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Publicada em 14 de Junho de 2024 às 15:42

O papel estratégico da área de finanças na retomada dos negócios gaúchos

Artur de Castro Frischenbruder Sócio da Evermonte Executive Search

Artur de Castro Frischenbruder Sócio da Evermonte Executive Search

Evermonte/divulgação/jc
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Uma das etapas mais complexas da catástrofe ambiental do Rio Grande do Sul é, sem dúvidas, o processo de retomada da normalidade. Em relação às empresas afetadas, há grande multiplicidade de realidades. Algumas ainda lidam com as consequências diretas das enchentes, enquanto outras já calculam estragos e lidam com a incerteza sobre sua continuidade. Entretanto, em ambas as movimentações, o papel da área de finanças será essencial para que as companhias gaúchas consigam se restabelecer de maneira sustentável.
Uma das etapas mais complexas da catástrofe ambiental do Rio Grande do Sul é, sem dúvidas, o processo de retomada da normalidade. Em relação às empresas afetadas, há grande multiplicidade de realidades. Algumas ainda lidam com as consequências diretas das enchentes, enquanto outras já calculam estragos e lidam com a incerteza sobre sua continuidade. Entretanto, em ambas as movimentações, o papel da área de finanças será essencial para que as companhias gaúchas consigam se restabelecer de maneira sustentável.
Em tempos de crise, a expressão "cash is king", ou "o dinheiro é rei", é bastante utilizada. Logo, frente ao momento que estamos vivendo, as empresas não devem (pelo menos inicialmente) pensar em lucratividade, mas sim, em sobrevivência - e isso só será possível com dinheiro em caixa. Os negócios atingidos são, em sua maioria, de menor porte e, em geral, não têm acesso às mesmas isenções fiscais concedidas às grandes empresas. Nesse sentido, alguns caminhos podem ser seguidos para mitigar os efeitos da crise que se aproxima.
Nos próximos meses, o papel das lideranças de finanças do Rio Grande do Sul será muito semelhante ao que foi desempenhado ao longo da pandemia e na crise de 2008. Isto é: pensar na manutenção do caixa e em soluções que contribuam para a melhoria do fluxo de pagamento e recebimento, além de impulsionar captações distintas daquelas tradicionalmente utilizadas em contextos de estabilidade, o que inclui questões como relacionamento bancário e negociação de crédito.
Em um panorama geral, estabelecer parcerias estratégicas e investir em projetos já em processo de desenvolvimento podem ser movimentos assertivos - e, embora a perda de margem possa ser uma consequência, não há necessidade de um alto investimento financeiro, o que preserva o caixa da companhia.
Além disso, a Diretoria Financeira terá de pensar em como conseguir dinheiro mais barato, de forma rápida e com poucas garantias. O crédito clean, empréstimo em que o tomador não fornece nenhum bem como garantia da operação, pode ser uma solução de curto prazo. Pode-se, ainda, pensar em estruturas de Supply Chain Finance (SCF), cujo foco está na gestão dos fluxos financeiros na cadeia de suprimentos para captação de fundos, diminuição da necessidade de capital de giro, incremento de capital nas cadeias produtivas e redução dos custos de obtenção de crédito.
Outro ponto a ser considerado é o impacto psicológico e emocional sobre os colaboradores. Esses profissionais, inevitavelmente, estão preocupados com a segurança de seus empregos e o futuro de suas carreiras. Diante dessa realidade, é essencial que as lideranças financeiras, em conjunto com gestores de outras áreas, adotem uma comunicação assertiva e empática. Embora a comunicação interna não seja uma atribuição direta do setor de finanças, sua participação ativa nesse processo é fundamental para a transmissão de informações claras sobre o estado da empresa, bem como para que todos estejam cientes das ações de recuperação e dos planos de contingência.
A retomada das atividades empresariais no Rio Grande do Sul deve, portanto, ser coordenada e estratégica, especialmente por parte das lideranças da área de finanças. A sobrevivência e a recuperação sustentável das empresas dependem da gestão eficiente de caixa, de soluções criativas para a captação de recursos, da negociação de condições favoráveis de crédito e, principalmente, de uma atuação disruptiva.
O desafio é grande, mas com planejamento e resiliência, é possível transformar a adversidade em uma oportunidade de fortalecimento e inovação para as empresas gaúchas.

RS: como o fomento à inovação será fundamental na reconstrução do Estado?

