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Publicada em 22 de Dezembro de 2024 às 16:00

Veraneio aquece oferta de empregos no Litoral Norte

Com mais residentes, os municípios litorâneos atraíram novos serviços e empresas

Com mais residentes, os municípios litorâneos atraíram novos serviços e empresas

Loraine Luz/Especial/JC
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Loraine Luz, especial para o JC*
Loraine Luz, especial para o JC*
A proximidade do veraneio 2025 impulsiona a necessidade de mão de obra no Litoral Norte. Com picos de ofertas de vagas em outubro e novembro, comércio, serviços e especialmente supermercados disputam pessoal disponível. Os recrutamentos estão acelerados para driblar dificuldades de contratação e completar os quadros para a temporada. Uma mudança no comportamento das vagas disponíveis demonstra crescimento no número de oportunidades permanentes nos últimos anos. Desde a pandemia por Covid-19, a dinâmica populacional das praias se alterou, e a região não se destaca apenas pelas oportunidades sazonais de verão. Com mais residentes, os municípios litorâneos atraíram novos serviços e empresas, que demandam mais colaboradores o ano todo.

Com a migração de muitas pessoas que foram fixar residência nas cidades litorâneas houve uma mudança no perfil de consumo, exigindo mais atendentes

Com a migração de muitas pessoas que foram fixar residência nas cidades litorâneas houve uma mudança no perfil de consumo, exigindo mais atendentes

/Loraine Luz/Especial/JC
A temporada de verão 2025 agita os principais destinos do Litoral Norte gaúcho muito antes da chegada em massa dos veranistas. Com picos de atividade em outubro e novembro, empregadores dos setores de comércio - principalmente de supermercados - e serviços deflagram uma disputa pela mão de obra local a fim de incrementar o quadro de funcionários para dar conta da demanda aumentada nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, especialmente. Os processos de recrutamento estão a todo vapor e devem permanecer no mês de dezembro.
Conforme entidades representativas da economia da região, recrutadores e coordenadores das agências FGTAS/Sine, tem sido um desafio o preenchimento completo e a contento das vagas.
"Apesar de os empregos de verão serem um ótimo meio de entrada no mercado de trabalho, em lugares com população relativamente pequena e com baixo nível de desemprego, contratar pessoas passa ser um desafio muito grande", analisa Patrícia Palermo. economista-chefe da Fecomércio-RS.
O cenário é agravado pela crônica falta de mão de obra qualificada que caracteriza a região e por uma demanda por pessoal que já vem se manifestando em outros meses do ano, não mais unicamente associada ao veraneio.
Somando oportunidades permanentes e temporárias, o número de postos de trabalho abertos em agências FGTAS/Sine de Capão da Canoa, Tramandaí, Imbé, Xangri-lá e Torres atingiu os picos de 943 em outubro e de mais de 1,1 mil até a terceira semana de novembro.
Durante a 9ª edição do EmpregarRS, realizado em 8 de novembro, as agências FGTAS/Sine de Tramandaí, Torres, Capão da Canoa, Cidreira, Imbé e Xangri-lá encaminharam quase 260 trabalhadores para entrevistas de emprego - apenas 12 haviam sido efetivados até o dia 25. Em Torres, a oferta superou as 450 vagas, com duas empresas participantes; em Capão da Canoa, o mutirão reuniu 10 empresas e mais de 250 vagas; Tramandaí ofertou outras 50 chances de emprego no mesmo dia, com apenas uma empresa participando do evento.
