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Publicada em 20 de Outubro de 2024 às 15:44

Muito além do turismo, litoral gaúcho alimenta o Estado

Grande parte da produção é comercializada na Ceasa, em Porto Alegre

Grande parte da produção é comercializada na Ceasa, em Porto Alegre

EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Loraine Luz, especial para o JC*
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Destino de milhares de veranistas nos meses mais quentes do ano, o Litoral também é origem, o ano inteiro, de dezenas de produtos que fazem parte das refeições diárias dos gaúchos. Do arroz e feijão às frutas, passando pela saladinha bem colorida e frutas bem típicas da região, como o abacaxi, muito se deve aos municípios que ocupam de Norte a Sul a faixa bem ao Leste do Estado. A reportagem especial desta semana traça um panorama da produção agrícola de 23 municípios, alguns deles essencialmente rurais, as principais culturas, tanto para a região em si quanto para o Rio Grande do Sul como um todo, e o desempenho nos cultivos de lavouras, hortas e pomares.
 

Culturas como a orizícola estão presentes em terras cultiváveis de municípios à beira-mar e vão parar na mesa dos consumidores gaúchos

Culturas como a orizícola estão presentes em terras cultiváveis de municípios à beira-mar e vão parar na mesa dos consumidores gaúchos

Sindiveg/Divulga??o/JC
Com a supremacia do arroz e, depois, banana e soja numa disputa mais próxima, a agricultura do Litoral gaúcho soma mais de R$ 1,8 bilhão em valor de produção, segundo os dados de 2023 da Produção Agrícola Municipal (PAM) do IBGE. Porém, o potencial de norte a sul da faixa bem ao leste do Estado (foram considerados nesta reportagem 23 municípios) vai muito além disso, sendo solo fértil para quilos e quilos de hortaliças e frutas que abastecem os mercados locais, da Capital e da Região Metropolitana.
Tomando por base a oferta na Ceasa-RS procedente do Litoral, lá estão milhares de unidades de brócolis, couve, couve-flor, batata-doce, beterraba repolho (verde e roxo), berinjela, chuchu, cenoura, aipim, moranga, rabanete, alface, acelga, alho-poró, tomate, pimentão, manjericão, cheiro verde, laranja, limão, pitaia e tangerina. Pelo menos 11 municípios destinam seus cultivos para a central de abastecimento gaúcha, com destaque para Maquiné, Morrinhos do Sul e Dom Pedro de Alcântara. O volume mensal médio de produtos litorâneos comercializados chega a 4.910.267 kg - em torno de 12% do volume total em setembro, por exemplo.
"A Região Metropolitana é o destino da maior parte da produção. Mas também as redes de abastecimento. Para muitos fornecedores do Litoral, McDonalds e Subway, por exemplo, são consumidores diretos. Não é incomum, em Maquiné, ver direto transitar caminhões dessas redes", informa Luis Bohn, gerente técnico estadual adjunto da Emater/RS-Ascar.
De modo geral, a forte cultura hortifrutigranjeira do Litoral, principalmente do Médio e do Norte, pode ser desconhecida. Os diferenciais começam nas condições climáticas. Embora o vento seja um inconveniente, não há geadas. Por conta da pluviometria e da temperatura estável (pouca amplitude entre as médias de mínima e máxima), se usa menos irrigação do que em outras regiões do Estado. O solo das encostas, como no norte do Litoral, são considerados muito férteis. Ali, lembra Bohn, estão bem estabelecidos sistemas socioambientais muito importantes, em especial relacionados a bananas. Sociais porque sustentam milhares de famílias e ambientais porque protegem o solo em casos de enxurradas, por exemplo.
