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Publicada em 21 de Julho de 2024 às 16:00

Baixa produção na construção é desafio para atividade imobiliária de Caxias do Sul

Produção de imóveis novos tem forte queda na segunda maior cidade do Estado

Produção de imóveis novos tem forte queda na segunda maior cidade do Estado

/Samuel Maciel/PMCS/Divulgação/JC
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Roberto Hunoff
Roberto Hunoff Jornalista
A segunda maior cidade do Rio Grande do Sul convive com uma situação preocupante. Ao mesmo tempo em que atrai novos moradores em busca de oportunidades, Caxias do Sul registra baixos níveis de produção na indústria da construção civil. As principais lideranças do setor reconhecem o difícil quadro e alertam para um possível colapso na oferta de imóveis novos nos próximos anos.
A segunda maior cidade do Rio Grande do Sul convive com uma situação preocupante. Ao mesmo tempo em que atrai novos moradores em busca de oportunidades, Caxias do Sul registra baixos níveis de produção na indústria da construção civil. As principais lideranças do setor reconhecem o difícil quadro e alertam para um possível colapso na oferta de imóveis novos nos próximos anos.

Crise na construção civil ameaça o desenvolvimento imobiliário de Caxias

Para novembro, a empresa BWB programou a entrega do empreendimento Pettros Home Resort, com 40 mil metros quadrados de área construída, e mais 10 mil metros quadrados foram adquiridos

Para novembro, a empresa BWB programou a entrega do empreendimento Pettros Home Resort, com 40 mil metros quadrados de área construída, e mais 10 mil metros quadrados foram adquiridos

/PETROS/Divulgação/JC
Nos últimos 10 anos, a aprovação de projetos para a construção de novos empreendimentos imobiliários sofreu queda de 75%, em Caxias do Sul. De 1.540.573 metros quadrados aprovados, em 2014, os dados da Secretaria Municipal do Urbanismo registraram pouco mais de 340 mil metros quadrados no ano passado, o menor número do período. Na comparação direta com 2022, a perda do ano passado é de 15%.
O segmento que mais sentiu o impacto foi o residencial, com recuo de 83% na aprovação de projetos, saindo de quase 1,1 milhão de metros quadrados, em 2014, para 176,5 mil em 2023. Com o desempenho negativo, o segmento de moradias passou a representar 42,5% do volume total aprovado, bem abaixo dos 71% de 10 anos atrás.
O espaço foi ocupado pela atividade industrial, que subiu de 4,2% para 31,2%. Em números absolutos, a participação dobrou de 64,5 mil para 129,6 mil metros quadrados. O comércio manteve a fatia de 24%, mas com recuo de 75% em números absolutos, enquanto o segmento institucional, que não aparecia em 2014, registrou 2,5% no ano passado.
A curva descendente da aprovação de projetos nos últimos 10 anos teve um único momento de reação, em 2020, durante a pandemia da Covid-19, quando foram aprovados 648,8 mil metros quadrados, 50% superior a 2019. Nos últimos quatro anos, os números pioraram quase 40%.
A presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Caxias do Sul (Sinduscon Caxias), Maria Inês Menegotto de Campos, tem dados ainda mais preocupantes e que podem levar ao colapso a oferta de imóveis residenciais em dois a três anos. Os dados da entidade registram o que, efetivamente, foi vendido. Em 2020, foram 263 mil metros quadrados e, no ano passado, em torno de 98 mil.
Os anos de 2014 e 2015 são considerados excelentes para o setor pela presidente, com a ressalva de que foram atípicos. De 2016 a 2021, a venda média foi de 200 mil metros quadrados, favorecida pelas negociações de repasse de usados para compra de novos, aproveitando facilidades oferecidas pela Caixa Federal. "Atualmente, o estoque é baixo, o que está se traduzindo em valorização no preço do imóvel. Ou seja, o setor passa por um momento bom. No entanto, a expectativa é de que haverá falta de imóveis na cidade para atender a demanda futura, já daqui há dois anos. Em alguns segmentos, a situação é crítica", assinala.
Ex-presidente do Sinduscon, Rodrigo Postiglione reforça o pensamento da dirigente sindical destacando que, nos últimos anos, foram raros os lançamentos no setor, em especial após a crise sanitária da Covid. "O momento é de estagnação. Um projeto novo precisa, no mínimo, um ano para maturar e mais dois ou três para se concretizar. Este hiato que estamos vivendo terá reflexos lá na frente", sinaliza.
Ele destaca que a cidade segue em contínuo desenvolvimento, com as indústrias atraindo pessoas de fora, as quais estão encontrando dificuldades para encontrar moradias, mesmo para locação. Para ele, existe um período muito grande na aprovação de projetos pelo município, especialmente pela falta de comunicação entre as secretarias envolvidas com o setor. "A pasta do Urbanismo responde bem porque está digitalizada. Outras, como Meio Ambiente, Trânsito e Obras, levam mais de ano para aprovar um projeto. Esta demora causa problemas enormes às construtoras", argumenta.
Ele defende mudanças na estrutura pública, com unificação de secretarias, e definição claras de atribuições para evitar conflitos. "É preciso repensar a estrutura atual, buscando exemplos em cidades próxima, onde licenças são liberadas em dois meses, enquanto em Caxias se leva mais de um ano", cobra.
Para o secretário do Urbanismo, Giovani Fontana, o poder público não é causa maior para a queda vertiginosa na aprovação de projetos. Admite a responsabilidade burocrática, mas rechaça que seja determinante para os negócios. "Nos últimos anos, a secretaria melhorou a estrutura de equipes, principalmente na regularização", assinala.
Em 2023, de acordo com os dados da Secretaria Municipal da Receita, foram liberados 21.248 protocolos de ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis), gerando estimativa de negócios na ordem R$ 3,9 bilhões no setor. Sobre o ano anterior, que teve 20.342 protocolos e estimativa de R$ 3,5 bilhões negociados, a alta é de 11,5%.

