A discussão sobre parentalidade dentro do ambiente corporativo está cada vez mais ganhando força, muito por conta do trabalho da consultoria Maternidade nas Empresas. Por meio de projetos realizados no dia a dia das organizações, a iniciativa gaúcha procura promover a inclusão das figuras parentais no espaço de trabalho e também a ascensão da mulher a posições de liderança.
O projeto da consultoria já foi desenvolvido em parceria com empresas como Suzano, Mondelez, Comgás e Vivo. No caso da operadora de telefonia, foi criado um programa chamado Mais Família, cujo objetivo é apoiar mães e pais que trabalham na companhia. Neste sentido, a cada dois meses, são organizadas rodas de conversa sobre como equilibrar demandas pessoais e profissionais e como criar e nutrir uma rede de apoio. Além disso, a consultoria disponibiliza cartilhas e guias de acolhimento para quando uma pessoa descobre que terá um filho.
A Maternidade nas Empresas também promove o letramento de lideranças, atividade que consiste em ensinar aos colaboradores dos mais altos cargos de uma empresa sobre a importância de compreender o processo de acolhimento de mães e pais. A mentoria exclusiva para líderes visa conscientizar sobre o tema da equidade de gênero dentro das empresas, a fim de instigar a presença de mulheres no topo das organizações. Para estimular a escalada profissional das mulheres, a consultoria também auxilia na criação de políticas organizacionais.
Ainda sobre a questão da equidade de gênero, a Maternidade nas Empresas participa de um movimento chamado CoPai (Coalizão Licença Paternidade), que busca equalizar os dias de licença para homens e mulheres. "O objetivo da equalização das licenças é fazer com que tanto homens quanto mulheres assumam o seu papel na criação dos filhos", explica uma das fundadoras da consultoria, Luciana Cattony.
Na parceria feita com a empresa Suzano, onde foi implementado o projeto Mãe Amiga, a mulher que está voltando da licença é recebida por outra funcionária que já passou pela mesma situação. Através desta iniciativa, a mulher que recém virou mãe poderá se sentir mais confiante na volta ao trabalho.
"O retorno da licença maternidade é um dos momentos mais estressantes para a mulher no trabalho. É uma nova fase de vida, com recomeços, e por isso traz muitas emoções negativas. A falta de acolhimento das empresas de certa forma expulsa as mulheres do mercado", explica Luciana. Segundo ela, os benefícios das novas medidas e lógicas organizacionais ultrapassam os limites dos escritórios, refletindo em todas as esferas da sociedade.
Outra iniciativa criada pela Maternidade nas Empresas é o Pacto pela Parentalidade, que envolve os colaboradores de uma determinada organização que desejam valorizar a parentalidade naquele ambiente de trabalho. Cada grupo de funcionários dentro de uma empresa possui uma lista de ações que podem ser feitas para a promoção de um espaço mais acolhedor.
"Se uma mulher está próxima de voltar da licença maternidade, nós recomendamos para as lideranças da empresa que marquem o retorno para uma quinta-feira. Assim, a mulher terá a quinta e a sexta-feira para testar a sua rede de apoio e se adaptar novamente à rotina. Depois, na segunda-feira seguinte, ela começará com mais tranquilidade", explica Luciana.
Através do Pacto pela Parentalidade, a consultoria oferece monitoramento contínuo sobre como as organizações estão acolhendo as figuras parentais, promovendo o engajamento dos colaboradores e a implementação de práticas inclusivas.
Criação da iniciativa foi motivada por experiências pessoais
A origem da Maternidade nas Empresas está diretamente conectada com as histórias de vida de suas fundadoras, Luciana Cattony e Susana Zaman. "Nós costumamos dizer que esse projeto vem de uma dor nossa em relação ao tema da maternidade no mercado de trabalho", conta Luciana.
As duas fundadoras trabalharam em grandes empresas antes de se juntarem para criar a consultoria.
Luciana fez parte da fornecedora de aço Gerdau e depois da agência W3haus, quando descobriu que estava grávida. Após voltar da licença maternidade, ela foi surpreendida pela notícia da morte de sua prima de um ano de idade.
"Foi um momento muito ruim para a minha família, e então eu decidi que não poderia mais ficar do jeito que eu estava, que eu precisava parar um pouco. Eu deixava o meu filho na creche o dia inteiro e trabalhava numa rotina puxada de agência. O meu filho precisava de atenção", conta.
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Em seguida do falecimento de sua prima, Luciana pediu demissão. "Eu achei que estava fazendo isso pelo meu filho Henrique, mas eu percebi que era por mim mesma, porque eu precisava me sentir mãe", explica.
Depois disso, enquanto seu filho passou a ir para a creche somente meio turno, Luciana começou a desenvolver seus próprios projetos como "freelancer". Foi assim que, em 2012, ela criou em uma rede social um projeto que se chamava Real Maternidade.
"Em função desse projeto, que alcançou 200 mil seguidores na plataforma, eu recebi o contato de uma pesquisadora de Los Angeles (EUA) que estava investigando a relação entre carreira e maternidade. Ela conversou com mulheres ao redor do mundo todo e o resultado dessa pesquisa foi de que o cuidado com outra pessoa desenvolve habilidades que podem ser levadas também para o trabalho", explica Luciana.
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Naquele momento, as fundadoras da Maternidade nas Empresas já se conheciam. Susana também era empreendedora no ramo materno. Ela era, assim como Luciana, inquieta em relação à forma como o mercado de trabalho enxergava a maternidade.
As duas, então, decidiram começar a trabalhar com este assunto, fazendo palestras a partir dos desdobramentos do material produzido pela pesquisadora de Los Angeles.
Susana foi para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) trabalhar com a questão da equidade de gênero, enquanto Luciana fez seu mestrado em Design Estratégico na Unisinos para investigar a parentalidade nos espaços corporativos. A partir de suas experiências pessoais e profissionais no meio acadêmico, Susana e Luciana fundaram, em 2017, a consultoria Maternidade nas Empresas.