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Publicada em 08 de Setembro de 2024 às 16:00

Litoral Norte se consolida como segundo polo da construção civil no RS

Construção civil avança e impulsiona o desenvolvimento do Litoral Norte; valor de vendas de projetos imobiliários no 1º semestre só ficou atrás da Região Metropolitana de Porto Alegre

Construção civil avança e impulsiona o desenvolvimento do Litoral Norte; valor de vendas de projetos imobiliários no 1º semestre só ficou atrás da Região Metropolitana de Porto Alegre

Prefeitura de Tramandaí/Divulgação/JC
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Loraine Luz, especial para o JC*
Loraine Luz, especial para o JC*
 
Panorama sobre a construção civil no Litoral Norte mostra que os discursos otimistas de entidades e empresas do setor se soma a certeza de que, apesar de todo o potencial da região para a expansão, o desenvolvimento sustentável exige mais consistência e regularidade.
Desde a pandemia, a região acolhe mais moradores, o que gera demandas para toda a estrutura das cidades. Paralelamente, a revisão de Planos Diretores abre caminho para uma mudança no cenário urbanístico a médio e longo prazo.
E é deste ano uma das melhores notícias para o setor nos últimos anos: a execução de obras de saneamento básico pela Corsan/Aegea, cujo resultado permite que a expansão imobiliária avance.
 

Grupo Pessi (com a construtora Tedesco)  iniciou em março a construção do Markho Life

Grupo Pessi (com a construtora Tedesco) iniciou em março a construção do Markho Life

GRUPO PESSI/Divulgação/JC
Com base no apetite das empresas e incorporadoras do ramo - regionais mas também de fora com interesses locais - e, sobretudo, com soluções encaminhadas para dois importantes gargalos - o saneamento básico e, nas principais cidades, a revisão de planos diretores -, o setor da construção civil do Litoral Norte, bem como o seu dependente direto, o imobiliário, estão otimistas sobre suas performances para os próximos anos.
Mesmo com incertezas econômicas geradas pelo impacto da histórica e catastrófica enchente de maio, cidades-polos do ramo construtivo na região mostraram sua força em resultados do primeiro semestre de 2024. Conforme o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado (Sinduscon-RS), é do Litoral Norte o posto de segundo maior mercado imobiliário gaúcho, ao passar de R$ 3 bilhões em VGV (Valor Geral de Vendas) no acumulado dos seis primeiros meses, ficando atrás apenas de Porto Alegre e Região Metropolitana. Apuração da Brain Inteligência Estratégia, na qual o sindicato se apoia, informa que Capital e entorno bateram nos R$ 4 bilhões em igual período. Quanto à performance do Litoral, para o mesmo dado, em semestres anteriores, a entidade não tem registros. A pedido do Sinduscon, a Brain deve continuar os estudos do mercado local regularmente a partir de agora.
"O Sinduscon não tinha esse acompanhamento. Eu que iniciei agora esse processo de pegar dados, na tentativa de mostrar a força da região", afirma Renan Martinello, vice-presidente do sindicato e diretor do escritório Sinduscon Litoral Norte (biênio 2024-2026). Até maio, ele presidia a Associc (Associação dos Construtores e Incorporadores da Construção Civil de Capão da Canoa). E é com essa experiência que o dirigente afirma sobre os R$ 3 bilhões: "Para a região, é muito. Tu pegas Capão Canoa, vendeu R$ 800 milhões em um semestre. São R$ 130 milhões de VGV ao mês. Para uma cidade como Capão, é bem relevante".
O montante, cujo cálculo tem como base o ITBI, pode ser ainda maior. Martinello explica: "Pegamos o ITBI como base para ter um norte do que está sendo vendido. Mas, por haver muita transação direta, muito parcelamento direto com construtoras, é difícil escriturar o imóvel imediatamente, ainda mais em lançamentos. E o ITBI só é gerado na escritura. A gente calcula que esse VGV de R$ 3 bilhões seja quatro ou cinco vezes maior. O VGV real do Litoral Norte deve ficar em torno de R$ 10 bilhões ou R$ 12 bilhões".
Para o segundo semestre e para 2025, o sindicato projeta um crescimento médio de 10% no setor como um todo. A aposta em expansão também é feita pela Associação dos Municípios do Litoral Norte (Amlinorte), segundo a qual o setor da construção civil tem sido um grande impulsionador da economia da região, gerando empregos e garantindo sustento a milhares de famílias. "A Amlinorte não consegue dimensionar em números o crescimento do setor, mas sabe que certamente se mantém positivo ao longo dos anos. O principal desafio é consolidar os projetos dentro das melhores práticas de sustentabilidade, garantindo desenvolvimento, geração de empregos e cuidados com o meio ambiente", pondera o presidente da entidade, João Marcos Bassani dos Santos.
É no contexto da sustentabilidade que está uma das melhores notícias para o setor da construção civil da região nos últimos anos: a execução de obras de saneamento básico pela Corsan/Aegea, por meio do Plano Litoral. Além disso, acordos entre prefeituras, Justiça e a companhia firmaram compromissos de ordem estrutural e suspenderam embargos, especialmente em Capão da Canoa e em Arroio do Sal.
"A gente vinha só com 'voo de galinha', avanços curtos", comenta Martinello sobre as tentativas de melhorar as redes de água e esgoto. "Precisávamos de uma solução definitiva, e a Corsan entendeu isso fazendo um estudo muito amplo. Quando a Aegea assumiu, ganhamos dinamismo nisso e as obras estão sendo feitas. Houve avanços com o Ministério Público Federal. Isso dá segurança jurídica para empresários, investidores e compradores finais", conclui.
 

