Adepto aos esportes radicais, o atual presidente do Sincodiv/Fenabrave-RS, Jefferson Fürstenau aproveita as horas vagas para andar de moto e curtir as duas filhas e as duas netas. Aos 55 anos, o porto-alegrense assumiu a liderança das entidades em janeiro de 2024, trazendo consigo uma vasta experiência e uma história de vida profundamente ligada ao setor automotivo.
Nascido e criado dentro do universo das concessionárias, Jefferson é filho de Sigismundo Fürstenau, na época sócio da Karl Iwers, concessionária Volkswagen. Desde os 12 anos, suas férias escolares eram dedicadas ao trabalho na empresa, passando por diferentes setores, desde a recepção até a lavagem, desempenhando papéis diversos como consultoria técnica, entregador de peças, vendedor, proprietário de loja multimarcas, gerente de concessionárias, até ser nomeado distribuidor de algumas marcas. Atualmente representa as marcas Kia e Suzuki.
Empresas & Negócios - Qual foi o impacto das enchentes de maio para o segmento no RS?
Jefferson Fürstenau - Antes da enchente, nós tínhamos uma renda média de vendas de veículos na faixa de 14 mil a 15 mil unidades. Tivemos um mês de paralisação em maio e em junho nós tivemos 18 mil veículos vendidos, julho 19 mil veículos. Ou seja, a gente teve um crescimento em relação à média do que vinha vendendo. Então não é só o crescimento normal, e sim o crescimento do pós-enchente, pois contamos também com as indenizações de seguro, ampliando a demanda de clientes.
E&N - As empresas do segmento não foram afetadas igualmente pelas cheias. Como o senhor vê essa disparidade?
Fürstenau - Temos dois tipos de concessionária. As pequenas, que estão sofrendo mais com os impactos de danos nas estruturas, com a perda de estoque, perda de automóveis. E tem os grupos novos, empresas que não foram atingidas e não sofreram tanto com as enchentes. O que a gente notou foi que esse mês perdido causou um impacto financeiro muito grande nas concessionárias. Mas a recuperação do mercado tem se mostrado acima do que a gente imagina. Nós fechamos os primeiros sete meses do ano passado com 89 mil veículos vendidos. Nesse ano, são 99 mil veículos. Isso significa mais de 12% de crescimento, mesmo tendo perdido um mês. Então, isso mostra que o mercado automotivo tá em crescimento.
E&N - A que se deve esse bom desempenho?
Fürstenau - Em nível Brasil, os números no mês de julho com 419 mil veículos vendidos, foi o melhor desempenho dos últimos 10 anos. O segmento está em crescimento, o Rio Grande do Sul foi impactado, sim, perdemos um mês, mas está em plena recuperação. Acho que se deve a esse momento positivo do setor se deve à entrada de novas montadoras e novas tecnologias. Hoje você pode escolher o combustível do automóvel: à combustão, flex, gasolina ou álcool, diesel, híbridos (que estão entrando e crescendo muito no mercado) e os elétricos (que já são uma realidade dentro do mercado nacional). Mas o principal fator é a um aumento da capacidade da linha de crédito para o consumidor final. Ainda não temos um juro mais baixo, nós estamos com uma Selic estável, mas você tem mais acesso a crédito. Porque hoje o automóvel é quase como um condomínio, você coloca uma prestação para o seu meio de locomoção.
E&N - Como o senhor vê o mercado dos motoristas de aplicativo?
Fürstenau - Os carros por aplicativo acabam sendo um concorrente das concessionárias, porque normalmente eles estão nas mãos das locadoras, que compram direto de fábrica, e, via de regra, não emplacam esses carros aqui no Estado. Mas é um segmento hoje que as concessionárias também estão olhando para ele. Tem dois tipos de motorista de aplicativo: aquele que usa um veículo locado e aquele que quer ter um bem que quer ter uma posse. Então esse que a nossa entidade está mirando e buscando trazer ele para dentro das concessionárias.
E&N - A tragédia climática afetou a estimativa de crescimento do setor para este ano?
Fürstenau - Antes do episódio, a nossa expectativa era um crescimento de 10%, e agora com que se apresentou até julho, acreditamos em um crescimento de 12% a 14%, a depender de como vai responder o segundo semestre.
E&N - Recentemente, a entidade realizou um feirão de empregos. Como o senhor vê o mercado de trabalho na área?
Fürstenau - Com entrada de montadoras e novas concessionárias no Estado, prevíamos uma ação como essa desde o início do ano. Esse primeiro feirão que realizamos e estava previsto para ser realizado no dia 13 de maio. Mas nós tivemos a catástrofe climática aqui no Estado do Rio Grande do Sul e precisamos esperar um pouco.
E&N - Apesar das enchentes de maio, o segmento seguiu com vagas abertas?
Fürstenau - Sim, percebemos que a necessidade de mão de obra continuava, pois o mercado não encolheu. Como nós vimos a resposta positiva das vendas no mês de junho e até a metade de julho, um crescimento muito forte do mercado, continuou a necessidade de postos de trabalho nas concessionárias. Aí retomamos o feirão, até com um aspecto de cunho social ainda mais importante nesse momento de recuperação. Nós temos um setor que está vendendo bem e que tem a possibilidade de colocar mais pessoas no trabalho legalizado no mercado.
E&N - O feirão de empregos foi o primeiro evento nesse sentido organizado pela entidade. A ideia é de que se repita?
Fürstenau - Isso partiu de uma conversa com os RHs das empresas, quando vimos a necessidade hoje de ter uma nova fonte de captação. Acontece que as concessionárias acabam anunciando nas suas redes sociais as vagas e nem todo mundo tem acesso a isso, até pela própria dificuldade hoje de deslocamento da pessoas à matriz, que faz o recrutamento em um local a concessionária na qual a pessoa vai trabalhar fica outro. Hoje nós temos 12 grupos de empregadores, envolvendo 50 concessionárias. Um trabalhador que quer se candidatar no mercado não tem como passar em todas elas, então nós trouxemos todos para cá e resolvemos fazer uma mídia um pouquinho mais forte, anunciando essas vagas principalmente.
E&N - Que tipo de vagas o segmento necessita? São só oportunidades para mão de obra especializada na área?
Fürstenau - Quando se pensa numa concessionária, todo mundo só pensa no vendedor e no mecânico, e esquece que tem que ter motorista, manobrista, auxiliar de serviços gerais, lavador de automóveis. As pessoas se esquecem do pessoal da contabilidade, do auxiliar de escritório, do financeiro. Os salários vão de R$ 2 mil até R$ 15 mil nos cargos de liderança.