Carmen Carlet, especial para o JC*
A Zona Sul de Porto Alegre tem um quê de cidade do interior com uma mistura de veia turística manifestada por seus shoppings e sua gastronomia em espaços que têm como cartão postal o Guaíba e seu pôr do sol. Além disso, apresenta uma pitada de bairrismo. Afinal, quem mora na região diz não a trocar por nenhum outro lugar na Capital. Porém, mesmo com todo esse ar bucólico, enfrenta problemas. Um deles resolvido, em parte, trata da mobilidade urbana. A finalização das obras da avenida Tronco reduziu em cerca de 20% o tempo de deslocamento até as áreas mais centrais da cidade. Outros ainda persistem: como a relação de admiração, e agora também medo, pela proximidade do Guaíba. O recente evento climático extremo vivido por todos os gaúchos coloca população e especialistas em alerta procurando soluções e saídas para que o lago que banha tão proximamente a Zona Sul não se transforme em seu algoz.
Devido às fortes chuvas, o bairro Cavalhada, um dos inúmeros que formam a Zona Sul de Porto Alegre, precisou fechar comércios e teve moradores buscando abrigo em outras localidades
Rafa Neddermeyer/Agência Brasil/jcViver na Zona Sul de Porto Alegre é quase uma filosofia de vida. Quem é da região não troca seus bairros, comércio, gastronomia e negócios por outros lugares na Capital. A recente finalização da avenida Tronco - entregue em 9 de abril, uma década depois de seu início - chega em um momento em que a população já não tinha mais esperanças, afinal era a 'interminável obra da Copa 2014'. Inaugurada, ela aponta para a tendência de valorização desta área que tem jeito de cidade do interior e é abençoada pelo pôr do sol mais lindo do mundo, na visão porto alegrense.
Mesmo que finalizada tardiamente, a avenida Tronco é considera a maior em benefício da mobilidade urbana dos últimos tempos na Capital. Além da duplicação da via, o projeto incluiu ao longo de seis quilômetros, drenagem, corredores de ônibus, ciclovia, nova sinalização e iluminação pública, consumindo investimentos da ordem de R$ 122 milhões. Na cerimônia de entrega do último trecho, o prefeito Sebastião Melo destacou o papel mais social desta obra da Copa. "A mobilidade humana ganha muito com a avenida Tronco duplicada. Essa é uma ligação importante entre a Zona Sul (ZS), a Azenha e a Terceira Perimetral. É um ganho para a população de toda a cidade", afirmou. De acordo com André Flores, secretário de Obras e Infraestrutura, essa é uma obra sonhada pela cidade desde 1959. É muito importante para a mobilidade, para o desenvolvimento, para as pessoas que moram naquela região, e é também, uma obra para o futuro da nossa cidade", ressaltou o secretário.
A obra reduziu - de acordo com projeções do poder público - em 20% o tempo gasto em deslocamento entre a Zona Sul e bairros como Menino Deus e Azenha, e também agilizou o acesso ao Centro da cidade. Além disso, a conclusão das obras beneficia cerca de 80 mil passageiros do transporte coletivo. Na rótula da avenida Tronco, por exemplo, passam 48 linhas de ônibus.
Composta pelos bairros Cavalhada, Nonoai, Teresópolis, Vila Nova, Vila Assunção, Tristeza, Vila Conceição, Pedra Redonda, Ipanema, Espírito Santo, Guarujá, Serraria, Hípica, Campo Novo, Jardim Isabel, Aberta dos Morros e Sétimo Céu, a ZS tem uma relação especial e afetiva com o lago (ou rio, como a maioria dos porto alegrenses prefere) Guaíba. Com quase toda sua extensão banhada pelas águas do Guaíba, a região foi afetada - embora em escala menor do que a Zona Norte - pelo evento climático extremo vivido pelos gaúchos no mês de maio. Sem precedentes na história do Rio Grande do Sul, as enchentes transformaram de forma drástica a vida e paisagem, inclusive da Capital que tinha como referência histórica a catástrofe hídrica de 1941, ultrapassada de forma avassaladora pela de 2024.
