Ana Esteves, especial para o JC*
As agtechs, startups do agro, chegaram para ficar. Têm crescido de forma exponencial no Estado, desenvolvendo ferramentas de alta tecnologia para fomentar o aumento da produtividade, a redução dos custos de produção e o incremento do faturamento das propriedades, sejam elas pequenas ou grandes. A era do agronegócio 4.0 já é realidade no campo e tem provocado uma revolução no modo de se fazer agricultura e pecuária no Rio Grande do Sul.

Clarice aponta a Região Metropolitana e o Litoral Norte como principais polos
Clarice Lamb/Arquivo Pessoal/JCO Rio Grande do Sul tem despontado no mapa das startups voltadas para o agronegócio, as chamadas agtechs, agrotechs ou agricultural technologies, que se dedicam a criar soluções inovadoras utilizando recursos como inteligência artificial (IA), big data, internet das coisas (IoT), drones, softwares de gestão e monitoramento. A terminologia parece complicada, mas o objetivo é bem o contrário: descomplicar, facilitar a vida de produtores rurais, sejam eles agricultores ou pecuaristas, com foco em aumento de produtividade, rentabilidade, redução de custos, sustentabilidade e produção de dados.
Um levantamento realizado pela Rede RS Startup, uma iniciativa da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul aponta que existem 1,8 mil startups no Estado, das quais 250 são voltadas para o agronegócio, 152 são agtechs, 66 para o ramo de alimentos - as foodtechs -, e 32 na área de biotech. Juntas, elas representam mais de 14% do total de startups mapeadas no Estado.
Das 1,8 mil, mais de 50% estão em estágios de crescimento e escala, gerando um impacto significativo em termos de faturamento e contribuição para a economia estadual. Além disso, mais da metade das startups está focada em oferecer produtos e serviços para outras empresas, reforçando o papel da inovação como motor do desenvolvimento econômico.
"O sistema regional de inovação com mais startups do agronegócio é a Região Metropolitana e o Litoral Norte, com 96 startups. Depois vem a região de Santa Maria, com 33, há 28 na região dos Vales, 25 na região Sul - Pelotas e Rio Grande -, 23 na Serra e 22 na região Noroeste, Missões e Passo Fundo", relata a gerente de coordenação Rede RS Startup, Clarice Lamb. Dados do Radar Agtech 2023 da Embrapa apontaram que Porto Alegre é a quinta cidade no ranking nacional em número de startups do agro, com 55 empresas. O segundo município gaúcho melhor colocado é Santa Maria, na 11° posição nacional, com 27 agtechs. Esse levantamento aponta que o Rio Grande do Sul detinha 9,9% da fatia nacional de agtechs em 2023, com 194 empresas.
Em 2022, o Estado aparecia com 133 agtechs, ou 7,8% do total nacional. Numa linha do tempo de 2021 para cá, é possível observar o incremento do número de startups voltadas para o agronegócio no RS: eram 124 em 2021, passando para 133 em 2022 e chegando a 194 em 2023. No mapa da região sul, o Estado participa com 38,1% do total de agtechs. Já a região sul tem 26% do total nacional de agtechs, com 510 empresas.
O Estado possui um ecossistema favorável ao empreendedorismo, com incubadoras e aceleradoras que apoiam o surgimento dessas empresas. O crescimento do agronegócio gaúcho também cria um mercado promissor para inovações que ajudem a enfrentar desafios como mudanças climáticas, escassez de recursos hídricos e a necessidade de uma produção mais sustentável.
Na análise das agtechs presentes por unidades federativas, houve uma continuidade nas cinco primeiras posições desde a edição de 2019, ocupadas por São Paulo (845), Rio Grande do Sul (194), Paraná (182), Minas Gerais (169) e Santa Catarina (132). Entretanto, os estados de Mato Grosso e Goiás avançaram em suas quantidades e proporção de Agtechs mapeadas, passando de 36 (2,1%) e 32 (1,9%) para 39 (2,0%) e 35 (1,8%), respectivamente. A Bahia teve uma leve redução, de 34 (2,0%) para 33 (1,7%). De acordo com o relatório de investimentos de América Latina de 2023 da Agfunder, o Brasil é de longe o maior mercado latino-americano para startups de agrifoodtech e investimentos, detendo quase 50% da participação de mercado, com tecnologias abrangendo toda a cadeia de abastecimento.
