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Publicada em 23 de Junho de 2024 às 16:00

Moda gaúcha trabalha para recuperar estragos das cheias

Nathan Carvalho fotografou algumas campanhas de moda no mês de maio, as quais ainda estão em compasso de espera de ajustes do mercado

Nathan Carvalho fotografou algumas campanhas de moda no mês de maio, as quais ainda estão em compasso de espera de ajustes do mercado

Studio Nathan Carvalho/Divulgação/JC
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Carmen Carlet, especial para o JC*
Carmen Carlet, especial para o JC*
Os números da indústria de moda gaúcha são grandiosos. De acordo com a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul (Sefaz-RS), o setor de vestuário e acessórios movimentou R$ 2,981 bilhões em 2023. Já a indústria calçadista gaúcha detém um terço dos empregos diretos do setor no Brasil, com mais de 85 mil postos gerados na atividade, além de ser o maior exportador de calçados brasileiros em receita gerada.
Números dessa magnitude geram complexidade, pois é difícil dimensionar o impacto que um evento climático extremo aos moldes do que aconteceu no Estado em maio pode causar em uma cadeia extensa e fragmentada pela diversidade de atividades que envolve diferentes setores. Os estragos e prejuízos permeiam todo o ecossistema e ainda não percorreram o caminho de forma completa.
A indústria calçadista, por seu tamanho, projeta uma recuperação mais rápida e deve estar normalizada até o final de junho. Já a do vestuário vive um momento mais delicado e o processo de retomada será mais lento. Mas, independentemente do tamanho da empresa ou seu segmento, uma convicção todos têm: mesmo que projetos e cronogramas tenham sido atrasados, a reconstrução é certa.

Cadeia produtiva gaúcha de moda trabalha para voltar à cena

Kátia comercializa roupas femininas para um público de 20 a 55 anos

Kátia comercializa roupas femininas para um público de 20 a 55 anos

/Ateliê 2/divulgação/jc
A indústria gaúcha de vestuário trabalha com números interessantes. De acordo com a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul (Sefaz-RS), o setor de vestuário e acessórios movimentou R$ 2,981 bilhões em 2023. Este segmento é formado em grande número por pequenos e médios empreendedores e, de acordo com o Sivergs, sindicato do setor, são cerca de 22 mil empresas, das quais 68% são MEIs que geram cerca de 23 mil empregos diretos - considerando a base do sindicato (o Rio Grande do Sul é dividido em seis entidades do vestuário, uma para cada regional). O Sivergs representa a maior parte do território gaúcho - e 30.457 (incluindo as MEIs) em todo o Estado.
De formas diferentes, as marcas saem deste maio de 2024 com arranhões, mudanças de cronogramas, contando prejuízos e trabalhando pela reconstrução. Especificamente no que tange à indústria da confecção da Capital, o bairro Sarandi é considerado um dos principais polos, reunindo lojas de tecidos, aviamentos, costureiras e confecções. Profundamente afetadas pelas águas, algumas confecções perderam tudo. Para tentar encontrar saídas, 370 empreendedores de diversos segmentos se uniram e formaram um grupo que visa traçar estratégias de recuperação.
Katiane Martins, da Divino Efeito, possui showroom no bairro Moinhos de Vento, mas a confecção fica no Sarandi. A marca, que produz nove mil peças/ano em vestuário feminino, conta que sua empresa foi impactada da pior forma. A sede ficou sem acesso durante todo o mês de maio. "Nossas máquinas, estrutura administrativa, produção, estoque, tudo perdido", lamenta a empresária. Sem estipular prazo para o reinício das atividades de forma integral, a empreendedora conta que ainda precisa encontrar um novo local para instalar a confecção e, para tanto, necessita de dinheiro. Segundo estima, o setor está aguardando uma boa proposta de subsídios por parte do governo.

