O Instituto Meiriane Azeredo - Centro Clínico e Educacional de Psicologia, localizado na cidade de Canoas, uma das mais atingidas pelas enchentes do mês de maio no Rio Grande do Sul, organiza uma campanha em benefício das crianças com desenvolvimento típico e atípico atingidas pela grave crise climática. A campanha quer arrecadar dinheiro para compra de fraldas, lenços umedecidos, remédios, calçados e roupas de inverno.
O instituto, que foi criado em 2018, é hoje uma das referências em tratamentos do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), recebendo pacientes de todo o Estado, principalmente de Porto Alegre, Região Metropolitana e Serra Gaúcha. O local trabalha com Intervenção Comportamental (Terapia ABA), Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e Terapia Assistida com Animais. A diretora do instituto, a psicóloga Meiriane Azeredo comenta que as crianças atendidas vivem em Porto Alegre, região metropolitana e na serra, sendo o serviço prestado no local de preferência para o acompanhamento da criança, podendo ser, por exemplo, em casa ou na escola.
"Atualmente, um número entre 40 e 45 crianças são atendidas pela terapia em todo o Estado" relata. Os pacientes recebem cuidados de atendentes que são os aplicadores da terapia, eles são prestadores de serviços, geralmente com formação na área da saúde ou da educação e que são selecionados e treinados para ir aplicar a terapia sob supervisão dos coordenadores e com supervisão geral de Meiriane Azeredo.
A campanha que está em curso busca auxiliar as crianças cujas famílias perderam itens básicos para os seus cuidados diários. "A nossa ideia é poder focar em ajudar essas famílias a retomarem as suas vidas, por isso queremos ajudar com as necessidades que as crianças apresentarem, como, fraldas, lenços umedecidos e fórmulas infantis. Por esse motivo, lançamos a campanha de arrecadação via Pix" explica a diretora.
O Pix da instituição para doações é [email protected]. Enfatiza-se que será feita a prestação de contas para a comunidade de todos os valores arrecadados. Meiriane também ressalta que quem puder e desejar ir presencialmente até o Instituto para deixar sua doação, ele fica localizado na rua Dr. Barcelos, 770, bairro Centro, Canoas. O horário de funcionamento é das 8h às 12h e das 13h às 17h30min. "Na primeira leva, conseguimos arrecadar R$ 1,3 mil que já foram repassados em fraldas e lenços umedecidos" destaca Meiriane. Um dos primeiros locais que foi beneficiado com a entrega de doações foi a Associação Pestalozzi de Canoas, uma organização sem fins lucrativos que trabalha com garantia e defesa dos direitos da pessoa com deficiência intelectual.
Uma preocupação levantada por Meiriane foi a de que muitas crianças estão em abrigos e, portanto, acabam se tornando mais vulneráveis. "Se exige um cuidado redobrado dos pais e a necessidade de se manter uma rotina, apesar de terem saído de casa" comenta. A psicóloga salienta que se deve reforçar com as crianças típicas e atípicas, por exemplo, o horário para tomar café, para escovar os dentes ou tomar banho.
Na situação atual, ela também alerta que os adultos também estão sofrendo bastante e reforça a importância de que os profissionais da saúde possam estar se voluntariando. "Essa tragédia, infelizmente, não vai acabar tão cedo e nós vamos precisar de mais voluntários no decorrer desse tempo" exclama Meiriane.
No que se refere a entrega de doações ao longo prazo, a psicóloga afirma que a ideia é focar no que é necessário em cada momento específico. "Então, nesse momento, com o inverno, nós vemos a necessidade de determinados produtos, mas com o tempo nós vamos sondando e vendo o que vai se tornando prioridade" frisa.
Acessibilidade também significa proporcionar um ambiente de acolhimento
A atual situação pode causar estresse e é necessário um cuidado maior com as crianças neuroatípicas. Nesse contexto, o advogado e palestrante nas áreas de acessibilidade e inclusão Marcos Bliacheris esteve em diversos abrigos para essas crianças e ressalta que a aceitação e a compreensão das pessoas de que esse grupo tem suas peculiaridades, é uma dificuldade que está sendo enfrentada.
Nesse cenário, espaços mais preparados para recebê-las ou mais reservados estão sendo procurados, com objetivo de evitar lugares barulhentos e com a circulação de muitas pessoas. "É preciso entender que para um autista, um ambiente desses é o que se chama de uma sobrecarga sensorial. Muitos autistas têm uma maior sensibilidade, seja a luzes ou a ruídos, então acaba sobrecarregando eles e desregulando o emocional, podendo afetar toda a família" explica Bliacheris.
Na questão de acessibilidade, ele destaca que não se trata somente de rampas ou Libras, mas um conceito amplo e que para o autista a acessibilidade vai ser ter um ambiente adequado. "Ter um local adequado para que essa criança, essa família, que já passou pela perda da sua casa, do seu ambiente e da sua rotina, não tenha mais prejuízos" afirma. Numa visão a longo prazo, Bliacheris comenta que dentro do possível, as instituições devem dar o máximo de previsibilidade.
"Tem que se pensar em semanas, não em dias, porque a previsibilidade de saber que está num lugar seguro e saber que pode ficar nele até a situação se normalizar é muito importante" destaca o advogado, que explica que a imprevisibilidade pode desorganizar muito o autista e sua família e causar sofrimento. Reforçando o acolhimento por parte do governo e das instituições para todos aqueles que foram colocados em situação de insegurança.