Karen Viscardi, especial para o JC*
A internet amplificou o mercado de leilões. Itens que eram colocados à venda localmente encontram compradores em todo o País. Com maior visibilidade aos bens móveis, imóveis e animais, um maior número de empresas e pessoas passou a buscar leiloeiros para encontrar o melhor lance. Essa mudança para o mundo virtual se intensificou a partir da pandemia, quando o martelo na hora do remate passou a ser utilizado como uma forma de preservar uma tradição deste mercado. E as vendas online vêm se expandindo cada vez mais, seja na modalidade exclusivamente pela internet ou em modelos híbridos. Os auditórios, que lotavam em outros tempos, hoje têm poucas pessoas presentes. Todo esse movimento fez crescer também o número de leiloeiros. Apenas no Rio Grande do Sul, são cerca de 500 profissionais registrados na Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS). O número praticamente dobrou nos últimos anos e colocou o Estado em segundo lugar no mercado brasileiro, atrás apenas de São Paulo.
O Rio Grande do Sul tem cerca de 12,5% do total de leiloeiros do País, estimado em 4 mil profissionais; hoje, são cerca de 500 leiloeiros registrados na JucisRS
/Carolina Jardine/Divulgação/JCOs leilões atraem cada vez mais novos profissionais e compradores. As mudanças na legislação e a popularização de ferramentas digitais de vendas ampliaram a concorrência no setor. A internet ganhou maior relevância após a pandemia de Covid, dando maior visibilidade às hastas públicas - designação genérica da venda de bens por leilão (móveis) ou praça (imóveis).
Agora, a comercialização de itens por lance vive um período de readequação no Rio Grande do Sul, após as enchentes praticamente paralisarem o mercado em maio. Ofertas que foram freadas por Judiciário, bancos e financeiras neste ano em razão da catástrofe climática, voltaram a ocorrer de forma gradual, mas ainda longe da regularidade. De acordo com a presidente do Sindicato dos Leiloeiros Oficiais do Estado (Sindilei-RS), Neila Rosane Ribeiro dos Santos, os reflexos sobre o mercado serão sentidos por um longo período.
A executiva cita, por exemplo, que a Justiça Federal retomou os leilões somente em agosto. E, como a realização dos certames precisa obedecer a um prazo mínimo para organização, os pregões ocorrerão próximo ao final do ano. Já a venda de imóveis da Caixa no Rio Grande do Sul seguia suspensa no começo de setembro devido à calamidade.
"Nas enchentes, houve um empobrecimento, pois pessoas e empresas perderam tudo. Se tinham um valor reservado para a compra de um imóvel, muitos hoje não têm mais. Para o leiloeiro, é uma situação desafiadora porque se não vende, não recebe", afirma Neila. Isso porque o responsável pelo leilão só é remunerado se comercializar o item disponível.
O leiloeiro Daniel Chaeib, especializado em leilões de arte e antiguidades, reforça a percepção de anormalidade. O térreo de sua agência de leilões localizada na zona Norte de Porto Alegre ficou submerso. Foram dois meses entre o início da enchente, o recuo da água, a limpeza e a reorganização.
"Tínhamos fotos de pratos no catálogo, por exemplo, onde parte do lote quebrou. Tivemos de refazer as imagens e os próprios leilões", conta Chaieb. O leiloeiro indenizou os comitentes (quem entrega a mercadoria para venda) e voltou a trabalhar, com expectativa de melhora no cenário já na primavera. "Sou um otimista", declara.
Esse novo baque veio após o setor conseguir ter superado a pandemia. Naquela época, os leilões praticamente pararam por um ano e foram necessários mais seis meses para retomar os negócios de forma regular. Na sequência, foi promulgada a Lei nº 14.133/2021. A chamada nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos e outros dispositivos legais estruturaram desde a atuação dos leiloeiros até os critérios para a alienação de bens.
O marco legal ajudou a ampliar o interesse por pregões e, entre 2022 e 2023, houve um forte avanço no número de leiloeiros oficiais no Estado. Após um período mais aquecido, o setor voltou a um patamar de estabilidade, desafiado recentemente pela crise climática, que prejudicou parte dos negócios e abriu oportunidades para outros.