Katiane conta que sua empresa foi impactada pela falta de acesso ao local
Katiane conta que sua empresa foi impactada pela falta de acesso ao local Divino Efeito/divulgação/jc

Katiane conta que sua empresa foi impactada pela falta de acesso ao local
Divino Efeito/Divulgação/JC
"Nada aconteceu de concreto ainda. Estamos parados, sem produção e condições para seguir adiante", afirma. Mas, sem desanimar - mesmo que saliente ter que recomeçar do zero - Katiane vê toda a mobilização de solidariedade como uma fonte de inspiração e força para não desistir. "O incentivo está no povo gaúcho e como um deles vamos nos solidarizar fazendo parte desta corrente e fazendo parte de marcas gaúchas", analisa a empresária.
Outra marca afetada foi a Raluka Clothing, também com sede no bairro da Zona Norte. Kátia da Rosa ainda está atônita, sem saber por onde recomeçar, pois o ateliê onde cria peças e recebe clientes ficou destruído. Com um perfil de confecção de peças exclusivas e produção de 11 mil unidades ao ano, Kátia comercializa - boa parte através de e-commerce - roupas femininas para um público de 20 a 55 anos no inverno.
"E de outubro a março trabalho com moda praia sob medida", explica. Ela contabiliza que perdeu aviamentos, aparelhagem, araras, embalagens, etiquetas e o estoque de tecidos para trabalhar o mês inteiro, além daqueles para iniciar a confecção de moda praia para o próximo verão. "Estava tudo de baixo d'água, as máquinas, graças a Deus, consegui tirar a tempo", relata.
Para alcançar a recuperação - que estima, no mínimo seis meses - Kátia está buscando apoio em grupos com outros parceiros e aguardando a água baixar e computar o que ainda consegue salvar para um recomeço. Mesmo assim, como estratégia a empresária vislumbra a possibilidade de expandir as vendas para outros mercados, quando tudo melhorar. Um alento que a empreendedora enxerga é a imensa mobilização que se formou em prol das marcas locais: "cada compra de fornecedor gaúcho também é um ato de solidariedade com a população toda", define.

Eventos são adiados para ganhar fôlego

Jucilene recebe os clientes em um escritório no bairro Chácara da Pedras

Jucilene recebe os clientes em um escritório no bairro Chácara da Pedras

Marcelo Noronha/divulgação/jc
Longe da região afetada diretamente pelas águas, mas sofrendo problemas oriundos da queda de vendas (que atingiu todo o comércio gaúcho), a St. Trois - marca com 12 anos de mercado especializada e reconhecida na produção de moda em couro e tecidos nobres - registrou uma redução de 90% na comercialização em sua maison, que fica sediada no bairro Moinhos de Vento, além de cancelamentos de pedidos de lojistas do interior do Rio Grande do Sul de peças já produzidas.
Gabriela Trois, sócia e diretora criativa da marca, estima que o principal desafio é o financeiro, "pelos cancelamentos de pedidos do atacado, bem como ausência de vendas no varejo e na capacidade produtiva", explica a empresária, ao observar que a St. Trois tinha previsto um grande evento de lançamento da coleção alto-inverno para o início de maio que precisou ser adiado.

Gabriela estima que o principal desafio é o financeiro
Gabriela estima que o principal desafio é o financeiro Andréa Graiz Trois/divulgação/jc

Gabriela estima que o principal desafio é o financeiro
Andréa Graiz Trois/Divulgação/JC
Para buscar a recuperação dos prejuízos a marca está promovendo ações estratégicas de marketing comercial e digital com o objetivo de alcançar novos clientes, assim como iniciativas pontuais, "além do fortalecimento dos mercados de Santa Catarina e Paraná, que já têm a presença da grife", antecipa Gabriela.
A estilista defende que são essenciais as campanhas que incentivam o consumo de marcas locais, pois é o que fará a economia voltar a girar. "Desta forma, os empregos podem ser preservados, gerando mais produção e consequentemente impostos, possibilitando a recuperação econômica das cidades e do Estado", antecipa.
Adiamentos na abertura de lojas também impactam o setor do varejo de moda. A Páprika - confecção paranaense especializada em moda feminina - está chegando a Porto Alegre, cidade considerada como marco importante no processo de consolidação da empresa em nível nacional. Com investimentos na ordem de R$ 500 mil, estava tudo pronto para a abertura no Moinhos de Vento no início de maio, mas a inauguração foi transferida.
Olhando o futuro a curto prazo, André Mendes, sócio, diz que as expectativas que cercam a operação de Porto Alegre são altas. Segundo ele, a marca oferece um produto que além de qualidade e estilo é confeccionado em tecidos que possuem tecnologias focadas em facilitar o dia a dia das clientes.