O Rio Grande do Sul é um dos estados mais inovadores do país, com um histórico de investimentos consistente nesta estratégia ao longo dos anos, principalmente, devido à conscientização sobre os benefícios da inovação para o ecossistema empresarial. Este ambiente, contudo, pode sofrer sérios prejuízos com os desastres causados pelas chuvas intensas na região, o que acende um alerta sobre a necessidade de mecanismos que auxiliem os empreendimentos locais a minimizarem seus impactos no curto e longo prazo no que tange ao tema.
O Índice FIEC de Inovação dos Estados de 2023 revelou o vasto potencial inovador do Sul, posicionando-o como a segunda região mais inovadora do Brasil. Dentro deste panorama, o Rio Grande do Sul destaca-se significativamente, contribuindo com 44% das candidaturas submetidas na Lei do Bem da região Sul, um dos principais instrumentos de estímulo à inovação nacional. Embora muitas ainda não recorram a este benefício, vale destacar que, entre 2014 e 2022, houve um crescimento de 138% no número de candidaturas das empresas do Estado, segundo dados do FI Group, uma das maiores referências globais em inovação. É esperado que, no futuro próximo, haja um incremento significativo nestes números, evidenciando o interesse crescente das empresas em captar recursos e aproveitar incentivos para revitalizar suas operações.
No ecossistema de inovação, todas as estratégias de estímulo são essenciais. Nesse cenário, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem se destacado, consistentemente, como uma alternativa vantajosa. De acordo com os dados do FI Group, as operações de crédito voltadas para a inovação junto à instituição tiveram um impressionante crescimento de 300% no período de 2002 a 2024, refletindo sua crescente importância no cenário econômico.
No contexto atual, após a tragédia climática que afetou o Estado, o BNDES implementou medidas de auxílio - incluindo a suspensão temporária de pagamentos e a extensão do prazo de amortização dos empréstimos por até 12 meses, com pedidos solicitados até 31 de outubro de 2024. Será disponibilizado, ainda, o FGI PEAC Crédito Solidário RS, um fundo específico para a região com mais R$ 500 milhões em garantia para novos financiamentos.
Se juntando à causa, a Finep agência pública de financiamento à inovação, também terá condições especiais de renegociação, com destaque para a suspensão temporária de dívidas de pagamento de juros remuneratórios e dos empréstimos contratados na modalidade direta. O prazo de envio dos pedidos será até as 18 horas do dia 12 de agosto, e valerá por um período de até 12 meses. Neste momento de reconstrução do Estado, as medidas implementadas são vitais para assegurar que as empresas afetadas pelas chuvas não sofram prejuízos adicionais enquanto buscam retomar suas atividades operacionais e inovativas. Afinal, em um cenário desafiador como este, é imprescindível a liberação e disponibilidade de recursos e ferramentas adequadas para superar adversidades, demandando um conjunto de intervenções governamentais focadas em apoiar essa recuperação.
Torna-se fundamental uma maior agilidade e assertividade na disponibilização de crédito, através de uma análise mais profunda que compreenda e leve em consideração a viabilidade, impacto social e econômico que cada empresa representa não só para a comunidade local, mas também em nível nacional e até internacional. Esta velocidade de análise e liberação dos recursos serão primordiais para a redução de danos à economia regional que já se encontra bastante afetada.
Uma alternativa viável no atual contexto é disponibilizar linhas de crédito com juros reduzidos, facilitando a reposição dos estoques, seja compondo as garantias para os bancos, atenuando riscos para as instituições, ou subsidiando juros. Tal medida se faz necessária pois, apesar da oferta de financiamentos, muitas empresas endividadas correm o risco de insolvência ao não terem capacidade para suportar novos endividamentos - situação que pode também obstruir o acesso aos benefícios da Lei do Bem e outros programas de incentivo.
Enfrentamos um cenário sensível quanto à continuidade do fluxo de inovação das empresas do Rio Grande do Sul. Diante de uma realidade tão preocupante, os mecanismos de apoio para as empresas gaúchas serão fundamentais para que elas não apenas retomem as atividades, mas continuem inovando de forma contínua. Com o Brasil posicionado no 49º lugar entre 132 países no Índice Global de Inovação da OMPI, a situação requer atenção. Neste contexto a sinergia é essencial: o Brasil depende da contribuição do Rio Grande do Sul e, em um momento tão decisivo, o Rio Grande do Sul necessita, mais do que nunca, do apoio do País.

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