Carmen Carlet, especial para o JC*
Os desafios climáticos, embora não sejam novos, têm ganhado destaque significativo nos últimos anos. Discussões sobre o tema ocorrem há décadas entre líderes mundiais, mas a frequência e intensidade de eventos extremos como chuvas torrenciais, ondas de calor, terremotos e secas severas aumentaram a urgência das medidas. Essas mudanças afetam não apenas o cotidiano das populações, mas também o funcionamento dos ecossistemas, já impactados com consequências para a biodiversidade e a economia. No Rio Grande do Sul, por exemplo, as alterações climáticas tiveram um efeito devastador em 2024, causando a maior tragédia climática do Estado.
Tragédia no Rio Grande do Sul alerta para a urgência de mudanças climáticas
As Soluções Baseadas na Natureza (SbN) são ações que utilizam processos e ecossistemas naturais para enfrentar os desafios mais urgentes do nosso tempo, tais como os impactos de eventos climáticos
/Rodrigo Aguiar/Divulgação/JCA preocupação com os desafios climáticos não é recente. Pauta discutida pelos dirigentes mundiais já há algumas décadas, vem ganhando holofote nos últimos anos por conta da incidência de grandes movimentações como chuvas concentradas em pouco espaço de tempo, ondas de calor, terremotos e estiagens severas, entre outras. Esta mudança do clima afeta o atual modo de vida da população, bem como o funcionamento dos ecossistemas, que já estão sofrendo alterações que impactam na biodiversidade e na economia.
Para os gaúchos, por exemplo, a mudança climática adquiriu proporções dramáticas neste 2024, com a devastação de boa parte do território. Uma pesquisa efetuada em 2023 pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em cooperação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil e apoio da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (Anamma) e Aliança Bioconexão, intitulada "Natureza e Cidades: a relação dos brasileiros com as mudanças climáticas", já dava boas pistas sobre o que vivenciamos hoje no sul do País com a imperativa necessidade de resiliência.
O desenvolvimento resiliente ao clima, segundo especialistas, é aquele que conjuga medidas de mitigação e adaptação. Porém, fica mais difícil a cada aumento no aquecimento da temperatura média global. Para se ter uma ideia, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) oficializou que 2023 foi o ano mais quente já registrado, ficando 1,45°C acima dos níveis pré-industriais e se aproxima cada vez mais de 1,5°C, o marco limite do Acordo de Paris, firmado em 2015. Para tentar reverter esse caminho, a natureza precisa voltar ao centro das atenções e soluções.
O levantamento da Fundação O Boticário ouviu duas mil pessoas em todo o Brasil a fim de traçar um mapa sobre conhecimento e opinião da população sobre questões relativas à mudança do clima e ao meio ambiente. A pesquisa também tinha o objetivo de compreender se as pessoas já conhecem o termo Soluções Baseadas na Natureza (SbN), se relacionam o termo com conservação da biodiversidade e se valorizam a implantação de soluções diferenciadas para os desafios que as cidades já enfrentam. Pela pesquisa, apenas 1% dos brasileiros conhecem bem essas possibilidades.
As SbN são ações que utilizam processos e ecossistemas naturais para enfrentar os desafios mais urgentes do nosso tempo, tais como o risco da falta de água, com secas e estiagens, e dos impactos de eventos climáticos extremos, como inundações e deslizamentos. É uma abordagem de gestão de recursos naturais que gera benefícios para a biodiversidade ao mesmo tempo em que promove soluções para o desenvolvimento socioeconômico e bem-estar humano.
Lilian Hengleng, fundadora da consultoria ambiental Das Naturland, afirma que a ideia central das SbN é substituir as intervenções humanas poluidoras ou ecologicamente agressivas por práticas sustentáveis, inspiradas em ecossistemas saudáveis, para enfrentar desafios urgentes. Segundo a consultora, para que um projeto seja considerado uma SbN, ele deve atender a cinco fundamentos essenciais: sustentabilidade, benefícios múltiplos, resiliência, engajamento comunitário e base científica.