Burocracia responde por 12% dos custos

Estudo da Câmara Brasileira da Construção Civil aponta que os custos cartoriais e da tramitação de projetos no poder público representam 12% do valor total de uma obra. A presidente do Sinduscon de Caxias do Sul, Maria Inês Menegotto de Campos, diz que São Paulo adotou o registro imobiliário eletrônico, que reduziu a 1/3 o custo cartorial. Já a tramitação do processo continua sendo um problema, pois para cada ato o cartório tem prazo de 30 dias para responder. "Esta demora não é aceitável, o impacto nos custos das empresas é muito elevado", argumenta.

Setor encolheu depois da pandemia

O presidente da Associação das Imobiliárias de Caxias do Sul (Assimob), Gabriel Rocha, avalia que o mercado da construção civil passou por uma transformação com a pandemia da Covid-19, principalmente a partir de um olhar mais centrado do consumidor em imóveis com melhor estrutura. Ele reconhece que o ano passado foi positivo, melhor do que o anterior, mas em função de uma produção menor, a oferta caiu.
Rocha destaca que muitas construtoras deixaram de operar em Caxias e outras fecharam as portas. Calcula que, atualmente, a cidade tenha apenas 30% das empresas do setor que havia sete anos antes. O dirigente avalia que, no passado, cada imobiliária tinha de 30 a 40 imóveis de terceiros em estoque para repassar como forma de pagamento. Hoje, não são mais do que cinco. Também estima que de cada 10 imóveis vendidos um seja terreno, dois são casas de condomínio e o restante, apartamentos.
Segundo ele, o mercado de unidades com metragem acima de 250m², foco das grandes construtoras, está bem servido, com oferta maior do que demanda. Outros formatos, no entanto, não foram produzidos e já existe escassez. "Percebe-se a falta de imóveis para locação e venda de prontos. No segmento de alto padrão, os alugueis subiram mais do que qualquer outra correção", registra.
Imóveis até 150m², com garagem, novos ou usados, estão em falta e a projeção de entrega é para oito a 18 meses. "Tem fila de espera e corretor procurando imóvel para clientes. Esta situação deve se estender por, no mínimo, dois a três anos, prazo necessário para aprovação, construção e entrega de novos empreendimentos", projeta. O investidor e o primeiro imóvel são os principais clientes para lançamentos. O consumidor que quer melhorar o seu imóvel, incluindo o seu na compra de outro, é mercado de rápida negociação.
Por conta da escassez para locação, tem conquistado espaço no setor o imóvel mais enxuto, produzido para investidores. O empresário cita caso recente de empreendimento com 140 unidades, vendido integralmente em 90 dias. "O padrão é vender 40% em seis meses, outro tanto em 12 meses e os 20% ficam para a entrega nas chaves. Como se produziu pouco, investidores enxergaram neste nicho uma possibilidade de ganho relevante", assinala.
Outro segmento em ascendência é a venda de usados, onde a oferta e a procura está desequilibrada. Tendência em alta, segundo Rocha, é o imóvel mobiliado. Citou caso de empresa com 16 apartamentos disponíveis que fechou parceria com marcenaria, mobiliou as unidades e as vendeu em curto espaço de tempo.
A mudança no mercado também exigiu novo comportamento do corretor, que precisa ter atuação técnica, entendendo os objetivos do comprador, seja uma família ou um investidor. De acordo com Rocha, não há mais espaço para um vendedor aventureiro ou inexperiente. "Precisa estudar e ter técnica. No passado, tinha mercado e oferta, bastava aguardar o cliente e negociar. Agora, sem habilidade, se frustra e estraga negócios. Este amadurecimento é importante para a valorização da atividade", afirma. Rocha calcula que a cidade tenha de 40 a 50 imobiliárias constituídas, das quais 20 são associadas à entidade, e muitos corretores autônomos.
 

