Durante as enchentes deste ano, a solidariedade uniu o Rio Grande do Sul. "Como posso ajudar?" tornou-se um questionamento comum, capaz de levar auxílio e esperança às vítimas das águas. No Grupo Florense, empresa de móveis da Serra Gaúcha, foi essa pergunta que motivou a criação de seus kits solidários, doados a famílias do Vale do Taquari, Vale do Caí, Serra Gaúcha, Pelotas, Porto Alegre e Região Metropolitana.
Compostos por dois balcões de cozinha, um com uma cuba de pia inclusa, a ideia dos Kits Solidários Florense surgiu após os diretores da empresa se perguntarem como podiam seguir contribuindo com o restabelecimento dos indivíduos atingidos pelas cheias. Logo de início, esbarraram em um importante obstáculo: fazer produtos padronizados e de montagem simples em grande escala. Acostumados a trabalhar com móveis personalizados, a esquematização do mobiliário a ser doado durou um mês, como conta Felipe Corradi, diretor industrial do grupo.
Segundo ele, a etapa de projeção foi composta também pelo contato com parceiros e fornecedores, que doaram materiais para a produção das mobílias. O período de fabricação, que também aconteceu durante um mês, foi marcado pelo engajamento dos trabalhadores da empresa. Muitos funcionários do grupo se voluntariaram para trabalhar na produção dessas peças durante os finais de semana, sendo remunerados pela sua mão-de-obra. Como comenta Corradi, o senso de pertencimento foi um dos efeitos gerados na equipe pelo projeto.
Após a confecção de todos os kits, quando os moradores afetados já estavam retornando às suas casas, a entrega das doações se apresentou como um novo desafio. Assim surgiu a parceria com a Wag - Rede do Bem. A empresa, cujo nome é a sigla de "We are good" (em português, nós somos bons), existe há 6 anos e inaugurou uma nova modalidade de funcionamento durante a enchente, se colocando como uma ponte entre organizações que desejavam ajudar e indivíduos que precisavam de auxílio.
Nessa posição, a Wag conectou o Grupo Florense com o Instituto Dunga e o Instituto Sou de Fazer, que, junto com o Instituto Cultural Floresta, mapearam quais famílias receberiam os móveis na Capital. Todos os moradores contemplados já eram cadastrados nas instituições, com registros de CPF, endereço e número de pessoas morando na mesma casa, por exemplo.
Para a CEO da Wag, Fernanda Ditzel, a escolha dessas organizações para o auxílio na distribuição das doações se deu pela atuação ágil que elas apresentaram. "Não gostamos de doações paradas", afirma ela.
Segundo Raphaela Sefton, vice-presidente do Instituto Sou de Fazer, a pressa das vítimas da enchente é diferente, o que tornou a rapidez na captação e na distribuição de recursos um quesito fundamental no funcionamento da instituição.
Nativo da enchente, o Instituto Sou de Fazer, parceria entre Raphaela, Danilo Azambuja e Rafael Sóbis, já sócios na Orla Energia e no Grupo FLF, surgiu a partir do mesmo questionamento: como posso ajudar? Acostumada a fazer trabalhos voluntários desde 2011, a subida das águas em maio despertou em Raphaela um senso de compromisso.
Buscando auxiliar os desabrigados, a empresária e seus sócios mobilizaram suas redes de contatos para arrecadar recursos a serem doados. Mesmo afirmando que essa etapa é a mais difícil do trabalho solidário, ela conta que o instituto recebeu ajuda de todos os lados, tanto de empresas, quanto de pessoas físicas, e já atendeu moradores de mais de 30 cidades do Estado.
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Durante a entrega dos móveis, a sensação era de renovação e de restabelecimento da dignidade que fora levada pelas águas. "Como se não estivéssemos dando só uma cozinha, mas dando esperanças a essas pessoas de novo", conta Raphaela, que acompanhou algumas das visitas.
Para Felipe Corradi, da Florense, toda empresa tem uma obrigação social, o que é cumprido por meio dessa e de outras ações encabeçadas pelo grupo na Serra. Seguindo com a parceria, o Instituto Sou de Fazer e o Grupo Florense estarão juntos em um jantar beneficente no dia 10 de outubro, que acontecerá na Associação Leopoldina Juvenil, com o objetivo de captar mais recursos para as vítimas da enchente.
Organização busca tornar ajuda ao próximo uma ação cotidiana
Antes de mobilizar doações para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, a Wag - Rede do Bem, empresa de tecnologia que auxiliou na distribuição dos Kits Solidários Florense, já atuava diretamente com o trabalho social e a prática de boas ações. O funcionamento da organização se dá em três modalidades: o Wag empresas, o aplicativo da instituição e a rede do bem.
Como uma iniciativa para fomentar o voluntariado dentro de instituições, o Wag empresas é o programa que promove a solidariedade entre os funcionários de organizações parceiras. Já o aplicativo desenvolvido pela instituição é como um lembrete diário para a realização de boas ações. Ao cadastrar-se, o usuário vai registrando práticas positivas que tem feito, o que lhe rende uma quantidade de pontos a serem investidos em projetos de instituições filantrópicas dentro do ambiente digital da empresa, assim ajudando a financiar essas iniciativas.
Além disso, o indivíduo também pode utilizar seus pontos do aplicativo para ganhar algumas cortesias em estabelecimentos parceiros. Por fim, a Wag também gerencia a sua rede do bem, projeto que surgiu durante as enchentes e que possibilitou a conexão entre empresas que desejavam contribuir e as vítimas da catástrofe climática.
Mesmo incentivando práticas solidárias antes da subida das águas, Fernanda Ditzel, CEO da Wag, conta que a enchente inaugurou um novo momento na empresa. A rede do bem, programa completamente voluntário, ocupa grande parte do seu tempo atualmente. "O trabalho social é viciante", conta ela. Considerando essa e as outras ações promovidas pela empresa, Fernanda afirma que o objetivo da Wag é "promover uma mudança na cultura da sociedade brasileira", tornando comum a ideia de que não é necessário um gatilho, como tragédias de grande escala, para ajudar o próximo.