Uma marca que surgiu no interior do Rio Grande do Sul em 1949 e hoje está presente em 5 mil pontos de venda no Brasil e no mundo. Essa é a Bibi Calçados, pioneira na fabricação de sapatos infantis e que chega à terceira geração sob o comando familiar. Andrea Kohlrausch, presidente executiva da marca desde 2019, acredita que o segredo para uma marca focada em um público tão jovem estar no mercado há tanto tempo é "agregar valor ao consumidor" com tecnologia e inovação.
Em entrevista ao Com a Palavra durante a Brazilian Footwear Show (BFShow), feira do setor calçadista realizada em São Paulo entre os dias 11 e 13 de novembro, a executiva falou dos propósitos da empresa e da necessidade de tirar as crianças de frente das telas (e como os sapatos podem contribuir para isso). "Recentemente, trouxemos de volta o Skate Tênis. Fizemos testes com laboratório biomecânico, pediatras e educadores físicos para garantir total segurança. Nosso objetivo é resgatar a infância", explicou.
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Ela também contou sobre os processos de modernização da empresa, os principais desafios do setor e a importância de investir em práticas sustentáveis em toda a cadeia do setor calçadista brasileiro, inclusive como diferencial competitivo. "Sustentabilidade não pode ser apenas discurso; precisa ser prática diária. Temos 12 compromissos prioritários e monitoramos muitos outros para manter o selo. Por exemplo, criamos linhas de produção que reutilizam resíduos de EVA de palmilhas para fabricar novos produtos, com o mesmo conforto, mas cores diferentes", disse.
Atualmente, a Bibi Calçados tem fábricas em Parobé (RS) e Cruz das Almas, na Bahia. Na soma, são 1.150 empregos diretos. A marca também foi pioneira na expansão do modelo de franchising e hoje, além de formar empreendedores com treinamento específico para a marca, acaba gerando mais 800 empregos indiretos. A Bibi, além de ter cadeia produtiva 100% nacional, exporta para quatro países e pretende continuar expandindo. "Temos mais duas lojas para abrir ano que vem em países de fora", contou. E acrescentou: "No próximo ano, também iremos continuar com o processo de modernização. O processo ainda envolve corte e costura artesanal, mas estamos avançando na manufatura 4.0. Nos últimos cinco anos, revisamos o layout das duas fábricas para otimizar os processos e investimos em injetoras. Em janeiro, teremos novas máquinas."
Empresas & Negócios - Vocês estão há 75 anos fabricando calçados infantis. Como começou essa história?
Andrea Kohlrausch - Sim, fomos pioneiros na fabricação de sapatos infantis, desde 1949. Somos especialistas em pés de criança. Estamos na terceira geração da família: meu avô fundou a empresa, meu pai é presidente do conselho, e eu estou há cinco anos na presidência executiva. Desde então, nos tornamos a maior rede de franquias de calçados infantis da América. Contamos com 150 lojas no Brasil e 22 em quatro países do exterior, além da exportação, na qual vendemos para mais de 5 mil marcas.
E&N - O seu pai, fundador da empresa, era do ramo calçadista?
Andrea - Não, ele apenas tinha muita vontade de empreender. Na época, o setor já estava se desenvolvendo, mas, na produção infantil, somos pioneiros.
E&N - E por que o nome Bibi?
Andrea - É uma referência à Bibi Ferreira, apresentadora e atriz. Meu avô era um grande fã de cinema e chegou a tentar empreender no setor cinematográfico na cidade onde morava. Ele gostava muito de arte.
E&N - Qual é o segredo para uma marca com um público tão jovem estar há tanto tempo em atividade?
Andrea - Agregar valor ao consumidor. Sempre inovamos, mas sem perder os valores da empresa. Por exemplo, o conforto dos nossos calçados não é o mesmo de quando surgimos, mas sempre foi uma prioridade. Hoje, um calçado duro e rígido é inaceitável. Nos últimos anos, além de investir em modelos casuais e coloridos, apostamos em tecnologias de conforto. A linha Fisioflex foi lançada em 2008, e, há dois anos, criamos uma tecnologia que permite à criança sentir como se estivesse descalça. Também utilizamos o EVA (material emborrachado), presente em calçados de alta performance, em todos os nossos produtos. Somos a única empresa que fabrica EVA especificamente para sapatos infantis.
E&N - Quantos empregos vocês geram atualmente?
Andrea - Empregamos diretamente 1.150 pessoas. Nas redes de lojas franqueadas, geramos cerca de 800 empregos, espalhados de Pelotas a Manaus. Temos duas fábricas: uma em Parobé (RS) e outra em Cruz das Almas (BA). Nossa indústria é 100% nacional e verticalizada; fazemos tudo internamente.
E&N - O processo de fabricação de sapatos tem se tornado mais automatizado?
Andrea - O processo ainda envolve corte e costura artesanal, mas estamos avançando na manufatura 4.0. Nos últimos cinco anos, revisamos o layout das duas fábricas para otimizar os processos e investimos em injetoras. Em janeiro, teremos novas máquinas. Também adotamos máquinas de costura programada, que ainda exigem operadores.
E&N - A mão de obra é um desafio?
Andrea - Sim. Enfrentamos o desafio de transformar o setor, pois os jovens podem não querer trabalhar com costura no futuro, especialmente em regiões onde há muitas empresas e a disputa por mão de obra é acirrada.
E&N - Quem pensa os produtos da Bibi? Quais são os diferenciais?
Andrea - Contamos com uma equipe própria de desenvolvimento de produtos. Tudo que fazemos é atóxico, e trabalhamos com fornecedores para garantir essa qualidade. Muitos calçados no mercado contêm substâncias como chumbo, o que pode causar alergias. O Brasil não possui legislação sobre isso, mas nos preocupamos em oferecer segurança. Além disso, não incluímos salto nas nossas coleções femininas. Somos especialistas em pés de criança e focamos no crescimento feliz e natural aliado à moda.
E&N - Esse é um tema interessante... As crianças estão tendo menos tempo para serem crianças. Vemos uma tendência de 'adultização' precoce. Concorda?
Andrea - Sim. Recentemente, trouxemos de volta o Skate Tênis, que fez muito sucesso no início dos anos 2000. Para essa nova versão, fizemos testes com laboratório biomecânico, pediatras e educadores físicos para garantir total segurança. Nosso objetivo é resgatar a infância. Notamos que as crianças estão mais ansiosas, vivendo um estilo de vida mais adulto. A infância ideal envolve movimento e diversão, não estresse. Com nossos produtos, queremos incentivar as crianças a deixarem as telas e aproveitarem mais os parques e as brincadeiras.
E&N - Vocês têm o selo Diamante de origem sustentável. Como tratam o tema sustentabilidade na indústria?
Andrea - Sustentabilidade não pode ser apenas discurso; precisa ser prática diária. Temos 12 compromissos prioritários e monitoramos muitos outros para manter o selo. Por exemplo, criamos linhas de produção que reutilizam resíduos de EVA de palmilhas para fabricar novos produtos, com o mesmo conforto, mas cores diferentes porque o material fica misturado. Também promovemos encontros com fornecedores para engajá-los na cadeia sustentável. A sustentabilidade pode se tornar um diferencial competitivo do Brasil, já que outros países não têm essa preocupação. Estivemos na China recentemente e vimos que isso não é uma preocupação.
E&N - Por fim, qual é o maior desafio da marca?
Andrea - Nosso maior desafio é antecipar o comportamento do consumidor e trazer inovações que atendam às novas demandas. Agora estamos fortalecendo as colaborações. Por exemplo, estamos fazendo produtos em parceria com a Disney.