"Estamos em plena venda dos veículos da enchente. Primeiro, foi feito o recolhimento, depois a documentação do sinistro e a higienização. As vendas começaram no meio de junho e seguiram até setembro. Deve normalizar até o final do ano", conta a leiloeira oficial e CEO da Pestana Leilões, Liliamar Pestana Gomes.
A concorrência aumenta a cada ano, e não apenas com a entrada de profissionais locais. "Estão entrando muitos leiloeiros de fora do Estado, como de Santa Catarina, Paraná e São Paulo", relata a Camila Lais Cargnelutti, da Cargnelutti Leilões. Com sede em Ijuí, a agência Cargnelutti, que completa 40 anos em 2025, viu aumentar recentemente a concorrência. "Na região, éramos eu, meu pai e outro leiloeiro. Hoje, são cerca de 20", conta. Nas licitações de prefeituras também cresceu a disputa. De cinco leiloeiros, hoje participam de 30 até 40 leiloeiros.
O Rio Grande do Sul tem cerca de 12,5% do total de leiloeiros do País, estimado em 4 mil profissionais. Hoje, são cerca de 500 leiloeiros registrados na Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS). Este número, que praticamente dobrou nos últimos anos, colocou o Estado em segundo lugar nacional, atrás apenas de São Paulo, maior mercado do País. Na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), há em torno de 650 leiloeiros cadastrados.
Novas tecnologias ganham espaço do tradicional martelo
Chaieb diz que as vendas virtuais ajudaram a ampliar o público e aumentar a variedade de peças ofertadas
/NATHAN LEMOS/JCO mercado de leilões deixou de lado a tradição para operar em formatos variados. As disputas presenciais, finalizadas pelas batidas de martelo do leiloeiro, não são mais exclusividade. Há modelos híbridos e outros somente virtuais, com transmissão ao vivo. Essa mudança se fortaleceu a partir da pandemia e, com a enchente que se abateu sobre o Estado em maio deste ano, ganhou novo impulso.
Isso porque as ferramentas digitais estão revolucionando os leilões no Brasil. Os pregões que reuniam centenas de potenciais compradores em um auditório, hoje têm frequência reduzida, com compradores enviando seus lances também pela internet.
A agência de leilões Daniel Chaieb, que completa 30 anos em 2025, trabalhava apenas com eventos presenciais até 2020, reunindo em coquetéis entre 80 a 100 pessoas, muitos habitués da casa. Na época, apenas alguns interessados participavam com lances por telefone. Hoje, todos as ofertas são online.
A empresa deixou de desembolsar com a organização dos coquetéis, convites impressos, garçom e Correios. Hoje, os custos estão relacionados ao trabalho de despachar as mercadorias: serviços de embalagem e cotação de fretes. Isso porque as vendas deixaram de ser locais e têm participação de compradores de todo o País. Já os vendedores atendidos pela agência são do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Outra transformação percebida pelo leiloeiro é no comportamento das pessoas que, após a enchente, se reforçou. "Há uma simplificação no estilo de vida das pessoas. Tivemos gerações de antiquários vendendo lustres, agora, todo mundo usa luz de lead. Antes, as prateleiras eram abarrotadas com bibelôs. Ainda tem gente trazendo bibelôs, mas a maioria não quer mais", relata.
Aumentou também a variedade das peças ofertadas. Antes, Chaieb tinha como foco o mercado mais exclusivo, de obras de arte, mais caras. Hoje, oferece o serviço completo para a família esvaziar a casa, mesmo que poucos itens possam vir a ter valor econômico significativo. "Seria mais fácil pinçar alguns itens que dão maior retorno e deixar o restante, mas a família não vai conseguir vender, pois todas as casas têm coisas boas, médias e ruins", afirma o leiloeiro.
No caso de espólio (bens deixados por uma pessoa após o seu falecimento), que é a maior parte dos leilões da agência, Chaieb explica que, muitas vezes, os herdeiros têm dificuldade de lidar com os bens, porque fazem parte da memória da pessoa que se foi. Em alguns casos, cita, há casas e apartamentos que ficam fechados por anos porque as pessoas não conseguem mexer.