O arquiteto e urbanista Rafael Drumond avalia que, quando a conversa é sobre águas, uma questão fica evidente: a pressão sobre ela tende a aumentar no futuro. "Com o aumento da população e a concentração de cada vez mais pessoas nas cidades, somadas às mudanças climáticas que estamos presenciando e a crescente ocorrência de enchentes, a água torna-se o centro do debate", avalia.
Pois, segundo ele, ao mesmo tempo que não podemos nos distanciar dela, por razões óbvias, também não podemos manter nossas cidades da maneira como foram e estão sendo construídas e mantidas. Diante desse cenário, Drumond aponta que uma das respostas mais promissoras são as SbN, que oferecem uma alternativa eficiente às soluções convencionais que geralmente requerem alto consumo de energia, como a transposição de bacias, perfuração de poços e canalização de cursos d'água, entre outros exemplos.
O uso dessas técnicas não é uma novidade, já sendo utilizadas há pelo menos 20 anos em regiões pelo mundo que demandam maior atenção ao solo em áreas úmidas e com maior necessidade de drenagem urbana. A maior busca por técnicas que utilizam a natureza como ferramenta vem da aceleração das mudanças climáticas, responsáveis ao mesmo tempo por grandes enchentes e crises hídricas em diferentes cidades do mundo.
Pequenas intervenções podem auxiliar a capital gaúcha
Lilian Hengleng cita propostas como jardins de chuva e telhados verdes
/Lilian Hengleng/Arquivo Pessoal/JCAs SbN enquadram várias técnicas que podem ser aplicadas em menor escala, como a utilização de telhados verdes - que colaboram na retenção da água da chuva, diminuindo a demanda no sistema de drenagem urbana - ou com os jardins de chuva, parecidos com os convencionais, mas construídos de forma a proporcionar uma maior absorção das águas em cidades com solo impermeabilizado pelo concreto ou asfalto. "Essas técnicas podem ser adotadas pela própria população e a somatória de várias residências utilizando tem alta capacidade de diminuir a frequência e intensidade das enchentes", afirma Lilian.
Segundo o urbanista, neste processo, encaixam-se propostas como corredores ecológicos, parques lineares - que poderiam ser uma alternativa a ser utilizada ao longo do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre, para diminuir as incidências de inundações na região - além de parques alagáveis, que servem para retardar a entrada da água no sistema de drenagem urbana e que também poderiam ser pensados para as regiões aterradas ao longo do Guaíba.
Analisando a capital gaúcha, a consultora Lilian Hengleng destaca que a cidade avançou claramente sobre mancha de inundação de 1941. "E qual foi a solução adotada pelos responsáveis sobre os riscos de inundação a cada 100 anos, por exemplo?", questiona a ambientalista, lembrando que se pode somar a falta de manutenção do sistema de diques, casa de bombas, preparação da defesa civil para eventos extremos, como agravantes.
Para ela, décadas de pesquisas ecológicas mostram que a conversão de paisagens nativas para agricultura e pecuária intensivas e urbanização causa perda de biodiversidade, degradação do solo e aumento da vulnerabilidade a desastres naturais. "Precisamos viver e produzir e para isso, precisamos desenvolver um sistema que esteja adaptado e em harmonia com a natureza que é nossa melhor aliada", afirma.
Nesta mesma linha o geólogo Rualdo Menegat, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) observa que a Zona Sul de Porto Alegre possui importantíssimos estoques ambientais e paisagísticos: as matas e nascentes de arroios do Morro São Pedro e da Extrema e os banhados do Lami e da Ponta do Arado, entre outros, são exemplos. Para o geólogo, toda orla do Guaíba deveria ser considerada um corredor ecológico, conectando áreas verdes e banhados de Itapuã até o Delta do Jacuí.
Para ele, essa é a importância da região, que pode fazer a diferença na estruturação de uma cidade mais porosa ou esponja. "Não precisaríamos construir os elementos da porosidade, já estão ali, bastaria conectá-los, integrá-los com a vantagem de serem naturais", avalia. Ele destaca, por exemplo, que na China - referência mundial no conceito - as cidades-esponjas gastam fortunas para construírem jardins e áreas úmidas.