No Estado, a presença de universidades e centros de pesquisa contribui para o desenvolvimento de novas tecnologias, como agricultura de precisão, biotecnologia, e uso de inteligência artificial na gestão das lavouras e da atividade pecuária. Muitas agtechs estão focadas em soluções que vão desde o monitoramento de culturas e previsão de safras até a automação de processos e gestão de insumos. É o caso da Universidade Federal de Santa Maria, cujo Parque de Tecnologia abriga a Pulsar Incubadora Tecnológica, que atua hoje com 35 empresas, com faturamento superior a R$ 30 milhões. O coordenador da Pulsar, Anderson Cardozo Paim, diz que 35% das empresas incubadas na UFSM são do segmento agro.
A importância da incubadora é ajudar no desenvolvimento desses negócios inovadores, uma vez que eles precisam de uma validação, porque são tecnologias novas, não são de conhecimento amplo do público, precisam de uma infraestrutura mínima para poderem operar num ambiente com um pouco menos de incertezas. "Ao terem validadas essas tecnologias, alcançando os primeiros clientes, elas já adquirem o nível de vendas necessárias para a empresa ter sustentabilidade financeira, elas ganham o mercado", diz ele.
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A vertente do empreendedorismo das agtechs é recente, em torno de 15 anos, mas ela ganhou realmente notoriedade nos últimos cinco anos, e o agro foi o segmento que mais cresceu, apesar de sofrer com uma barreira muito alta no início. "Em média, tínhamos 20 projetos por ano e, neste ano, tivemos 60. As empresas que surgiram em 2010 sofreram muito para alcançar o mercado. Já as que vieram no pós-pandemia enfrentaram um cenário de maior aceitação por parte dos produtores rurais".
A coordenadora da Feevale Techpark, Manuela Bruxel, diz que o crescimento das agtechs no Rio Grande do Sul foi impulsionado pela tradição agrícola e a busca contínua por inovação no setor. "Esse incremento se reflete em áreas como a agricultura de precisão, automação e tecnologias voltadas à sustentabilidade, com soluções que ajudam os produtores a melhorar a eficiência na gestão de recursos. Acredita-se que muito do crescimento deste tipo de negócio aconteceu por diversas políticas públicas e programas de incentivo voltados à inovação no agronegócio", afirma. Ela conta que, recentemente, a Feevale lançou o Hub Agro, em parceria com o município de Esteio, situado dentro do Parque Assis Brasil.
"O Hub funcionará o ano todo e tem o objetivo de ser um ponto de conexões, metodologia e apoio ao desenvolvimento de startups focadas no agro ou que possam oferecer produtos para essa área", acrescenta. O protagonismo do Vale dos Sinos como polo de desenvolvimento de tecnologia se dá, segundo a coordenadora, pela "força dos ambientes de inovação e movimentos de inovação que temos no Vale com a criação do Feevale Techpark, do Tecnosinos, do Movi (Movimento inovador do Vale dos Sinos), da Incubadora Ienh, Incubadora Liberato e a InovaSapiranga".
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No Tecnopuc, funciona, desde 2021, o Celeiro Agro Hub, cujo objetivo é conectar produtores, fornecedores, cooperativas, startups, pesquisadores e investidores no setor do agronegócio. O coordenador do Celeiro, e assessor de Inovação da Superintendência de Inovação e Desenvolvimento da Pucrs, professor Luis Villwock, diz que o espaço conta com 20 startups associadas, desde a fase inicial, ainda validando o produto, e outras que já estão no mercado, nacional e internacional.
"É um segmento bastante importante e atrativo porque o agro é a base da economia, não só gaúcha, como nacional. Hoje, 30% do PIB do Brasil é agro e mais de 50% da balança comercial total brasileira é agro. E temos vários desafios, como o impacto das mudanças climáticas, formas de tornar a agricultura mais resiliente, que a gente chama de agricultura regenerativa", afirma.