Também há casos de pessoas indo embora do Estado ou do País e que optam pelo certame. Essa é uma tradição antiga, do início do século XX, conta o leiloeiro. Naquela época, militares e médicos que vinham atuar no Rio Grande do Sul preferiam vender e comprar em leilão produtos para casa do que fazer uma mudança. Itens de herança e de separações de casais também são comuns. Quando um casal está brigando judicialmente pela divisão de bens, a hasta pública ajuda a resolver. "É mais fácil dividir dinheiro do que dividir objetos", diz Chaieb.
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/Freepik/Divulgação/JC
O que é um leilão?
Leilão é um método de venda e compra pelo qual alguns bens, como imóveis, veículos e bens em geral, são disponibilizados aos interessados, que fazem ofertas ou lances de valor crescente. O bem é arrematado pela pessoa que der o lance mais alto.
Quais são os principais tipos de leilão?
Existem dois tipos de leilões e a participação do sistema judiciário na supervisão do processo é o que os difere:
1. Leilão Extrajudicial
Este tipo de leilão ocorre fora do sistema judicial, organizado por instituições privadas ou públicas para a venda de seus ativos.
Por exemplo, os bancos geralmente realizam leilões extrajudiciais para vender imóveis retomados de mutuários que não conseguiram cumprir suas obrigações de financiamento, desta mesma forma ocorre a venda de veículos em leilão.
Outro exemplo de bem vendido nessa categoria de leilão extrajudicial são veículos e bens diversos oriundos de companhias de seguro, ou seja, sinistrados. Podendo ser, no caso de veículos, furto, enchente ou colisão.
Leilões da Administração Pública, de bens nos quais o edital e as condições são estipulados pelos órgãos públicos, federais, estaduais e municipais.
2. Leilão Judicial
Os leilões judiciais são organizados sob a supervisão do sistema judiciário para vender bens penhorados ou apreendidos em processos judiciais.
Esses bens são resultados de processo judicial, cível ou criminal, na justiça estadual ou federal, processos trabalhistas, falências e recuperação de empresas.
Como participar de um leilão?
Pessoas físicas maiores de 18 anos - ou menor emancipado - e pessoas jurídicas podem participar do leilão. É preciso efetuar um cadastro no site da organização, para leilões online e eletrônicos, ou pessoalmente, no dia do leilão, para os presenciais.
A documentação necessária para participar varia de pessoa física ou jurídica e depende do bem que almeja adquirir (veículos, bens diversos ou imóveis).
Fonte: Pestana Leilões
De vaca jersey a caixões, tudo é vendido por lance
Cargnelutti Leilões é uma empresa familiar com sede em Ijuí
/Fernanda Rodrigues/}Divulgação/JCOs leilões judiciais já colocaram no mercado muitos itens inusitados para venda, mas isso mudou em parte devido à legislação. Itens que guarnecem a casa, como televisão e geladeira, não podem mais ser penhorados, a não ser que a pessoa tenha um desses aparelhos sobrando. "Dentro do processo judicial, vai a leilão o que for encontrado dentro da propriedade, e será escolhido o item que tenha mais liquidez. Se tiver só uma vaca, leva a vaca", explica a leiloeira pública oficial Mariana Lemos.
A Pestana Leilões, que até 1996 trabalhava com todas as áreas do Judiciário (trabalhista, cível, falências e fazenda nacional), já teve de recolher 12 caixões de uma funerária. "Na descrição, estava escrito: 12 caixões novos sem uso. Ainda bem, né?", diz a leiloeira oficial e CEO da Pestana Leilões, Liliamar Pestana Gomes. Na época, funcionários da Pestana precisavam buscar os ataúdes, mas ninguém se prontificou. No final, os itens recolhidos foram colocados no depósito e, surpreendentemente vendidos a pessoas comuns, conta a leiloeira.