Valor Geralde Vendas

O primeiro semestre em VGV venal em municípios polos da construção civil no Litoral Norte
  • Capão da Canoa R$ 800 milhões
  • Xangri-lá R$ 740 milhões
  • Torres R$ 531 milhões
  • Tramandaí R$ 324 milhões
Fonte: Sinduscon-RS

Concorrência entre construtoras nas cidades litorâneas aumentou na última década

Montebello considera os avanços estruturais nas cidades para iniciar obras como a do Grand Copacabana, em Torres

Montebello considera os avanços estruturais nas cidades para iniciar obras como a do Grand Copacabana, em Torres

MonteBello/Divulgação/JC
Em comparação ao cenário de 10 anos atrás, o que chama a atenção no Litoral Norte na atualidade é a presença de construtoras oriundas de outras cidades. Líder em alto padrão no Estado, a Melnick se uniu à Arcádia Urbanismo justamente em 2014, para investir no mercado horizontal de condomínios, loteamentos e bairros planejados na região. Em oito anos, lançaram com sucesso quatro condomínios fechados em Xangri-lá. O período que sucedeu à pandemia ficou marcado como um dos mais aquecidos do setor em anos: a Melnick Arcádia vendeu todos os 300 terrenos de um condomínio em apenas nove segundos, em 2021.
Para Alessandra Sehn, sócia-diretora da Melnick Arcádia, o município segue com papel de destaque no mercado de condomínios horizontais. No final de 2023, outro lançamento recebeu 2 mil clientes com propostas para apenas 230 lotes, uma demanda de 10 clientes para cada lote ofertado. Mas Alessandra acredita que, em breve, vai faltar espaço para novos empreendimentos. "Embora tenhamos áreas para futuros lançamentos em Xangri-lá, já estamos nos posicionando também em Osório, Capão da Canoa e Arroio do Sal. Acredito que o crescimento imobiliário pós-pandemia deve seguir nos próximos anos, mesmo que em velocidade menor, mas com consistência", analisa.
A Melnick não é a única. A Omega Construtora e Incorporadora, de Lajeado, estreou no Litoral em 2021. No mesmo ano, foi a vez da Dallasanta anunciar o Amare Home Resort. "São várias construtoras que não têm sede física no Litoral, mas fazem seus lançamentos para atender os clientes que já possuem em suas carteiras na Capital, na Serra, no interior. Cria-se uma concorrência saudável", afirma Martinello. "Temos uma serra pelada em solo gaúcho, que é o Litoral", ilustra.
Por ora, um dos empreendimentos de maior fôlego na região, no entanto, é uma empreitada de empresa local, o Grupo Pessi (com a construtora Tedesco), que iniciou em março a construção do Markho Life Complex, em Capão da Canoa. Em um total de 78 mil m² de área construída, o projeto reúne uma torre residencial, um centro profissional com consultórios e escritórios, mall com praça de alimentação, um prédio garagem com quase 700 vagas, um centro de exames e diagnósticos, uma torre health care com conceito de 'moradia inteligente' e um hospital de alta complexidade — o primeiro do Litoral Norte gaúcho. " Vejo a região se consolidando como um dos principais destinos turísticos e residenciais do Estado", afirma o CEO do grupo, Alfredo Pessi.
O significativo aumento populacional, a partir da pandemia, está gerando demanda por construções nas áreas da saúde, educação e varejo, avalia Duani Teixeira, diretor da D1 Empreendimentos. "As pessoas que vêm para o Litoral buscam conforto pensando em toda a família e a mesma qualidade dos serviços que tinham nas cidades de origem. Estamos, sem dúvida, na região mais aquecida para o setor de construção no Rio Grande do Sul", acredita ele.
Dirigentes de construtoras experientes na região ouvidos pela reportagem ressaltam, no entanto, que a expansão depende de avanços estruturais na maior parte das cidades. "A escassez de mão de obra qualificada e a necessidade de infraestrutura adequada precisam ser enfrentados para sustentar esse crescimento", afirma o diretor da Montebello Construtora, Laurinei Monteiro Rodrigues. Como um dos sócios do Grupo Pugen, Ricardo Pugen aposta em um futuro brilhante para o litoral gaúcho, desde que os investimentos em saneamento continuem e, no caso de Capão da Canoa, o plano diretor atual seja readequado.
Paralelamente, um dos objetivos de Martinello à frente do Sinduscon Litoral Norte é colaborar com uma mudança cultural no setor local: "As obras são feitas com capital próprio dos empresários, na maior parte, e não com financiamentos de bancos. Precisamos chamar atenção do mercado de capitais para este nicho".
De olho na modernização do segmento, a Tijolo Hub - ecossistema dedicado à inovação nas cadeias de construção civil e mercado imobiliário - expandiu, em junho, para o Litoral.
"Após pesquisa entre startups e desenvolvedores, notou-se que o mercado imobiliário e o construtivo estão em penúltimo lugar no Brasil quanto a investimentos em inovação e tecnologia. Nosso objetivo é combater isso e atuar como catalisador de negócios", explica Janquiel, coordenador da Tijolo Litoral e presidente da Acica (Associação dos Corretores de Imóveis de Capão da Canoa).
 

Aprovação de projetos

Ao longo dos últimos cinco anos, confira o volume de licenças/alvarás para a construção de novos empreendimentos imobiliários nos municípios.
TRAMANDAÍ
2019 - 351
2020 - 360
2021 - 452
2022 - 399
2023 - 450
2024 (até meados de agosto) - 315
Total: 2.327
TORRES
2019 - 251
2020 - 244
2021 - 280
2022 - 316
2023 - 278
2024 (até dia 13/08) - 144
Total: 1.513
XANGRI-LÁ
2019 - 547
2020 - 290
2021 - 591
2022 - 318
2023 - 616
2024 (até 20 de agosto) - 423
Total: 2.785
CAPÃO DA CANOA
Acordo homologado em agosto do ano passado, na Justiça Federal, fez com que a prefeitura pudesse voltar a emitir alvarás para construção de novas casas e empreendimentos (verticais e horizontais). A suspensão estava em vigor desde dezembro de 2018, resultante de uma ação civil pública movida por conta da insuficiência do sistema de tratamento de esgoto. Até então, as únicas obras em andamento diziam respeito a licenças anteriores.
2023 (a partir de agosto) - 650
2024 (até 15 de agosto) - 478
Total: 1.128
 

Revisão de planos diretores promete mudar cenário urbano

Depois de 30 anos, Torres revisou a lei que rege o planejamento urbano do município; mudanças sancionadas em janeiro permitem novos produtos imobiliários