Entre as iniciativas mais demandadas, estão gestão de irrigação, de controle de umidade de solo, processos para manter a sanidade a campo e processos de drenagem. "Outro segmento bastante importante é o desenvolvimento de bioinsumos para diminuir o impacto ambiental, tanto para a área de defesa fitossanitária, como também para motores de crescimento", diz.
Zeit utiliza inteligência artificial para medir parâmetros dos grãos de soja

Paula Dalla Vecchia e Renan Buque destacam rapidez nas decisões
Zeit/Divulgação/JCA possibilidade de resolver em segundos um processo que a mente humana levaria horas. Essa é a base do trabalho da agtech Zeit, criadora de uma ferramenta que, a partir do uso de inteligência artificial, faz análise das qualidades dos grãos de soja, entregando os resultados referentes aos teores de proteína, óleo, umidade, cinzas, fibras e densidade da oleaginosa, além da análise do farelo em apenas 90 segundos.
"Só para ter uma noção da disrupção dessa tecnologia para analisar esses parâmetros precisa levar para o laboratório e o tempo para obter essas informações sobre os parâmetros é de quatro a cinco horas", afirma o diretor-executivo da Zeit, Renan Buque, que toca a empresa junto à sócia Paula Dalla Vecchia. A avaliação desses parâmetros é importante pois quanto maiores, mais alto o valor agregado do grão e, consequentemente, o retorno financeiro dos produtores.
"Então, 1% a mais de proteína que vai para as fábricas esmagadoras possibilita que elas produzam de 5% a 10% a mais do óleo de soja. Com a nossa tecnologia, levamos mais eficiência para a cadeia do agro". Em termos de valores, Buque afirma que é possível o produtor conseguir bonificações de até de R$ 5,00 a mais por saca de soja, uma rentabilidade maior da fazenda sem mexer nada no manejo.
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Outra tecnologia desenvolvida pela Zeit trabalha com a análise dos níveis de potássio no solo, um dos principais nutrientes para as plantas se desenvolverem e que são facilmente removidos das áreas a serem plantadas toda vez que ocorrem chuvas intensas. "Essa tecnologia está diretamente relacionada à nova realidade do Estado relativa às mudanças climáticas que acarretam excesso de chuvas, enchentes e danos nos solos", afirma Buque.
A ferramenta no campo permite que sejam avaliados os níveis de nutrição e de potássio da planta a partir do uso de um sensor que retira algumas folhas e analisa, a partir de um aplicativo com inteligência artificial. "O resultado é entregue na hora, no campo, em menos de cinco minutos", afirma, ao explicar que as duas ferramentas, do potássio e da soja, funcionam com sensores no campo que entregam só os dados brutos.
A inteligência artificial se apropria desses dados e transforma em informação de qualidade e rápida. No caso da soja, é colocada dentro de um equipamento que vai emitir luzes que interagem com a inteligência artificial. "Ela vai te dizer quanto de proteína, óleo e umidade tem nos grãos. Já no potássio, você pega a folha, pinga essa solução no sensor, o sensor dá um número de potássio e avalio se aquele número corresponde a uma necessidade da planta", explica.
Com essa tecnologia, o produtor deixa de perder produtividade, pois enxerga a deficiência da planta antes mesmo de ela mostrar, ganhando tempo para implantar medidas corretivas e amenizar o déficit. "Ele precisa ter celeridade no processo, pois só pode adubar com potássio antes da planta crescer, senão ele mata a lavoura. Sem tecnologia, ele vai tomar essa medida de correção só na próxima safra", explica Buque.
Segundo o especialista, as tecnologias já estão sendo utilizadas por produtores gaúchos, mas, pela questão cultural, houve certa resistência em aderir às novas ferramentas. "Eles aderem, mas demoram um tempo maior para acreditar que funciona. Só que o caminho da tecnologia e inovação no agro é com um trem e esse trem já saiu da estação e não dá ré. Só que ele demora um certo tempo para adquirir uma certa velocidade. A maioria dos nossos clientes não são do Rio Grande do Sul, mas do Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais", diz Buque.