Com um novo normal estipulado neste ano, negócios e investimentos foram abalados e estão sendo revistos em todo o Rio Grande do Sul. E, nesta parte da capital gaúcha - a Zona Sul - não é diferente. Cronogramas estão em fase de suspensão e prazos sendo reestudados.
União fortalece os pequenos negócios e reúne 30 pequenas marcas em multiplataforma
"Temos que nos adaptar. Mas, continuar", afirma Grasiela Duarte
Grasiela Duarte/arquivo pessoal/jcCriada pela jornalista Grasiela Duarte durante a pandemia, a multiplataforma Zona Sul Meu Bairro reúne 30 pequenas marcas que impulsionam os negócios da região. Artesanato, salões de beleza, ferragem, academia, decoração, contabilidade, gastronomia, imobiliária, móveis, ótica, moda e celulares são alguns dos setores representados. "Mas, não temos restrições em relação a segmentos. São bem-vindos negócios locais e atuantes na ZS", destaca Grasiela. A plataforma reúne perfis no Facebook e Instagram, grupo no WhatsApp e um portal.
Os parceiros anunciantes participam de todos os canais para divulgarem seus negócios. Na outra ponta, os clientes interessados em produtos ou serviços na Zona Sul acessam os perfis e o site. Atualmente os parceiros aderem a um dos três pacotes oferecidos que contemplam divulgação nas redes, participação em grupo do WhatsApp e divulgação no site.
Ao longo destes quatro anos, a jornalista viu a necessidade de auxiliar os parceiros sobre a importância da comunicação, iniciando o processo através de dicas compartilhadas pelo WhatsApp. Em 2023, ela criou a Jornada da Visibilidade, um curso online gratuito para os anunciantes com informações do método de sua autoria, Descomplica & Comunica, que tem como pilares comunicação assertiva, posicionamento e relacionamento, para gerar mais audiência e vendas usando as redes sociais. No curso, ela orienta sobre produção de conteúdo e ensina estratégias para apresentar os negócios, criar conexão com os públicos, captar atenção adequada e conquistar relacionamentos duradouros.
Rose Prado, proprietária de uma loja de moda feminina, conta que a plataforma agregou visibilidade, conhecimento e conexão além de direcionar um novo olhar a seu negócio, o que gerou crescimento para a marca. Rosiane Maiato, cofundadora da Ótica Mib, concorda a respeito dos resultados alcançados, "a parceria, além de proporcionar conexões, traz informações atualizadas sobre o comércio local", garante.
Para 2024 a jornalista programou a 1ª Rodada de Negócios, com o objetivo de aproximar empresas e profissionais para estimular a criação de parcerias e interesse comercial entre eles. O evento seria no dia 18 de maio, mas foi adiado por conta da recente questão climática. Aliás, Grasiela se posiciona com uma postura resiliente. "Zona Sul Meu Bairro foi criado na pandemia, quando passamos por um grande desafio e precisamos nos reinventar. Em outras proporções, estamos enfrentando isso novamente", avalia sem receio de afirmar que ela e os parceiros precisam manter a divulgação para continuar atuando.
Incorporadoras identificam potencial para expansão
Dilson Ducati e Vicente Ducati destacam os diferenciais dos empreendimentos
Ducati/divulgação/jcPresente no Rio Grande do Sul desde 1997 - com as primeiras tratativas para instalar o BarraShopping Sul, que completa 16 anos em 2024 - o grupo Multiplan, em 2021, fincou mais um pé no Estado - além do Barra também possui o ParkShopping Canoas - e anunciou o início da construção do primeiro bairro privativo de alto padrão da capital. A expectativa do grupo é continuar investindo no Rio Grande do Sul, trazendo novidades e atuando no desenvolvimento das regiões próximas aos seus empreendimentos.
Atualmente, a Multiplan gera mais de 11 mil empregos em solo gaúcho e investe R$ 4,5 bilhões no Golden Lake que será um ícone no mercado imobiliário proporcionando, como diz em seu manifesto, um novo lifestyle, aliando segurança, bem-estar, comodidade e com todas as 18 torres com vista perene para o Guaíba e seu pôr do sol. O conceito do Golden Lake, segundo os empreendedores, está baseado no resgate de uma vida com liberdade, segurança, praticidade e prazer. O empreendimento está sendo implantado em uma área de 163 mil m², com sete condomínios.