Depois de 30 anos, Torres revisou a lei que rege o planejamento urbano do município; mudanças sancionadas em janeiro permitem novos produtos imobiliários

fernanda crancio/especial/JC
Em dois dos mais importantes municípios para a construção civil no Litoral Norte, Xangri-lá e Torres, já vigoram novos planos diretores. As revisões nas diretrizes urbanísticas passaram a valer no início de 2024 e prometem impactar na construção civil e na cara dessas cidades nos próximos anos.
Por sua vez, Capão da Canoa - que também integra o grupo de polos construtivos - deve começar a discutir o seu plano diretor no ano que vem. "Já devia ter iniciado", comenta Renan Martinello, vice-presidente Sinduscon-RS e diretor do escritório Litoral Norte, referindo-se ao acordo homologado na Justiça Federal que permitiu o desembargo do município em agosto do ano passado (desde 2018, a cidade não podia construir novos empreendimentos), pelo qual o município revisaria em até 48 meses o Plano Diretor e o Plano Municipal de Saneamento Básico. "Por estarmos em ano de eleições municipais, foi adiado para 2025, para não cair na vala política", explica Martinello. Mudanças urbanísticas em Capão da Canoa, portanto, são pauta para a próxima administração.
As alterações no plano diretor de Torres foram sancionadas em janeiro deste ano pelo prefeito Carlos Souza (PP). O plano anterior era de 1995. Presidente da Associação das Imobiliárias de Torres (Rede Torres Imóveis), Jorel Klein atribui a isso perspectivas positivas para os próximos anos. As mudanças permitem novos produtos imobiliários em áreas onde antes não era possível, como na Praia da Cal e em bairros que se afastam um pouco do entorno da Praia Grande mas que ainda são próximos ao mar. O dirigente destaca ainda a redução na metragem dos terrenos, fazendo com que incorporadores possam oferecer produtos para quem tem um perfil mais econômico. "Antes, esse perfil priorizava Passo de Torres, aqui ao lado, porque a metragem mínima em Torres era muito maior, refletindo no valor", explica.
Em março deste ano, entrou em vigor o novo plano diretor de Xangri-lá. A lei foi sancionada pelo prefeito Celso Barbosa (PSDB) em dezembro de 2023. O município abrange nove praias, incluindo Atlântida e Rainha do Mar. A alteração com maior repercussão (e depois de muitos debates e polêmicas) foi a ampliação no limite de altura máxima dos prédios. Dependendo do tamanho do terreno e da localização, estão liberadas edificações acima de sete andares (21 metros), limite do plano anterior.
No final de julho, começaram as audiências públicas sobre o Plano de Saneamento Básico do município, discussão para a qual há mobilização entre veranistas e moradores. Em março, um grupo criou o Movimento Unificado em Defesa do Litoral Norte Gaúcho. Além de Xangri-Lá, dele fazem parte representantes das praias de Torres, Imbé, Tramandaí, Capão da Canoa, Osório e Arroio do Sal. Ponto importante das críticas feito pelo movimento é o envio de efluentes das estações de tratamento de esgoto de Xangri-Lá e Capão da Canoa para o Rio Tramandaí, próximo a Atlântida Sul. Para viabilizar a operação, um emissário já está em construção pela Corsan/Aegea.
 