"O Litoral é muito lembrado pelas praias, pelo turismo, mas tem uma agropecuária forte. E, ao contrário do que muita gente imagina, há produtores muito bem tecnificados. Tem produtor de banana e de abacaxi usando drone para pulverização de lavoura", afirma Wolnei Fenner, técnico da Emater.
Conforme dados do IBGE, o valor da produção de frutas e hortaliças, incluindo batatas e raízes, nos municípios analisados nesta reportagem, chegou a mais de R$ 585 milhões no ano passado. "O ano de 2023 foi de estiagem bem severa, que afeta o valor de produção dos produtos, com certeza", destaca Fernanda de Mello, tecnologista em Informações Geográficas e Estatísticas do IBGE (seção de Pesquisas Agropecuárias no Rio Grande do Sul). Para 2024, o impacto se deve às chuvas. A safra de cebola, por exemplo, com colheita neste mês de outubro, deve mostrar perdas por causa das precipitações de setembro. O principal produtor - São José do Norte - não faz parte do recorte Litoral, mas para outros dois municípios litorâneos - Mostardas e Tavares, mais ao sul -, a cebola é importante.
O Litoral Médio e Norte têm, em tese, maior potencial para dinamizar suas atividades primárias por causa da proximidade com o mercado da Região Metropolitana. "Pode se destacar como produtor de alimentos saudáveis para a população, sendo cultivados pela agricultura familiar e em pequenas áreas, quando comparado à produção extensiva de agro commodities", analisa a agrônoma Daniela Oliveira, professora no Campus UFRGS Litoral Norte e integrante do GEPAD (Grupo de Pesquisa em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural).
Ela também destaca o pioneirismo local com a produção orgânica. A OPAC Litoral Norte e a Rede Ecovida de Agroecologia fazem a certificação na região. Os produtos sem agrotóxicos podem ser encontrados em feiras da Capital. "Na atual conjuntura, onde são discutidas mudanças climáticas, menor uso de água, energia e outros recursos, é fundamental o crescimento da produção orgânica e agroecológica", defende a professora.
Para Bohn, uma melhor organização dos agricultores é condicionante para ampliar as potencialidades do Litoral. A Coomafitt (Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas) é um exemplo. Criada em 2006, chegou a 300 associados em 2023, ano em que o faturamento cresceu em 30% (o maior desde 2015). Em 2021, a então presidente Micheli Bresolin entrou na lista Forbes das 100 Mulheres Poderosas do Agro (era a única gaúcha).
Também no sentido de melhorar resultados, tem peso o trabalho de extensão rural. "Nós, da Emater, estamos sempre puxando para que o produtor produza mais, seja qual for o perfil dele", comenta Fenner. "Claro que se consegue mais quando o produtor já é minimamente tecnificado do que aquele que tem menos tecnologia e não quer crescer, está satisfeito com a vida que leva. A gente respeita a decisão dele. Não quer dizer que o Litoral esteja pior que outras regiões do Estado", conclui.

