz, que cria desenhos e aquarelas que retratam a arquitetura histórica e urbana, ingressou no espaço em 2024 Carmen Carlet/Especial/JC
Para este ano, Fernanda projeta continuar desenvolvendo as atividades que já existem no Tulipa e ampliar incluindo fotografia no rol de atividades. Também quer expandir o atendimento a artistas que desejem desenvolver seus projetos utilizando o Tulipa, além de estreitar parcerias com designers gráficos. Na sala Jasmim habita o projeto artístico Uns Predinhos - o nome não surgiu por conta dos predinhos do Lutz, mas sim pelas aquarelas e desenhos que retratam a arquitetura histórica e urbana, criadas por Bruno Lorenz desde 2022.
O artista passou a colaborar com o Vila Flores em 2024, atraído pela proposta de integração cultural e pelo impacto social que o espaço promove. "Além disso, o local combina muito bem com a essência do meu trabalho, que é valorizar histórias e patrimônios urbanos" relata Lorenz. Entusiasta do empreendimento, ele exalta a contribuição de forma significativa do empreendimento ao promover cultura, educação e criatividade em Porto Alegre.
"Ele é um exemplo de revitalização urbana que impacta positivamente a comunidade, tanto pela preservação do patrimônio quanto pelas ações sociais e culturais realizadas", avalia. O artista pretende, em 2025, ampliar as oficinas de desenho urbano, explorar novas cidades do estado para registrar patrimônios históricos e fortalecer a presença on-line com a criação de um curso sobre processo criativo. "Além disso, quero continuar desenvolvendo parcerias com espaços como o Vila Flores para projetos culturais e educativos", adianta.
Moda também é assunto que circula pelos sótãos do Vila. Adriana Santos, proprietária do Clube Invencionices e Adri. Invencionista Ateliê, não poupa tecidos, linhas e tesouras para criar peças únicas e também ensinar o ofício. Na Sala Gardênia, Adri ministra aulas de costura e oficinas de manualidades, como macramê, tricotin ou mesmo bordado manual.
"Busco resgatar os processos manuais estimulando a criatividade e desenvolvendo a autonomia das alunas", conta a costureira. Residente do VF desde 2020, ela observa que a chegada no empreendimento aconteceu porque o coletivo com o qual compartilhava espaços fechou durante a pandemia e ela precisava de um novo lugar.

 

Adriana perdeu todo seu material com a enchente de maio e está reconstruindo seu espaço de trabalho | Carmen Carlet/Especial/JC
Adriana perdeu todo seu material com a enchente de maio e está reconstruindo seu espaço de trabalho Carmen Carlet/Especial/JC

Adriana perdeu todo seu material com a enchente de maio e está reconstruindo seu espaço de trabalho Carmen Carlet/Especial/JC
"A decisão de vir para o Vila foi por acreditar no projeto que estimula o desenvolvimento coletivo com valores sustentáveis e de valorização da cultura", define e destaca a importância do acolhimento do Vila no momento mais desafiador que vivemos mundialmente, oferecendo espaço e oportunidade de desenvolvimento e crescimento para pequenas iniciativas como a sua. Totalmente impactada pela enchente - o ateliê era no térreo - Adriana perdeu todo seu material de trabalho - tecidos, linhas, lãs e mobiliário. "Consegui resgatar e consertar as máquinas de costura". Os materiais de aula ela recuperou parte através do Banco de Tecidos.
Para 2025, a empreendedora pretende continuar oferecendo aulas e oficinas e trabalhar em projetos que valorizem a criatividade de forma sustentável. Ampliando sua expectativa para os vizinhos, ela destaca a urgência de que os governos municipal e estadual atuem de forma efetiva na recuperação do quarto distrito e bairro Floresta para que as pessoas se sintam seguras e voltem a frequentar a região.

*Carmen Carlet é jornalista formada pela Famecos, Pucrs. Atuou como colunista, repórter e correspondente de veículos especializados em propaganda e marketing. Atualmente, trabalha com assessoria de comunicação, produção de conteúdo e conexões criativas.

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