Raio-X do setor e empresas

GRUPO PUGEN
Sede: Capão da Canoa
Fundação: meados dos anos 1980
VGV 2023: R$ 51 milhões
26 empreendimentos já entregues, 1 em conclusão, 1 em obras e 3 lançamentos previstos
Destaque: Mirage Luxury Homes, concluído em agosto deste ano, com plantas de apartamentos com tamanhos acima da média e estrutura quase que de resort dentro do condomínio.
"De 2020 a 2022, tivemos uma alta procura por imóveis, devido à pandemia, impulsionando o mercado como um todo. Nosso litoral tem uma infraestrutura completa, principalmente falando em Capão da Canoa e Torres. Grande parte dos gaúchos investe e adquire seu imóvel aqui e não mais em Santa Catarina."
Ricardo Pugen, sócio da empresa
GRUPO PESSI
Sede: Capão da Canoa
Fundação: 2001
VGV 2023: R$ 98 milhões
12 empreendimentos entregues (4 em Canoas), 2 em obras
Destaque: Markho Life Complex, empreendimento multiuso, com torre residencial, um centro profissional com consultórios e escritórios, mall com praça de alimentação, um prédio garagem com quase 700 vagas, um centro de exames e diagnósticos, uma torre health care com conceito de 'moradia inteligente' e um hospital de alta complexidade — o primeiro do Litoral Norte gaúcho. Um total de 78 mil metros quadrados construídos.
"No pós-pandemia, passou a receber um perfil de morador em idade ativa — que não apenas contribui para o crescimento da região como também requer serviços e infraestrutura. O Markho Life Complex responde a essa demanda latente da população não só de Capão da Canoas mas de 23 municípios que somam cerca de 1 milhão de habitantes."
Alfredo Pessi, CEO do Grupo Pessi
MONTE BELLO
Sede: Torres
Fundação: 1998
VGV 2023: R$ 35 milhões
18 empreendimentos entregues, 4 em obras e 1 lançamento previsto
Destaque: Le Dune, localizado a uma quadra do mar da Praia Grande, que já soma seis prêmios (nacionais e internacionais). Todas as plantas são únicas, oferecendo exclusividade e personalização aos proprietários.
"Estamos otimistas com o futuro. O Litoral Norte tem um enorme potencial, especialmente com o aumento da procura por imóveis de alto padrão. Em 26 anos de história, já entregamos mais de 120 mil metros quadrados construídos. Com investimentos contínuos em infraestrutura e na qualificação da mão-de-obra, podemos contribuir com o desenvolvimento sustentável da área."
Laurinei Monteiro Rodrigues, diretor
D1 EMPREENDIMENTOS
Sede: Capão da Canoa
Fundação: 1993
VGV 2023: não informado
5 empreendimentos entregues, 3 em obras, 10 lançamentos previstos
Destaque: Occhi Marina Clube (em lançamento), um condomínio náutico às margens da Lagoa dos Quadros, com mais de 23,3 mil metros quadrados somente de área de lazer.
"As pessoas de todo o Estado olham para o Litoral com bons olhos, temos empreendimentos imobiliários de alto padrão. As oportunidades geralmente estão em lançamentos, nos quais é possível ter excelente rendimento, de valorização com o tempo. O maior desafio no Litoral é manter o crescimento do todo de forma sustentável."
Duani Teixeira, diretor
 

Água e esgoto: melhorias permitirão expansão imobiliária

Fábio Arruda diz que a necessidade de mão de obra é constante

