Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 04 de Janeiro de 2025 às 16:00

Grupo Wish planeja investimentos, mas juros altos são entrave

Para o presidente do conselho do grupo, turismo precisa fazer o movimento de integração produtiva

Para o presidente do conselho do grupo, turismo precisa fazer o movimento de integração produtiva

Paula Sória Quedi/Especial/JC
Compartilhe:
Paula Sória Quedi
Paula Sória Quedi
Com o propósito de ressignificar as formas de lazer, o Grupo Wish se consolida cada vez mais no mercado oferecendo hospitalidade, entretenimento e gastronomia de alta qualidade aos seus hóspedes. No Rio Grande do Sul, a rede está presente em Gramado, com o Wish Serrano.
Com o propósito de ressignificar as formas de lazer, o Grupo Wish se consolida cada vez mais no mercado oferecendo hospitalidade, entretenimento e gastronomia de alta qualidade aos seus hóspedes. No Rio Grande do Sul, a rede está presente em Gramado, com o Wish Serrano.
Há dois anos, a presidência do conselho do Grupo Wish é comandada por Vinícius Lummertz, executivo com atuações destacadas tanto no setor público quanto privado. Foi ministro do Turismo e presidente da Embratur no governo de Michel Temer, além de ter atuado como secretário de Turismo de São Paulo, secretário de Planejamento de Santa Catarina e diretor do Sebrae nacional.
A expectativa do grupo para 2024 é faturar 14% mais do que em 2023, ultrapassando R$ 400 milhões. Como um todo, o setor de turismo poderia crescer muito mais se não fossem as altas taxas de juros do Brasil, afirma o chairman da Wish.
Empresas & Negócios - O senhor assumiu há quase dois anos a presidência do conselho do Grupo Wish. Como está sendo essa experiência após já ter atuado como ministro do Turismo e secretário nos estados de São Paulo e Santa Catarina?
Vinícius Lummertz - O grupo é muito bem dirigido, tem muita saúde em gestão. É um grupo que herdou a história dos vários hotéis que o compõem, como por exemplo, é o caso do Serrano, em Gramado, e do Wish Foz do Iguaçu. É um leque que foi montado pelo antecessor, o Guilherme Paulus, quando ele vendeu a CVC e comprou hoteis de excelência em todo o Brasil. Com isso, vem muita cultura, a cultura de cada hotel, que forjou uma cultura nova, porque são jovens que dirigem o grupo Wish, mas são hotéis que já têm idade e o grupo está crescendo.
E&N - Há novidades à vista?
Lummertz - No caso do Serrano, novos espaços estão sendo construídos. Estamos projetando um empreendimento em Maceió. Temos um terreno de 800 mil metros quadrados por lá. Em Foz do Iguaçu também temos projetos de ampliação e até de compra de ativos. O problema é que os juros no Brasil estão muito altos e é muito difícil remunerar capital. Não apenas pra gente, para todos.
E&N - O que é preciso ser feito para mudar essa situação?
Lummertz - Precisamos que o governo controle o déficit público e, com isso, controle a inflação. Estamos pagando bilhões de juros por ano, o governo não tem dinheiro para nada, então tem de pagar juros. E é ineficiente nos gastos. Se você economizar um ano e meio, dois anos, vai sobrar dinheiro para investir, pelo próprio governo, nos seus programas, mas a iniciativa privada se libera. Esse é um componente. O outro componente para que grupos como o Wish invistam mais são as parcerias internacionais. É preciso buscar capital e conhecimento lá fora. Quando se fala de uma Embraer, que é um grande sucesso brasileiro... sim, é um grande sucesso, mas ela tem a ver essencialmente com uma parceria do ITA com o MIT, dos EUA. É simples assim, não há mistério.
E&N - O senhor já falou da necessidade da internacionalização...
