Laís Machado Lucas
Advogada e professora de Direito Empresarial
Fundos de investimentos e opções como private equity e venture capital são essenciais para o crescimento de companhias. Considerando que os consumidores estão cada dia mais interessados em marcas alinhadas às práticas ESG, é natural que os investidores também sigam esse mesmo fluxo. Portanto, as empresas familiares que desejam atrair investimentos podem - e devem - implantar estratégias para reduzir os impactos no meio ambiente, impulsionar as comunidades do seu entorno e aperfeiçoar as medidas de governança. Tais ações indicam a existência de uma gestão sólida com foco em mitigação de riscos e responsabilidade social.
É o que os dados mostram, especialmente quando consideramos o "E" da sigla ESG: segundo um levantamento feito pela empresa de pesquisas Morningstar, o valor dos ativos dos fundos de investimento ligados ao clima aumentou 16% em 2023, atingindo o recorde de US$ 540 bilhões em todo o mundo. Ainda há fundos focados em outros temas, como a diversidade - aspecto que costuma estar relacionado com a maior atração e retenção de talentos, redução do turnover e a construção de ambientes mais inovadores, criativos e inclusivos.
Mas não basta dizer que o negócio planeja ou implementa medidas ESG. É essencial ser transparente, compartilhando dados, relatórios e outras evidências das ações de modo compreensível para todos os públicos de interesse - inclusive para possibilitar a checagem do que a empresa tem feito e dos riscos não financeiros por aqueles que aportam seu capital em troca do recebimento de dividendos.
E para que serve todo esse esforço? A resposta está nos números. De acordo com a consultoria Roland Berger, as dez empresas brasileiras consideradas líderes na agenda de sustentabilidade tiveram uma performance no mercado 110% superior ao índice Bovespa.
Tal patamar pode ser alcançado com a implementação de programas de Governança Corporativa e compliance para promover práticas éticas e conformes nas empresas, bem como filiar-se a projetos que buscam contribuir para o desenvolvimento ambiental e social. Agir, contudo, é fundamental: por que não impulsionar a comunidade do entorno com a compra de produtos locais - seja para processos de manufatura ou para o refeitório da companhia?
Estabelecer metas e objetivos alcançáveis e realistas no âmbito da agenda ESG gera impactos positivos para todo o negócio. E isso não apenas atrai investimentos externos e possibilita a contratação de linhas de crédito que visam o incentivo a essas práticas, como também melhora o desempenho da companhia como um todo, inclusive aumentando o engajamento dos funcionários. Nas empresas familiares, tais ações tendem a atrair, também, o interesse dos herdeiros em assumir a liderança e participar do desenvolvimento e crescimento do negócio - que, não raro, é o resultado concreto do esforço e do trabalho de uma vida inteira da família. Nesses contextos, mais do que atrair investimentos, a agenda ESG ainda colabora para a perpetuação das companhias e do legado da família fundadora.