A Cargnelutti Leilões também já colocou à venda um caixão, mas não foi a única oferta incomum. Camila conta que o pai, João Antonio Cargnelutti, conta várias histórias da empresa ao longo de mais de quatro décadas. Já foram vendidos panela, galinhas, pés de alface e até peça de lingerie, sendo que esta última teve de ser higienizada. "Quando o oficial de justiça chegou para ver o que era possível penhorar, uma mulher respondeu que só tinha roupa íntima. Ele recolheu. A peça não apenas foi vendida como foi disputada, deve ter sido mais por brincadeira", detalha, recordando situações que ocorreram há mais de 20 anos.
"Sempre brinco, leiloeiro não escolhe o filé, fica a carne de segunda também", diz a presidente do Sindicato dos Leiloeiros Oficiais do Estado (Sindilei-RS), Neila Rosane Ribeiro dos Santos. Nos leilões judiciais, explica a dirigente, quem define o leiloeiro e o que será colocado em disputa é a Justiça. Se estipular que uma Kombi vai cobrir uma dívida, o leiloeiro precisa recolher para colocar à venda. É uma situação mais rara, mas ocorre, o mais comum neste tipo de leilão é oferta de cadeiras.
Especializado em leilões de arte e antiguidades, Daniel Chaieb conta que o que é bom, vende. "Posso estar com leilão cheio de cacareco, mas se tem uma pintura boa, vende. Obra de arte sempre vende bem. Sempre foi uma forma de investimento comprar coisa boa, mas a procura é maior hoje", relata.
Alguns itens vêm chamando a atenção, como peças gauchescas, como prataria crioula, facas, espadas. "Hoje, uma faca pode ser vendida por R$ 15 mil, R$ 20 mil, há colecionadores de prataria gaúcha, o que valoriza nossa cultura", observa Chaieb.
Animais, embora mais raros, também vão a leilão, dependendo do caso. Neila lembra de uma vaca da raça Jersey, que foi apreendida em um caso de pensão alimentícia, e de cavalos recolhidos de carroceiros por prefeituras. Nos dois casos, o leiloeiro oficial ficou responsável por recolher os animais, colocar em local adequado, cuidar e alimentá-los até a finalização do remate.
Um detalhe: se o processo for no Rio Grande do Sul, o leiloeiro local tem de recolher o item ou animal no local onde estiver, seja em São Paulo ou no Amazonas, por exemplo.
Assim como o vendedor e o item a ser oferecido, o preço mínimo de cada produto/imóvel também é estabelecido pela Justiça. Mas, quando é realizado mais de um certame sem sucesso, o leiloeiro geralmente entra em contato para sugerir um valor que seja compatível com o mercado.
Internet amplia visibilidade dos itens vendidos ao atingir um grande público
A possibilidade de oferecer um produto para um grande público via internet vem atraindo empresas privadas. "É um mercado muito atraente para itens usados, que são oferecidos para milhares de pessoas e para o Brasil todo", destaca a leiloeira oficial e CEO da Pestana Leilões, Liliamar Pestana Gomes.
Segundo a profissional, a modalidade está se tornando um canal de vendas de maquinários e veículos de frotas, por exemplo, de locadoras, empresas, indústrias e do agronegócio. "Antes, se a empresa colocasse seus ativos à venda, se pensava que era por falência. Hoje, muitas empresas privadas buscam canais de leilão", diz Liliamar.
"A internet democratizou a modalidade, aumentou o acesso das pessoas que acessam no conforto de suas casas e trouxe também muita gente que não conhecia", observa agência de leilões Daniel Chaieb. As divulgações, que eram via mala direta e tinham alcance limitado, hoje chegam a milhares de pessoas pelo Facebook e pelo Instagram. São disponibilizados pela agência em torno de 1.500 lotes por mês e realizados leilões três vezes na semana.
O público interessado em adquirir os produtos mais do que duplicou e passou a incluir compradores de capitais e do interior de outros estados. Aumentou "barbaramente", segundo define Daniel Chaieb. Com a venda digital, jovens passaram a se interessar em dar lances em busca de itens com história, qualidade, design e apelo ambiental, de reciclagem.