Metro quadrado tem defasagem de preço

Postiglione indica migração de investimentos de empresas

Postiglione indica migração de investimentos de empresas

/TÂNIA MEINERZ/JC
Uma das questões centrais no mercado da construção civil de Caxias do Sul tem sido o preço médio do metro quadrado, inferior à maioria das principais cidades do Estado. A presidente do Sinduscon, Maria Inês Menegotto Campos, define o valor como achatado, sem margem nos produtos de baixo e médio padrão. "Na pandemia, alguns insumos tiveram aumentos acima de 150%, mas como havia contrato a cumprir e alguma margem, as empresas honraram. Como no baixo padrão esta variável não existe, várias empresas sucumbiram", afirma.
De acordo com Rodrigo Postiglione, diretor da RPP Construtora, o valor local médio varia entre R$ 10 mil e R$ 13 mil, enquanto em cidades como Torres, Gramado e Porto Alegre parte de R$ 15 mil até R$ 20 mil. "É uma distorção decorrente da pandemia que não se conseguiu corrigir em Caxias. Com isto, muitas empresas migraram seus investimentos para estas cidades, abrindo mão de negócios locais", ponderou.
O presidente da Associação das Imobiliárias de Caxias do Sul (Assimob), Gabriel Rocha, recorda que o preço do metro quadrado da construção dobrou em Gramado, o que atraiu investidores de Caxias do Sul. "É um ganho real significativo", destaca.

Prefeitura da cidade serrana acelera a desburocratização na área imobiliária

Fontana defende maior autonomia para profissionais da construção civil, como forma de estimular o segmento

Fontana defende maior autonomia para profissionais da construção civil, como forma de estimular o segmento

/Lucas Munaretti/divulgação/JC
Por meio das secretarias do Urbanismo e da Receita Municipal, a prefeitura de Caxias do Sul tem feito uma série de ações para reduzir a burocracia na tramitação de processos e os tributos associados à atividade da construção civil. O secretário Giovani Fontana destaca como principais desafios a continuidade do fomento da política da regularização fundiária, a revisão da legislação e o avanço na digitalização para acelerar o trâmite de processos e obter dados estatísticos mais refinados sobre o setor. "Para assegurar que isto se concretize, a equipe técnica que trabalha na diretoria de projetos da construção civil da secretaria precisa ter 16 pessoas. Hoje, são apenas sete, e não temos a perspectiva de mudar isto no momento", ressalta.
A revisão da legislação está em andamento por meio de um grupo de trabalho formado por integrantes da administração municipal e de representantes de diferentes entidades representativas do setor. Na avaliação de Fontana, cada vez mais o poder público deve deixar de adentrar nas construções e garantir maior autonomia aos responsáveis técnicos de cada obra. "A gestão pública deve ficar mais atenta aos aspectos que envolvem o coletivo, como volumetria das construções e respeito ao Plano Diretor, dentre outros", afirma.
Mais de 50 artigos já foram revisados e alterados. A principal mudança foi a elevação dos tetos para aprovação simplificada, com lei sancionada em abril deste ano. Com ela, houve ampliação para comércios de até 1 mil m², indústrias até 1,5 mil m² e residencial passa a contemplar também imóveis multifamiliares de até três unidades e 500 m². Outros pontos tornaram a lei mais rigorosa, como exigência de acessibilidade, tanques de deposição de águas de chuvas e áreas impermeabilizadas tiveram redução de 800 m² para 500 m².
Com a digitalização, o compromisso é reduzir a média atual de 120 para 15 dias para aprovação de projetos. A ideia é que o sistema esteja implantado até o fim do ano e acessível aos demais setores da administração diretamente envolvidos com o trâmite dos projetos.
Outra ação da pasta é por meio de uma comissão para tratar das habitações de interesse social, incluindo o programa Minha Casa, Minha Vida. O objetivo é acelerar a produção de projetos e buscar recursos federais. Recentemente, o governo do Estado liberou verbas para a construção de 227 unidades habitacionais. Desde 2017, quando foi entregue o condomínio Rota Nova, com 420 apartamentos, a cidade não era contemplada com projeto significativo.