"Em Porto Alegre, temos essas áreas naturais, que além de conter a água conservam nosso patrimônio paisagístico, nossa identidade maior. Precisamos ter uma visão ecossistêmica para ver a cidade e suas interconexões com seus patrimônios culturais, sociais e naturais", diz Menegat. Para ele, somente assim poderemos melhorar nossa resiliência frente a fenômenos climáticos extremos.
Regenerar é essencial para recuperar os ecossistemas
Taim é local estratégico para o resguardo dos habitats e o equilíbrio da biodiversidade
HENRIQUE ILHA/HENRIQUE ILHA/DIVULGAÇÃO/JCSem deixar de reconhecer as contribuições da permacultura e das agriculturas sintrópica, agroecológica, biodinâmica, orgânica e agroflorestal, o engenheiro agrônomo e doutor em ecoetologia, Marcelo Abreu da Silva, afirma que a agricultura regenerativa está um passo à frente adotando a premissa de que se sustentar não é mais suficiente, é preciso regenerar/restaurar/revitalizar, com vistas à obtenção de alimentos, ambientes e vidas saudáveis.
Com isso, manutenção e aumento da resiliência da produção de alimentos se aliam à melhoria da qualidade de vida tanto no meio rural como em grandes aglomerações urbanas. Integrante do Instituto de Agricultura Regenerativa, ele explica que, aqui no Rio Grande do Sul, temos trabalhado sob a ótica regenerativa desde os anos 1990, antes mesmo deste conceito alcançar a popularidade atual em diversos estados do País.
Isso inclui o acompanhamento de sistemas de produção regenerativa, principalmente nas regiões do Planalto Médio, Pelotas-Morro Redondo e Bagé-Lavras do Sul. "Também temos perspectivas de extensão de seu escopo às demais regiões no contexto do atual esforço de reconstrução do Estado e regeneração de seus ambientes", adianta o engenheiro agrônomo.
O professor explica que o enfoque regenerativo aplicado ao campo e à cidade, por meio da agricultura regenerativa, das cidades verdes/resilientes e da transição energética justa, é o único caminho viável para a solução perene dos problemas socioeconômicos e ambientais deste século. E, de acordo com ele, isso se aplica perfeitamente às enchentes ocorridas em 2024, da mesma forma que às do ano passado e demais eventos ocorridos no País nos últimos anos. "A questão que se coloca aqui é se vamos continuar a somente 'apagar incêndios' ou se teremos força política para enfrentar as causas dos problemas", destaca.
Charles Maffra, engenheiro florestal e diretor-técnico da Salix Engenharia - consultoria ambiental com sede em Frederico Westphalen -, observa que, na medida que enfrentamos as alterações climáticas, eventos extremos estão se tornando cada vez mais comuns e passam a ser vistos como normais. Segundo ele, o tempo de recuperação das áreas degradadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul depende de vários fatores, como o grau de degradação, as características do solo, o clima, a disponibilidade de recursos e o envolvimento da comunidade.
"Em geral, pode levar de alguns meses a vários anos, dependendo da complexidade e da escala dos projetos de engenharia natural e recuperação de áreas degradadas. Essas técnicas são mais baratas, mais sustentáveis e mais adaptáveis aos sistemas naturais do que as soluções convencionais de engenharia civil e, além de proteger a área, também contribuem para a sua restauração ecológica.
Glossário ambiental
Agricultura agroecológica: Modelo de agricultura alternativa baseada na integração e aplicação de conceitos ecológicos e sustentáveis na produção de alimentos.
Agricultura agroflorestal: Uma forma de uso e ocupação do solo em que árvores são plantadas ou manejadas em associação com culturas agrícolas ou forrageiras.
Agricultura biodinâmica: Semelhante a agroecologia. Entre os seus elementos de estão o uso de preparados biodinâmicos, como os princípios da homeopatia e o acompanhamento do calendário astronômico, como as fases da lua e signos para reger os elementos da terra.
Agricultura regenerativa: É aquela capaz de produzir alimentos ao mesmo tempo em que propicia condições para a natureza se recuperar.