Fábio Arruda diz que a necessidade de mão de obra é constante

Corsan/Divulgação/JC
Quase duas dezenas de intervenções em nove municípios do Litoral Norte compõem o status atual do Plano Litoral, desenvolvido pela Corsan/Aegea para suprir a deficiência de saneamento básico na região. Até o final deste ano, a estimativa da companhia é investir R$ 84 milhões para melhorar o abastecimento de água e o tratamento de esgoto, impactando mais de 40 mil pessoas, entre residentes e veranistas. O Plano Litoral prevê ao todo R$ 550 milhões em investimento até 2033, prazo para alcançar a universalização dos serviços.
Além de estruturar as cidades para uma nova fase de desenvolvimento urbanístico, as obras em si também movimentam o setor da construção civil, envolvendo fornecedores de materiais e prestadores de serviços locais. "A gente sempre está precisando de mão de obra nas regiões onde atuamos", explica Fábio Arruda, superintendente Corsan/Aegea da Região Litoral Norte. "Optamos por empresas locais principalmente porque conhecem o terreno onde estão sendo feitas as obras. O que vem de fora são basicamente as tubulações", acrescenta ele.
As ações prioritárias incluem a adequação e a construção de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), a execução de elevatórias de esgoto tratado, a construção de emissário da ETE e a desativação de ETEs. As bacias de infiltração da região, que apresentam baixa capacidade operacional, serão substituídas pelo lançamento de efluentes tratados nos rios Tramandaí (que recebe os efluentes de Capão da Canoa, Xangri-lá e Atlântida Sul) e Mampituba (parte recebe dejetos de Torres, Arroio do Sal e Arroio Teixeira e, outro ponto, de Imbé e Tramandaí). O Estado tem de chegar a 90% de índice de coleta e tratamento de esgoto até 2033.
"Posso garantir que 30% dos investimentos totais da companhia em rede de esgoto este ano está indo para o Litoral Norte gaúcho", afirma Arruda. Considerando os investimentos em esgoto, em todo o Estado, previstos pela companhia, se chegará a um total de R$ 15 bilhões até 2033. "Na nossa visão, isso é algo que jamais foi realizado na parte de esgoto no Estado", pontua ele.
Tamanho investimento abre novas possibilidades para a expansão imobiliária. Decisão recente envolvendo Arroio do Sal é um exemplo. Em julho, a prefeitura firmou um acordo com a Corsan/Aegea, Ministério Público do Estado (MP-RS) e Ministério Público Federal (MPF) pondo fim a uma Ação Civil Pública de 2017 para a implementação e fiscalização dos sistemas de saneamento - e na prática era um embargo a construções.
Arruda detalha: "A Corsan tem ali a obrigação de fazer chegar a cobertura de esgoto, que hoje é zero, a 60% até 2028 e 90% até 2033. Por outro lado, a gente garantiu ao MPF que isso vai acontecer e está acontecendo, já estamos com projetos em andamento, o que permitiu a possibilidade de destravar a construção imobiliária do município de Arroio do Sal. E isso segue para o Litoral todo. Xangri-lá está indo para o mesmo caminho. Capão, Tramandaí, Imbé.. Enfim, todos esses locais onde estamos fazendo tratamento de esgoto são liberados para a expansão imobiliária".
 