Impacto positivo com a redução de tributos

Dornelles assegura que medidas já começaram a dar resultados

Dornelles assegura que medidas já começaram a dar resultados

/Ícaro de Campos/divulgação/jc
O secretário da Receita Municipal, Roneide Dornelles, define como significativos os avanços obtidos na legislação municipal. Cita o exemplo da isenção pagamento do IPTU sobre os loteamentos por até quatro anos durante o período de implantação, prazo que pode ser ampliado para seis, dependendo de estudos em andamento. A ideia é também estender para prédios concluídos, com isenção de dois anos do IPTU para imóveis que estão à venda.
Para o programa Caxias Minha Casa, a administração isentou a tributação de 0,65% que havia sobre o valor total do imóvel, medida já praticada em cidades de menor porte. "Inicialmente, o município abre mão de receita, mas o resultado já é visível com o retorno de empreendedores", destaca, ao citar investimento confirmado de R$ 25 milhões para construção de empreendimento com 250 apartamentos por empresa que retomou seus negócios na cidade.
Dornelles reconhece que o longo prazo no trâmite de projetos é danoso para o empreendedor, razão para a redução estar em negociação com a Secretaria de Planejamento. Atualmente, o prazo médio para liberar processos de implantação de loteamentos é de sete anos. "Na região temos municípios liberando em oito meses", exemplifica.
Mas cita avanços positivos em Caxias, como a informatização do carnê de pagamento do IPTU, colocando fim ao papel, e a redução para 48 horas na liberação de habite-se, que antes era de 45 dias, e da guia de pagamento do ITBI, de quase um mês para três dias. "Com prazo menor e isenção do IPTU sobre novos loteamentos durante a implantação vamos conseguir atrair mais investidores", projeta.
Ainda destaca a informatização do processo de apresentação das notas fiscais para pagamento do ISSQN. Anteriormente, era necessário apresentar todos os documentos físicos, que passavam por análise manual dos servidores da pasta. Com o programa, o construtor faz o lançamento direto no sistema, o que permite a integração com todas as áreas da secretaria. Dornelles é defensor das mudanças como forma de atrair empresas que foram embora em Caxias e de reter as que estão em operação.

Estimativa é que 45% dos imóveis sejam irregulares

Levantamento realizado pela Secretaria da Receita da cidade aponta que, ao final de 2023, havia registro de 256.777 unidades no cadastro de imóveis de Caxias do Sul, número 11% superior ao de 2018. A estimativa, no entanto, é que a cidade tenha mais de 400 mil imóveis entre residenciais, não residenciais, boxes de garagem e lotes.
No total de imóveis ativos, 58% são para fins residenciais. O número atual de 148.358 unidades é 10% maior do que em 2018. Os boxes de garagem apresentam a maior alta, de 19%, na mesma base de comparação. São 59.986 registros, representando 23% do total. Os lotes têm a menor elevação, de 5%, totalizando 27.099 imóveis, equivalente a 10%. Os não residenciais representam 8%, com 21.334 registros, crescimento de 8% sobre 2018.
De acordo com o diretor geral da pasta, Micael Meurer, a construção é o terceiro maior contribuinte do ISSQN em Caxias do Sul, atrás de saúde e serviços de assessoramento, como direito e contábil. Dados da secretaria apontam que 6.059 empresas relacionadas ao segmento da construção civil emitiram notas fiscais no ano passado. O registro inclui diversos tipos de serviços, como engenharia, arquitetura, geologia, urbanismo, construção civil, manutenção, limpeza, meio ambiente, saneamento e congêneres.