Gabriela da Rosa Bandeira, 21 anos, está entre os candidatos que conseguiram aproveitar a onda de oportunidades iniciada entre outubro e novembro. Ela foi admitida como assistente nas lojas Renner, na unidade de Torres. Motivada, ela, que tem o Ensino Médio completo, faz planos de ingressar no nível Superior na medida em que, com um salário, pode tentar um curso privado. Ela também projeta crescer na empresa: "Só saio se me demitirem".
Tradicionalmente associadas ao veraneio, as ofertas temporárias ganham impulso a partir de novembro nas principais praias. Torres e Tramandaí, por exemplo, não registravam quase nenhuma oportunidade do tipo até outubro, conforme dados do Sine, mas até a terceira semana do mês seguinte chegaram a 249 e 171, respectivamente.
As oportunidades permanentes, por sua vez, vem registrando consistência nos últimos anos, acompanhando o crescimento populacional das cidades à beira-mar desde a pandemia por Covid-19 em 2020. Considerando cinco das principais praias (Capão da Canoa, Tramandaí, Imbé, Xangri-lá e Torres), o número total de vagas fixas, ano a ano, alcança patamares significativos para a região (como demonstram as tabelas nas páginas a seguir).
O acumulado do ano de 2024, até a terceira semana de novembro, já se aproxima do melhor contingente de vagas permanentes dos últimos quatro anos - que foi em 2021, com mais de 4,2 mil postos.
É no varejo que se identifica o maior número de oportunidades no Litoral Norte. "Com a migração ocorrida para o Litoral Norte, muitos novos negócios se instalaram em Imbé e Tramandaí. Especialmente as grandes empresas da área supermercadista que vieram para nossas cidades foram fundamentais para o crescimento de ofertas de empregos", atesta Nara Maria Müller, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Tramandaí e Imbé. Este ano, especialmente, Imbé se destaca: saiu de 59 vagas permanentes em julho para 239 em outubro e 254 em novembro (até a penúltima semana do mês).
"Novas redes supermercadistas mudaram o mercado de trabalho de uns dois ou três anos para cá. Este ano tem mais vagas do que no ano passado. Não é estalar dedo e chover gente. Está difícil, mas (os supermercados) vão conseguir. Até dezembro, os quadros se completam", analisa Rosani Fontoura, coordenadora substituta da agência Sine de Tramandaí.
Os supermercados também pressionam em Capão da Canoa, como explica José Borges Behenck, coordenador da agência FGTAS/Sine local:. "Comércio e serviço já era uma demanda da nossa região, mas aumentou agora. Tem muito empregador à procura de vendedor de varejo, telefonia e farmácia, mas o campeão de oportunidades é o ramo de supermercado, pelo aumento da população na temporada e porque novas redes estão vindo se instalar no Litoral".
A concorrência pela mesma mão de obra é sentida na rede Asun, pioneira no Litoral (desde 1975) e atualmente com 14 lojas: "A disputa de mão de obra está mais acirrada. Tem concorrente vindo com força", analisa Maurício Echeverria, diretor de Recursos Humanos da rede.
 