Região apresenta singularidades na hora de construir

Mão de obra qualificada é um ponto frágil para todos os setores da economia no Litoral. A construção civil não escapa desse desafio, admite Renan Martinello, vice-presidente Sinduscon-RS e que responde pelo escritório do Litoral Norte da entidade. "Temos uma preocupação muito grande com este ponto, e o Sinduscon fornece cursos para qualificação. Capão também foi palco de duas edições seguidas do Inovar Sinduscon, procurando essa aproximação da entidade com o mercado do litoral", ressalta. Segundo o dirigente, 70% da mão de obra ativa economicamente na região está ligada à construção civil e a serviços que orbitam em torno do setor. Esse contingente de trabalhadores também acaba criando demandas que precisam ser atendidas, como a necessidade de mais oferta de moradias. "Temos pedido atenção e buscado alternativas principalmente para moradia com tíquete mais acessível, como o Minha Casa Minha Vida", afirma Martinello.
Professora no campus da UFRGS Litoral Norte, a engenheira civil Iamara Bulhões coordena uma capacitação em gestão de sistemas de produção na construção civil que reúne desde maio 35 colaboradores de seis empresas de médio porte do setor, de Capão da Canoa e Xangri-lá. "É uma turma bastante disposta e interessada, não somente composta por engenheiros e arquitetos, mas também mestres de obras e encarregados",detalha Iamara. Os encontros são mensais, à noite, quando se desenvolve o conteúdo do curso; depois, os professores fazem visitas regulares às obras (todos edifícios residenciais em construção) para acompanhar a aplicabilidade dos ensinamentos.
O projeto tem a participação de outros quatro professores, e a intenção é dar continuidade à iniciativa após o encerramento dos 12 meses previstos para essa turma - seja atingindo novos grupos na região, seja oportunizando módulos mais avançados aos atuais alunos. Iniciativa da UFRGS junto ao Sinduscon da região, trata-se do único projeto, na linha de capacitações, acontecendo no momento via sindicato. Segundo Martinello, a entidade busca oferecer uma média de três ou quatro oportunidades de capacitações por ano.
Iamara observa algumas peculiaridades do setor na região: "Muitas são obras com recursos próprios, então, não tem uma velocidade muito grande como aquelas que têm financiamento de banco. Às vezes, a empresa está construindo em dois pontos e compartilha esse recurso, então, o ritmo é diferente. A preocupação com prazos não é muita. As pessoas têm horário de almoço maior, os trabalhadores vão para casa, isso é diferente da cidade grande".
Os professores também notam que há muita mão-de-obra própria e não terceirizada. Por outro lado, outros dois pontos seguem uma tendência geral na construção civil: média de idade alta entre os trabalhadores e aprendizado por observação, ou seja, o conhecimento vem da prática na obra mesmo. Já Martinello entende que, do ponto de vista de gestão, já começa a haver uma renovação dentro daquelas empresas locais que são familiares, com os filhos assumindo os negócios.
 

