O skate entrou cedo na vida de Roger Gloschke. Quando criança, ele costumava praticar o esporte pelas ruas de seu bairro, com os amigos da vizinhança. Na adolescência, Roger, que hoje tem 31 anos, deixou o skate um pouco de lado. "Todo mundo só jogava futebol", conta. Quando resolveu retornar, alguns anos depois, decidiu que não pararia mais.
Em 2021, foi contratado por um frequentador do bar em que trabalhava para ensiná-lo a praticar o esporte. Hoje, Roger atua como professor particular de skate e como instrutor no projeto "Skatchê é Tri", que oferece aulas gratuitas do esporte para crianças de seis a 14 anos em Guaíba, priorizando os alunos de escolas municipais.
Encabeçada pela CMPC, a iniciativa já está em sua segunda edição. Neste ano, foram abertas 60 vagas, que seguem disponíveis para inscrição pelo site do projeto. A ação é financiada pela empresa de celulose, que busca viabilizar atividades sociais nos 70 municípios em que atua no Rio Grande do Sul. Por meio de canais de comunicação e de editais, a instituição recebe propostas e avalia as iniciativas de acordo com os seus sete eixos de geração de valor, focos escolhidos pela CMPC para orientar as ações sociais da empresa.
As temáticas dos projetos são variadas, uma vez que a organização busca "atender às demandas da comunidade", como explica Ana Pulito, gerente sustentável da CMPC. Segundo ela, o apoio ao esporte é um pilar da instituição, que financia projetos relacionados ao futebol, ao vôlei, ao judô e à canoagem. Esse foi o processo seguido pelo "Skatchê é Tri", que foi idealizado pela Associação Esportiva e Cultural Pró Esporte de Guaíba e hoje é possibilitado por meio do financiamento da empresa.
O projeto oferece quatro turmas, duas com aulas pela manhã, e outras duas à tarde, para que as crianças possam frequentar as atividades no contraturno escolar, assim se tornando também um recurso de apoio aos pais, que podem deixá-los na aula enquanto estão trabalhando. A iniciativa acontece duas vezes por semana no Skate Park de Guaíba, localizado na orla da cidade.
As aulas são direcionadas a meninos e meninas, ainda que a presença masculina seja percebida com mais força. Na primeira edição do projeto, cinco alunas se matricularam. Neste ano, o número se repetiu. Para Roger, esse é um retrato da falta de força do skate feminino em Guaíba, algo que já está mais desenvolvido em Porto Alegre, como observa ele.
Durante as aulas, os professores do projeto dividem as turmas, que possuem de 10 a 15 crianças cada, entre iniciantes e avançados, para potencializar o aprendizado dos alunos. Segundo Roger, que trabalha no projeto desde a sua primeira edição, todas as crianças demonstram muito interesse pelas aulas, deixando claro que se inscreveram por vontade própria, sem maiores intervenções dos pais. "Eles mesmos veem a divulgação nas redes e ouvem na escola os colegas falarem sobre o projeto", conta ele.
As propagandas do "Skatchê é Tri" nas redes sociais foram responsáveis por fazer Vanessa de Oliveira e seu filho Pedro Miguel entrarem em contato com o projeto. O menino, de apenas 7 anos, apresentava bastante curiosidade em relação ao esporte e já possuía o próprio skate, mesmo que ainda tímido para treinar as manobras.
Com as aulas, conta a psicóloga, ele adquiriu conhecimento e confiança no skate, que hoje faz parte dos seus planos futuros, já que ele afirma querer se tornar atleta profissional do esporte. Esse é um exemplo, segundo Ana Pulito, de como a convivência das crianças com os professores do projeto faz com que eles se tornem inspirações aos olhos dos pequenos, assim incentivando-os a seguirem seus objetivos.
Para Vanessa, a iniciativa também é responsável por desenvolver habilidades para além da prática esportivas, como a consciência sustentável, já que os alunos são ensinados sobre a importância de preservar áreas florestais, e a empatia, uma vez que o acolhimento e o respeito aos colegas são valores muito valiosos ao esporte. O skate, mesmo sendo uma modalidade individual, trabalha o grupo constantemente, como explica a gerente sustentável da CMPC. As aulas do projeto também promovem a socialização e a superação de desafios.
Pensando em futuro, o professor de skate afirma que sonha em levar projetos como o "Skatchê é Tri" para regiões de mais baixa renda, assim potencializando os impactos positivos da iniciativa em outras comunidades da cidade. Segundo Roger, morador do bairro Cohab, não existem iniciativas sociais associadas ao skate em locais mais afastados do centro, especialmente pela falta de pistas próximas para a prática do esporte.
Modalidade olímpica fez crescer interesse pelo esporte
Nos Jogos Olímpicos de 2020, o skate passou a fazer parte do conjunto de modalidades esportivas praticadas no evento. Na época, um dos assuntos mais comentados nas redes sociais foi a performance da skatista Rayssa Leal, brasileira que conquistou o segundo lugar no pódio em Tóquio aos 13 anos.
O desempenho de Pedro Barros e de Kelvin Hoefler também estimulou esse ganho de visibilidade, impulsionando o comércio relacionado ao esporte, setor que registrou significativa alta em vendas depois do evento esportivo. Nas Olimpíadas de 2024, o skate chegou como uma modalidade consolidada, sendo ainda cotado como um dos esportes que mais traria medalhas ao país.
Segundo Roger Gloschke, é nítido o impacto que os Jogos Olímpicos tiveram na popularidade do esporte. Para ele, as Olimpíadas auxiliaram a construir imagens de ídolos do skate, o que potencializa o interesse do público.
Ele conta que, em 2021, foi contratado por um homem de 53 anos que, sem nunca antes ter subido em um skate, desejava aprender a praticar o esporte por causa do que havia visto nos Jogos Olímpicos. Com o skate mais conhecido e procurado, os atletas da modalidade passaram a receber mais incentivos, podendo assim aprimorar o seu trabalho. Assim, Roger avalia que esse impacto positivo é um dos responsáveis pelo surgimento de projetos sociais, semelhantes aos já existentes que promovem o futebol, por exemplo.