Cada um deles tem estrutura própria e completa de lazer e todos estão interligados a uma área de esportes, relaxamento e entretenimento, proporcionando um estilo de vida de bairro e adaptado ao cotidiano contemporâneo. Um dos diferenciais do projeto é o Main Lake, o maior lago artificial de águas cristalinas do país, com 5 mil m², inaugurado em novembro de 2022. É nele que os moradores poderão praticar esportes náuticos como caiaque e stand up.
Para ter o projeto aprovado, a Multiplan ofereceu contrapartidas à Capital que chegam ao valor de R$ 162 milhões. Segundo a assessoria de imprensa do empreendimento algumas já foram efetuadas antes mesmo da entrega das primeiras unidades - o cronograma inicial prevê a conclusão da primeira torre em dezembro deste ano. Uma dessas compensações foi a obra do segundo piso do Mercado Público, onde aportou R$ 9,4 milhões.
Além disso, adquiriu, em nome da Prefeitura de Porto Alegre, 13 imóveis no Cristal e na Vila Cruzeiro para instalação de entidades comunitárias que realizam trabalho social na ZS, totalizando outros R$ 9 milhões. Deverá aplicar também R$ 13 milhões na urbanização da nova via de ligação entre a Diário de Notícias e a Icaraí, que inclui três pistas e obras de melhoria na circulação e drenagem. Para as novas fases do empreendimento estão previstos ainda cerca de R$ 100 milhões em investimentos na região, com grande impacto principalmente na orla.
O bairro também terá urbanização planejada, onde a área livre representa 90% do total do terreno, paisagismo e cerca de 1,3 quilômetros de ciclovias e pistas de caminhada. A Multiplan segue diariamente monitorando e mapeando as mitigações necessárias para o retorno integral das atividades.
Outra empresa que aposta em moradias na Zona Sul da cidade é a Ducatti Engenharia. Ao completar 35 anos, a construtora diversifica e lança o Morada Poente, empreendimento que marca o início do novo braço da empresa, a Ducatti Desenvolvimento Imobiliário. O empreendimento tem como um de seus principais diferenciais a localização próxima à praça da Tristeza, considerada o coração da Zona Sul. Dilson Ducati, sócio-diretor, conta que a opção pelo bairro Tristeza aconteceu pela reunião de características que valoriza: uma área arborizada, tranquila, repleta de recursos e facilidades, com um clima acolhedor e a poucos minutos do Centro.
O Morada do Poente segue a característica intimista da localidade. Segundo Vicente Ducati, diretor de engenharia, serão apenas sete casas de três pavimentos com pátio e completa infraestrutura para o lazer da família, como terraço, espaço multiuso e churrasqueira, tudo cercado por área verde. Com Valor Geral de Vendas de R$ 15 milhões, as residências variam de R$ 1,7 milhão a R$ 2,5 milhões. As obras iniciaram em janeiro de 2024 e o cronograma deve manter a entrega programada para 2025.
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Planejamento urbano e econômico deve ser prioridade
Fernanda alerta, há anos, para os possíveis desastres ambientais
Carmen Carlet/ESPECIAL/JCO geólogo Rualdo Menegat, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), é crítico em relação às políticas de planejamento urbano e econômico. O caso de Porto Alegre, segundo ele, é o mais significativo de que há desorganização generalizada do território, causada pelo conjunto de atividades econômicas. Referindo-se especificamente à ZS da capital, o geólogo observa que nesta região a atividade agrícola é muito importante, pois torna a cidade menos dependente de mercados que podem estar indisponíveis em um colapso como este que estamos atravessando.
"Então, o Plano Diretor Urbano deveria considerar a integralidade da cidade. A cidade não é constituída apenas de ruas e avenidas. Ela também é constituída pelos ecossistemas, rios e a atmosfera, que provê a chuva. Somos um espaço tridimensional e não um plano em duas dimensões", ajuíza Menegat.