Arroz perdeu mais de 30% de área em cinco anos

Martins é um dos produtores que aposta na rotação de arroz e soja

Martins é um dos produtores que aposta na rotação de arroz e soja

Mathias Martins/Arquivo Pessoal/JC
O arroz e a soja estabeleceram um casamento no Litoral. A maior parte dos produtores do cereal também planta a leguminosa, estabelecendo uma rotação das culturas. Exatamente o que faz o produtor José Mathias Bins Martins, na Fazenda Cavalhada, em Mostardas. Para o plantio da safra 2024/25, são 1,5 mil hectares para o arroz e 1 mil hectares para a soja. No ano seguinte, a área de soja receberá o cereal; e, onde tinha o arroz, 1 mil hectares receberão o plantio da soja e 500 hectares ficarão destinados à pastagem. "A dobradinha funciona", afirma ele.
A fazenda produz 10 mil kg/ha de arroz, acima da média da região, a chamada "planície costeira externa", que tem média 7,7 mil kg/ha, segundo o Irga. A propriedade tem um perfil fora da curva. O produtor médio da região lida com em torno de 100 hectares. "Se conta nos dedos quem planta mais de 500 hectares", comenta Vagner Martini dos Santos, coordenador Regional da Planície Costeira Externa do Irga.
Já a soja da Fazenda Cavalhada rende em média 56 sacos por hectare, produtividade que se manteve estável mesmo após intempéries. E tem papel importante no bom rendimento do arroz, que chega ao consumidor por meio da Cooperativa Arrozeira Palmares - da qual Martins é presidente. O arroz Palmares é o primeiro no país a ter selo de Denominação de Origem, o que valoriza exatamente a região onde é produzido por lhe conferir propriedades únicas.
A rotação de culturas, a rigor, é antes de mais nada uma estratégia para melhorar os resultados na rizicultura. Foi assim que o plantio de soja teve início no Litoral. As áreas enfrentavam muitas perdas com o arroz vermelho, uma planta daninha de difícil controle.
"Muito da soja plantada no litoral é para fazer a limpeza das gramíneas e dos inços invasores que tem nessas áreas", explica Ireneu Orth, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS). "Há poucos anos a soja era insignificante na região", comenta. Em 2006, não havia um único hectare. Em 2017, já eram 23 mil hectares e, em 2023, conforme o IBGE, o recorte dos municípios analisados nesta reportagem soma 48.031 hectares de área colhida.
Enquanto isso, até pelo menos a safra 2018/19, a área do arroz atingia um pico de 142 mil hectares. Desde então, passou a diminuir, segundo o coordenador regional do Irga. "A redução de área de arroz chegou a mais de 30%. Hoje, se planta em torno de 100 mil hectares nas últimas duas ou três safras", afirma Santos. Segundo ele, entre os motivos da redução, estão as perdas com o arroz vermelho, inviabilizando áreas, e a consequente entrada forte da soja. Uma parte que era exclusivamente arroz foi para a rotação de culturas. "Em torno de 70% dos produtores já iniciaram com a cultura da soja. Os demais continuam somente no arroz", explica. "Quanto aos que plantam apenas soja, são bem poucos", conclui.
Para um retorno aos patamares de 130 mil hectares ou 140 mil hectares, Santos acredita que o produtor teria de estar muito focado em sistemas de produção de ano inteiro. Ou seja, além das culturas de verão, como arroz e a soja, incluir plantas de cobertura invernal, pastagens, aliando a produção pecuária. A baixa significativa no uso de defensivos químicos na lavoura seria apenas uma das vantagens. "Alguns produtores da região já fazem e são diferenciados. Teríamos de caminhar para isso. Estamos caminhando, mas a passos um tanto lentos na região", afirma.
Paralelamente, ao longo de cerca de uma década, a soja bem adaptada à região registrou bons patamares de produtividade e ganhou mais relevância, para além do fator limpeza de gramíneas e inços invasores. É uma alternativa de renda, uma oportunidade de mercado. Nesse casamento com o arroz, os preços ajudam a determinar o que se plantará mais.
"A lavoura de soja é muito instável na região", diz o presidente da Aprosoja. Segundo o dirigente, o Litoral Norte tem melhores condições para o cultivo. No Sul, a terra é mais baixa e fica mais molhada, o que é ruim para a leguminosa. "Optar pela soja depende de vários fatores na região. A cada ano muda. Agora, em razão do preço baixo comparado ao do arroz, muitos poderão optar pelo plantio do ceral", comenta.
Ele lembra que, até o ano passado, a soja estava mais convidativa, mas, no momento, descarta isso. "Além disso, tivemos muitas chuvas no sul. Áreas que poderiam receber soja não vão receber em função da umidade, a não ser que a chuva reduza substancialmente a partir de agora", completa. "E corremos o risco de aumentar a área de arroz e o preço dele também cair. Então, é uma incógnita."