A startup surgiu em 2020 com base na ideia de levar o laboratório para o campo, a partir do desenvolvimento de soluções com inteligência artificial embarcada para resolver problemas diretamente na lavoura. O trabalho foi desenvolvido em parceria com empresas como a Nira, responsável por desenvolver o nosso carro-chefe, criada a partir da parceria da Zeit com a Gênesis Group.
Base Agro preconiza uso de drones para pulverizar lavouras

Apesar de todas as vantagens, os drones ainda não conquistaram os produtores gaúchos: "está muito longe do seu ápice, ainda nos primeiros passos aqui no Rio Grande do Sul", diz Henke
Base agro/Divulgação/JCA escolha da ferramenta drone como foco de trabalho da agtech Base Agro se resume a um conceito simples: é um recurso que entrega muito mais por muito menos. A definição é do diretor da Base Agro, Leonardo Henke, um entusiasta dessa nova tecnologia. "O trator não vai fazer os 200 hectares que faz um drone num dia, além de que o drone gasta menos combustível, menos água e menos produto por hectare, sendo ecologicamente sustentável", explica.
O processo de pulverização tem três etapas: mapeamento da área a ser pulverizada com ajuda de um drone de imagens, que faz o georeferenciamento da área para trabalhar essa imagem para poder saber os limites da lavoura; depois, parte para a operação. "Vamos até o local, preparamos a calda, o agricultor nos dá a receita que ele quer fazer na lavoura e fazemos a pulverização", explica Henke. A partir daí é feito um relatório de tudo que foi realizado e os técnicos voltam na propriedade para ver como está o andamento da aplicação. "Eu necessito de informações em real time sobre condições de vento e umidade relativa do ar", exemplifica.
Entre as vantagens do uso de drones está a possibilidade de usar na lavoura sem amassar as culturas, o que, no caso da soja, pode render quase seis hectares a mais que deixam de ser danificados. Além disso, o custo do drone é praticamente o custo do óleo diesel e o impacto ambiental reduzido: a cada mil hectares, um drone gasta 10 mil litros d'água, um trator autopropelido gasta 100 mil.
O importante, diz ele, não é a quantidade de produto que chega na planta, mas a cobertura, ou como ela chega. Enquanto o trator aplica 200 litros de calda por hectare, o drone faz 10 litros e o resultado é muito maior, porque é possível controlar melhor as gotas, com a mesma concentração.
"O importante é a qualidade da gota que chega na planta. E isso o drone tem, pois ao invés de bicos como são os tratores, o drone é um prato rotativo que forma diferentes tipos de gotas, dependendo de cada produto que vai se passar".
Um drone consegue fazer até 200 hectares, dependendo do terreno - se for plano, em um dia. Henke destaca ainda a questão da precisão de aplicação com o uso de drones, sendo possível fazer a prevenção de doenças no local exato onde a planta está com problemas. "A pulverização é mais controlada do que o avião, conseguimos monitorar mais onde essa gota vai chegar, com menos deriva".
Apesar de todas as vantagens, os drones ainda não conquistaram os produtores gaúchos. "Está muito longe do seu ápice, ainda nos primeiros passos aqui no Rio Grande do Sul. Tecnicamente, estamos muito atrasados em relação aos outros estados. É uma ferramenta que eu acredito que, nos próximos anos, estará bem difundida por aqui".
Para o diretor, outro grande problema é a falta de capacitação dos técnicos, dos pilotos e dos gestores envolvidos. "O drone veio para ficar, desde que tenhamos pessoas preparadas para operar". Conforme levantamento da Base Agro, há mais de 500 drones agrícolas no Rio Grande do Sul, dos quais mais de 90% são operados por produtores. "Tem muita gente queimando a ferramenta, justamente por não ter uma preparação. Tem gente voando perto de cabos de alta tensão, próximo a árvores, voando muito alto. A grande desvantagem do drone é a mão de obra desqualificada".
Henke antecipa que a empresa está desenvolvendo uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para a criação de uma cartilha sobre o básico da operação com drones, pois tem muito produtor que está comprando e não sabe usar. "A operação do drone, apesar de ser simples, tem regras, processos e isso é fundamental porque se eu fizer uma aplicação errada eu posso comprometer a minha lavoura e a do vizinho. O drone é mais parecido com o avião do que com o trator", pontua.