Agricultura sintrópica: Propõe reordenar, restaurar o ambiente natural, a floresta. A proposta é de criar um sistema que junta, na mesma área, a produção de hortaliças, frutas e madeira, que também recupera áreas degradas e protege o meio ambiente.
Biodiversidade: A variabilidade entre os seres vivos de todas as origens, a terrestre, a marinha e outros ecossistemas aquáticos, e os complexos ecológicos dos quais fazem parte.
Bioeconomia: Modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos.
Cidade-Esponja: Cidade com a capacidade de integrar a gestão da água urbana nas políticas e projetos de planejamento urbano.
Comunidade biótica: Conjunto de todos os seres vivos, vivendo num mesmo local, e na mesma época.
Soluções Baseadas na Natureza (SbN): Conceito constituído por medidas inspiradas, apoiadas ou copiadas da natureza e que visam atender simultaneamente objetivos ambientais, sociais e econômicos.
Telhados verdes: cobertura de plantas e um telhado com técnicas de impermeabilização e de plantio.
Permacultura: Sistema integrado de espécies animais e vegetais perenes ou que se perpetuam naturalmente e são úteis aos seres humanos.
Mato do Júlio protegeu áreas de Cachoeirinha durante a enchente
Costa destaca a importância da área por seu papel na retenção de água
/Mato do Julio/Divulgação/JCConsiderado um dos últimos refúgios naturais intocados da Região Metropolitana de Porto Alegre, o Mato do Júlio é uma área com 256 hectares que abriga floresta de biomas da mata atlântica e pampa, além de banhado com animais em extinção, um arroio, sete nascentes e um lago natural. E, no meio desta área, ainda tem uma casa colonial datada de 1814 tombada pelo município de Cachoeirinha, uma senzala e um sítio arqueológico registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Rodeada de bairros populosos, a área contribuiu para reduzir o impacto das enchentes na Região Metropolitana de Porto Alegre por sua característica de retenção hídrica junto à várzea do rio Gravataí. Mesmo assim, o ambientalista e professor de História e Inclusão, Leonardo da Costa, integrante do coletivo Mato do Júlio observa que ainda é difícil calcular a relevância que assumiu a preservação da área no pós-enchente. Ele conta que a comunidade olhava para as áreas cobertas de água em maio e falava: "olha quanta água tem lá, se não fosse esse lugar o que seria de nós?". Era evidente, mas ele acredita que a relevância só se dará em nível de mobilização, "se a comunidade não começar a defender a área, não serviu para nada", diz, taxativo.
Fazendo um retrospecto das chuvas que castigaram o Estado, Costa diz que o dia com maior quantidade de água foi 6 de maio, ainda sem dados da proporção de inundação desse dia. No entanto, dados de 4 de maio (disponibilizados pelo MapBiomas) cruzados com os da Defesa Civil de Cachoeirinha relativos à área coberta pela água no bairro Parque da Matriz, concluem que o Mato foi responsável por segurar 35% da água que esteve na cidade neste dia, "sem ele, em torno de seis a oito mil pessoas a mais teriam sido afetadas", explica o ambientalista.
Para manter a área que é de interesse do setor imobiliário, em junho último o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí enviou um documento ao governo do Estado solicitando, entre outras medidas, a desapropriação via União. A luta pela preservação do local vem de longa data com o Mato do Júlio sendo tratado como uma grande área estratégica dentro da bacia hidrográfica, para a questão da água, como se comprovou agora com as enchentes.
O pedido de desapropriação é feito ao governo federal porque, pela dimensão da área e a importância que tem, extrapola a abrangência municipal e estadual. O documento também foi encaminhado ao ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta. Além do papel na retenção da água que pode auxiliar a região em uma possível futura catástrofe de chuvas novamente, a importância ambiental também é avaliada por Costa por fatos importantes como a descoberta de um felino em extinção - Leopardus Guttulos - em 2023. "Esse ano veio a questão das cheias, enfim ainda temos muito a descobrir, mas é uma floresta de Mata Atlântica incrível e fundamental para o equilíbrio ambiental da região", finaliza o ambientalista.
Algumas formas de recuperar as áreas degradadas pela enchente
Diagnóstico ambiental identificando os principais problemas e as potencialidades da área, bem como as necessidades e expectativas da população.
