Da Ilha de Comandatuba, Bahia
Empreendedores brasileiros e especialistas de diversas áreas estiveram reunidos entre os dias 23 e 26 de outubro na 22º ABF Con, evento promovido pela Associação Brasileira do Franchising (ABF) na Ilha de Comandatuba, na Bahia. Com o tema "Viver e pensar o franchising", a convenção debateu assuntos relevantes para as franqueadoras e franqueados. Nesta edição, 600 participantes acompanharam os painéis e outras atividades, sendo 230 deles novos congressistas.
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O primeiro painel tratou sobre as Fusões e Aquisições no Franchising: Estratégias de Crescimento, com a participação do presidente da ABF, Tom Moreira Leite (Grupo Trigo), Gabriel Guimarães (Zamp - Burger King/ Popeyes) e Diego Barreto (iFood).
A mediadora Natália Cid (BR Mania) salientou que o processo de fusão e aquisição de franquias é uma decisão complexa, envolta em vários dilemas e que precisa ter todos os aspectos avaliados. "A primeira dica é que não se deve olhar apenas os números, mas também as pessoas, o objetivo e propósito da fusão", afirmou.
Tom contou que, nas fusões realizadas pela rede, foi preciso entender quem eram os executivos das empresas adquiridas que se identificavam com o Grupo Trigo (responsável pelas marcas Spoleto, China in Box e Gendai, entre outros). "É preciso construir confiança com os franqueados, isso se faz escutando muito", aconselhou.
Barreto destacou que a sinergia está na parte final do processo com um conhecimento profundo dos empreendedores e da cultura corporativa. Guimarães afirmou que não há uma fórmula única e que, para serem escalonáveis, em algum momento é preciso existir sinergia ou transferência de conhecimento nos negócios.
O painel "Cultura e Marca em Sintonia: A Fórmula para um Posicionamento Poderoso" teve as presenças de Artur Grynbaum (Grupo Boticário), José Luís Fernandes (Hope), com moderação da presidente do Conselho da ABF, Cristina Franco. Grynbaum destacou que, para se garantir uma cultura forte, é necessário ter uma boa relação com o franqueado. "Forjar é muito difícil. É preciso ter paixão e brilho nos olhos. Quando conseguimos dar corpo para todo o time com atitudes consistentes, paixão, estamos construindo uma marca forte com cultura que é fundamental para gerar valores", disse.
"As marcas são beneficiadas quando sua cultura está definida e alinhada com seu propósito, à missão e à forma de agir, tanto interna quanto externamente. A cultura de marca é a materialização do 'jeito de ser' das organizações", complementou Cristina.
A presença feminina dominou no debate intitulado "Construindo marcas fortes - estratégias de branding", mediado por Mariana Iwakura (editora-chefe da revista Pequenas Empresas Grandes Negócios) e com as presenças de Camila Kohlrausch (Calçados Bibi), Adriana Auriemo (Nuty Bavarian), vice-presidente da ABF, e Fernanda Raizama (Solar Coca-Cola).
Camila lembrou que a Calçados Bibi está presente no mercado há 75 anos e a palavra-chave da rede de franquias "é o cuidado". "Temos uma cultura muito forte do cuidado com as crianças, nossos verdadeiros clientes. Atuamos diretamente na construção da infância e de suas boas memórias, e procuramos a todo tempo nos colocarmos no lugar delas", afirmou a diretora de Marca e Varejo da empresa gaúcha.
Adriana abordou os elementos que podem criar uma conexão emocional com os clientes. "O aroma das castanhas glaceadas da Nutty Bavarian é uma das nossas marcas registradas e a principal maneira pela qual nos conectamos com nossos clientes. Para fortalecer esta conexão, procuramos estar em pontos estratégicos, como estações de metrô, shoppings e aeroportos."
Outros temas debatidos durante a Convenção foram a reforma tributária, Inteligência Artificial (IA), multifranquias, marketing e outros. Duas especialistas internacionais trouxeram suas experiências para os participantes. A chinesa Wei Wei (da Winged Mind International Limited) falou sobre a evolução dos ecossistemas na nova era do varejo e a britânica Kate Ancketill (da GDR Creative Intelligence) abordou as novas soluções em IA e as diversas aplicações.
Sistema de franquias foi fundamental para sobrevivência de empresas após enchente no RS
André Belz, diretor da Associação Brasileira de Franchising (ABF) Região Sul
Keiny Andrade/Divulgação/JCA força do sistema do franchising foi essencial para que as franquias localizadas no Rio Grande do Sul seguissem operando após a enchente de maio de 2024. Algumas empresas ficaram completamente inundadas, com perda total de estoques e equipamentos. Em outras, a operação foi inviabilizada durante dias devido a problemas no fornecimento de energia e água ou ainda pela falta de insumos.
"Os impactos da enchente no Rio Grande do Sul foram grandes. Na época que aconteceu, foi muito duro tudo o que houve, mas a força do sistema fez com que esses impactos fossem bem minimizados em termos de consequências. A mobilização foi muito forte, não só dos franqueadores locais, o gaúcho por si só é muito resiliente. Houve um 'abraço', digamos assim, de todo o sistema de franquias do Brasil, com o Rio Grande do Sul ", afirma o diretor regional da Associação Brasileira do Franchising (ABF) Região Sul, André Belz.
O empresário, que é fundador da escola de idiomas Rockfeller Language Center, conta que o engajamento para ajudar os atingidos pelas enchentes teve diversas frentes. Franqueadores com logística própria cederam caminhões para distribuir e entregar as arrecadações de donativos, não só para os seus franqueados mas para a sociedade de uma forma geral. Outros emprestaram ou doaram equipamentos para que as franqueadas mantivessem o funcionamento. A rede Rockfeller, que tem unidades por todo o País, incluindo o Rio Grande do Sul, serviu de ponto de coleta de doações.
A tragédia climática refletiu no faturamento das franquias localizadas no Estado. Nenhuma cidade gaúcha configurou na lista que analisa o faturamento do mercado em 30 municípios no Brasil, divulgada durante a 22ª Convenção ABF do Franchising.
Apesar do impacto da enchente, os sinais de recuperação já são percebidos. "O setor se recupera rápido, a gente vê os números do franchising e sempre cresce mais quando tem uma retomada. São várias franqueadoras e muitas, milhares de unidades franqueadas de redes que não têm sede no Rio Grande do Sul e hoje, conversando, a maioria dos empresários fala que está trabalhando normalmente", salienta Belz.
Ao final do primeiro semestre, o número de unidades de franquias abertas no Estado era de 10.750, contra 10.626 no mesmo período do ano passado. Os empregos gerados chegaram a 90.748, acima dos 87.866 dos seis primeiros meses de 2023. Serviços e outros negócios é a principal fonte das vagas criadas, com 24,7%, seguido por Saúde, Beleza e Bem Estar, com 15,7% dos postos de trabalho, e Alimentação Food Service, com 14,1%.
Belz avalia que a enchente histórica deve servir de lição para medidas preventivas por parte de governantes e empresários em situações semelhantes no futuro. Ele cita o caso de Santa Catarina, seu estado natal, que por décadas sofreu com desastres naturais. "A gente vê que os franqueados são mais cuidadosos. Quando estão perto de um rio, toda a parte de baixo da instalação é feita para caso molhar não ter problema, o piso é impermeável, já tem as métricas. Preventivamente foi uma lição para todos", salienta.