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Publicada em 07 de Junho de 2024 às 18:51

Preta Velha traz esperança à comunidade da Vila Cruzeiro, em Porto Alegre

Local foi idealizado por um grupo de mulheres, com o objetivo de torná-lo um centro de transformação social

Local foi idealizado por um grupo de mulheres, com o objetivo de torná-lo um centro de transformação social

Preta Velha/Divulgação/JC
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Miguel Campana
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Alberto Bins, fechada em 2018, acabou sofrendo com ação do tempo e com vandalismo. Durante a pandemia de Covid-19, no entanto, um grupo de mulheres decidiu ocupar o local e torná-lo um centro de transformação social para a comunidade da Vila Cruzeiro. Com o passar do tempo, o coletivo se estruturou e recebeu mais parceiras dispostas a ajudar.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Alberto Bins, fechada em 2018, acabou sofrendo com ação do tempo e com vandalismo. Durante a pandemia de Covid-19, no entanto, um grupo de mulheres decidiu ocupar o local e torná-lo um centro de transformação social para a comunidade da Vila Cruzeiro. Com o passar do tempo, o coletivo se estruturou e recebeu mais parceiras dispostas a ajudar.
O momento de criação do coletivo coincide com o período da pandemia, em que muitas pessoas da Cruzeiro não tinham acesso garantido à alimentação. "O comércio começou a fechar e as mulheres que trabalhavam limpando casas não podiam mais fazê-lo. Por isso, a comunidade começou a se mobilizar", explica a secretária do Preta, Mylena Soares. Assim, as mulheres do coletivo se uniram para solicitar cestas básicas para os moradores da Cruzeiro.
Dentro do grupo de mulheres fundadoras do Preta, estava a presidente Adélia Azeredo, a Tia Délia. Ela foi responsável pela organização do coletivo, tendo inclusive doado recursos próprios para a estruturação do projeto e trazido familiares para ajudar na limpeza do prédio. Preta Velha era a forma com que os membros do coletivo carinhosamente se referiam à Tia Délia. Em fevereiro deste ano, Adélia veio a falecer.
"A tia Délia foi uma grande liderança comunitária. Ela tinha respeito e era capaz de mobilizar todos da comunidade para estarem no coletivo. É uma presidente vitalícia para nós", conta a vice-presidente do coletivo, Eriane Pacheco.
Para trazer benefícios sociais para a comunidade, o Preta possui uma programação de atividades diárias gratuitas. De segunda a sexta, no turno da manhã, o projeto "Viver mais e melhor", realizado em parceria com o Postão da Cruzeiro, proporciona ações de saúde para os idosos da comunidade, através de aulas de ginástica e de dança. Além disso, são oferecidas oficinas de capoeira, costura e artesanato, assim como atendimento com psicólogas e rodas de conversas.
O coletivo também organiza eventos anuais para celebração de datas comemorativas, como a festa de Natal e o Dia das Crianças. Devido aos transtornos causados pelas enchentes, a comemoração do Dia das Mães deste ano precisou ser cancelada. Outras atividades são excepcionais, ou seja, não estão de forma permanente no cronograma do coletivo. É o caso da aula de defesa pessoal e do Dia da Visão. O Preta é um ambiente de acolhimento e de esperança, conforme relata Eriane. "Todas as atividades realizadas no coletivo são instrumentos fundamentais para que as pessoas que participam sintam-se, de fato, acolhidas e pertencentes. Elas também são responsáveis pelos projetos que executamos e pelas batalhas que travamos em busca de mais dignidade para a comunidade", explica.
 

Coletivo atende vítimas das enchentes no Estado

Sala de costura foi ocupada por doações de roupas de cama e de banho

Sala de costura foi ocupada por doações de roupas de cama e de banho

Preta Velha/Divulgação/JC
Em 1º de maio, quando as chuvas já atingiam fortemente o Estado, o Preta Velha tomou a decisão de suspender as atividades programadas para aquela semana. No fim de semana seguinte, a direção do coletivo se reuniu para avaliar a situação da comunidade. Como alguns dos membros da Cruzeiro tinham familiares em regiões bastante afetadas pelas enchentes, ficou decidido que o coletivo ajudaria com a arrecadação e depois a entrega de doações. Mais tarde, o Preta tornou-se um centro de referência.
A chegada das doações exigiu uma grande reorganização da estrutura interna do Preta Velha. A sala de artesanato passou a ser utilizada para o armazenamento de roupas, enquanto o espaço anteriormente destinado às aulas de costura foi reservado para as roupas de cama. Existe uma equipe responsável por cada sala do prédio. No momento em que o coletivo recebe uma demanda, as equipes atuam em conjunto para organizar a saída das doações.
A logística de entrega dos donativos ficou prejudicada pela falta de carros disponíveis para fazer as viagens e também pela dificuldade de chegar até algumas das regiões afetadas. Por causa disso, o coletivo solicitou a participação de voluntários que pudessem disponibilizar o carro para as entregas.
O Preta Velha priorizou as demandas vindas dos abrigos que não foram contemplados no plano inicial do governo para a entrega de doações. "O nosso propósito não era contribuir somente com os abrigos maiores e oficiais, mas também com lugares menores que estavam acolhendo muitas pessoas", explica Eriane.
O coletivo também prestou atendimento a uma família que veio de Alvorada. Antes disso, eles haviam saído de sua casa no bairro Humaitá, em Porto Alegre. Eriane conta que, quando chegaram no prédio do coletivo, os membros da família estavam desabrigados.
Para Mylena, a divulgação pelas redes sociais foi importante tanto para a prestação de contas do destino das doações quanto para a validação do trabalho feito pelo Preta Velha. Ela conta que o coletivo teve apoio da Central Única das Favelas (CUFA), da Coalizão Negra por Direitos e também da banda Fresno, da cantora Luísa Sonza e dos influenciadores Whindersson Nunes e Nath Finanças.
Para trabalhar como voluntário no coletivo, basta se apresentar no local. Na sequência, os dados pessoais são anotados e é delegada alguma tarefa. Para fazer uma demanda de doação, por outro lado, é necessário preencher um formulário do próprio Preta.

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