Implementar projetos de engenharia com técnicas baseadas em elementos naturais como plantas, rochas, madeira e solo, para estabilizar margens de rios e encostas, controlar a erosão, reter sedimentos e aumentar a infiltração da água.
Projetos com ações de recuperação e restauração para restabelecer as funções ecológicas, sociais e econômicas das áreas afetadas. Essas ações incluem remoção de resíduos, recuperação de nascentes, revegetação com espécies nativas, criação de espaços de lazer e convivência e reinserção das áreas impactadas aos aspectos estéticos e paisagísticos locais.
(Fonte: Salix Engenharia)
Empresas apostam na sustentabilidade
Conceitos estão também na ambientação das lojas, onde ganham a forma de pufes, displays, cabides e até expositores
/Calçados Beira Rio/Divulgação/JCEm um mundo em constante transformação a consciência ambiental - e social - tornou-se um critério fundamental para as pessoas. Nesse cenário as empresas sustentáveis despontam como favoritas, ganhando não apenas reconhecimento, mas também são priorizadas na hora da escolha entre as marcas, isso porque os próprios consumidores têm assumido posturas neste sentido. Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), revela que 81% dos brasileiros adotam hábitos sustentáveis sempre ou na maioria das vezes. E essa determinação é percebida pelas empresas que investem e divulgam cada vez mais suas ações sustentáveis. Uma marca que investe firme na "pegada sustentável" é a Calçados Beira Rio.
Para quem literalmente nasceu em meio à natureza, nas margens do rio Paranhana, o respeito ao meio ambiente é uma prioridade aplicada, inclusive, em todos os processos, desde a escolha das matérias-primas até o descarte correto de resíduos, passando pela seleção de fornecedores alinhados com práticas sustentáveis. De acordo com o CEO, Roberto Argenta, a responsabilidade com o planeta é assunto levado a sério nas 11 unidades fabris, mostrando que, através de ideias, ações e atitudes, a moda também é espaço de consciência e de preservação. Segundo ele, de forma abrangente e responsável, o conjunto de ações relacionadas à sustentabilidade conta com a participação ativa do quadro geral de colaboradores e tem respaldo legal no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Um movimento importante acontece na linha de produção, onde as sobras dos insumos são recolhidas e transformadas em novos produtos. O material chamado de Ambiplast - uma placa de material reciclado, transformado em produtos inovadores que contribuem para a competitividade da indústria - dá origem a uma infinidade de itens, como bases para palmilhas de calçados e modeladores que garantem qualidade e beleza aos calçados que chegam aos consumidores e também na ambientação das lojas onde ganha a forma de pufes, displays, cabides e até mesmo expositores. Essa tecnologia, inclusive, possibilita à empresa reaproveitar materiais que foram danificados na enchente. Outro projeto destacado por Argenta é o Resíduo Zero. A empresa desenvolveu, em parceria com a Ambiente Verde e a Universidade de Caxias do Sul (UCS), um programa que visa o aproveitamento de 100% dos resíduos que hoje não têm capacidade de reciclagem.
Calçados Beira Rio aguarda aprovação para planta-piloto
Rede Swan reaproveita madeiras
/Rede Swan/Divulgação/JCApós três anos de preparação, a Calçados Beira Rio obteve, em 2021, a licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para construir a planta-piloto encarregada dessa transformação. Em 2024, após completar as etapas de testagem definidas no cronograma do órgão ambiental, a empresa enviou a documentação final e agora aguarda a Licença de Operação Definitiva (LOD) para iniciar suas atividades com plena capacidade.
Estar em meio à natureza acaba auxiliando o despertar do aproveitamento. Um exemplo é o Jangal das Araucárias, localizado em Canela e rodeado por uma floresta de preservação ambiental com 2 mil m². De acordo com Gabriela Schwan Poltronieri, CEO da Rede Swan Hotéis, o empreendimento é colado a uma área de floresta nativa de araucárias, o que justifica o nome Jangal (mata densa).