Lummertz - A integração das cadeias indica o grau de internacionalização. Se o nosso agribusiness vai bem é porque ele está internacionalizado na cadeia desde o know-how, dos mestrados e doutorados feitos pelos pesquisadores da Embrapa, até os compradores das bolsas de Chicago daquilo que a gente produz em alta qualidade. O turismo precisa fazer o mesmo movimento de integração produtiva, para grupos como o nosso e para outros, porque a RTSC (holding com foco no desenvolvimento do setor imobiliário e do turismo no Brasil), que controla o Wish, também controla a WAM Group e a Gramado Parks. Então, há uma grande perspectiva para esse grupo, como tem para outros de desenvolver um turismo no Brasil que acompanhe o crescimento do turismo internacional, que vai ser exponencial, vai dobrar nos próximos 10 anos.
E&N - Qual é a situação do Brasil nesse contexto de crescimento?
Lummertz - Nós, apesar de estarmos crescendo muito, estamos muito abaixo, e não se tem consciência disso. É preciso ter consciência para depois tomar a decisão. O País está como se estivesse em transe, discutindo radicalismos políticos, quando na base, a conversa é outra, é o mundo real. Chamo a atenção para o fato de que temos um mega potencial, o mundo inteiro quer investir aqui. Sou membro fundador da Nova Rota da Seda (estratégia da China para se aproximar do Ocidente com investimentos) e, nos últimos meses, estive na China, em Dubai e em vários países europeus. Eles querem investir no Brasil, já estão investindo muito na China.
E&N - O que falta para eles investirem aqui? Juros baixos, um ambiente melhor de negócios…
Lummertz - Não só eles, eu represento, também, o Instituto Milken, um dos maiores investidores dos EUA (busca atuar como uma ponte entre o Brasil e investidores globais). Todos têm interesse. É que o ambiente de negócios no Brasil é ruim. Uma vez um representante de turismo da China esteve no meu gabinete quando eu era secretário de turismo de SP. Perguntei se eles investiriam no Brasil. Ele respondeu que sim, mas que faria isso quando o porteiro do prédio (secretaria era no centro de SP) não me disser que eu tenho de cuidar do meu celular e que eu não posso andar lá na rua. Então, assim não dá, porque fica improvável que a gente consiga fazer determinadas coisas quando não temos energia, ousadia e ambição de fazer essas coisas. Se o Centro de SP fosse corrigido, poderíamos sair de 18 milhões de visitantes nacionais para, pelo menos, mais 10 milhões. É preciso cuidar das cidades. O Rio Grande do Sul, por exemplo, é um estado inviável do ponto de vista fiscal.
E&N - O RS compete muito com SC no embarque de cargas via portuária e perde muito.
Lummertz - Essa competição só é um problema quando a economia não cresce. Participei do governo Luiz Henrique da Silveira (MDB, 2003-2010), em Santa Catarina, durante oito anos. Havia uma chamada guerra fiscal que, na minha opinião, uma parte é guerra fiscal, outra é competitividade. Se você quer ser um estado mais liberal, baixe impostos. E aí nós criamos um sistema portuário vigoroso. Com a intenção de ser um estado mais liberal, de cobrar menos impostos, os governadores de Santa Catarina, a cada eleição, ou os candidatos são obrigados a ir à federação das indústrias e prometer que não vão aumentar imposto. Então é um estado mais leve, porque o imposto e o dinheiro mal gasto é uma chaga, é uma doença igual a um câncer. Você tira da sociedade, tira do investidor privado e coloca em coisas que não funcionam.
E&N - Há expectativa de novos hotéis do Grupo Wish ou só de ampliação?
Lummertz - Tem projetos novos. Em Gramado tem discussões ocorrendo em nível da gestão, mas tudo vai depender do governo federal começar a controlar os gastos públicos que os juros vão baixar, e aí, vai valer a pena investir. Hoje custa 20%, no final, o dinheiro. Então, quando você pagou 20%, você não ganhou nada, mas como é que você vai ganhar 20%, garantido? 20% é muito. Então, se você tomar dinheiro hoje, se praticamente vai estar apostando que um dia baixe o juro. Porque se você for pagar o juro de hoje, enquanto esse juro estiver assim, você trabalha, paga para o banco, trabalha, paga para o banco e se o negócio for ruim por algum momento tiver uma chuvarada, como teve aqui, uma enchente. Aí nem o banco paga, nem você paga, nem o banco. Então não funciona.

Notícias relacionadas