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Com a maior exposição, também mais do que duplicou o número de pessoas que oferecem produtos para leiloar, que são o público alvo da agência. "Meu principal cliente é a pessoa que confia o patrimônio dele para eu vender. Não é quem compra, porque essa pessoa pesquisa na internet, busca o mais barato", explica.
Outra facilidade do digital foi viabilizar a chegada de gestoras, aplicativos e plataformas de leilões online, que contribuem para difundir os certames. Entre os exemplos, está a empresa Viana Leilões, especializada em leilões judiciais e extrajudiciais, que também atua como responsável pela atividade meio do leiloeiro, com assistência, guarda, logística, divulgação e organização do pregão.
"Com advento das plataformas digitais, facilitou para os leiloeiros terem apoio de uma gestora que intermedia a atividade", esclarece a leiloeira pública oficial Mariana Lemos, que dá suporte para a Viana Leilões.
Leilões rurais atraem novos profissionais
Fábio Crespo acredita que a modalidade de vendas online veio para ficar
/TÂNIA MEINERZ/JCA atividade de leiloeiro rural está em expansão. No início de 2024, haviam 130 leiloeiros rurais nomeados pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul), número que vem aumentando. O profissional também está habilitado no campo, desde que devidamente cadastrado junto à comarca. Isso porque a corregedoria liberou os leiloeiros rurais a realizarem leilões judiciais relacionados ao campo, como propriedades e máquinas.
Mas o setor mais tradicional em leilões no Rio Grande do Sul é o de remates de genética. E, se depender dos números e expectativa do Sindicato dos Leiloeiros Rurais e Empresas de Leilão Rural do Rio Grande do Sul (Sindiler), o Estado terá liquidez positiva este ano, mesmo que o número de remates possa cair.
Os pecuaristas e leiloeiros rurais, a exemplo dos demais perfis de remates, também se renderam à internet desde a pandemia. "Hoje é mais virtual, é uma modalidade que veio para ficar", explica o presidente do Sindiler, Fábio Crespo. Também no meio rural, os leilões foram afetados pelas enchentes, seja pela perda ou redução de pastagens disponíveis, seja em razão de animais afetados. O proprietário da Estância Braford Luz de São João, Celso Jaloto, conseguiu reduzir o impacto da enchente ao maximizar as pastagens ao usar ureia no plantio de forma antecipada na propriedade em São Gabriel, deixando os animais praticamente prontos para o remate de setembro.
Dilvani Soldera, conhecido por Didi, diz que as vendas ocorrem pela necessidade dos produtores de manter um plantel de qualidade e credita o sucesso dos leilões da propriedade em Panambi aos investimentos contínuos em genética, geração de embriões, alimentação, manejo, sanidade e na melhoria das pastagens. "Procuramos entender o que o produtor necessita, qual o tipo de material de gado que o produtor precisa e que o frigorífico necessita, estamos acompanhando o mercado", explica Soldera.
O esforço por parte dos produtores em ter um plantel de qualidade ajudou a manter a média de preços praticamente iguais aos valores de 2023. "Claro que o gado está mais sentido com o inverno mais rigoroso, mas a procura por reprodutores está bastante intensa", diz Crespo. A procura é maior por animais diferenciados para produzir terneiro mais pesado, mais precoce e com mais valor agregado de raças europeias e sintéticas.
Para o ano, o presidente do Sindiler estima que, entre gado geral, equinos e reprodutores, serão 1.300 leilões. "Nossa expectativa era que talvez fosse estar pior do que efetivamente está". Os remates na Expointer confirmaram a expectativa.
Imóveis e veículos retomados por financiadores impulsionam desempenho da Pestana Leilões
Liliamar destaca o fato de a Pestana ser a única do RS a trabalhar com os segmentos de bancos, financeiras e seguradoras na área de veículos
/THAYNÁ WEISSBACH/JCO mercado de leilões, pouco conhecido até poucos anos atrás, começou a se difundir a partir de 2021 e explodiu neste ano com a enchente. Essa visibilidade foi especialmente significativa para a Pestana, que é a única do Rio Grande do Sul a trabalhar com os segmentos de bancos, financeiras e seguradoras na área de veículos, detalha a leiloeira oficial e CEO da Pestana Leilões, Liliamar Pestana Gomes.