A Zonal Sul poderia dar um salto na sua visão de cidade ao integrar as unidades de conservação, parques e matas dos morros e a orla, constituindo corredores ecológicos pertencentes a uma Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. A beleza paisagística natural, a importância do Guaíba como nossa fonte de água e como patrimônio hídrico e ecológico, deveriam ter um forte programa de conservação integral de nossos ecossistemas e paisagens. "Isso traria inúmeros benefícios em termos turísticos para a economia circular e resiliência frente às crises climáticas", garante o geólogo.
A doutora e mestre em direito público Fernanda Damacena, autora do livro Direito dos Desastres e Compensação Climática no Brasil, vem há anos alertando para os possíveis desastres ambientais aos quais as populações estão sujeitas. Com uma visão sistêmica a especialista observa que a recuperação de todas as zonas de Porto Alegre (não só a Sul) e dos demais municípios gaúchos afetados pelo desastre, deve ser pautada pela observância da legislação que orienta prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação de desastre. Para a especialista, a omissão diante dos riscos conhecidos ou intuídos, a deficiência do conjunto de infraestruturas críticas, assim como a inobservância dos objetivos, diretrizes, instrumentos e alterações legislativas decorrentes da entrada em vigor da Lei 12.608/12, nos conduziu à má adaptação.
Essa lei estabelece que a prevenção de desastres deve ser integrada às políticas de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, infraestrutura, educação, ciência e tecnologia e às demais políticas setoriais, tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável.
"O que estamos vivendo deve ser suficiente para que o poder público, a iniciativa privada e a sociedade compreendam que todo planejamento, plano diretor, proteção física das cidades, saneamento, água, luz, transporte, comunicação, políticas alimentares, de seguros, entre outros, devem considerar a possibilidade de ocorrência de todo tipo de desastre, inclusive o climatológico", afirma.
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Especialistas apontam caminhos para proteger os bairros que costeiam o Guaíba
Drumond é um crítico de grandes empreendimentos na região
Rafael Drumond/Arquivo pessoal/jcO desenvolvimento da Zona Sul, ao contrário do se possa imaginar, não iniciou de uma forma muito glamourosa, pois o desbravamento da região originou-se a partir de uma questão sanitária da capital gaúcha. No final do século XIX, foi construída uma ferrovia com destino ao sul da cidade que tinha como objetivo principal atender as demandas de saneamento da população. Conforme conta o arquiteto e urbanista, doutor em planejamento urbano e regional, André Huyer, em sua pesquisa "A Ferrovia do Riacho", com a ausência de esgoto cloacal e o crescimento populacional, uma comissão médica determinou que os dejetos deveriam ser despejados no lago Guaíba a uma distância de 10 quilômetros do centro.
A solução adotada pelo poder público, na época, foi a construção de uma ferrovia para transportar os excrementos. Com problemas para execução, a obra levou seis anos para ser concluída. E, em novembro de 1899, começou regularmente a ser feito o despejo dos cubos sanitários na Ponta do Melo (bairro Cristal). Dois meses depois a ferrovia abriu uma outra frente iniciando o transporte de passageiros. O percurso compreendia o trecho entre a estação inicial - ao lado da Ponte de Pedra (atual Ponte dos Açorianos), na então foz do Riacho (Arroio Dilúvio) - e o fim da linha no arrabalde da Tristeza, que já contava com um prédio de madeira para fins de estação. Assim foram os primórdios da Zona Sul de Porto Alegre.
Trazendo esse histórico para os dias atuais, Huyer, diz que a ZS que refere na pesquisa consiste nos bairros da orla do Guaíba, desde o Cristal até Serraria. "Ela ainda mantém suas principais características urbanísticas originais, quanto aos usos e tipos de construção no interior dos bairros, e prédios maiores e comércio junto das principais vias de transporte", afirma. Para ele, a Zona Sul não se modificou muito ao longo das últimas décadas.