Cowmed dá 'voz' às vacas leiteiras e ajuda produtores

Leonardo (E) e Thiago Martins fundaram a empresa a partir das necessidades apresentadas pela cadeia leiteira
Cowmed/Divulgação/JCImagine uma ferramenta que pudesse fazer as vacas leiteiras falarem. Sim, isso (ainda) é impossível, mas algo parecido já foi lançado e está no mercado desde 2010: uma coleira que transforma sinais fisiológicos em dados e alerta o produtor sobre o estado de saúde dos animais. A Cowmed surgiu a partir da observação da intensa dedicação que a atividade leiteira exige dos produtores.
"Notamos que eles precisam ficar 365 dias de olho nas vacas, fornecendo tudo o que elas precisam. E pensamos: como ajudar esse produtor a ser mais eficiente, a melhorar a vida dele e da vaca. E se tivéssemos um sistema que conseguisse dar "voz" para a grande protagonista da pecuária leiteira que é a vaca", afirma o CEO da Cowmed, Thiago Martins.
A partir daí, foi criado o colar que identifica os principais comportamentos da vaca: monitora se está ruminando e ativa, se está caminhando, descansando, se está ofegante, monitora o movimento respiratório, se está comendo, identifica se está gostando da comida, quantas refeições faz, se está apta a reproduzir, emitindo alertas de cio, se está em conforto térmico e quais horários é preciso fazer algum manejo para deixar o animal em situação de bem-estar.
Além disso, a ferramenta traz informações sobre a saúde dos animais, com alerta precoce de doenças. "Através dessas informações, é possível ajudar o produtor a melhorar o seu processo de produção, de reprodução e sanidade dos animais, melhorar a nutrição, o conforto e bem-estar das vacas, que é uma grande preocupação do produtor", avalia Martins.
Segundo ele, o nível de tecnificação e de produtividade do setor leiteiro gaúcho tem muito espaço para crescer, mas esbarra num cenário de uma atividade altamente complexa. "Fazer a vaca produzir leite é muito difícil, mas perder é muito fácil. E é uma atividade muito intensificada. Trata-se de ajudar na qualidade de vida do produtor também trazendo tecnologia, informação e conectividade", diz Martins.
O Cowmed funciona através de um modelo de assinatura e os produtores contratam conforme o tamanho da propriedade. O programa fornece suporte de consultores que atuam junto, na propriedade, no processo de gestão. "Envolve hardware, software e inteligência artificial, que batizamos de Vic. Ela consegue entender os diferentes comportamentos e, à medida que a vaca começa a se alterar, seja porque ela está ficando doente, porque ela está entrando em cio ou porque ela não está comendo, ela gera alertas, recomendações ao produtor de ações que ele tem que tomar com o animal para melhorar a sua eficiência produtiva, sanitária, nutricional ou de conforto e bem-estar".
O produtor recebe os dados no celular, em tempo real e, qualquer alteração, avisa o médico-veterinário. Em sete anos, a startup aumentou de 5 mil animais monitorados para 60 mil no Brasil e exterior. Para Martins, trata-se de uma segurança patrimonial para o produtor porque o sistema está olhando para as vacas dele 24 horas por dia.
Martins conta que, em alguns casos, houve produtores que conseguiram aumentar a produção diária da fazenda em um litro dia, o que gera uma receita a mais de R$ 300,00 por dia. Outros reduziram em 50% a taxa de descarte dos animais, pois foi alertado sobre o estado de saúde e tratou antecipadamente. "Além disso, permite reduzir o uso de antibióticos e outros medicamentos".
Farmcont usa inteligência artificial para ajudar na tomada de decisões das fazendas

Aviles criou uma plataforma de "agro contabilidade" para contadores
Farmcont/Divulgação/JCDecidir sobre qual período é melhor para fazer determinado investimento, ou qual a época ideal para pagar impostos mais reduzidos, ou ter ciência dos custos reais das operações a campo costumam ser tarefas difíceis no dia a dia das propriedades rurais. Ter um contador ajuda e muito, mas se esse contador vier assessorado por ferramentas de inteligência artificial, o resultado é ainda melhor.