Oferta de vagas vem aumentando

Grupo Imec, com a bandeira Desco Atacado, tem duas lojas, uma em Imbé e outra em Xangri-Lá

Grupo Imec, com a bandeira Desco Atacado, tem duas lojas, uma em Imbé e outra em Xangri-Lá

/PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
O Grupo Imec, com a bandeira Desco Atacado, é a novidade desta temporada, com duas lojas no Litoral: uma em Xangri-lá, onde ainda havia vagas de emprego disponíveis em novembro, e outra em Imbé. A seleção de currículos teve início no meio do ano. No total, foram 386 postos abertos. "O problema da mão de obra é uma questão global e trabalhamos para poder fechar nosso quadro de colaboradores", Tita Pontes, diretora de Pessoas e Cultura do Grupo Imec.
Em agosto, foi a vez do Stok Center, unidade do atacarejo da Comercial Zaffari, abrir sua terceira loja no Litoral, desta vez em Torres (está presente em Capão da Canoa desde 2020 e em Tramandaí desde 2022), gerando 150 empregos diretos.
Coordenadora da agência Sine de Torres, Dione dos Santos relata que tem percebido nos últimos anos um campo maior para quem busca ocupação permanente. "Porque houve um aumento no número de empresas na região. Antes as vagas eram um fator de veraneio, mas hoje se nota que acontecem o ano todo", explica. E ela destaca: "Tem mais oferta de vagas do que procura".
Com três lojas no Litoral, em Torres, Xangri-lá e, mais recentemente, em Tramandaí (é de 2022), o Grupo UnidaSul, holding que administra o Rissul e o Macromix Atacado, disponibilizou 250 vagas em setembro. Até novembro, ainda havia cem oportunidades em aberto. No dia 25 e 29, promoveu seleções em Arroio do Sal dentro dos esforços pela busca de mão de obra.
"Nos últimos anos, percebemos que há uma oferta maior do que procura. Há diversos motivos. Um deles é a maior procura pelos candidatos por oportunidades nas modalidades híbrido e home office, além da entrada de novos postos de trabalho, por exemplo", pontua Giselly Morcelli, coordenadora da área de Recrutamento e Seleção da UnidaSul. "Além do desafio de captar e contratar, nos dias de hoje estamos enfrentando constantemente o desafio de reter", acrescenta ela.
Não parece só coincidência o fato de a rede FGTAS/Sine ter ampliado o atendimento no Litoral Norte: Terra de Areia e Xangri-lá inauguraram agências em 2022 e Cidreira em 2023. Embora seus dados sejam importantes, as agências estaduais não são as únicas a identificar as características, descritas até aqui, no cenário de mão de obra da região.
"A oferta de vagas tem aumentado nos últimos anos", atesta Nara. "Somente entre os associados CDL, temos em torno de 200 vagas abertas e creio que possamos estimar em torno de 1,5 mil a 2 mil vagas entre os municípios de Imbé e Tramandaí. O que mais impulsiona esse aumento de vagas ofertadas são grandes supermercados, restaurantes e hotelaria", aponta.
O setor de restaurantes e hotelaria identificou um grande rombo no quadro de pessoal, detonado durante a pandemia por Covid-19.
"Temos 3 mil vagas de contratação imediata abertas, fora as temporárias para os finais de semana", afirma Ivone Ferraz, presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Litoral Norte. Segundo ela, esse contingente ficou sem emprego no auge da pandemia e migrou para a informalidade. Desde então, não retornou mais para os postos de trabalho. "A mão de obra na hotelaria e na gastronomia desapareceu, tanto a qualificada quanto a não qualificada. A temporada de verão está aí e vamos ter de rever processos para poder suprir nossas necessidades. Estamos fazendo do jeito que dá", lamenta a dirigente.

Dicas dos recrutadores para quem busca emprego no Litoral

  • Sempre levar documento de identificação com foto e currículo
  • Montar um currículo objetivo, contando a trajetória profissional e perspectivas para o futuro
  • Para candidatos sem experiência ou em busca de novas oportunidades, enfatizar talentos e conhecimentos
  • Informar e manter dados de contato sempre atualizados
  • Caprichar na apresentação, com ênfase na higiene pessoal
  • Ser objetivos nas respostas e focar em responder o necessário, sem falar demais
  • Não se distrair com celular
  • Não usar fones de ouvido
  • Chegar às entrevistas 10min antes do horário marcado, pelo menos
  • Evitar falar mal de empregos anteriores
SERVIÇO
As principais redes supermercadistas mantêm em seus sites área específica na qual exibem as vagas disponíveis.
Asun: https://asun.pandape.infojobs.com.br/
O grupo também recebe currículos pelo whatsapp (51-21290999) e diretamente nas lojas, basta chamar pelo gerente
Grupo Imec (Desco): https://imec.compleo.com.br
Stok Center: https://app.jobfy.pro/comercialzaffari
Unidasul (Macromix e Rissul): https://unidasul.com.br/carreiras/vagas
* Algumas agências SINE/FGTAS atualizam as ofertas em suas redes sociais (Instagram e Facebook), como a de Capão da Canoa (facebook.com/fgtassinecapaodacanoa e instagram/fgtas.sine.capao) e a de Torres (facebook.com/sinetorres)
* A CDL Tramandaí/Imbé exibe em suas redes sociais (Instagram, Facebook) as vagas disponíveis entre seus associados. Também disponibiliza um email para recebimento de currículos: [email protected]
 

Senac RS tem desconto em matrículas antecipadas

Com sedes em Osório, Tramandaí e Torres, o Senac RS é alternativa para quem busca cursos de capacitação para o mercado de trabalho ou de aprimoramento no Litoral. A instituição também tem parcerias com as prefeituras de Imbé, Capão da Canoa, Balneário Pinhal e Arroio do Sal. "No período pós-pandemia, a sede localizada em Tramandaí ampliou consideravelmente a oferta de cursos, destacando a criação do curso Técnico em Enfermagem, em 2021. Somente em Tramandaí, passamos de um atendimento de 650 alunos em 2020, para mais de 1.500 alunos, em 2024", afirma Sandra Lindorfer, diretora regional do Senac-RS.
A instituição está oferecendo até 40% de desconto nas matrículas antecipadas de cursos com início em 2025. A campanha vai até 10 de janeiro. Mas detalhes podem ser conferidos no site www.senacrs.com.br/off
 