Poucas obras viárias significativas, poucas alterações importantes no plano diretor, observa o urbanista ao destacar, porém, que ocorreu um aumento de densidade nos bairros, com a proliferação de condomínios horizontais, e de alguns prédios altos ao longo das avenidas, como esperado. "Somado com o aumento de densidade de bairros mais distantes (Extremo Sul), mas dos quais a ZS é via de passagem, o trânsito tem se degradado continuamente. Por exemplo, hoje às 17h a avenida Coronel Marcos, em Ipanema, fica congestionada. Algo inimaginável a poucos anos", avalia.
Analisando o recente impacto climático na região, o arquiteto afirma que enquanto as áreas da cidade que deveriam estar protegidas pelo sistema contra as cheias podem facilmente ser adequadas, bastando que a manutenção do sistema seja executada, na ZS não há solução fácil. O mais provável é que as residências em áreas potencialmente alagáveis terão que se adaptar com térreo que possa ser evacuado e abrigo no pavimento superior, como as palafitas na Amazônia. Já, para as casas em áreas de risco (desabamento, exposição às ondas do Guaíba etc.) o correto é serem removidas para local seguro.
Rafael Drumond, arquiteto e urbanista mineiro que tem estudado o impacto das enchentes no RS, é um crítico de grandes empreendimentos na região. Para ele, deve-se ficar alerta para a impermeabilização das áreas ao lado do lago Guaíba. "Estamos entrando em uma nova era, a das mudanças climáticas, e por isso nos deparamos cada vez mais com a destruição em potencial que ela pode nos causar. Manter um planejamento urbano que já se mostrou falho, que ignora as águas enquanto destrói o seu entorno, é condenar as famílias que moram na cidade, e principalmente nessa região, a um futuro desastre que a todo momento ameaça acontecer", observa.
Para ele, a discussão deveria se concentrar em um único ponto: como restaurar as áreas que mais necessitam da presença da natureza. Ampliando sua análise sobre a região, o arquiteto diz que além das questões ambientais, o impacto social está sendo envolvido em grande escala. Ele se refere, por exemplo, à remoção de 1.500 famílias da Avenida Tronco para viabilizar sua duplicação. "Naquela época, foi pedido à Câmara Municipal que destinasse terreno para essas famílias afetadas, o que, infelizmente, não ocorreu. Com a não destinação de um local adequado para elas morarem, restarão apenas as áreas ambientalmente vulneráveis, encostas de morros, e planícies alagáveis", lamenta o arquiteto.
Centros de compras destacam proximidade com o la
Complexo Pontal foi transformado em local de apoio e acolhimento aos que ficaram desabrigados
Tânia Meinerz/JcA Zona Sul abriga dois importantes shoppings centers da capital gaúcha: BarraShoppingSul, do grupo Multiplan, que completa 16 anos em novembro, e o Pontal Shopping que comemorou seu primeiro aniversário em abril deste ano. Com 306 operações e a confirmação de 10 novas para este ano - entre as quais a alemã Boss e as já inauguradas MAC, Cidadania Já, Espaço Facial e Me.linda - o BarraShoppingSul vem se destacando entre os 20 empreendimentos da Multiplan e iniciou 2024 com um dos maiores aumentos de vendas: 21,1%, em janeiro, em comparação com o mesmo período no ano passado. No fechamento do exercício anterior, o desempenho também foi positivo.
O crescimento anual foi de 16,7% sobre 2022, atingindo R$ 941,1 milhões. Um dos destaques foi o quarto trimestre de 2023, que cresceu 23,2% em vendas. Em uma área de 70 mil m² e tráfego de 11,4 milhões de visitas (em 2023), o Barra conta com parque indoor, oito salas de cinema, um centro de eventos e uma área gastronômica com vista para o Guaíba, espaço chamado Baixo Barra com 11 restaurantes.
Além disso, o empreendimento da Multiplan possui duas torres comerciais e o único edifício residencial dentro de um shopping center, em Porto Alegre. Durante este período de exceção climática o Barra - dentro do projeto Multiplique o Bem, hub de ações sociais da Multiplan - se transformou em mais um espaço para receber doações para os desabrigados pela enchente. Os itens serão distribuídos através do Programa Sesc Mesa Brasil.