Além disso, ela conta que o respeito ao meio ambiente é importante para a rede. Um exemplo citado é o aproveitamento de madeiras como matéria-prima para o mobiliário de espaços coletivos e quartos. A obra também reciclou pallets e tijolos, integrados no projeto de design contemporâneo. Parte da decoração dos apartamentos, principalmente mantas e almofadas, foram elaboradas com elementos reaproveitados da indústria calçadista.
Estação Ecológica do Taim é um exemplo de sucesso
Entidades buscam responsabilidade compartilhada na vigilância das aves
HENRIQUE ILHA/HENRIQUE ILHA/DIVULGAÇÃO/JCAvaliando de forma muito crítica a situação do RS em implementar SbN, Drumond, embora reconheça um grande potencial, alerta que as cidades demonstram uma falta de efetividade e quando adotam são em pouca escala. "Apesar de diversos estudos indicarem tanto a viabilidade quanto a necessidade dessas técnicas, ainda não há exemplos significativos de implementação prática dessas soluções no Estado, diferentemente de outras regiões do Brasil".
Liliana destaca um único exemplo de projeto bem-sucedido no Estado: a Estação Ecológica do Taim que envolve ações de preservação dos banhados, restauração de áreas degradadas e manejo sustentável dos recursos naturais, beneficiando a biodiversidade e as comunidades do entorno. Situada nos municípios de Santa Vitória dos Palmares e de Rio Grande, a Estação Ecológica do Taim abrange uma área de 32 mil hectares perto da fronteira com o Uruguai. Propriedade pública, a estação foi criada por um Decreto Federal em 1986 e declarada área de interesse ecológico, com um vasto sistema lagunar parcialmente formado pelas lagoas Mirim, Jacaré, Nicola e Mangueira.
A maior parte da região pantanosa ao longo da costa sul do Estado é importante diante de suas comunidades bióticas e da rica vida selvagem, abrigando 30 espécies de mamíferos, além de répteis como jacarés do papo amarelo e aves migratórias. A região do Taim tem cerca de dez quilômetros de praias oceânicas, dunas móveis e áreas com vegetação rasteira. Em 2017, passou a ser uma das principais áreas ambientais do mundo pela Convenção de Ramsar, criada na década de 70 no Irã, e reconhecida legalmente no Brasil em 1996. A Estação é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.
BioCMPC é o maior investimento privado em sustentabilidade no RS
Companhia chilena busca a meta de reduzir 50% das emissões absolutas de gases de efeito estufa até 2030
/Fabiano Panizzi/Divulgação/JCUma das empresas localizadas no Rio Grande do Sul que busca desacelerar o aquecimento global é a multinacional chilena CMPC - companhia do setor florestal que atua em três segmentos de negócio: celulose, embalagens e produtos de higiene pessoal (tissue). A CMPC é uma representante da bioeconomia e possui suas operações alicerçadas na sustentabilidade e na economia circular.
Presente no Brasil desde 2009, possui operações em sete estados e desde 2019 assumiu metas ambientais para todas as suas operações ao redor do mundo. Segundo Ana Paula Pulito, gerente de sustentabilidade no Brasil, o compromisso público assumido estabelece que a empresa deve diminuir em 25% o uso de água nos processos industriais e ser uma companhia com zero resíduos destinados a aterros até 2025. Também são objetivos a redução de 50% das emissões absolutas de gases de efeito estufa até 2030.
"Por fim, a empresa possui objetivos de acrescentar 100 mil hectares de área de vegetação nativa em seus mais de 400 mil hectares de áreas de conservação existente", explica a gerente. Ela adianta que para a companhia, o uso inteligente e sustentável dos recursos naturais durante o processo de produção é algo fundamental.
"A unidade de Guaíba é hoje uma referência mundial no setor no quesito de sustentabilidade. Hoje, 99,8% de todo o resíduo sólido registrado no processo de produção da celulose na unidade é reutilizado, reciclado e transformado em outros 13 novos produtos em nosso Hub de economia circular", explica Ana Paula ao acrescentar que este projeto existe há mais de 30 anos e gera emprego e renda para a população da região, tendo gerado um faturamento de aproximadamente R$ 18 milhões, em 2023.
