Uma ilha de plástico é o único lugar habitável num planeta tomado pela água. Nela, dois humanos e um robô conversam sobre as mudanças climáticas e a urgência de ações para modificar hábitos antes que seja tarde demais. Essa é a temática da peça de teatro Reciclamundo, que já percorreu diversas cidades do Rio Grande do Sul. "A peça é essencial em tempos como agora, porque ela promove a conscientização ambiental de forma lúdica, educativa e incentiva a reflexão e a ação para um futuro mais sustentável", afirma Márcia Maria Mergen Bugs, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Jacob Rech Segundo, localizada no município de Arroio do Tigre, por onde o projeto passou no mês de julho.
Idealizado pela produtora cultural Daiane Marin e executado pela Companhia de Teatro Armazém, o espetáculo tem como foco a conscientização de estudantes do ensino básico sobre os impactos do plástico no meio ambiente. Em nova temporada, a Reciclamundo se apresenta em 18 municípios da Região Sul.
"Esse ano priorizamos o Rio Grande do Sul devido aos fatos climáticos que aconteceram. Mas o projeto já percorreu toda a Região Sul", afirma Daiane Marin, que também é CEO da d.marin, uma produtora cultural signatária do Movimento Nacional ODS Rio Grande do Sul, que busca contribuir com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados pelos países-membros da ONU.
A proposta da Reciclamundo surgiu em resposta à crescente preocupação global com o impacto ambiental do plástico. Em setembro de 2024, um estudo conjunto da Sea Shepard Brasil e do Instituto Oceanográfico da USP mostrou que 100% das praias do litoral brasileiro apresentam resíduos plásticos, e 97% contêm microplásticos. Este levantamento analisou 306 praias, onde encontrou seis mil fragmentos de microplástico e 72 mil macrorresíduos.
A partir desse ponto de partida, o projeto resolveu utilizar a arte como ferramenta para levar a educação ambiental às novas gerações. "O plástico era a temática que nós gostaríamos de trabalhar por toda a questão do consumo consciente, sustentabilidade e meio ambiente", divide Daiane Aguirres, analista de Comunicação e Responsabilidade Social da Alliance One Brasil, uma das empresas apoiadoras da peça.
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Para a proprietária da d.marin, a escolha do jovem como foco central é estratégica. "O público que a gente trabalha são das escolas municipais e estaduais, maioria escolas públicas, com idades a partir dos 12 anos. Eles ainda estão entendendo como as coisas funcionam. Presenciaram eventos climáticos e vão presenciar cada vez mais, por isso é importante conscientizar sobre o meio ambiente, a sustentabilidade e a reciclagem de materiais", afirma a produtora. O projeto é financiado pela Lei Rouanet e conta com o apoio da Alliance One Brasil e da China Brasil Tabacos. O texto e a interpretação da peça são da Companhia de Teatro Armazém, Cultura e Entretenimento.
Iniciativa já impactou cerca de 14 mil jovens nos três estados do Sul
Desde seu início em 2022, a Reciclamundo passou por 44 municípios da Região Sul, impactando diretamente cerca de 14 mil jovens. Cada apresentação é uma oportunidade de promover o debate sobre sustentabilidade, utilizando o teatro como meio de comunicação. "A gente faz uma comédia da tragédia, até porque a gente está dentro de uma escola e tem que conquistar os alunos. Não pode chegar despejando informações", ressalta Patrícia Garcia, atriz e uma das sócias da Cia Armazém.
Segundo a equipe, a peça se estende para além dos palcos, porque após cada apresentação, os jovens são incentivados a participar de atividades que estimulam o uso consciente da política e questões ambientais. O objetivo é que essa conscientização se torne cotidiana, para haver mudanças reais de comportamento tanto na escola quanto em casa. "É uma maneira simples de mostrar aos alunos a conscientização, através do teatro, através da cultura. Depois de assistir, os alunos demonstram entusiasmo e curiosidade sobre as questões abordadas", afirma Márcia, diretora de uma das escolas que recebeu o espetáculo.
O cenário pós-apocalíptico de ilhas de plástico no oceano é uma metáfora sobre a crise atual de poluição. Embora o enredo seja fictício, o problema retratado tem um fundo de realidade. "A gente não queria um cenário que fosse esteticamente bonito, mas sim que fosse impactante. Então tem muita coisa de ferro, por exemplo, além de escada, conduítes, cones, garrafas pet e outras referências de uma obra que não acabou", explica a atriz da Cia Armazém.
Para as idealizadoras, o engajamento das escolas e das comunidades é essencial para o sucesso da Reciclamundo. Daiane Marin, CEO da d.marin, explica que elas costumam priorizar escolas de cidades pequenas e do Interior. "Ligamos para a secretaria municipal ou estadual de cultura, falamos a temática da peça e, se há o interesse, realizamos na escola mesmo ou eles cedem um espaço, um ginásio e levam os adolescentes ao local para verem a apresentação."
Patrícia, além de fundadora da Cia Armazém, faz parte do elenco da peça e relata que uma vez eles se apresentaram numa escola rural, no interior da cidade de Segredo, para um público de 200 pessoas. Antes de iniciar o espetáculo, eles perguntaram à plateia se alguém já havia assistido à peça de teatro e a quantidade de mãos levantadas foi mínima. "Quando a gente se depara com essa realidade, vemos o quanto a cultura e o acesso a essas oportunidades são remotos", afirma.
A turnê do Reciclamundo em 2024 saiu em fevereiro e passou por municípios de todos os estados da Região Sul, com apresentações gratuitas nas escolas públicas. As próximas datas serão em Santa Catarina. Dia 18 de novembro em Irineópolis, 19 em Ituporanga e 21 em Orleans, as últimas do deste ano. Mas as organizadoras já confirmaram retomar o trabalho no ano que vem. "No momento o projeto está aberto para captação de recursos. O número de apresentações dependerá dessa captação", finaliza Marin.
Para acompanhar a Reciclamundo acesse o perfil @dmarinplanejamentocultural nas redes sociais.