O Dia do Doar, organizado pela Fundação Gerações, teve sua primeira edição no dia 2 de dezembro. Composto por um ciclo de debates, o encontro foi uma forma de compartilhar depoimentos e discutir os próximos passos da atuação filantrópica no Estado. Ainda que sempre celebrada, especialmente por meio da promoção de campanhas de solidariedade, a data foi mais especial este ano, visto que a mobilização de recursos e de doações ganhou muito destaque no Rio Grande do Sul em 2024.
Para Karine Ruy, coordenadora executiva da fundação, é importante usar esta data para suscitar debates em relação à filantropia comunitária, uma vez que essa modalidade de atuação investe em instituições já existentes nas comunidades, como coletivos e movimentos, dando ouvidos às suas demandas. Assim, a Fundação Gerações, que Karine define como uma "organização de meio", forma parcerias com lideranças comunitárias, sempre pautadas na "cultura da confiança". "A filantropia comunitária faz com a comunidade, não chega com um projeto pronto, não impõem uma ideia", explica ela. A filantropia comunitária diferencia-se da tradicional neste quesito, uma vez que a última busca primariamente atender aos desejos do doador.
O evento trouxe painelistas de outros estados do Brasil, como Felipe Groba, gerente de projetos do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS). Para Groba, o encontro foi uma espécie de regeneração do trauma adquirido no período das enchentes. "O que foi mais impactante para mim é como parece ter se reforçado esse sentimento de solidariedade no Rio Grande do Sul", comenta. Segundo ele, a promoção de eventos para a discussão da filantropia geralmente é algo restrito à São Paulo, realidade que tem se buscado mudar, visto que trazer diferentes agentes da cadeia da filantropia para debater ações de solidariedade potencializa a atuação das organizações.
O IDIS, parceiro da Fundação Gerações desde 2022, atua nacionalmente com a promoção da cultura da doação. Uma de suas iniciativas, da qual a organização gaúcha participa, é o programa Transformando Territórios, que busca criar e desenvolver fundações comunitárias em todo o País. A partir deste projeto, a fundação formatou o Fundo Comunitário Porto de Todos, que atua como um instrumento para mobilização de recursos de diferentes setores e investimento destes em territórios vulnerabilizados de Porto Alegre e da Região Metropolitana. A iniciativa está ativa há um ano e já abriu três chamadas de apoio, uma com enfoque em negócios de impacto periférico e outras duas da linha emergencial, constituída durante o período das enchentes. Atualmente, 16 instituições são amparadas pelo projeto.
Além do desenvolvimento social, a fundação também se dedica a capacitar outras organizações da sociedade civil, que, geralmente, possuem estruturas frágeis e pouca sobra de recursos para reinvestimento em si mesmas. "Ao fortalecer as organizações, a gente está desenvolvendo estruturas capazes de atuar em situações de emergência, como a que nós vivemos, porque elas estão mais bem organizadas", coloca Karine.
Para a coordenadora executiva da fundação, o evento obteve saldo muito positivo. Segundo ela, debates sobre a filantropia comunitária colaboram para qualificar o letramento de diversos setores da sociedade em relação à temática e para chamar a atenção de organizações com capacidade de doação. Karine também destaca a importância de dar voz às lideranças comunitárias, estas que tiveram espaço no evento para se apresentar e contar sobre o trabalho que realizam, assim demonstrando como são investidos os recursos que recebem.