Região dos Vinhedos apresenta um cenário semelhante com baixa produção de imóveis novos

Bento Gonçalves (foto) registra cenário de estabilidade, com imóveis sobrando e preços em queda; já em Garibaldi, faltam unidades no mercado

Bento Gonçalves (foto) registra cenário de estabilidade, com imóveis sobrando e preços em queda; já em Garibaldi, faltam unidades no mercado

/Prefeitura de Bento Gonçalves/Divulgação/JC
A baixa produção de novos imóveis também preocupa a Associação das Empresas de Construção Civil da Região dos Vinhedos (Ascom), que atua junto ao setor de Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa. De acordo com o presidente Alan Scomazzon, a situação mais crítica está centrada em Garibaldi, onde a falta de unidades é uma realidade. Em Bento, o cenário é de estabilidade, com imóveis sobrando e preços em queda. Já Carlos Barbosa passa por momento positivo, com produção e consumo alinhados.
Em Garibaldi, o dirigente detecta uma migração de empresas para municípios menores, em busca de locais diferentes com metro quadrado de maior valor e com planos diretores mais modernos que permitam prédios com mais andares. "O setor reivindica permissão para edificar áreas maiores, com mais aproveitamento do uso do solo e mais espaços para construção. Precisamos de planejamento e diferenciais para crescer nestes locais, com oferta de estrutura de serviços públicos e comércio", salienta, ao destacar que demanda similar se estende a Bento Gonçalves. Projeta que, caso o poder público não tome providências no curto prazo, a tendência é de agravamento do atual quadro.
Na outra ponta, ressalta o crescimento da população, com a chegada de pessoas de outros municípios, que não estão encontrando ofertas para a compra do primeiro imóvel e sequer para locação. Já o mercado de alto padrão está bem atendido. "O programa Minha Casa é importante, mas outros produtos são necessários, numa faixa um pouco acima", explica. Também destaca que o programa federal vai gerar novas unidades, de forma racional, e não no mesmo volume do passado.
O dirigente avalia que, financeiramente, as empresas estão em nível estável, pois administraram bem e aprenderam com as crises ao longo do tempo. "A busca é pelo crescimento, nada de extraordinário, mas suficiente para poder investir mais, considerando que o custo do dinheiro está elevado", argumenta. Cita que recentemente foram retomados projetos que estavam parados, até mesmo em razão da covid-19, caso das salas comerciais, que voltaram a ser procuradas a partir de novas necessidades.
Outra forte ação no setor é a incorporação de novas tecnologias construtivas de forma a ganhar maior competitividade e reduzir a dependência de mão de obra intensiva. "Em curto prazo, a forma de construir vai mudar radicalmente, será mais industrial, tirando-se parte da mão de obra dos canteiros e levando para a indústria. Haverá redução de custos, mais rapidez na edificação e menos desperdício. Será uma obra mais limpa e segura, com venda das sobras e reaproveitamento de matérias-primas", frisa. Também cita a importância do empreendimento sustentável, com uso de energias alternativas, carregador de bateria, estação de tratamento de efluentes e coleta de água da chuva.
Reconhece que a consolidação das mudanças será lenta até por uma questão cultural de resistência a migração para outras funções. Avalia que o mercado não está preparado para esta tendência de produtos diferenciados, com construções mistas, como alvenaria com metal. "Isto vai acontecer nos próximos cinco anos, mas o momento de escolher caminhos é agora, com a pré-fabricação, que é a mudança inicial", alerta.
Scomazzon ainda ressalta a evolução da segurança nas obras, com introdução de equipamentos e busca de suporte técnico de profissionais. Pondera que a mudança na legislação era necessária, mas a exigência de cumprimento foi rápida demais, pois sequer havia fornecedores para atender o mercado. "Estamos no caminho da estabilização e da redução drástica dos problemas", garante.