Central de Padarias Asun funciona como escola

Atualmente, 18 pessoas trabalham no local, mas a meta é agregar pelo menos mais 10 e aumentar a produção

Atualmente, 18 pessoas trabalham no local, mas a meta é agregar pelo menos mais 10 e aumentar a produção

/Asun/Divulgação/JC
Para driblar a dificuldade de captar mão de obra qualificada, o Grupo Asun tem se voltado para iniciativas que formem essas pessoas. Criada há um ano, a Central de Padarias opera junto da loja de Xangri-lá, no Litoral Norte.
O objetivo foi estabelecer uma padronização nas receitas, de modo que os clientes pudessem encontrar sempre a mesma qualidade e mesmo cardápio, não importa a loja em que estivessem. Mas vai além. O local funciona como uma escola, que ensina o ofício.
"Hoje, todos os varejistas oferecem o mesmo produto O que distingue é a qualidade do atendimento. Temos dificuldade na captação de mão de obra qualificada. E o que o Asun tem feito é formar essas pessoas, promover a qualificação", explica Maurício Echeverria, diretor de Recursos Humanos da rede. Ele cita também a Universidade Corporativa Asun (UCA) - fundada há dois anos - onde cinco colaboradores de lojas do Litoral estão participando do curso de formação de gerentes trainee.
Segundo Paulo Alexandre da Costa, coordenador da Central de Padarias, 14 pessoas já aprenderam o ofício e não estão mais na casa, e sim no mercado de trabalho aptos a atuar na área.
Funcionário do Asun há quase 30 anos, Costa conta que, entre pães, salgados e tortas, a Central produz aproximadamente 22 mil quilos de itens por mês e fornece para todas as lojas da rede. Atualmente, 18 pessoas trabalham no local, mas a meta é agregar pelo menos mais 10 e aumentar a produção para 35 mil quilos mensais. No dia em que atendeu a reportagem, o coordenador tinha 12 vagas abertas na Central.
Há cerca de quatro meses, André Luis Noronha decidiu aproveitar a oportunidade. Morador de Tramandaí, fazia um pouco de tudo para se virar até entrar na Central para aprender tudo do zero. "Se eu sair da empresa, agora eu sou um padeiro", destaca. Satisfeito com o local e com as perspectivas de crescimento, Noronha se mostra motivado. "Já estou ensinando outras pessoas. Tudo começa no gostar. Eu gosto de fazer bem o que me proponho. E aqui, querendo aprender, dá para começar do zero", afirma.
Conforme sua experiência na área de RH, Echeverria acrescenta que muitas vezes é trabalho do setor incentivar que os funcionários invistam em si mesmos, enxergando a importância de se qualificar. "Às vezes, a pessoa não percebe, mas a gente vê o potencial dela e orienta: olha, vamos por aqui, vamos por ali…", ilustra ele.
Para o diretor, investir em treinamento e formação de pessoal é quase uma questão de sobrevivência para as empresas do setor. "Está ruim de conseguir mão de obra. E qualificada, então, nem se fala. Trazer esse pessoal pra dentro da loja e não investir em treinamento é questão de tempo para surgirem problemas", analisa.