Mendes
Mendes Páprika/divulgação/jc
Mendes diz que as expectativas que cercam a operação de Porto Alegre são altas

Páprika/Divulgação/JC
 
A moda não é feita sem seus acessórios. A Vothan joalheria e relojoaria, inaugurada em 2011, também precisou remanejar seu cronograma. Com a previsão de inaugurar uma nova loja no Pontal Shopping, em maio, adiou o evento. Presente no mercado há 12 anos, a empresa já havia sido impactada pela Covid-19, quando fechou a loja no Shopping Iguatemi. Neste período, Jucilene Carvalho, proprietária, recebe os clientes em um escritório no bairro Chácara da Pedras, em Porto Alegre.
 

Entidades se unem em defesa das marcas gaúchas

Julianna diz que queda no têxtil e vestuário foi em torno de 30% em volume de vendas

Julianna diz que queda no têxtil e vestuário foi em torno de 30% em volume de vendas

Sivergs/divulgação/jc
Neste momento difícil que todo o Estado está atravessando, as organizações civis partem em uníssono em defesa do consumo dos produtos locais como uma ferramenta a mais para fortalecer a economia, assegurar empregos, gerar renda e auxiliar na reconstrução do Estado. As duas federações estaduais - comércio e indústria - estão, por exemplo, com campanhas de incentivo à compra das marcas gaúchas.
"Produto RS - Juntos Somos Fortes" é o conceito do movimento liderado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) lançado em março deste ano e que ganha força agora, com a devastação causada pelas enchentes no Estado. Arildo Bennech Oliveira, presidente em exercício da Fiergs, destaca a importância de ter uma campanha enaltecendo o produto gaúcho neste momento de dificuldade que as indústrias estão vivendo, e todos aqueles que produzem alguma coisa no Rio Grande do Sul. Para ele, é importante que o País conheça e compre os produtos locais, ajudando as indústrias gaúchas para que se possa reerguer logo o Estado.
Por sua vez, a Federação Varejista do RS, em conjunto com as cadeias associativas das Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDLs), lançou uma campanha de incentivo para que os consumidores brasileiros escolham marcas gaúchas no momento de comprar. Com frases como "Apoie as marcas gaúchas", "Compre do gaúcho" ou "Escolha marcas gaúchas", a proposta é mobilizar o País para a manutenção da produção e do comércio no Rio Grande do Sul neste momento.
Um levantamento da Fiergs apontou que nove entre dez empresas gaúchas foram, de alguma forma, impactadas pela enchente. No caso do comércio varejista, dados do governo estadual apontam que, no último ano, o setor, que representa 13% do PIB gaúcho, movimentou mais de R$ 200 bilhões no Rio Grande do Sul.
Confirmando a informação e trazendo para o segmento da moda, Julianna Fraccaro, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário do RS (Sivergs), afirma que o primeiro impacto, o mais rápido de mensurar, foi a queda das vendas no mês de maio "quando se tem o Dia das Mães que é a segunda data, depois do Natal, com maior faturamento de vendas para nosso setor", adianta a empresária, ao informar que, de acordo com dados da Federasul, o setor de vestuário reduziu 49,5%.
"Foi a maior baixa, considerando todos os setores", observa Julianna, acrescentando que a queda no têxtil e vestuário foi em torno de 30% em volume de vendas (considerando todo o Estado), "mas devemos considerar que as empresas da região metropolitana foram as mais afetadas", destaca a designer.
Para auxiliar de forma emergencial, o sindicato fez uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para consertar as máquinas de costura de forma gratuita. "Para que as empresas e as costureiras autônomas possam voltar a ter seu instrumento de trabalho", considera.
De acordo com percepções da presidente da entidade, ainda existem as consequências que virão daqui pra frente: as empresas estavam terminando o mostruário de verão para as feiras de pré-vendas e algumas já tinham comprado tecidos para a produção.
Julianna destaca que virá o impacto financeiro, que deve pesar muito no capital de giro das empresas, embora dependa muito de como cada uma se organizou. "Algumas tiveram perda de matéria-prima, outras do estoque pronto, outras não tiveram perdas", lista a dirigente ao elencar as ações do Sivergs para auxiliar na recuperação.
 