O mês de junho deve ser marcado pela inauguração da primeira unidade do atacarejo da rede Zaffari em Porto Alegre, o Cestto Atacadista. Sem confirmar a exatidão a companhia apenas comunica que mantém a previsão de abrir as portas no primeiro semestre de 2024. A região escolhida pelo grupo foi a Zona Sul - mais especificamente a avenida Wenceslau Escobar, bairro Tristeza, em um espaço que já abrigou outras bandeiras supermercadistas em épocas anteriores. O novo formato de unidade de negócios do Grupo Zaffari, tem o compromisso de entregar variedade e qualidade com preço baixo.
De polêmicas a centro de resgate durante as cheias
Amélia diz que preocupação é oferecer bem-estar e qualidade de vida
Pontal Shopping/DIVULGAÇÃO/JCO Complexo Pontal, inaugurado em abril de 2023, projetado pela incorporadora Melnick em parceria com a BM Par Empreendimentos Imobiliários é formado por shopping, hotel, escritórios, consultórios médicos, centro de eventos, estacionamento, loja de material de construção e um parque público - como contrapartida urbanística.
A área pertencente inicialmente à fábrica de navios Estaleiro Só, sofreu discussões por vários anos. Depois de idas e vindas e disputas judiciais, o local passou para o poder público municipal e foi oferecido em leilão, sendo arrematado pelo empresário Saul Boff que apresentou à Prefeitura o projeto Pontal do Estaleiro.
Depois de polêmicas, consulta popular e mais debates, o Pontal Shopping foi inaugurado em abril de 2023. Um ano após sua abertura, vivemos a pior crise climática da história dos gaúchos e o complexo desempenhou um importante papel. Estrategicamente localizado nas margens do Guaíba, o shopping teve seu ambiente, tradicionalmente composto por vitrines e lojas, transformado em um local de apoio e acolhimento aos desabrigados com centro de triagem e recebimento de doações.
No que tange a negócios, o Pontal Shopping trabalha com o conceito life center que, segundo Amélia Siqueira, gerente-geral, é uma tendência no varejo mundial que se alinha aos novos comportamentos do consumidor.
"Esse conceito está expresso através de um complexo multiuso que se torna um verdadeiro centro de experiências por reunir espaços de lazer, convivência, compras, escritórios empresariais, hub da saúde, parque conectado à natureza e um pôr do sol incrível", explica Amélia e acrescenta que a preocupação é oferecer bem-estar e qualidade de vida de forma completa aos clientes.
Com relação às operações futuras, uma delas é a nova unidade do Hospital Moinhos de Vento (HMV). Com previsão inicial de inaugurar no primeiro semestre deste ano um hospital para atendimento de procedimentos cirúrgicos de baixa e média complexidade nas áreas de cirurgia plástica, dermatologia e mastologia, o HMV suspendeu temporariamente todas obras em andamento. Segundo comunicado, a instituição é solidária aos transtornos causados pelas inundações e aos colaboradores das construtoras, muitos dos quais foram impactados pessoalmente com a situação das cheias. "Além disso, a cidade enfrenta problemas logísticos causados pelo fechamento de diversos acessos, o que causa dificuldade na entrega de insumos e matérias-primas".
Quando a situação estiver normalizada e as obras puderem ser retomadas com segurança, o hospital revisará o cronograma de entregas, levando em consideração possíveis desdobramentos da calamidade pública. Quando pronto, o hospital ocupará dois pavimentos com área total de 1.144m² e trabalhará com o conceito hospital dia, atendendo até 20 procedimentos diariamente. O complexo hospitalar Moinhos de Vento está investindo cerca de R$ 60 milhões na unidade Pontal.
Pluralidade gastronômica com espaço para crescer
Daniela, chef do Iaiá Bistrô, diz que faltam empresas, centros empresariais e consultórios para movimentar mais a região
Daniela Craidy/arquivo pessoal/jcNos últimos anos, a Zona Sul tem testemunhado uma transformação gastronômica notável. A concentração de opções culinárias que vai da cozinha brasileira afetiva à culinária catalã, passando por cervejas e vinhos artesanais, confirmam o perfil multifacetado da região. São centenas de escolhas que permitem uma viagem pela gastronomia mundial sem sair da vizinhança. E, para aqueles que moram um pouco mais longe, uma oportunidade para uma prazerosa visita às proximidades do Guaíba.