No Rio Grande do Sul, o Projeto BioCMPC - anunciado em 2021- tornou-se o maior investimento privado em sustentabilidade da história do Estado, totalizando R$ 2,75 bilhões. Por meio deste empreendimento, foram implementadas iniciativas de modernização, controle e gestão ambiental na unidade industrial de Guaíba, que reduziram 60% das emissões atmosféricas da sua produção em solo gaúcho.
"O BioCMPC, quando estiver a pleno, oferecerá um aumento de 18% da capacidade produtiva", adianta a executiva, ao elencar que quando foi planejado o BioCMPC traçou metas ousadas de melhorias de processos e indicadores ambientais, além da modernização de equipamentos com o objetivo de gerar grandes contribuições para o convívio com as comunidades vizinhas.
O projeto é composto por 31 iniciativas implementadas que se dividem da seguinte forma: nove relacionadas à implantação de novos equipamentos de controles ambientais e o repotenciamento de sistemas já existentes, oito novas iniciativas voltadas à gestão ambiental e 14 ações de modernização operacional.
Entre as principais metas estão a redução dos níveis de ruído no entorno da planta industrial, redução de eventos de geração de odor, instalação de uma nova caldeira de recuperação para redução do nível de emissão de partículas, desligamento da caldeira de força à carvão e, pioneiramente no Brasil, a implementação do Centro de Controle Ambiental, um espaço voltado a acompanhar de forma online a performance ambiental da empresa. "Atualmente, estamos terminando a fase de potencialização total dos novos equipamentos instalados para que eles possam atingir o máximo da performance planejada", diz Ana Paula.
Outro fator de sustentabilidade que tem dado notoriedade à companhia chilena é o uso da hidrovia como modal de transporte. Nos últimos anos, a companhia transportou mais de 1,8 milhão de toneladas de celulose por água, bem como foi responsável pelo transporte de 1,2 milhão m³ de madeira, o que representa 44% de todas as movimentações de carga no Rio Grande do Sul.
A unidade industrial de Guaíba, por exemplo, conta com um porto próprio, que recebe madeira da região Sul e carrega celulose para o porto de Rio Grande. Com a barcaça descarregada, ela segue até o porto de Pelotas, onde é carregada com madeira e retorna para Guaíba. O uso do modal hidroviário evita que ocorram 100 mil viagens de caminhão por ano, reduzindo, em média, a emissão de aproximadamente 56 mil toneladas de carbono no ar e minimiza o risco de acidentes rodoviários. As ações realizadas pela empresa também vêm recebendo grande destaque mundo afora. O Índice Dow Jones de Sustentabilidade, na edição de 2023, classificou a CMPC como a empresa mais sustentável do mundo na categoria Celulose e Papel, que reúne companhias florestais e papeleiras de diferentes continentes.
Também assumiu a liderança do ranking de Sustentabilidade Corporativa da S&P Global Sustainability Yearbook 2024 no segmento florestal - um dos indicadores mais conceituados do mundo - e conquistou o Fastmarkets Forest Products PPI Awards 2024, na categoria "Liderança em Sustentabilidade", além de ser apontada como a Marca Ambiental Gaúcha pelo terceiro ano consecutivo, através do Marcas de Quem Decide. O CEO do Grupo, Francisco Ruiz-Tagle, também vem acumulando indicações e reconhecimentos por suas ações voltadas para a sustentabilidade.
Porto de Rio Grande é referência na área ambiental brasileira
Portos RS desenvolve uma série de programas ambientais; em Rio Grande merecem destaque o monitoramento da qualidade da água, do ar, sedimentos, ruídos e vibrações
/Portos RS/Divulgação/JCNo contexto histórico do licenciamento ambiental portuário, o Porto do Rio Grande tornou-se referência na área ambiental sendo o primeiro a obter uma Licença de Operação (LO) emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além de ter sido pioneiro na implantação de um programa de Educação Ambiental (ProEA) permanente e continuado. Ao longo dos anos o atendimento das condicionantes ambientais da LO do Porto do Rio Grande, mais especificamente os monitoramentos ambientais continuados, vem ganhando destaque no cenário nacional, além de estabelecer e aprimorar metodologias.