Mercado formal é dinâmico

 Dados do Painel de Informações Novo CAGED (elaboração: SIP-DRMT/FGTAS) apontam que a construção civil é o terceiro setor que mais emprega na região desde 2020, ficando atrás dos líderes serviços e comércio. A área emprega com consistência mas também demite com regularidade - a seguir, dirigente do SindusconRS explica por quê.
 De janeiro a junho de 2024, considerando Capão da Canoa, Xangri-lá e Torres, a construção civil teve saldo negativo: admitiu 1.079 pessoas (12,27% do total de setores) e desligou 1.125 (10,45% do geral de todo os setores).
 O semestre anterior (julho-dez 2023) também apresentou saldo negativo: os três municípios admitiram 940 pessoas e demitiram 1.070. O primeiro semestre do ano passado tem dados melhores, fechando positivo com saldo de 124 pessoas permanecendo com carteira assinada no setor.
 Entre admissões e demissões, Xangri-lá ficou com o melhor saldo no primeiro semestre de 2024 - ainda que mínimo. Empregou na construção 135 (sobre um total de 1.396) e demitiu 127 (sobre 1.729). Os outros dois municípios pesquisados demitiram mais do que empregaram.
 É de 2021 o melhor saldo do setor nos últimos quatro anos para os três municípios. O principal motivo está associado à pandemia, quando houve uma migração para o Litoral, aquecendo o setor imobiliário, com reflexos na construção civil da região.
 Capão da Canoa e Torres mantiveram saldo positivo em 2022, porém reduzindo o fôlego. No mesmo ano, Xangri-lá teve seu pior saldo desde 2020.
 Para ilustrar, entre as construtoras ouvidas pela reportagem, a média de empregos diretos e indiretos gerados durante uma única obra gira em torno de 150 para a Monte Bello, de 30 a 170 para a D1 Empreendimentos (no caso de prédios verticais) e 100 para o Grupo Pugen. A construção do Markho Life Complex, pelo Grupo Pessi, ganha destaque nesse quesito pela magnitude do projeto já iniciado e com entrega prevista para o final de 2028: a expectativa é gerar cerca de 800 empregos diretos e indiretos durante a execução (porém, a mão de obra deve vir de fora da cidade também).
Apuração do Caged é relativa
"Esses dados não refletem muito bem a realidade do setor, porque a construção civil tem característica sazonal. A gente tem muito empresário individual que não reflete em carteira de trabalho. O cara que faz funilaria tem a empresa dele. O que faz hidráulica tem a sua etc. A obra é muito dinâmica e segmentada. Com entrada e saída de profissionais. Por exemplo, contrata o carpinteiro, ele ergue a estrutura e depois sai. O prazo de cada equipe por segmento é curto".
Renan Martinello, vice-presidente Sinduscon-RS/Litoral Norte
 

Capacidade das novas redes deve servir por longo prazo

Em Xangri-Lá, ampliação da ETE promete garantir a capacidade de atendimento durante os meses de verão

Em Xangri-Lá, ampliação da ETE promete garantir a capacidade de atendimento durante os meses de verão

Corsan/Divulgação/JC
Mesmo com alguns atrasos logísticos em função das cheias de maio no Estado, todo o cronograma das obras no Litoral Norte está em dia, segundo Fábio Arruda, superintendente Corsan/Aegea da Região Litoral Norte.
Entre as melhorias já finalizadas, quase 4 mil pessoas se beneficiaram em Balneário Pinhal, Magistério e Quintão. Na outra ponta da faixa litorânea, bem ao Norte, as obras em Torres prevêem beneficiar cerca de 4,6 mil moradores, com rede de esgoto chegando a locais que hoje não dispõem do serviço. "A grande notícia para Torres é que a cidade vai alcançar (uma cobertura de) 85,7%. Se a gente está falando em uma universalização de 90% para 2033, Torres já vai chegar muito perto no ano que vem, o que é um grande feito em matéria de qualidade de vida", argumenta Arruda.
Entre as obras em fase inicial, a construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em Cidreira é emblemática. Até então, o município só tem 8% do esgoto tratado. Com um investimento de R$ 2,4 milhões, a construção da quarta bacia de infiltração também já está em curso. Além disso, mais de 700 famílias terão acesso à rede de água pela primeira vez no bairro Chico Mendes.
Em Xangri-lá, a ampliação da ETE - um investimento de R$ 2,6 milhões - promete garantir a capacidade de atendimento durante os meses de verão, quando a população cresce consideravelmente. Sustentar o alto consumo no veraneio também justifica o novo reservatório de Imbé, com efeitos principais nos bairros Imara e Presidente, para o que foi destinado R$ 1,3 milhão.
Outro ponto importante na mesma praia diz respeito a ETE, conforme explica Arruda: "Vamos retomar as obras até novembro deste ano. Estamos trocando pneu com o carro andando, porque estamos fazendo a rede nos bairros e agora se retoma a estação, que tem previsão de finalização para o final do ano que vem".
As intervenções em Capão da Canoa visam a ampliar a captação e o abastecimento de água por meio de novas redes. Mas um dos maiores investimentos (R$ 6 milhões) está voltado para o retrofit da ETE Guarani, previsto para finalizar ainda neste ano e que busca preparar o município para o futuro. "A obra vai suportar que todo o esgoto de Capão da Canoa seja 100% coletado e tratado até 2062", explica Arruda. Segundo ele, com as melhorias na estação será possível a partir do ano que vem expandir todo o sistema, chegando a novas áreas - o que faz crescer as possibilidades imobiliárias.
 