Demanda por mão de obra é crescente

Pioneiro no Litoral Norte gaúcho (desde 1975), o Grupo Asun conhece como poucos o comportamento da mão de obra no setor supermercadista da região. E ilustra as transformações pelas quais os principais municípios praianos estão passando nos últimos anos - especialmente a partir da pandemia por covid-19, quando a população fixa local deu um salto. As 14 lojas espalhadas pelo Litoral Norte empregam atualmente cerca de 1,2 mil pessoas. Para atender a demanda da temporada do verão 2024/25, o acréscimo em vagas desta vez ampliará o quadro para mais de 2 mil funcionários.
"Na temporada passada, abrimos em torno de 700 vagas temporárias. Desta vez, são 823 oportunidades. A demanda por mão de obra é crescente. A cada ano aumentamos nosso faturamento no Litoral, em função da abertura de novas lojas, mas também pelo movimento. A necessidade de mão de obra vem num crescente, não apenas as temporárias", afirma Maurício Echeverria, diretor de Recursos Humanos da rede.
Segundo ele, há pelo menos quatro anos o quadro fixo de funcionários na região, para o ano todo, ou seja, fora da temporada de verão, não baixa de mil vagas. No dia 4 de dezembro, o grupo abriu mais uma loja, a Xangri-lá 2. Por conta disto e pela iminência do veraneio 2025, o diretor atendeu a reportagem em meio a um intenso período de recrutamento. Dias antes, havia saído de Porto Alegre para percorrer as unidades litorâneas e conferir como estava o processo. "De novembro até a primeira quinzena de dezembro é um período chave para gente fechar o quadro e incorporar todo mundo para dentro das lojas", explica. Este ano, além da força interna, o grupo mobilizou duas agências que estão ajudando na captação. As vagas temporárias se referem a contratos até o final do veraneio - tradicionalmente associado à realização do Carnaval, que em 2025 será em março, espichando o período.
Echeverria lembra que as temporárias são uma alternativa para quem busca se estabelecer. Os funcionários com contrato temporário são observados de perto e quem se destaca fica mais próximo de uma vaga fixa, que surge a todo momento devido à alta rotatividade que caracteriza o setor. Na visão do diretor, a dificuldade de contratação de mão de obra é um problema que todo o setor supermercadista vem enfrentando. No Litoral, algumas localidades se tornam um desafio maior. "Nos miolos entre praias de mais movimento, regiões de veranistas, onde não tem nativos, não encontramos mão de obra local. Então, temos de buscar em outro lugar. Estou fazendo processo seletivo em Osório, oferecendo transporte fretado para o funcionário se deslocar todos os dias, para conseguir completar os quadros", explica.
A divulgação das vagas, entretanto, ainda segue estratégias bem tradicionais. "Sabemos que o público da praia é diferenciado em comparação a grandes centros", comenta. "Apesar de ter uma plataforma de recrutamento on-line, no Litoral funciona muito ainda a boa e velha entrega de currículo dentro da loja e os cartazes anunciando as oportunidades", afirma. As indicações de pessoal feitas por funcionários que também é um caminho frequentemente usado na captação.
 

Desempenho da educação básica afeta qualificação

Patrícia diz que problema da mão de obra qualificada é um dos maiores desafios dos empregadores do Litoral

Patrícia diz que problema da mão de obra qualificada é um dos maiores desafios dos empregadores do Litoral