Censo aponta retração na cidade de Bento Gonçalves

A Associação das Empresas de Construção Civil da Região dos Vinhedos realiza, desde 1998, um censo anual sobre o mercado imobiliário de Bento Gonçalves. A edição de 2023 confirmou a retração da economia pós-eleições, com incertezas econômicas e políticas.
O estudo mostra diminuição das vendas em 17%, do estoque de imóveis disponíveis em 25% e dos lançamentos em quase 75%. A conclusão do trabalho é que, num curto período de tempo, a oferta de imóveis pode ficar menor do que a demanda, com repercussão na valorização dos preços.
O total de imóveis novos em oferta para venda é de 907 unidades, distribuídos entre 812 residenciais e 95 unidades comerciais. O número é 25% inferior ao de 2022. Na comparação com o censo anterior, o número de empresas no setor caiu 14%, para 42 registros.

Viezzer reforça padrão mais elevado

Área de lazer vem sendo valorizada pelos compradores de imóveis na Serra

Área de lazer vem sendo valorizada pelos compradores de imóveis na Serra

/VIEZZER ENGENHARIA/divulgação/JC
A Viezzer Engenharia, com atuação focada no mercado do primeiro imóvel, com valores entre R$ 200 mil e R$ 500 mil, está praticamente sem estoque. Dentre as razões apontadas pelo diretor Oliver Viezzer é a falta de lançamentos no ano passado. Com presença nos mercados de Caxias do Sul e Canoas, a empresa sentiu a retração pós-pandemia, a ascensão posterior e o momento atual definido como razoável. Viezzer confirma para o segundo semestre o lançamento de empreendimento de padrão mais elevado.
O uso de painéis fotovoltaicos, já regra em construções anteriores, passa a ter a companhia de sistemas para reaproveitamento de água da chuva para uso nos vasos sanitários. "A premissa é que todos os projetos serão assim, aproveitando as chuvas, visando à economia de água potável. Outro avanço é a área de bosque para convivência dos moradores, incorporada nos últimos três projetos, e que segue como benefício permanente", assinala. Segundo Viezzer, a empresa já tem tradição de investir em novas tecnologias, como uso de argamassa pronta, drywall, lajes e vigas pré-moldadas, além da adoção de modernos equipamentos para reduzir o esforço físico e aumentar a segurança dos trabalhadores.
Viezzer acredita em possível colapso na oferta de imóveis em razão de a maioria das incorporadoras ter desacelerado os investimentos em Caxias do Sul e direcionado para outras cidades, onde o mercado está mais aquecido. Ele reconhece que o prazo entre a elaboração, aprovação e construção do prédio é muito longo, superando quatro anos, sendo determinante nos resultados finais.
A esta situação acrescenta os juros elevados, que prejudicam os negócios nos padrões médio e alto, enquanto para o primeiro imóvel os financiamentos ficaram congelados por muito tempo, inviabilizando novos projetos. "O teto era praticamente o valor de custo, paramos neste segmento, o último projeto foi em 2020", relata. Com as recentes alterações patrocinadas pelo governo acredita que o ânimo deve voltar, mas em função de prazos para a construção a tendência é de falta do produto.

Construesse consolida empreendimento pioneiro

Bosco Esposizione trará práticas inovadoras para a cidade

Bosco Esposizione trará práticas inovadoras para a cidade

Bosco/Divulgação/JC
Diretor da Construesse e Edincorp Edificações e Incorporação, Volnei Sebben avalia que o mercado já esteve pior, mas que o momento é de retomada, com expectativa de crescimento a partir de agora. Reconhece que existe demanda em segmentos e regiões que estão sem oferta correspondente. "A produção ainda é baixa", reforça. Pondera, porém, que em outros pontos existe uma concentração muito grande.
Um dos produtos em construção pela empresa, com 40 unidades e entrega programada para abril de 2025, será o primeiro da cidade a receber a certificação do Green Building Council Brasil por suas práticas sustentáveis. Dentre elas, a fachada frontal em posição solar norte com painéis fotovoltaicos arquitetônicos e telhado com mesmo sistema, gerando até 100% da energia do condomínio. "Será o quinto edifício no Brasil a usar este sistema, que será controlado por equipamento importado da Suíça", destaca.
Também fará uso de água de reuso da chuva nas bacias sanitárias e irrigação dos jardins, medidores individuais de água potável e não potável, iluminação LED e sensores de presença nas áreas comuns, vagas de garagem com preparação para espera de carregador veicular e plano de gerenciamento de resíduos da construção e operação e uso de materiais legalizados e com procedência. "A construtora que não assumir a sustentabilidade terá um mercado cada vez menor para seus produtos", alertou.
Até o ano passado, a empresa estava focada em atender o segmento de padrão médio. O novo projeto tem foco no alto padrão. Admite, no entanto, que ambos têm demanda, dependendo especialmente da localização.