O cenário de obras até o momento*

Objetivo do Plano Litoral é universalizar o saneamento na região até 2033. Para isso, mais de R$ 550 milhões serão destinados à modernização dos serviços.
 Arroio do Sal
 Implantação da rede de água no bairro Pinus Park (5,8 mil metros)
Status: concluída
Balneário Pinhal
Instalação de adutora de 250mm por 3,2km junto à lateral da ERS 786
Status: concluída.
Cidreira
 Construção da quarta bacia de infiltração para ampliar sistema de esgotamento sanitário.
Status: 55% realizado
Conclusão prevista para novembro de 2024
 Construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)
Status: fase inicial (agosto)
Conclusão prevista para maio de 2025
Tramandaí
 Nova adutora, com uma extensão de 1.188 metros, junto à ERS-030, até a lagoa Emboaba, onde a água é captada e enviada à Estação de Tratamento de Água (ETA) e depois distribuída à população
Status: concluída
Implantação de 3,5 km de rede de esgoto (bairro São Francisco I); construção de duas estações de bombeamento de esgoto (bairro Zona Nova); ampliação da estação de tratamento de esgoto (distrito da Estância)
Status: fase inicial (agosto)
Conclusão prevista para março de 2025
Imbé
 Instalação de 4.548 metros de rede de esgoto no bairro Courhasa
Status: 10% realizado
Conclusão prevista para dezembro de 2024
 Implantação de rede de esgoto no bairro Nova Nordeste
Status: 35% realizado
Conclusão prevista para dezembro de 2024
 Novo reservatório com capacidade de 500 m³
Status: concluído
Troca de adutora de 150m junto à Ponte Giuseppe Garibaldi
Status: concluída
 Xangri-lá
 Construção do emissário
Status: 5 km dos 9,2 km foram executados do emissário; a obra da estação elevatória de esgoto está em fase inicial (agosto)
Conclusão prevista para junho 2025
 Ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) com a construção da sétima bacia de infiltração
Status: concluída
 Capão da Canoa
 Implantação de novas redes de esgoto e substituição das já existentes na área central.
Status: concluída
 Melhorias no sistema de esgoto cloacal no centro do município para evitar extravasamentos.
Status: concluídas
 Instalação de uma nova tubulação de 100m de extensão para dentro da Lagoa dos Quadros, ampliando o sistema de captação.
Status: concluída
 Substituição da rede de água (entre Zona Norte e Praia do Barco)
Status: concluída
 Torres
 Quatro bairros vão receber 23,5 quilômetros de redes coletoras de esgoto doméstico.
Status: em andamento
Conclusão prevista para agosto de 2025
Osório
 Troca da Central de Telemetria da ETA (a Central de Telemetria permite acompanhar, permanentemente, os níveis de água dos reservatórios, as condições de funcionamento de poços artesianos e os bombeamentos que compõem a distribuição de água à população, entre outras funções - como as que envolvem a parte elétrica, bem como o sistema de esgotamento sanitário.)
Status: concluída
Fonte: Corsan/AEGEA (status atualizado até 19 de agosto)
 

*Loirane Luz é jornalista formada pela UFRGS, atua como freelancer desde 2007, depois de 12 anos de experiência em redação de jornal impresso.

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