/TÂNIA MEINERZ/JC
Ainda que muitas oportunidades de emprego sejam de ordem operacional, para as quais o colaborador será ensinado, e mesmo que a exigência mínima seja o Ensino Fundamental, o problema da qualificação de mão de obra é um dos maiores desafios para empregadores do Litoral Norte completarem seus quadros.
Para Patrícia Palermo, economista-chefe da Fecomércio RS, é preciso olhar para a questão na sua origem. "A educação formal tem apresentado resultados pífios. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é um claro sinalizador disso. Os dados divulgados recentemente descreveram um cenário lamentável, mas isso não virou assunto nas rodas de conversa. Ninguém se sentiu incomodado... O que não nos incomoda, certamente nos acomoda", lamenta.
Conforme Nara Maria Müller, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Tramandaí e Imbé, o problema se intensifica na medida em que aumenta a oferta de vagas por causa da proximidade do veraneio. "Muitas empresas não conseguem suprir as vagas, pelo menos com a qualidade que gostariam ou precisariam. Conseguir um bom colaborador não é tarefa fácil", afirma. Ela garante que a entidade dispõe de treinamentos de ordem gerencial, comportamental e técnica, tanto para gestores como para colaboradores ou mesmo para quem ainda está buscando uma oportunidade.
"Apesar dos esforços da CDL, assim como de outras entidades, a busca pela qualificação não é tão expressiva quanto se esperaria que fosse. A maioria dos treinamentos é gratuita, ou com um custo simbólico, para tentar comprometer as pessoas e, mesmo assim, não se consegue preencher as vagas", lamenta Nara. A explicação poderia estar na falta de tempo. "Mesmo sem emprego fixo, é de se esperar que as pessoas estejam envolvidas com trabalhos informais, o que não lhes permite o aperfeiçoamento de suas competências", pondera.
Tanto representantes de entidades quanto coordenadores das agências FGTAS/Sine cogitam que o crescimento populacional das praias nos últimos anos, com mais gente optando por morar em municípios junto ao mar, pode significar uma melhora na qualificação da mão de obra. A economista Patrícia entende que a migração pode ser efeito colateral de uma soma de variáveis: o envelhecimento da população, as possibilidades de trabalho e educação a distância, bem como a busca por qualidade de vida comungam para impactar na população permanente de certas regiões, privilegiando o Litoral.
Nesse sentido, toda a estrutura econômica dos municípios vai se tornando mais complexa e isso acaba gerando oportunidades de trabalho melhores e mais duradouras, o que acaba por atrair não apenas mais pessoas, como também pessoas mais qualificadas. Porém, no curto prazo, não existem atalhos, ela alerta: "No caso de empregos de verão, basicamente, o que se pode fazer é melhorar a educação local e estimular empreendedores a treinarem as pessoas. O principal beneficiário da qualificação é o próprio indivíduo que se qualifica. As empresas e a sociedade se favorecem das externalidades dessa qualificação. As famílias, a escola, a sociedade como um todo tem que ser uníssona nisso. Só assim qualificar-se vai ser uma escolha natural de todos".

Distribuição das vagas está mais parelha ao longo do ano

 As vagas oferecidas na Rede FGTAS/Sine do Litoral Norte são, em geral, do nível operacional, não requerendo alta qualificação ou muitos anos de estudo. A análise a seguir considera os municípios de Capão da Canoa, Caraá, Cidreira, Tramandaí, Imbé, Xangri-lá, Osório, Santo Antônio da Patrulha, Terra de Areia e Torres.
Considerando uma janela temporal de 12 anos, ainda desponta a concentração das vagas nos meses de outubro a janeiro, particularmente outubro e novembro. Porém, menos acentuada, sendo possível observar uma tímida equalização da distribuição das vagas nos meses do ano. Embora careça de análise mais profunda, a equalização da oferta pode ser atribuída a uma possível mudança na dinâmica populacional da região, com mais pessoas o ano todo, demandando maior prestação de serviços e maior atenção do setor comercial nos meses da baixa temporada.
Desde 2017, o número de vagas temporárias oferecidas vinha apresentando crescimento, inclusive em anos em que o número total de vagas oferecidas reduzia. Uma exceção se verificou em 2020, como reflexo da pandemia por covid-19.
Até o momento, 2024 destoa dessa tendência verificada desde 2017 e demonstra prevalência de vagas permanentes (87% do total, conforme dados até outubro). A razão para essa alteração merece maior investigação, mas pode estar relacionada à ampliação das demandas por serviços e pelo comércio em outras épocas do ano.
Nos últimos 12 anos, verifica-se uma tendência de aumento de salários nestas vagas,, mas em 2024 isso não acontece. Do total de vagas nos primeiros 10 meses deste ano, quase 60% ofereciam salários na faixa entre 1,01 e 1,5 salários mínimos. Por outro lado, em termos absolutos, são as vagas com salários mais elevados as que mais crescem.
O número de vagas com exigência de Ensino Médio tem aumentado em termos absolutos e relativos, considerando uma janela temporal de 12 anos. Mais que dobraram em termos absolutos no período e sua participação no total de cada ano saltou de 9% em 2012 para 27% em 2023. As vagas que não exigem escolaridade têm diminuído. Correspondiam a 68% das vagas em 2012 e, em 2023, atingiram apenas 14%. Essa tendência tem se mantido em 2024.

Fonte: Juliano Florczak Almeida - Analista Sociólogo Chefe da Seção de Informação e Pesquisa | FGTAS
 

* Loraine Luz é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), atua como freelancer desde 2007, depois de 12 anos de experiência em redação de jornal impresso.

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