BWB avalia estratégias para imóveis racionais

Balen indica leve recuperação de margens

Balen indica leve recuperação de margens

/BWM/Divulgação/JC
A perda de poder de compra do consumidor com a pandemia da covid-19 afetou a economia em geral, mas de forma especial o setor imobiliário, com reajustes de preços dos insumos que inviabilizaram a concretização de projetos. Para o diretor da BWB, Leonardo Wisintainer Balen, este cenário criou uma demanda reprimida na atividade, que somente agora começa a ser ajustada com a compensação parcial das perdas. "Em Caxias do Sul, os valores estão aquém do que deveria. Estamos recuperando margens e alguma lucratividade", explica.
A crise desencadeou a retração nos lançamentos, levando ao cenário atual de valorização do imóvel por falta de produtos, e de venda de muitos produtos usados. "Existe procura e baixa oferta", sinaliza. A construtora trabalha no nicho de alto padrão, com unidades de três apartamentos, mas já se prepara para ingressar no mercado de famílias com menor número de integrantes e que querem imóveis mais racionais, com infraestrutura de lazer e localização estratégica. Para novembro, a empresa programou a entrega do empreendimento Pettros Home Resort, com 40 mil metros quadrados de área construída.
Balen confirma a recente aquisição de uma área de 10 mil metros quadrados, em bairro nobre da cidade, para a edificação de um produto inovador. "Será o nosso próximo lançamento, mas ainda está em análise", limita-se a comentar. O local conhecido como chácara Ungaretti faz parte do patrimônio histórico do município. A casa sobre o terreno será preservada e incorporada ao complexo, que não tem ainda data de apresentação oficial ao mercado.
O empresário explica que a empresa tem buscado melhorar a rentabilidade dos negócios propondo uma qualidade construtiva diferenciada, com uso de tijolo maciço, de placas de isopor entre as paredes, esquadrias de PVC e porcelanato, entre outros itens de acabamento requintado. "Buscamos alternativas que se adequem a uma tabela e acreditamos que o consumidor passará a perceber a importância da qualidade, de produto eficiente e racional", ressalta.

Eccel aposta em produtos diferenciados

Arbos é um dos recentes lançamentos da Eccel

Arbos é um dos recentes lançamentos da Eccel

/Arbos/divulgação/JC
Com o entendimento de que o mercado muda continuamente, com situações diversas a cada ano, a gestão da Eccel Incorporadora definiu como estratégico o desenvolvimento de um trabalho em linha com as tendências do mercado. Maira Giasson, gestora comercial, e Roque Frizzo, responsável pelo setor de arquitetura, explicam que a empresa busca a criação de um estilo diferenciado de produto, com forte atenção aos serviços de conveniência, desenvolvendo parceiros para diferentes demandas, e foco específico, sem um olhar único sobre o mercado. "Adotamos este perfil já há algum tempo e estamos mantendo um ritmo forte de aceleração de projetos", afirma Maira.
Para ampliar as oportunidades aos clientes, a empresa expandiu atuação para além de Caxias do Sul, lançando projetos em Gramado, Porto Alegre e Santa Catarina. "São decisões cirúrgicas, com projetos diferentes de grande aceitação. Temos obras em andamento e mais três projetos para lançar neste ano", comenta a gestora.
Frizzo faz analogia entre a construção civil e uma viagem, que é planejada com antecedência, mas que, em muitas situações, requer ajustes para fazer frente aos obstáculos que surgem. "Olhamos para o cliente de agora, mas também para a próxima geração, com pensamento de se preparar para uma jornada mais longa. Não consideramos muito a questão do mercado atual, vamos ajustando de acordo com andamento", exemplifica.
O arquiteto também destaca a preocupação com o impacto na obra nas cidades, já que ela fará parte da comunidade por décadas. Para ele, a incorporadora deve ter atenção especial com a paisagem urbana, reduzindo ao mínimo os impactos.
*Roberto Hunoff é jornalista e correspondente do Jornal do Comércio em Caxias do Sul (RS)
 

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