Projeto busca recuperar indústrias e dar dignidade aos desabrigados

Eliane diz que entrega de peças íntimas também ajuda no bem-estar emocional

Eliane diz que entrega de peças íntimas também ajuda no bem-estar emocional

/Lisa Roos/divulgação/JC
Em meio à devastação causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, milhares de famílias ficaram desabrigadas, enfrentando uma situação desesperadora. Pensando em restaurar a esperança e entregar uma das peças mais importantes para a dignidade e o bem-estar de cada um, nasceu o Projeto Social SOS Moda Íntima, idealizado pela empresária Eliane Magnan, proprietária da Elegance Langeries, de Guaporé (cidade considerada um dos polos de moda íntima do Brasil com cerca de 150 fábricas).
De acordo com Eliane, Guaporé não está imune aos impactos da enchente e, com o aumento do desemprego e a ameaça à indústria local, ela viu como urgente a união do setor. Segundo explica, o Projeto SOS Moda Íntima busca não apenas fornecer roupas íntimas essenciais mas também preservar os meios de subsistência e a dignidade dos afetados.
Com a chancela da Federasul, Lidera Passo Fundo (associação de empreendedoras que promove o desenvolvimento e a liderança feminina, além de ser captadora de recursos financeiros) e o Rotary International, o projeto reúne 19 marcas da região e deve gerar movimento para a economia local. Eliane explica que roupa íntima precisa ser nova, portanto, não é passível de doação. "Entendemos a moda íntima como um pilar essencial na construção do nosso bem-estar emocional, definidas como calcinhas, sutiãs, cuecas, peças infantis, pijamas e meias", explica a idealizadora.
O Projeto SOS Moda Íntima iniciou com uma campanha, conectando as indústrias de matéria-prima com as confecções de moda local, incentivando a produção de peças a preços acessíveis. As doações serão gerenciadas por uma organização confiável, conforme a empresária, garantindo transparência e eficiência na distribuição.
As peças produzidas serão, então, entregues a entidades assistenciais, que devem distribuir às comunidades afetadas. "Este ciclo de solidariedade e ajuda mútua será alimentado pelo compromisso com a transparência e o impacto positivo em nossas comunidades", destaca Eliane.
Através de uma chave Pix, o projeto convida pessoas físicas e jurídicas a se juntarem neste esforço humanitário. "Sua participação e contribuição são essenciais para o sucesso do projeto e acolhimento de tantas famílias que passam por uma situação delicada", destaca a idealizadora. Ela acrescenta que não existe valor pré-determinado para as doações.
Já em Caxias do Sul, outra empresa fabricante de moda íntima e roupas térmicas, a Upman, teve uma queda imediata nas vendas durante o mês de maio. "Nossos representantes e os lojistas entenderam que, por estarmos no Rio Grande do Sul, não iríamos atender os pedidos, caso fossem feitos", explica o CEO, Sidimar Remussi. Ele informa que a marca está presente em quase todo o território nacional, embora 80% das vendas estejam concentradas na região Sul.

Up Man está presente em quase todo território nacional, relata Remussi
Up Man está presente em quase todo território nacional, relata Remussi Up Man/divulgação/jc

Up Man está presente em quase todo território nacional, relata Remussi
Up Man/Divulgação/JC
Para reverter esse quadro, a Upman lançou uma campanha de motivação aos representantes e clientes lojistas, pedindo ajuda e apoio para vender. A empresa depende dessas vendas para continuar o negócio, dando emprego e cumprindo com os compromissos.
De acordo com Remussi, essa retomada é importante até para preservar o ecossistema, uma vez que a Upman trabalha com ateliês de costura externos que prestam serviços. Os fornecedores foram atingidos porque estão localizados na região do vale do Rio Caí - cidades como Vale Real, Feliz e Bom Princípio - o que levou à parada de produção por quase um mês. Remussi estima que em até 30 dias a produção e logística devem estar normalizadas. "A financeira dependerá de como iremos receber os pagamentos dos clientes", projeta o CEO.
 