Produção agrícola litorânea em números

 Soja

Soja

MRSIRAPHOL/FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
ARROZ
O Estado é o maior produtor de arroz do país, responsável por 68% da produção nacional, conforme a Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2024, da Seapi. O arroz é cultivado em 180 municípios gaúchos - o único município litorâneo que aparece entre os 10 maiores produtores gaúchos é Mostardas, em nono lugar.
Área colhida*
  • No Litoral: 75.585 ha
  • No Estado: 858.341 ha
Produção*
  • Litoral: 594.330 toneladas
  • No Estado: 7.198.527 toneladas
*Fonte: IRGA (safra 2023/24)


SOJA
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de soja no País, segundo a Radiografia da Agropecuária gaúcha 2024, da Seapi. A soja é produzida em 434 municípios - nenhum município do Litoral aparece entre os 10 primeiros.
Área colhida*
  • No Litoral: 48.031 ha
  • No Estado: 6.638.890 ha

Produção
  • Litoral: 139.462 toneladas
  • No Estado: 12.693.487 toneladas

*Fonte: IBGE (2023)

Raio X agrícola do Litoral gaúcho

Maracujá

Maracujá

freepik/divulgação/JC
A seguir, considerações sobre a produção agrícola do Litoral gaúcho com base nos dados mais recentes (de 2023) da PAM (Produção Agrícola Municipal) do IBGE.
 

Maiores produtores de banana são da área litorânea

Paulo Marques diz que há potencial para melhorar a produtividade, mas alerta que o que falta é investimento

Paulo Marques diz que há potencial para melhorar a produtividade, mas alerta que o que falta é investimento

Paulo Marques/Arquivo Pessoal/JC
Gerando renda para milhares de famílias nos municípios litorâneos, a bananicultura é uma das principais atividades socioambientais da região. É a fruta mais comercializada na Ceasa (num total de 24), conforme a mais recente edição da Radiografia da Agropecuária Gaúcha, uma publicação da Seapi. O volume em 2023 superou as 43,2 mil toneladas, somando R$ 155,47 milhões. Boa parte disso se deve ao trabalho nos bananais da faixa leste do Estado.
Dados da comercialização de setembro, na central de abastecimento gaúcha, apontam que somente prata e caturra somaram 2,9 mil toneladas, sendo que 2,5 mil toneladas costumam ser a quantidade média mensal desses dois tipos com procedência do Litoral.
Com preço mais atrativo e por amadurecer mais lentamente do que a caturra - durando um período maior nos pontos de venda -, a prata tende a ser a principal escolha dos produtores, como é o caso de Paulo Marques, que tem 25 mil pés dela em seus 12 hectares no município de Terra de Areia. Com um investimento recente na propriedade, ele se diferencia do perfil médio local ao plantar e também maturar a fruta em câmaras frias, para então vender direto aos mercados, sem intermediários. O objetivo é tornar o negócio mais rentável. O faturamento bruto em 2023 foi de cerca de R$ 300 mil.
As câmaras de aclimatação uniformizam a maturidade da fruta. "Tenho estrutura para beneficiar 1,5 mil caixas por semana, mas ainda não uso tudo isso", explica. Ele planeja chegar lá, tendo como meta máxima uma produtividade de 25 toneladas por hectare. Atualmente, fica entre 15 e 18 toneladas. "Eu já ficaria satisfeito com 20", comenta.
Apesar da boa produção gaúcha, o Rio Grande do Sul ainda importa bananas de Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais, afinal, a demanda é muito maior: um Estado depende de uma dezena de municípios do litoral. Segundo Wolnei Fenner, técnico da Emater, a região ainda pode expandir bananais por mais 20% ou 30% de terra. "Agora, dobrar a área não será possível. Mas há potencial para aumentar produtividade, talvez em torno de 30%. Então a gente tem 30% para crescer em área e mais 30% em produtividade e aí consegue melhores resultados", explica.
Também técnico agrícola na Emater, Micael Teixeira concorda: "Temos potencial para melhorar a produtividade. O que falta é investimento", afirma, dando como exemplo a produtividade acima da média de Três Cachoeiras, Dom Pedro de Alcântara e Morrinhos do Sul, justamente por investirem mais. Ele conclui: "O que falta mesmo é o pessoal se conscientizar e usar um pouquinho mais de técnica, tratar folha, tratar o solo. É nosso papel essa conscientização". Teixeira comenta que, em muitas propriedades, as famílias estão há 20 ou 30 anos produzindo do mesmo jeito, acomodadas. "Quando a gente pega uma propriedade com um jovem começando, opinando na propriedade do pai, facilita", diz, se referindo a novas mentalidades para o negócio.
Para Fenner, o maior desafio é a falta de mão de obra, aliada à peculiaridade geográfica da região. "A falta de gente para trabalhar na agricultura não é exclusividade do Litoral", adverte. "Outro ponto é que, enquanto outros Estados colhem banana em terreno plano, o nosso é na encosta do morro. Dificulta a mecanização. Não é um trabalho moleza", reconhece.