No ano passado, por exemplo, a Portos RS - empresa pública responsável por organizar, gerenciar e fiscalizar todo sistema hidroportuário do Rio Grande do Sul - foi premiada com o terceiro lugar da categoria artigo técnico-científico do prêmio concedido pela Autarquia Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), considerado de relevância para o setor.
De acordo com Henrique Ilha, diretor de meio ambiente da Portos RS, o artigo abordou as metodologias de última geração aplicadas em Rio Grande, além de um breve relato sobre a evolução histórica do Programa de Monitoramento Ambiental Continuado do Porto do Rio Grande no período de 2006 a 2023, destacando o compromisso, o entendimento e manejo adequado das questões ambientais em áreas portuárias.
Para atender essas demandas, a Portos RS desenvolve uma série de programas ambientais. Em Rio Grande merecem destaque o monitoramento da qualidade da água, do ar, sedimentos, ruídos e vibrações. Ilha explica que não houve uma mudança na política ambiental dos portos gaúchos pós enchente. "O aprimoramento já vem acontecendo ao longo dos anos. A instituição da empresa pública trouxe uma estrutura sólida e qualificada para a gestão portuária com planejamento estratégico e visão de futuro", afirma ele.
Uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande (Furg) está auxiliando no aprimoramento dos estudos de modelagem hidrossedimentar da hidrovia da Lagoa dos Patos com foco em eventos extremos e também a implantação de uma rede linimétrica para inferir a variação de nível ao longo da lagoa, além do monitoramento continuado da linha de costa e de estabilidade dos molhes da barra.
Para avaliar a estabilidade, foram instalados pinos incrustados na estrutura que servirão de referência para medições com equipamentos à laser, além de auxiliar nas medições feitas com drones de alta definição. O diretor de meio ambiente explica que estão previstas batimetrias nos taludes dos molhes, avaliando possíveis deslocamentos e viabilizando a projeção de obras saneadoras, se necessário. Junto com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) a empresa está ampliando a instalação de linígrafos - equipamentos automáticos que registram a variação dos níveis de água - nos rios acima de Porto Alegre. Ilha informa que o porto de Estrela já conta um novo equipamento desse tipo.
Com relação a estratégias futuras em uma abordagem de base ecossistêmica, o dirigente cita um seminário de planejamento utilizando a estrutura clássica Drive, Pressure, State, Impact, Response (DPSIR) - na qual se observa e analisa a relação entre fatores sociais e ambientais - que auxiliará os portos fluviais e canais a incluírem em seu planejamento, estratégias que os tornem mais resilientes.
"Importante destacar que todos os dados gerados serão públicos, pois eles têm grande aplicabilidade para diversos órgãos, como Sema, Defesa Civil, além das instituições de ensino e pesquisa do Rio Grande do Sul que atuaram na linha de frente no enfrentamento aos eventos climáticos extremos que resultaram nas cheias históricas do estado", observa Ilha.
Internamente, a Portos RS vem realizando serviços de limpeza e descarte de materiais, em especial no Porto de Porto Alegre, além de reavaliar as suas estruturas críticas para futuros eventos extremos. Por exemplo, subestações e geradores em áreas mais elevadas, redução de área operacional ociosa, sistemas de alarme e treinamentos.
Mesmo com as enchentes históricas, o Porto do Rio Grande não parou sua operação, e se manteve escoando a produção. Neste contexto, independente do cenário pós enchentes, será implementado o Serviço de Tráfego de Embarcações - auxílio eletrônico à navegação, com capacidade de monitorar o tráfego para ampliar a segurança da navegação e a proteção ao meio ambiente. Além disso, deverá ser instalado um Sistema de predição ambiental onde serão gerados produtos meteorológicos com até sete dias de antecedência o que dará mais segurança às embarcações que chegam e saem do Porto do Rio Grande, "dando suporte ao desenvolvimento econômico do Estado", finaliza Ilha.
* Carmen Carlet, jornalista formada pela Famecos, Pucrs. Atuou como colunista, repórter e correspondente de veículos especializados em propaganda e marketing. Atualmente, trabalha com assessoria de comunicação, produção de conteúdo e conexões criativas.