Estratégias coletivas de comunicação como ferramenta para recuperar mercados

Vanoni destaca que, para as pequenos empresas, cada mês é uma luta

Vanoni destaca que, para as pequenos empresas, cada mês é uma luta

Duddu Vanoni/Arquivo Pessoal/JC

 
Especialistas são cuidadosos em avaliar o impacto da enchente na indústria da moda. Eles destacam que essa é uma questão bastante complexa, pois ainda não temos como dimensionar objetivamente o montante real dos prejuízos diretos e indiretos. A cadeia é extensa e fragmentada pela diversidade de atividades, além de envolver diferentes setores desde agricultores, fabricantes de fios e tecidos, designers, artesãos, confecções e lojistas. Cada um desses segmentos foi atingido de forma distinta.
"Algumas marcas não tiveram problemas pelas enchentes em si, mas seus fornecedores foram afetados. O próprio ânimo do consumidor local para fazer compras neste momento também impacta as vendas de forma negativa para os que têm essa possibilidade", avalia Madeleine Muller, produtora e especialista em moda, consumo e comunicação. O publicitário especialista em varejo e moda, Duddu Vanoni, alerta que o impacto é e será maior para as pequenas marcas.
"As grandes têm muito mais força mercadológica e capital para, por exemplo, recomprar equipamentos perdidos", analisa. Ele lista a grande gama de atividades de pequenos fornecedores de sublimação, rendas, tecidos, entre outras matérias primas que tiveram suas empresas destruídas pelas águas.
 
Vanoni destaca que, para as pequenos empresas, cada mês é uma luta e não será fácil recompor. Esta opinião é compartilhada pelo fotógrafo Nathan Carvalho.
Para Carvalho, que fotografou algumas campanhas de moda no mês de maio, as quais ainda estão em compasso de espera de ajustes do mercado, o principal problema será o ecossistema como um todo, iniciando na produção que ainda se ressente com problemas de matéria prima, até o impacto que está por vir nas vendas.
Como saída para este momento, os profissionais consideram que a comunicação será uma ferramenta fundamental para a reconstrução e manutenção dos pequenos negócios de moda. Madeleine observa que ela deve acontecer de forma inclusiva e colaborativa, onde todos possam seguir divulgando a si e aos outros, numa grande corrente do bem onde realmente a união faça a força.
"De forma estratégica, abrangente e solidária, todas as campanhas de incentivo e apoio às marcas locais poderão contribuir para a recuperação da nossa economia e mostrar aos consumidores o quão importante é a participação deles nessa corrente de recuperação dos negócios da moda gaúcha", salienta a produtora.
Vanoni concorda com a necessidade de haver uma união do setor como um todo a fim de dar mais visibilidade às pequenas e médias marcas. Para ele, pode ser a partir de projetos coletivos, onde a sinergia seja focada em dar mais força a essas marcas a fim de ganhar fôlego, recuperar e ganhar novos mercados.
 

Setor calçadista prevê produção recuperada até final de junho

Cadeia produtiva de couros e calçados do Rio Grande do Sul é representada por cerca de 3 mil empresas, que empregam mais de 120 mil pessoas

Cadeia produtiva de couros e calçados do Rio Grande do Sul é representada por cerca de 3 mil empresas, que empregam mais de 120 mil pessoas

/Piccadilly/divulgação/jc
A cadeia produtiva de couros e calçados do Rio Grande do Sul - representada por cerca de três mil empresas que empregam diretamente mais de 120 mil trabalhadores - foi duramente impactada pelo evento extremo climático que assolou o Rio Grande do Sul durante o mês de maio deste ano. Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) divulgaram um levantamento conjunto apontando que mais de 7,2 mil trabalhadores do setor foram diretamente atingidos pela catástrofe.
Outro dado importante é que entre as principais dificuldades colocadas pelas empresas está em primeiro lugar a indisponibilidade de mão de obra, seguida de questões logísticas em função de estradas e aeroportos afetados. O levantamento destaca, também, que 48% das empresas foram atingidas pelas enchentes. Com um posicionamento bastante resiliente e positivo, a Abicalçados projeta estar com 100% da produção normalizada até o final de junho, não impactando significativamente na projeção de crescimento do setor calçadista nacional. A entidade mantém a estimativa de crescimento para a produção de calçados, entre 0,9% e 2,2%. Muito desse desempenho deve vir do mercado doméstico, que deve aumentar entre 2,4% e 3,8%.
 

Dados setoriais

24% da produção nacional de calçados é proveniente do RS
O RS é o segundo maior produtor de calçados do Brasil, atrás apenas do Ceará
O RS foi responsável por 23,9% da produção brasileira em 2023
Vale do Rio dos Sinos é o maior produtor gaúcho, com 44,4% da produção, seguido do Vale do Paranhana/Encosta da Serra com 19,7%
em 2023
O RS é o maior exportador de calçados do Brasil em receita gerada
A indústria de calçados do RS detém 1/3 dos empregos diretos do setor no Brasil, com mais de 85 mil postos gerados na atividade.
 