Campeões na bananicultura gaúcha

EMATER/DIVULGA??O/JC
1º - Três Cachoeiras
- Morrinhos do Sul
3º - Mampituba
4º - Dom Pedro de Alcântara
5º - Terra de Areia
6º - Três Forquilhas
7º - Maquiné
8º - Torres
9º - Itati
10º - Osório
Área colhida*
  • No Estado: 12.157 hectares
  • No Litoral: 11.267 hectares
Produção*
  • No Estado: 142,4 mil toneladas
  • No Litoral: 133,7 mil toneladas
*Fonte: IBGE (2023)
 

Terra de Areia garante um dos abacaxis mais saborosos do País

Empresas & Negócios - especial agricultura no Litoral gaúcho - ABACAXI terra de areia CREDITOS wolnei fenner

Empresas & Negócios - especial agricultura no Litoral gaúcho - ABACAXI terra de areia CREDITOS wolnei fenner

Wolnei Fenner/Divulgação/JC
Com em torno de 7 milhões de frutos colhidos por ano, o Litoral é o grande responsável pela oferta de abacaxi gaúcho nos mercados. E com o crédito de garantir um sabor e uma qualidade melhores. Isso porque o abacaxi não amadurece depois que é colhido, diferentemente de outras frutas. Para aguentar o tempo de transporte, o que vem de outros Estados acaba sendo retirado da terra antes do ponto ideal. Já o produzido no Litoral, especialmente em Terra de Areia (que até se transformou em um "tipo" de abacaxi), chega aos consumidores gaúchos na sua melhor forma de maturação, dada a proximidade geográfica. A média mensal comercializada na Ceasa-RS supera os 9,8 mil kg.
Do ponto de vista econômico, é uma das principais atividades para o município, ligado ao sustento de mais de 150 famílias e à geração de aproximadamente 500 empregos diretos e indiretos na região. "O cultivo pode chegar a 40 mil plantas por hectare", afirma Wolnei Fenner, técnico da Emater. Os pomares adultos de Terra de Areia alcançam uma produtividade média de 20 toneladas por hectare, segundo a Emater. Com muito menos área, Três Cachoeiras, Torres, Arroio do Sal e Três Forquilhas também produzem a fruta.
Parte do sustento da família de Guilherme Santana Sparremberger vem do abacaxi há duas gerações, em Terra de Areia, onde destina 1,5 hectare para o cultivo que começou com seus pais. "Tiro uma média de 30 mil frutas ao ano, 5 mil para mais ou para menos, e fornecemos para os mercados próximos, como Capão da Canoa e Osório", conta.
A sociedade com os pais também se estende para a produção de aipim, que chega a cinco hectares porque arrendam terras ao redor para expandir a atividade. A escolha pelo aipim é vantajosa porque o custo de produção é bem mais baixo do que o da fruta. Só a família se envolve no manejo, para o qual Sparremberger conta apenas com um trator de pequeno porte.
A diversificação de cultivos também é a aposta de Iveliza Toledo e João André Capra, que residem em definitivo em Terra de Areia desde 2016, vindos da Serra. Após anos focados somente em pitaias, começaram em 2023 com o abacaxi, experimentalmente. O grande diferencial é ser uma produção totalmente orgânica, por meio da certificadora OPAC Litoral. Iveliza confessa que esperava mais reconhecimento do trabalho com produtos isentos de defensivos químicos, mas não se arrepende.
"A satisfação não é completa porque não tem a valorização devida. Agora, se você me pergunta se eu quero voltar para o convencional, jamais! Claro que ser rentável é importante, mas não é a única motivação. Não é só pelo ganho financeiro que a gente está nisso", garante.
Pouco mais de 1 hectare da propriedade é destinado à produção de pitaia, que rendeu de 12 a 15 toneladas nos últimos anos. Um único pé - o casal tem cerca de 2 mil - pode render até 70 frutos. "São floradas seguidas, a gente fica seis meses colhendo. Começa em janeiro. É uma fruta muito produtiva. E a florada é a coisa mais linda do mundo", comenta. Praticamente toda a produção tem cliente certo na Serra Gaúcha. Mas o casal também vende direto ao consumidor, inclusive mudas, aproveitando-se da divulgação na Rota do Sol, já que a propriedade se localiza bem próxima da rodovia.
"O investimento para o plantio de um hectare de pitaia está em torno de R$ 100 mil", afirma Capra, o marido. "A partir do terceiro ano, começa a produzir numa escala maior e crescente, podendo render acima de R$ 160 mil anual bruto", complementa.
Um dos últimos investimentos do casal na produção agrícola, no entanto, está associado à aposta no abacaxi: a irrigação da área de um hectare no ano passado, quando plantaram, em setembro, 15 mil pés. "Nem usamos ainda, mas, se vier seca, estamos preparados", avisa Iveliza. Em setembro deste ano, o casal plantou mais 24 mil mudas. Em novembro, a expectativa é colher 12 mil frutos e, na segunda colheita (somando as duas áreas), aumentar para 33 mil.