Além da comida deliciosa, outro aspecto cativante desses estabelecimentos é o ambiente acolhedor que oferecem e confirmam a atmosfera de cidade interiorana da Zona Sul. Com espaços ao ar livre, esses locais proporcionam uma experiência completa, que vai muito além do simples ato de comer. O desenvolvimento desse novo polo gastronômico também está tendo um impacto positivo na economia local.
A abertura de novos restaurantes e bares não só cria empregos, mas também estimula o crescimento de outros negócios complementares, como fornecedores de alimentos, lojas de decoração, serviços de entretenimento e cultura. Enfim, todo o ecossistema é beneficiado. Um dos precursores é o Iaiá Bistrô. Inaugurado em 2009 pela chef Daniela Craidy o espaço já tem uma clientela fiel e é reconhecido pelo bem acolher. Em uma casa localizada na tranquila rua Chavantes, no bairro Assunção, o Iaiá é especializado em culinária regional brasileira e serve uma tradicional feijoada aos sábados, quando recebe gente de vários lugares para saborear o tempero da chef. Daniela que se criou no bairro Vila Assunção afirma que a região ainda é "um bairro dormitório".
Deborah busca transmitir tranquilidade de acolhimento no Espaço Bossa
Segundo observa, a maioria das pessoas que mora na região, trabalha em outras áreas e isto cria uma dificuldade de faturamento durante a semana e um movimento muito grande nos sábados e domingos, "quando muitos moradores de outras zonas vêm nos visitar", diz Daniela, ao acrescentar que ainda faltam empresas, consultórios, centros empresarias na região.
A empresária defende a ideia de descentralização do consumo e as pessoas trabalharem perto de onde moram. Só assim, os estabelecimentos podem ter um fluxo de consumo constante que permite uma melhor utilização do espaço e um faturamento contínuo ao longo do mês.
Na vizinha avenida Copacabana, também no Assunção, funciona o Espaço Bossa. Unindo duas operações: loja de decoração e presentes e uma cafeteria afetiva, o espaço mantém um ar aconchegante de casa de família. "É como se estivéssemos recebendo em nossa casa", diz Deborah Hoffmeister. Com jardim colorido, boa música e uma decoração pensada para encher os olhos, o espaço procura transmitir tranquilidade e acolhimento. E é justamente esta atmosfera que propicia a locação para celebrações de eventos sociais e corporativos.
Moradora nascida e criada na região, Deborah é uma apaixonada pela ZS. "Ela tem crescido consideravelmente nos últimos 10 anos, com novas operações locais e também algumas franquias e restaurantes que têm apostado na região", sinaliza a empreendedora ao observar, no entanto, que ainda há muito para se desenvolver. "As pessoas da cidade precisam vir mais para esses lados e valorizar mais a região, pois só assim os negócios conseguem se sustentar e se manter. Acho que ainda existe um pré conceito de que Zona Sul é longe".
Cervejas e vinhos artesanais ganham público na Zona Sul
De Leo escolheu a Vila Nova para abrir a Cave Poseidon em 2019
Cave Poseidon/divulgação/jcUm casarão colonial na Vila Assunção é a sede da Cave Poseidon, uma microvinícola que nasceu do sonho de Carlo De Leo, um dentista apaixonado pela bebida do deus Baco. Ali ele passa boa parte do seu tempo concentrado em combinações de uvas que resultam em elogiados vinhos autorais. A Cave Poseidon nasceu em 2019, e teve sua primeira safra vinificada em 2021, produzindo vinhos com um perfil "saudável, agradável e fácil de beber".