Movimento Próximos Passos RS foca nas pessoas atingidas pela tragédia climática

Ferreira diz que iniciativa responde à urgência de reconstrução

Ferreira diz que iniciativa responde à urgência de reconstrução

/Abicalçados/divulgação/jc
Foi com o objetivo de recuperar o ecossistema produtivo do calçado no Rio Grande do Sul que as entidades representativas da cadeia lançaram, no último dia 13 de maio, o "Movimento Próximos Passos RS". A ideia é reconstruir o setor priorizando as pessoas atingidas. Em manifesto conjunto, o movimento destaca que a cadeia calçadista no Rio Grande do Sul não é apenas um setor econômico; é o sustento de milhares de famílias, a base de seus sonhos e de seu futuro.
"Nos últimos dias estamos sendo testemunhas de uma tragédia sem precedentes no Rio Grande do Sul. Uma catástrofe climática que está deixando milhares de empresas e milhões de famílias devastadas. Perdemos não somente bens materiais, mas lares, documentos, recordações, amigos e familiares. Mas, em meio ao caos e tristeza, surgiu uma força inigualável: a solidariedade do povo gaúcho e de todo Brasil, manifestada em atos voluntários e doações generosas para reconstruir vidas e renovar a esperança", reforça o manifesto.
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, observa que a iniciativa é uma resposta à urgência de reconstrução da cadeia produtiva, que tem nas pessoas seu principal ativo. "Somos um setor intensivo em mão de obra. São milhares de pessoas que vivem da atividade. A reconstrução, primeiro da vida dessas pessoas, é o nosso principal objetivo com a campanha. É a partir da dignidade e das condições de moradia das famílias que dependem da cadeia calçadista que teremos um setor inteiro restabelecido." Segundo Silvana Dilly, superintendente da Assintecal, a união das entidades e empresas que fazem parte do ecossistema do calçado é fundamental para a recuperação da atividade.
"Um período de grave crise, com uma catástrofe climática como nunca vista no Rio Grande do Sul, exige medidas urgentes de auxílio. A resposta da união entre entidades e empresas não somente do Estado, mas de todo o Brasil, é igualmente histórica e irá ajudar milhares de pessoas envolvidas na produção do calçado", diz.
Para o presidente-executivo do CICB, José Fernando Bello, a indústria está unida e comprometida pela recuperação do Rio Grande do Sul, com apoio às famílias atingidas, muitas das quais ligadas à produção de couro, que é uma força cultural e econômica tradicional do Estado. "As cheias impactaram a vida nesse território, mas, ao mesmo tempo, trouxeram à tona uma potência imensa de solidariedade e cooperação", disse o dirigente.
O Movimento Próximos Passos RS é uma ação coletiva que, além das entidades, conta com a adesão de importantes empresários brasileiros. As doações recolhidas via Pix ou depósito nacional e internacional estão sendo alocadas em um fundo para posterior destinação a entidades de auxílio já mapeadas nas cidades de Igrejinha, Campo Bom, Roca Sales, Muçum, Encantado, Arroio do Meio, Estrela, Lajeado, Taquari, Rolante, Parobé, Três Coroas e Novo Hamburgo.
 