Pitaia

Pitaia

AS photo/Freepik/JC
Abacaxi
Área colhida*
  • No Estado: 259 hectares
  • Em Terra de Areia: 185 hectares
Produção*
  • No Estado: 4,5 mil toneladas
  • Em Terra de Areia: 3,7 mil toneladas
*Fonte: IBGE (2023)


Pitaia
Área colhida*
  • No Estado: 144 hectares (2023)
  • No Litoral: 38.5 hectares
Produção*
  • No Estado: 1,59 mil toneladas (2023)
  • No Litoral: 521 toneladas
*Fontes: Projeção da Emater para dados do Litoral; e Radiografia Agropecuária Gaúcha 2024 para dados no Estado.

Culturas de destaque

 Folhosas estão na lista dos alimentos mais produzidos

Folhosas estão na lista dos alimentos mais produzidos

EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
As 10 maiores quanto ao total de área em hectares (ha)
  • Arroz: 75.585 ha em 18 municípios (área colhida)
  • Soja: 48.031 ha em 15 municípios (área colhida)
  • Banana: 11.423 ha em 11 municípios
  • Aipim: 2.755 ha em 9 municípios
  • Couve-brócolis: 828 ha em oito municípios
  • Couve-flor: 575 ha em oito municípios
  • Alface: 509 ha em 9 municípios
  • Repolho: 461 ha em 8 municípios
  • Abacaxi: 356 ha em 5 municípios
  • Cebola: 349 ha em 3 municípios
As 10 mais importantes produções (em toneladas)
  • Arroz: 594.330 (18 municípios)
  • Banana: 149.017 (11 municípios)
  • Soja: 139.462 (15 municípios)
  • Aipim: 40.211 (9 municípios)
  • Repolho: 15.943 (8 municípios)
  • Cebola: 11.922 (3 municípios)
  • Couve-brócolis: 9.014 (8 municípios)
  • Couve-flor: 7.912 (8 municípios)
  • Alface: 7.586 (8 municípios)
  • Abacaxi: 7.037 (5 municípios)

* Loraine Luz é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), atua como freelancer desde 2007, depois de 12 anos de experiência em redação de jornal impresso.

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