As uvas que resultam em seus vinhos são selecionadas a partir de parceiros localizados em diversas regiões do estado. A recente crise climática não deve afetar a produção da Poseidon, pois conforme De Leo, seus fornecedores da Serra tiveram poucas perdas "um deles perdeu cerca de 40 plantas, o que é pouco perto dos 550 hectares de uva que estão dizendo que foram perdidos", avalia o vinhateiro que, durante a enchente, usou seu barco para auxiliar nos resgates de desabrigados.
A vinícola não foi diretamente atingida, embora, ao conversar com parceiros do clube náutico, tenha evoluído a ideia de ser necessário aumentar o calado do Guaíba. Mas, com ou sem aumento do calado, De Leo tem a certeza de que a economia não pode parar de girar. Para tanto, ele vai focar na venda direta de vinhos, buscando o cliente para viver experiências na vinícola e a bordo do veleiro conhecendo Porto Alegre, degustando vinhos e espumantes produzidos por ele de forma artesanal na Poseidon.
Paixão pela cerveja artesanal foi a mola propulsora para que Luciano Pohlmann e sua esposa, a jornalista Edith Auler, resolvessem transformar a residência da família, localizada no bairro Assunção, em uma microcervejaria. A casa onde moravam com os filhos passou por obras para abrigar grandes tanques fermentadores, cozinha industrial e espaços para receber clientes e, em maio de 2022, os dois abriram as portas e as torneiras da Cervejaria Pohlmann.
Luciano, o mestre cervejeiro, estuda, faz combinações e cria cervejas autorais. Edith, no papel da hostess que recebe em sua casa, trata cada cliente como se fosse único. Com uma produção mensal em torno de 2,5 mil litros, a microcervejaria aposta nas produções autorais que saem das oito torneiras e também em um cardápio com delícias à base de malte, como por exemplo, as massas das pizzas e bruschettas. Para além dos sabores do malte, os sócios também locam o espaço para eventos corporativos e sociais em suas áreas internas e externas.
Pohlmann transformou a residência, no bairro Assunção, em cervejaria
Moradores da região há 20 anos, o casal acredita que essa parte da cidade tem crescido muito, com o setor de gastronomia sendo um dos principais responsáveis por levar movimento à região. Pohlmann considera essa expansão de suma importância, pois gera mais empregos e renda "e cada vez mais se abre para esse setor incrível que é a gastronomia e, no nosso caso, as cervejas artesanais", comemora o mestre cervejeiro.
Parceria inusitada atrai público em busca de novas experiências
Quines destaca a importância da arte e cultura catalã
MoltBe/divulgação/jcDesde fevereiro deste ano, uma parceria inusitada proporciona aos amantes da boa culinária conhecer e deliciar-se com a gastronomia catalã, que tem a essência do Mediterrâneo como base. Dentro da tradicional Floricultura Winge - a maior do Brasil, com 33 mil m² de área e 136 anos de existência-, no bairro Tristeza, abriu o MoltBe (que significa Muito Bom).
Tendo à frente os sócios Fernando Quines, Roberta Duarte, Leandro Bulsing e Paola Cheiram, o restaurante que funciona em um galpão centenário, é ornamentado com plantas, flores e pinturas que fazem alusão à arte e cultura espanhola. A ideia de um espaço com inspiração na Catalunha partiu de Quines que morou em Barcelona por dois anos e se apaixonou pela culinária, arte e cultura local. "Outro ponto que me encantou foi a semelhança do povo catalão e do povo gaúcho", relembra ao complementar que a Zona Sul se desenvolveu nos últimos anos, com diversos empreendimentos gastronômicos, porém, ainda existe uma carência de diversidade.
MoltBe procurou a Floricutura Winge para a iniciativa
"Nossa proposta catalã vem para trazer a cultura, a música e a comida de uma das cidades mais visitadas da Europa", afirma Quines que destaca a variedade de sabores, cores e perfumes como um grande atrativo para que mais pessoas experimentem e se apaixonem pela culinária da Catalunha.
*Carmen Carlet, jornalista formada pela Famecos, Pucrs. Atuou como colunista, repórter e correspondente de veículos especializados em propaganda e marketing. Atualmente, trabalha com assessoria de comunicação, produção de conteúdo e conexões criativas.