Foi com essa premissa em mãos que o sócio e coordenador comercial da agtech Farmcont, Norberto Aviles, criou a startup, uma plataforma de agro contabilidade para contadores que atendem produtores rurais.
"Transformamos dados contábeis em inteligência financeira para produtores rurais. A inteligência artificial nos ajuda a transformar os dados contábeis em informação financeira para o produtor rural, através de relatórios de gestão financeira e dashboards em que o produtor pode acompanhar em tempo real por aplicativo e tomar as melhores decisões", explica.
A startup desenvolveu um software que é operado pelo contador no qual ele faz as escriturações dos clientes, registra automaticamente dados contábeis para fins de prestação de contas e obrigatoriedades contábeis de produtores rurais. Essa plataforma vem embarcada com um processo de inteligência que faz o gerenciamento financeiro a partir de dados contáveis do agro.
"No decorrer do tempo, desenvolvemos novas soluções e hoje a gente tem um hall de produtos para poder oferecer e agregar mais ao serviço do nosso cliente, que é o contador. Temos mais de mil escritórios parceiros no País", acrescenta Aviles.
A startup surgiu em 2019 na incubadora tecnológica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com o propósito de desenvolver soluções e trazer segurança e agilidade para contadores do agro. A operação se dá parte em Santa Maria, onde fica o time técnico de contabilidade e desenvolvimento de tecnologia e parte em Porto Alegre, onde funciona a área comercial e de expansão.
"Fizemos captação com alguns players e isso nos possibilitou expandir a nível Brasil: estamos em mais de 20 estados, cerca de mil clientes como contadores atingindo uma base de mais de 25 mil produtores rurais a nível Brasil". No Rio Grande do Sul, são 6,5 mil produtores rurais na base da empresa.
Os ambientes de inovação no ecossistema agrícola gaúcho

Agro agtechs
rawpixel.com/freepik/divulgação/jcHubs
Apassul - Passo Fundo/RS
Tecnopuc/Celeiro Agrohub - Porto Alegre/RS
CO.nectar - Porto Alegre/RS
Tijolo - Porto Alegre/RS
Incubadoras
Conectar Incubadora de Base Tecnológica - Pelotas/RS
IECBiot - Porto Alegre/RS
Innovatio - Rio Grande/RS
Itaca - Porto Alegre/RS
Tecnopuc/Celeiro Agrohub - Porto Alegre/RS
Aceleradoras
Ventiur - São Leopoldo/RS
Wow - Porto Alegre/RS
Parques tecnológicos
Feevale Techpark - Porto Alegre/RS
Parque Científico Tecnológico da Campanha - Bagé/RS
PPT - Pelotas/RS
Tecnopuc/Celeiro Agrohub - Porto Alegre/RS
Oceantec Parque Científico e Tecnológico - Rio Grande/RS
Parque Canoas de Inovação - Canoas/RS
Parque Científico e Tecnológico do Pampa - Alegrete/RS
Parque Científico e Tecnológico Regional - Santa Cruz do Sul/RS
Parque Científico e Tecnológico Tecnovates - Lajeado/RS
Parque Científico e Tecnológico UPF Planalto Médio - Passo Fundo/RS
Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação TecnoUCS - Caxias do Sul/RS
Parque de Inovação, Ciência e Tecnologia da UFSM - Santa Maria/RS
Parque Tecnológico de São Leopoldo - São Leopoldo/RS
Santa Maria Tecnoparque - Santa Maria/RS
Parque Tecnológico Ulbratech - Canoas/RS
Zenit - Parque Científico e Tecnológico da UFRGS - Porto Alegre/RS
Tecnosul Parque Científico e Tecnológico - Pelotas/RS
Parque Tecnológico do Prado - Gravataí/RS
*Ana Esteves é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atuou como repórter setorista de agronegócios no Jornal do Comércio, Correio do Povo e Revista A Granja. Hoje, atua como assessora de imprensa e repórter freelancer. Também é graduada em Medicina Veterinária pela UFRGS.