A exclusividade é justificada pela grande necessidade de armazenamento. O depósito de Nova Santa Rita (RS) está lotado e houve necessidade de locar mais 200 mil m². Grande parte é para guardar veículos de enchentes recolhidos. A organização conta hoje com mais de 500 mil m² de unidades logísticas, distribuídos entre o município gaúcho, Tijucas (SC), Suzano (SP) e Itaúna (MG).
Após a volta dos leilões de veículos, a partir do meio de junho, as vendas ultrapassaram mais de mil unidades por semana. Antes, ficavam entre 600 e 700. Também aumentaram os cadastros de pessoas interessadas em comprar. "Ficamos surpresos que muitas pessoas do Brasil todo estão comprando veículos de enchente", revela. A enchente é um dos tipos de sinistro de veículos. Também são considerados sinistros roubo, furto e colisão.
A média de comercialização de imóveis da Pestana é de 150 por mês, incluindo a oferta de todos os agentes financiadores do Brasil que a leiloeira trabalha. Porém, em agosto, apenas o leilão do Santander colocou à venda 109 imóveis somente no Rio Grande do Sul. O volume expressivo é resultado da demanda reprimida a partir de maio, quando os certames foram suspensos. Para 2024, a expectativa é superar o melhor ano para a empresa e vender mais de 2 mil imóveis e até 23 mil automóveis. Antes, o ano com melhor resultado havia sido 2019, quando foram arrematados 539 imóveis e 18 mil automóveis.
Com expansão anual entre 10% e 20% nos últimos anos, a organização deve crescer 30% em 2024, resultado do desempenho positivo em veículos e imóveis. "As duas áreas estão crescendo muito, talvez até pela crise e, no Rio Grande do Sul, pela demanda reprimida", considera a leiloeira. Mas esse resultado não vem apenas dos negócios no Estado, sede da empresa.
A Pestana está registrada nas juntas comerciais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais e tem escritórios em Curitiba (PR), São Paulo (SP) e Itapema (SC). Um dos grandes negócios de setembro para a leiloeira é a venda de 594 imóveis retomados pela Caixa Econômica Federal no País.
O leilão também vem conquistando empresas privadas. "É um mercado muito atraente para itens usados, se oferece um bem para milhares de pessoas e para o Brasil todo", destaca Segundo a profissional, o leilão está se tornando um importante canal de vendas de diversos itens, como maquinários e veículos de frotas, seja de locadoras, empresas, indústrias e até do agronegócio. "Antes, se a empresa colocasse seus ativos à venda, especialmente no Rio Grande do Sul, se pensava que era por falência. Hoje, muitas empresas privadas buscam, se tornou um importante canal de vendas", diz Liliamar.
De 1983 a 1996, a Pestana trabalhava na área judiciária, pois, até 1996, os leilões de bancos, financeiras e seguradoras ocorriam apenas em São Paulo, quase não havia venda de veículos nos certames. Desde então, foram abertos para todos os Estados, passou-se a ter uma concorrência nacional e o mercado começou a se popularizar. Existe um mundo de bens que pode ser vendido no leilão, móveis, linha branca. "Da agulha ao avião, tudo se vende em leilão", diz Liliamar, citando uma frase do marido.
Com matriz em Porto Alegre, a Pestana também a única organização leiloeira comandada por uma mulher entre as gigantes do setor. Com 40 anos de mercado, a organização conta com cerca de 200 colaboradores diretos e seis leiloeiros. Tem na equipe diretiva quatro irmãs e já prepara o futuro com a participação da segunda geração.
Na Pestana, os leilões são presenciais e online (híbrida), apenas online e eletrônica, sem a participação do leiloeiro, a ferramenta é que efetiva a venda. Mas, para participar, tem de fazer um cadastro prévio na leiloeira.
*Karen Viscardi é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs). Atuou como editora no Jornal Zero Hora, e como editora e repórter no Jornal do Comércio.