Piccadilly aposta na recuperação das vendas no segundo semestre

Cristine diz que empresa está ajudando os colaboradores que foram afetados

Cristine diz que empresa está ajudando os colaboradores que foram afetados

/Piccadilly/divulgação/jc
Com unidades produtivas em Rolante e Teutônia, além da matriz em Igrejinha, a Piccadilly Company registrou maior impacto no seu time de colaboradores. De acordo com Cristine Grings Nogueira, CEO, cerca de 20% do quadro de funcionários foi afetado. "A partir do entendimento da situação, iniciamos o foco de atuação e auxílio", comenta a empresária. Segundo ela, outro impacto foi na cadeia de produção.
"As enchentes atingiram muitas cidades aqui do Rio Grande do Sul, afetando a logística, o contato com fornecedores, a perda dos ateliês, entre diversas questões operacionais que atingiram a nossa produção", explica. Ela destaca que, mesmo diante desse cenário, a companhia atuou de forma rápida junto aos parceiros e colaboradores, minimizando os impactos a curto prazo. A empresa ainda está computando o quanto foi perdido durante e após as enchentes, para um entendimento maior de valor, mas já detectou que os depósitos de matéria prima e maquinário foram bastante impactados.
Com uma visão sistêmica do cenário climático gaúcho e suas consequências, Cristine destaca ser necessária a compreensão e entendimento de cada realidade, "pois as cidades estão vivendo momentos diferentes, algumas estão completamente devastadas, sem condições de retorno e outras já estão no processo de limpeza das casas e estabelecimentos, o que poderá viabilizar uma previsão de retomada", avalia a empresária.
Na outra ponta, tratando da cadeia de produção, a empresa mapeou os parceiros buscando entender e identificar a realidade de cada um para encontrar a melhor forma de apoio para que eles retornem às suas atividades e, também, para minimizar os impactos na produção. No que tange ao aspecto logístico, a CEO diz que a empresa está lidando com mudanças constantes, o que exige o entendimento do cenário para mitigar impactos entre a transição das fábricas, franqueados, fornecedores e clientes.
Já no viés comercial, poucas semanas após as enchentes, havia a programação de eventos em São Paulo e Igrejinha para apresentação do primeiro lançamento da coleção primavera-verão para franqueados do Brasil e parceiros externos. Cristine destaca que esse evento realizado de forma on-line foi "importantíssimo para manutenção do funcionamento da marca em outras regiões".
Aliás, o mercado interno é o principal consumidor, sendo responsável pela compra de 65% da produção de oito milhões de pares anuais de calçados femininos. Com relação ao mercado externo, a empresária informa que teve diversos retornos positivos sobre estratégias de lançamento e marketing. "Isso nos deixou bastante otimistas com relação às expectativas para o segundo semestre", antecipa.
 

CEO da Beira-Rio garante cumprimento de prazos com reconstrução de fábricas afetadas

Argenta afirma que a empresa é gaúcha 'de alma e coração' e se dedicou à retomada já nos primeiros dias de impacto das enchentes que assolaram o Estado

Argenta afirma que a empresa é gaúcha 'de alma e coração' e se dedicou à retomada já nos primeiros dias de impacto das enchentes que assolaram o Estado

/Beira Rio/divugação/jc
"Somos uma empresa gaúcha, de alma e coração". Seguindo essa premissa a Calçados Beira-Rio S.A. dedicou-se nos primeiros dias da enchente a reconstruir as duas fábricas afetadas - Roca Sales e Igrejinha, onde são produzidos calçados da marca Vizzano - com o intuito de reinserir seus funcionários no cotidiano de trabalho e cumprir os prazos de entrega aos lojistas.
Roberto Argenta, presidente da empresa, garante que até o final de junho 100% de sua produção estará a pleno funcionamento. Sem quantificar, Argenta conta que as principais perdas foram de matéria-prima, algumas máquinas que passam por recuperação e documentos. Mesmo assim é taxativo: "não afetará nenhum prazo de entrega aos lojistas", ao informar que neste momento as fábricas estão produzindo a Coleção Primavera-Verão 2024/25 e ainda alguns pares de Inverno.
Roberto Argenta conta que a imensa corrente de solidariedade manifestada é um bálsamo para os problemas enfrentados pelos gaúchos. "A gente quer agradecer ao Brasil inteiro e ao mundo porque é uma maneira de a gente se animar e retomar com força", diz o empresário.
Nascida em 1975 na cidade de Igrejinha, a Calçados Beira-Rio é hoje uma das maiores fabricantes de sapatos no Brasil, que corresponde pelo consumo de 85% da produção de 12 milhões de pares/ano. Além disso, está presente em 115 países, sendo reconhecida como uma potência global no universo fashion. Detentora das marcas Beira Rio, Moleca, Vizzano, Molekinha, Molekinho, Modare Ultraconforto, Actvitta e BR Sport, a empresa projeta faturar R$ 5,5 bilhões em 2024 com produções oriundas de suas 11 unidades fabris instaladas em Novo Hamburgo, Sapiranga, Igrejinha, Mato Leitão, Santa Clara, Teutônia, Osório e Candelária.
 

* Carmen Carlet, jornalista formada pela Famecos, Pucrs. Atuou como colunista, repórter e correspondente de veículos especializados em propaganda e marketing. Atualmente, trabalha com assessoria de comunicação, produção de conteúdo e conexões criativas.

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